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Kaio

 

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31 julho 2006

Um ano de Racio Símio

O blog completou hoje o seu primeiro aniversário. Claro que isso não vai fazer a mínima diferença na sua vida, mas faz na minha. O Racio Símio concretizou um sonho meu de criar um blog amplo, que falasse tanto sobre assuntos pessoais quanto a boa e velha 'ala cultural' - música, política, literatura, games, filosofia, etc. Depois de tentar usar o medíocre hPG e o desorganizado kit.net, criei meu primeiro blog, o Blog do Kaio, começou e terminou no último trimestre de 2002. No ano seguinte, já no fim dos meus tempos de gamemaníaco, criei o Gamers Planet e o Estratégias. Em 04, eu estava mais interessado em fóruns de política, chat do UOL (eu adorava conhecer pessoas descartáveis por lá) e MSN, mas montei o Espaço Mundial e o The Beatles Blog, que refletiram o meu ano esquerdista e beatlemaníaco.
Criei alguns blogs no ano passado, como o The White Riot e o Inutilidades, até, finalmente, fundar o Racio Símio, o qual cobriu uma época muito importante da minha vida, como o crescente ceticismo quanto à política (mesmo sendo ela uma das minhas maiores paixões, eu já nem ligo mais para "identificações" com correntes ideológicas), uma paixão-relâmpago, a expansão do meu gosto musical, novos amigos virtuais, crises existenciais, um egocentrismo irritante, entre outras coisas.
Ainda continuarei atualizando o Sofisma Burlesco, mas, como eu já disse várias vezes, ele será voltado para música.
E agora, um top 20 dos posts mais importantes que eu fiz aqui até hoje, em ordem cronológica. Houveram outros muito legais que eu tive de deixar de fora dessa lista, mas todos eles estão disponíveis para quem estiver curioso para lê-los. (Alguém? Não?)
1. Até que enfim...
[31/07/05] - o primeiro post. Bem, dele pra cá, só mudou uma coisa em mim - desisti do socialismo umas semanas depois do post. =D
2. Isolation
[02/09/05] - o início da paixão por Joy Division me leva a fazer uma das minhas melhores redações.
3. This is the end... of the month
[30/09/05] - a minha teoria de que vários fatos importantes da minha vida ocorrem em setembro.
4. Estou com medo do meu blog ficar repetitivo
[22/10/05] - Kaio Felipe no início de uma época complicada, e aproveita para se rebelar contra o preconceito.
5. These days... can you stay for these days?
[12/11/05] - a "paixão de 22 dias" alcança seu momento mais crítico.
6. Comunidade, identidade, estabilidade
[26/11/05]- minha resenha de Admirável Mundo Novo. Ah, ela foi parar na seção de literatura do jornalzinho do meu colégio, hehe.
7. Tell me, how do I feel!
[13/12/05] - "O século 21 começou em 1983, com o lançamento do single "Blue Monday", do New Order" =D
8. My Parklife
[26/12/05] - ou "como On The Road salvou as minhas férias de um desastre completo".
9. Política: destros, canhotos e amputados [24/01/06] - eu na época em que queria usar o direitismo como uma compensação para o vergonhoso passado socialista-democrata.
10. Meia-idade na adolescência [13/02/06] - mais um daqueles tradicionais posts "eu sou melhor que os outros, mas isso não é tão legal assim".
11. Soy loco por ti, América?! [15/02/06] - outra que eu consegui colocar no jornal da minha escola.
12. Política - Kaio Felipe vs. Os Vermelhos
[24/02/06] - um dos mais arrogantes, pretensiosos e contraditórios textos que eu já fiz. E é por isso que eu o adoro. Nessas horas, me dá saudade da direita...
13. Violently happy?
[06/03/06] - humor instável.
14. Como filosofar a marteladas
[26/03/06]- esse post foi uma espécie de despedida, pois depois dele nunca mais li um livro de Nietzsche pra valer. Cansei do bigodudo.
15. Kaionismo?! Sim, Kaionismo!
[07/04/06] - faça como eu, e acredite nas minhas idéias.
16. Seven years
[16/04/06] - A história da minha primeira e única desilusão amorosa.
17. Love will tear us apart, again...
[18/05/06] - tópico definitivo sobre Joy Division.
18. Picaretagem, eu sabia!
[24/05/06] - minha torcida pelo fracasso do filme O Código da Vinci funcionou!
19. Happy birthday to me
[29/06/06] - meu aniversário, por si só, já é um evento de importância mundial.
20. Rosebud, o passado que jamais voltará
[19/07/06] - resenha empolgada do filme "Cidadão Kane".

30 julho 2006

Sabedoria Popular à la Constanza

Como hoje eu estou sem nenhuma criatividade para fazer um post não-imbecil, nada "melhor" do que reunir cinco grandes frases de George Constanza, o mais mentiroso, fracassado e paranóico dos fab-four do seriado Seinfeld, o qual provou que, sim, idiotice gera inteligência - em outras palavras, nossas vidas nonsenses podem ser motivos de risadas sarcásticas.

"Lembre-se, Jerry: só é mentira se você não acreditar!"

"Eu sempre tenho a impressão de que, quando lésbicas olham para mim, elas pensam algo do tipo 'Hum, ele é uma boa razão para que eu não seja heterossexual'."

"Você devia ter visto a cara dela [quando viu que eu tirei 85 no teste de QI]. Foi exatamente daquele jeito que o meu pai me olhou quando eu disse para ele que queria ser um ventríloquo."

"Por que diabos eu não posso ter um ataque cardíaco! Eu tenho direito a isso!"

"Ficou bem claro para mim hoje, ao sentar nessa cadeira, aqui nesse café, que cada decisão que eu fiz em toda a minha vida deu errado. Minha vida é o completo oposto de tudo que eu sempre quis ser. Cada instinto que eu tive, em cada aspecto de minha vida, seja algo para vestir, comer, fazer - sempre deu tudo errado!"

29 julho 2006

Pseudo-vidas

Ah, nada como The Sims 2! É divertido controlar personagens virtuais, gerenciando suas vidas em todos os aspectos - trabalho, amor, sexo, intelecto, necessidades fisiológicas, etc. Como diria uma EGM Brasil que eu li uns três anos atrás sobre o The Sims, "é morbidamente legal ficar brincando de Deus".
O jogo é uma bela desculpa para você demonstrar seus "lados ocultos", onde você é no virtual algo diferente da vida real. Anti-sociais podem ser sociáveis. Certinhos e caretas podem criar Sims pervertidos e ninfomaníacos. Comunistas de carteirinha têm a chance de gastar fortunas na hora de construir a casa e dar luxo aos seus personagens. Porras-loucas e hedonistas podem tentar uma vida regrada e dedicada ao conhecimento. E por aí vai.
O Kaio que eu criei no The Sims é, de certa forma, como eu gostaria de ser - equlibrado, organizado, inteligente, gentil, educado, se dedica às artes quase que em tempo integral (ou seja, o ócio criativo ao extremo)... ele tem até uma companheira/namorada, a Júlia (aliás, se eu pudesse escolher o nome da mulher perfeita, seria Júlia. Desde a minha infância eu simplesmente adoro esse nome). Apesar de ser meio 'largada', ela é simpática, erudita, meio sombria e melancólica, mas nem por isso menos irreverente e ativa. Criei também uma filha adolescente, a Charlotte (homenagem àquela música do The Cure). Ela é considerada super dotada, devido ao seu raciocínio lógico imenso e ser quase uma expert em mecânica. Mesmo assim, ela é desencanada com escola (os próprios pais a criaram assim, evitando que ela sofresse tanto quanto seus progenitores com inutilidades irritantes como notas), e já faltou duas aulas, para ficar estudando de maneira autodidata em casa - e jogando um pouco de pinball também.
O jogo, contudo, teve um aspecto positivo sobre mim - fiquei com vontade de sair e fazer uma festa ou coisa do tipo. Hoje concretizei esse desejo, foi em uma 'reunião' na casa de um colega que eu não via há tempos. Fui lá com uns amigos, e, apesar de ter ficado só uns 80 minutos por lá, achei até legal. Bem, deu pra tocar meus CDs... hahahahahaha, adoro fazer isso.

27 julho 2006

Judy is a punk, Sheena is a punk rocker...

Falta pouco para que eu conclua a leitura do volume 1 de "Mate-me por favor" (Please Kill Me), livro cuja temática é a história do punk, através de relatos dos envolvidos com a cena.
No prólogo, a carreira dos pais de todo o rock alternativo pós-1967, o Velvet Underground, é relatada. Você fica sabendo que Nico era uma verdadeira (perdão pelo vocabulário) putona, Lou Reed era um andrógino bissexual, egomaníaco e brilhante, John Cale era o doidão experimental, Andy Warhol era um marqueteiro metido a vanguardista, e por aí vai.
Daí em diante, é só proto-punk e punk rock: Iggy Pop, MC5, New York Dolls, Patti Smith, Television, Ramones, Sex Pistols... mas a música não é o único protagonista - obviamente, sexo e drogas completam a trilogia, e "detalhes" não faltam. Groupies, orgias, "speed", heroína, overdoses e todo o tipo de excesso marcam presença maciça nas entrevistas.
Algumas passagens são chocantes, outras de deixar qualquer um enojado, e a maioria delas são simplesmente hilárias (por exemplo, quando Dennis Thompson, do MC5, respondeu às provocações do seu empresário John Sinclair: "Bem, John, você não passa de um hippie beatnik que foi preso duas vezes pelo mesmo tira com um bigode diferente. Ha, ha, ha.").
Outro fato notório é a vontade que o leitor passa, algo do tipo "Porra, eu queria estar lá com esses malas, sendo hedonista, revolucionando a sociedade e esbanjando loucura". Creio que, sem dúvidas, Jack Kerouac influenciou gerações e gerações com seu estilo de vida ora libertário / mochileiro, ora zen, provando que a vida era curta e deveria ser aproveitada. Claro que isso não vale para pseudo-intelectuais, pedantes e egomaníacos metidos a solitários como eu, mas, bem... hã, várias outras pessoas com (bem) mais atitude do que Kaio Felipe mudaram o mundo ao botarem na prática o que lhes desse na telha. "Eu não sei o que quero, mas sei como obtê-lo", diriam os Sex Pistols, "As crianças estão perdendo as suas mentes", segundo os Ramones", mas "As pessoas têm o poder", de acordo com Patti Smith.
Recomendo "Mate-me por favor" para todos aqueles que gostem de rock, cultura, comportamento social, história ou, enfim, queiram ler um livro divertido, interessante e viciante. São dois volumes (o segundo cobre o período 1976-1992, dos Sex Pistols ao Nirvana), cada um custando por volta de R$ 18,00. A editora é a L&PM Pocket, uma das minhas preferidas no ramo de livros de bolso.

P.S.: Mais detalhes do (s) livro (s) quando eu o (s) terminar.

26 julho 2006

I'm a loser!

Fracasso. Falha. Insucesso. Fiasco. Ah, não sei uma palavra ao certo que poderia definir a minha reação após receber o boletim. Eu já não esperava notas tão boas (pelo menos uns dois 80 eu tinha certeza que teria), mesmo tendo ficado em quinto lugar no simulado de 30/06 (acertei 58 questões, o mesmo tanto do quarto e do sexto, mas fui o 5º graças ao critério da ordem alfabética. A propósito, o primeiro colocado acertou 60) e sendo novamente chamado para o 2º D (e eu, apesar de ainda não ter uma idéia positiva da sala, resolvi aceitar o convite, afinal, não tenho nada a perder, e a relativa quietude da sala pode facilitar o meu retorno à 'maratona literária'). Fiz até um poema tolinho lá no Sofisma Burlesco, chamado "Orgulho Ferido", depois de receber as notas, que foram as seguintes:
- Língua Portuguesa: 99 -> putz, eu fiquei indignado com essa. Por um décimo, eu não fechei Português pelo segundo bimestre consecutivo. Isso é de deixar qualquer um desesperado... Ainda bem que tem uma prova de Texto na qual o professor esqueceu de somar 5 décimos; terei um 100 "impuro", mas é um 100 de qualquer jeito!
- Filosofia: 100 -> já esperava.
- Educação Física: 85 -> faltei duas aulas por causa do PoliONU e errei umas besteiras na prova. Shit.
- Física: 100 -> aí uma boa prova de que eu não sou um "cara das Humanas"...
- Química: 86 -> aí uma boa prova de que eu sou um "cara das Humanas"...
- Biologia: 91 -> bem, a única surpresa não tão negativa desse relatório de notas. Esperava um 86.
- Matemática: 76 -> essa aí me deixou paranóico. Caramba, nem dificuldade em Matemática eu tenho, meu raciocínio lógico é rápido, os conteúdos não eram difícieis... talvez eu me desconcentrei no dia da prova, é a única explicação para uma porcaria dessas.
- Geografia: 100 -> outra obviedade.
- História: 100 -> hã, que novidade.
- Língua Inglesa: 100 -> precisa dizer alguma coisa?

Nada me consolará. Esse foi um dos meus piores boletins nos últimos 5 anos, e não há nada que eu possa fazer, a não ser resmungar e me esforçar (argh) um pouco mais no próximo bimestre. Não é difícil fazer um boletim perfeito e condizente, e acho que agora seria um bom momento para buscá-lo, até porque minha auto-estima sofreu um certo abalo hoje. Acho que vou ouvir um pouco de The Cure, Joy Division e Muse para aproveitar a fossa.

24 julho 2006

Schmidt e a montanha

Assisti a dois filmes nas últimas 30 horas, ambos muito bons. Nada como fazer uma resenha de ambos, ainda mais porque eu consegui cumprir uma das metas das minhas férias (obs.: amanhã voltam as minhas aulas) - ver pelo menos 5 boas películas. Além desses, eu colocaria nesse grupo Cidadão Kane, Bonequinha de Luxo (com Audrey Hepburn) e Trainspotting...

CONFISSÕES DE SCHMIDT (ABOUT SCHMIDT)
Jack Nicholson atuou de maneira espetacular nesse filme. Fica claro que ele é um ator experiente que sabe representar de maneira excepcional mesmo um personagem não muito fácil de fazer, como Warren Schmidt. Este, aos 66 anos de idade, enfrenta um dos momentos mais complicados de sua vida - a aposentadoria, a morte repentina de sua esposa e o casamento de sua filha com um genro que ele não gosta nem um pouco.
Mesmo assim, Schmidt vê que está diante de uma situação em que ele pode aproveitar para viver o que ainda não tinha vivido em toda a sua existência. Tendo isso em mente, ele resolve viajar pelos lugares que ele sempre teve vontade de ir, inclusive cidades que marcaram a sua infância, para tentar minimizar o jeito rabugento, pessimista e deprimido que adquiriu com a solidão. Outra válvula de escape para os seus problemas é o trabalho voluntário que ele faz, ao "apadrinhar" um garoto da África, ao qual ele doa 22 dólares mensais e envia cartas relatando o que acontece em sua vida.
No geral, o filme é bem interessante e não cansa. Talvez o enredo dê até pano para manga para discussões existencialistas do tipo "Qual é o sentido de nossas vidas?" ou "Será que alguém realmente se importou comigo em minha vida?". O desfecho também é convincente. Recomendo, portanto, o filme "About Schmidt" para todos.

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN (BROKEBACK MOUNTAIN)
Falando sério, só há uma justificativa para que esse filme tenha perdido o Oscar - homofobia dos jurados. Sem exageros, mas, na minha opinião, "Crash" é apenas uma boa película, não chega sequer aos pés de "Brokeback Moutain". Creio que este foi um dos raros filmes que tenha tratado de um tema tão delicado e polêmico como o homossexualismo de uma maneira tão sensível.
Ennis e Jack se conheceram durante um trabalho temporário de pastores de ovelhas na montanha Brokeback, em 1963. Eles se afinizaram de uma maneira muito intensa, inicialmente como amigos, e com o tempo, veio a paixão propriamente dita. Dali pra frente, eles passaram a se encontrar esporadicamente - geralmente duas vezes por semestre. Nem os seus casamentos (Ennis com Alma, a qual foi representada muito bem pela Michelle Williams; e Jack com Lureen, em atuação mediana de Anne Hathaway) impediram que eles se revissem, sempre no mesmo local de sempre - a montanha tão nostálgica para os dois.
A união dos dois não pretende ser oficial, até porque nenhum dos cowboys quer mudar aquele relacionamento à distância, por mais saudade que tenham um do outro. A primeira a descobrir a homossexualidade deles é justamente Alma, que só revela para Ennis que sabia disso anos depois do divórcio dela com ele. E é por causa disso que eu elogiei Michelle Williams no parágrafo anterior - ela demonstrou de maneira excepcional a angústia de Alma em esconder que sabia da relação do marido com Jack. Um show de atuação, provando que ela não é apenas a "eterna Jen de Dawson's Creek"...
Assista a "O Segredo de Brokeback Mountain" com a mente aberta e sem pré-conceitos. E esqueça a opinião simplista de muitos de que o filme é uma 'apologia ao homossexualismo' ou um 'deprimente romance gay', elas não são dignas de alguém que julga entender de cinema e comportamento social.

21 julho 2006

A vingança dos nerds

Até que o jantar na pizzaria não foi tão ruim. Motivo? Um dos meus melhores amigos, nerd de carteirinha, resolveu ir. Poxa, ele salvou meu dia - conversamos sobre animes, games, música, inutilidades... nem liguei muito pro resto do pessoal que foi lá. Ah, foi uma ótima lembrança dos meus tempos de nerdzista, entre 2000 e 2003...
Ele também achou dia desses uma frase hilária na internet, e eu concordo profundamente com ela: "Mulher até que é legal, mas você viu como é que é o gráfico do World of Warcraft?" =D

20 julho 2006

Try, try, try and you'll always come to this conclusion...

Será que eu vou continuar insistindo no erro?
Meus ex-colegas de 8ª série me convidaram para ir a um jantar-reunião com eles amanhã, em uma pizzaria. Eu vou, mas já cético de que resultará em algo bacana. Mesmo assim, tentarei fazer o possível (o impossível) para que essa tentativa de sociabilização dê certo. Assim, pelo menos, caso falhar, eu poderei dizer "Eu tentei, eu tentei".

Falarei hoje sobre meus três 'enlatados americanos' favoritos.
1. Seinfeld é perfeito. Se eu fosse escolher a melhor comédia televisiva de todos os tempos, meu voto não seria outro. Nem nas ótimas Friends, M.A.S.H., Will and Grace ou mesmo Sex and the City - é em Seinfeld que temos os personagens mais carismáticos e cativantes e o melhor roteiro: nunca alguém conseguiu fazer melhor um programa sobre o nada.
Jerry é metrossexual, maníaco por limpeza, sarcástico, fanático pelo Super Homem, reacionário e detentor de uma vida amorosa fracassada - não foram poucas as namoradas que ele teve durante a série, e nenhum desses relacionamentos durou muito.
Elaine é cruel, falsa, muito atrapalhada, cheia de idiossincrasias e, acima de tudo, desajustada, comprovando o ponto de vista machista (mas nem por isso menos engraçado) da série.
George é o típico loser - mentiroso (muito, aliás), fracassado, paranóico, complexado (afinal, é baixinho, gordo e careca) e tem uma sexualidade duvidosa, já que nunca se dá bem com as mulheres, é obcecado pelo Hollyfield e trata os amigos homens quase como namorados.
Kramer é simplesmente O CARA. Esquisito ao extremo, louco, faz sucesso com o sexo feminino graças à sua extroversão, excêntrico e com um estilo de vida bem alternativo, já que ignora o mundo yuppie/globalizado, preferindo viver de bicos e trabalhos temporários. Cheio de frases hilárias ("These pretzels are making me thirsty!") e idéias malucas (sutiã para homens, livro que vira mesa, comprar um quilômetro de uma rodovia, etc), ele alegra qualquer um.
Os coadjuvantes são outro destaque da série - quem se esquecerá do Nazista da Sopa, do menino bolha, do advogado maluco e marqueteiro, do carteiro Newman, do tio Leo, entre outros?
Leia aqui um post que eu fiz sobre Seinfeld nos primórdios do blog.
2. Adoro a escrachada Married... With Children. Tão politicamente incorreta como Seinfeld, ela também tem um elenco fantástico.
Al Bundy é um chefe de família entediado, desanimado, fanático por futebol americano, vendedor de sapatos e absolutamente normal (portanto, louco), funcionando como perfeita crítica social. Suas frases são sensacionais - "Só é trapaça quando se é pego", "Fique parada, Peggy - acho que vi um peito", "Se eu quisesse que você soubesse o que estava pensando, eu falaria com você", "Mulheres bonitas nos fazem comprar cerveja, mulheres feias nos fazem beber"...
Peggy é sua esposa. Talvez haja uma palavra perfeita para descrevê-la: perua. Seja nas roupas, no cabelo, nos hobbies ou na personalidade, em tudo ela é uma.
Kelly é a filha loira-burra. Impossível não rir de sua ingenuidade estereotipada. "Bud, eu vou te matar, e depois vou te enterrar vivo!"
Bud é o filho ovelha-negra. Um fiasco com as mulheres, em todos os sentidos. Sempre acontece algo errado que o impede ter ter êxito nessa sua "tarefa".
Destaque para os vizinhos Jefferson e Darcy e também para o personagem mais inteligente de todos - o cão Buck...
3. Agora, um drama - Dawson's Creek. Adoro essa série, considerada por muitos muito melancólica e deprê, mas nem por isso deixa de ser linda. Trama bem construída, vários conflitos, seis ótimas temporadas. Marcante na vida de qualquer um que já assistiu, ela sempre dá uma sensação de nostalgia e lembranças de desilusões amorosas do passado.
Dawson, cinéfilo de carteirinha, é o "eterno amigo" de Joey, a doce, porém irônica "garota pobre, pobre garota". Pacey, às vezes, é imaturo e precipitado, mas sempre foi um cara determinado. Já Jen é a sarcástica e problemática. Seu melhor amigo é o sereno Jack, homossexual assumido.
Dawson's Creek consegue mexer com as emoções de seus telespectadores - é impossível não se emocionar, chorar, refletir ou mesmo rir com os episódios. Ela consegue fugir de todos os clichês que povoam o gênero dos seriados teens, e fala de um jeito muito interessante de coisas que poderiam acontecer a qualquer um de nós, em nossas adolescências.
Leia aqui a resenha que eu fiz do último episódio.

19 julho 2006

Rosebud, o passado que jamais voltará

Existem momentos nas vidas de todos nós nos quais saímos mudados após entrar em contato com alguma expressão artística, seja na música, no teatro, na literatura ou mesmo no cinema. Isso já ocorreu comigo quatro vezes até hoje - na primeira vez que eu ouvi "I Am The Walrus", dos Beatles, em abril de 2004; na minha 1ª audição de Joy Division, em agosto de 2005; quando terminei a leitura de 1984, também em agosto do ano passado; e quando eu li On The Road, sete meses atrás. Hoje tive a oportunidade de ter isso em relação a um filme. Seu nome? "Cidadão Kane".
Ainda estou em choque. Nunca vi uma película tão genial. E nem preciso ser pedante e utilizar termos técnicos para descrever o quão perfeito e impecável é "Cidadão Kane". Não corro o risco de ser precipitado caso diga que este foi, é e sempre será o melhor filme de todos os tempos, na minha opinião. Julgo impossível cineasta algum superar a obra-prima de Orson Welles.
Kane é a mais bela metáfora possível para o ser humano que a 7ª arte já ousou construir. A infância perdida de Charles é o ponto central de toda a história - não duvido que ele jamais se tornaria tão megalomaníaco, egoísta, lunático, inescrupuloso, hipócrita e solitário quanto demonstrou durante o filme se pudesse viver como uma criança normal. A sua precocidade foi justamente a sua ruína, e carregou o fardo de ser um nostálgico decadente.
Orson, como todo bom artista, colocou a sua vida no filme. Pode-se muito bem entender quem é ele pelo personagem que ele criou. Welles foi considerado um gênio já na infância, ao se revelar extremamente apto para o teatro com tão pouca idade. Isso também lhe custou muito caro - a sua liberdade. E na única chance que ele teve de parcialmente reconquistá-la, não titubeou - eis "Cidadão Kane", o único filme no qual os estúdios lhe deram carta branca para que ele usufruísse de toda a sua criatividade. Com apenas 25 anos, colocou seu nome na história do cinema, mesmo que o reconhecimento fosse relativamente tardio, já que o filme, injustamente, só ganhou o Oscar de roteiro original e foi um fracasso de bilheteria.
Ainda assim, como todos os grandes gênios da humanidade, ele ainda teria o prazer de ser devidamente colocado entre os gigantes. Stanley Kubrick, que se considera discípulo de Orson, que o diga. Clássicos como Laranja Mecânica e 2001 talvez sequer existissem se não houvesse a revolução cinematográfica em 1941, com "Cidadão Kane".
Charles, como magnata da imprensa que era, fez tudo o que um jornalista de peso faz - influenciou pessoas, distorceu informações, manipulou seus leitores, difamou autoridades, foi contraditório, colocou seu ego acima de tudo e todos. Teve suas glórias, e chegou ao auge em 1916, quando esteve a ponto de ser eleito o governador de seu estado. Infelizmente para ele, sua arrogância lhe custou caro - o governador, candidato à reeleição, descobriu que ele tinha uma amante, e o deixou em uma encruzilhada - ou diminuía as críticas agressivas e desistia da promessa de, caso eleito, prender o seu adversário no pleito, e esquecia a sua amante Susan; ou a notícia estamparia os jornais e Kane perderia as eleições, reprovado pela opinião pública a respeito do adultério. O protagonista, cego pelo orgulho, não impediu que o caso fosse parar na imprensa, e perdeu a eleição e a esposa.
A sua vida e carreira, então, entraram em uma nova etapa - o jornalista, "defensor dos pobres" e panfletário de 1895 a 1916 virou um excêntrico e recluso milionário, e ele acabou se casando com a sua amante, uma medíocre cantora lírica, que, apesar de todos os esforços de Kane (como colocar nos jornais resenhas mentirosas sobre as óperas de sua esposa, qualificando-as como boas), não demonstrou talento algum.
Um dos maiores mistérios do filme seria justamente o significado de Rosebud, a última palavra proferida por Kane antes de falecer. Um dos diálogos nas cenas finais correspondeu exatamente à metalinguagem representada pelo seu globo de neve e pelo trenó que Charles tinha aos 8 anos de idade, antes de ficar aos cuidados de um tutor e ter seu destino traçado. Ele, no seu auge, tinha tudo, menos algo. Só falta uma peça desse seu quebra-cabeça. E tal peça seria justamente a infância perdida - seu dom foi justamente a sua perdição.
"Cidadão Kane" é a quintessência do quanto um filme pode ser expressionista, dramático, intenso, profundo, revelador, brilhante - enfim, uma obra-prima inigualável.

Talvez o personagem possa se resumir nessa seguinte frase: "Sim, graças ao jornal, vou perder 1 milhão nesse ano. E perdi 1 milhão no ano passado. E vou perder outro no ano que vem. Nesse ritmo, teremos que fechar daqui a 60 anos".

[Este é o post de número 200 em Racio Símio. E "Cidadão Kane" é muito mais do que digno de ser esse post comemorativo]

18 julho 2006

Down...

A instabilidade emocional surgiu novamente, e eu não me senti bem no dia de hoje, das 17h em diante. O mais atuante dos meus problemas imaginários, a "Isolation", atacou, e com todos os seus sintomas - solidão, tristeza, desânimo, vontade de ouvir rock melancólico, mau humor, individualismo...
A "Isolation" não é realmente ruim, pois ela me trouxe mais tempo e disposição para as artes (música, literatura, poesia, etc). Em todas as últimas vezes que eu senti essa vontade de ficar completamente sozinho e alheio a tudo, tive grandes progressos - notas melhores, li mais livros, escrevi mais textos, filosofei mais, etc. Se eu fosse sociável, seria mais legal, gentil e simpático, mas em compensação, seria muito mais burro do que já sou. Prefiro muito mais o ócio criativo do que a sociabilização forçada.
Além do mais, eu me sinto muito mais vivo quando estou sem ninguém. Tenho uma sensação de poder e auto-confiança inexplicáveis, fruto justamente dessa melancolia. Não tenho vontade de chorar, nem de me desesperar - o silêncio já basta [assim como eu disse na letra de
"Uma Descrição". que aliás é a que define perfeitamente o que eu sinto nesse exato momento].
Acho que já falei o suficiente. Até mais.

16 julho 2006

Olá, de novo

Como eu já avisei no outro blog:
Agora é para valer.
- Minha vida + política + filosofia + literatura + TV + banalidades em geral = Racio Símio
- Música (seja em termos gerais ou especificamente meu projeto musical) = Sofisma Burlesco

Vamos ao trabalho, portanto.

1. Loquei dois filmes para assistir nos próximos dias: Cidadão Kane (até que enfim eu vou assistir a esse clássico) e Saga de Hades (chegaram os 2 primeiros DVDs, com os sete primeiros capítulos. Peguei o com os 4 episódios iniciais).
2. Comprei também o livro "Please Kill Me - Parte 1", que conta a história do punk, através de entrevistas feitas com caras do calibre de Lou Reed, Iggy Pop, Nico, Joey e Dee Ramone, Malcolm MacLaren, Danny Fields, etc. Já li as primeiras 28 páginas (que falavam sobre, especificamente, o Velvet Underground, pai do rock alternativo, do punk ao intimista) só no almoço de hoje. Para quem gosta de música, é uma ótima pedida. Quando eu terminar de ler essa parte 1 (que cobre o período 1965-75), vou comprar o segundo, que fala do punk entre 1976 e 1992.
3. Será que as pessoas acham que eu me menosprezo quando digo que sou egoísta, arrogante, anti-social, chato, etc? Eu não vejo as coisas dessa maneira. Pelo contrário, o fato de eu ser sincero quanto às minhas falhas eleva a minha auto-estima, me faz sentir mais seguro de mim. Acho que meu maior defeito mesmo é o perfeccionismo doentio. Se eu estivesse na Inglaterra, em 1991, provavelmente estaria gravando um disco de shoegaze, e gastaria mais tempo que o My Bloody Valentine para isso... hehe.
Bem, encerrando, não pensem que eu me considero um loser, um fracassado ou coisa assim. Auto-crítica é legal, e consegue diminuir um pouco a hipocrisia que há em todos nós. E a solidão pode ter me deixado mais irritante (e irritável), mas até hoje eu não me senti realmente triste ou mal nela. Não vejo motivos para sair dela, portanto.

14 julho 2006

I'm bored

Nem as coletâneas do Talking Heads e Iggy Pop, as ótimas conversas que tive com alguns contatos no MSN ou a chance de assistir aos meus seriados preferidos da Sony na hora que eu quiser (e comendo pipoca!) me salvaram do inevitável tédio das férias.
Isso, no entanto, não me desanima a continuar nessa vidinha regada a PC e TV...
Hoje - aliás, daqui a meia hora - vai passar a reprise de 24 Hour Party People: A Festa Nunca Termina, um ótimo filme sobre a cena musical de Manchester entre 1976 e 1992, protagonizada por Tony Wilson, dono da gravadora indie Factory e da boate Hacienda.
Se você não leu minha resenha sobre o filme, clique aqui.

13 julho 2006

Rock and Roll day

Hoje é considerado o Dia Mundial do Rock, pois, há 52 anos, um tal de Elvis Presley (!) gravou "Heartbreak Hotel", que é considerada a primeira canção a ter um ritmo que possa ser caracterizado como rock and roll.
Vou aproveitar o post de hoje para falar sobre o que o Rock já produziu em suas cinco décadas e meia de existência.
Anos 50 - o início de tudo. A "juventude transviada" dá seus primeiros passos, e revela grandes artistas como Chuck Berry, Buddy Holly e, claro, o rei Elvis Presley em sua melhor fase. Ainda vemos aqui uma grande associação com o blues, o country e o rockabilly.
Anos 60 - Foi a década mais importante do Rock, sem dúvidas, pois foi nela que surgiram praticamente todos os caras influentes, sendo que o legado de vários deles pode ser notado até hoje. Os Rolling Stones e o Who, cada um à sua maneira, representavam o lado mais "bad boy" do britrock. O Kinks, o Animals e o Yardbirds também participaram do movimento chamado 'british invasion', sendo que esse último contava com um dos futuros membros do Led Zeppelin, o guitarrista Jimmy Page.
No underground, surgiu o rock progressivo, através de bandas como o Pink Floyd e o Yes, e também a 'trinca sagrada do rock alternativo' - Lou Reed (líder do art-rock do Velvet Underground), David Bowie (o camaleão, que começou fazendo space rock) e Iggy Pop (vovô do punk). Ainda tínhamos outra trilogia, só que a dos junkies mortos aos 27 anos: Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison (The Doors). Também tivemos nessa década a genialidade e lirismo dos Beach Boys e de Bob Dylan. Em 1968, surgiu a mais importante banda de rock brasileiro - Os Mutantes.
E, acima de tudo e todos, os deuses antropomórficos - os Beatles, que, com seus 13 (ótimos) discos, passearam por praticamente todas as tendências musicais dos anos 1960 - do-it-yourself, 'pop perfeito', folk, indiano, psicodélico, progressivo, hard rock, experimental, proto-punk, reggae, e por aí vai.
Anos 70 - ao contrário da década anterior, marcada pelo coletivismo e as utopias (como os hippies), os '70s têm como forte características o individualismo (a própria separação dos Beatles é uma prova disso) e os 'oligopólios musicais' - não é exagero dizer que David Bowie, Led Zeppelin e Pink Floyd reinaram absolutos entre 1971 e 1977, e seus estilos (glam, hard rock / metal e progressivo, respectivamente) dominaram o Rock da época. Outros que tiveram importância foram Queen, Black Sabbath, Deep Purple, Eagles e Fleetwood Mac. Em terras tupiniquins, os Secos e Molhados e Raul Seixas foram os maiores expoentes.
Mesmo assim, parecia que a espontaneidade havia desaparecido do estilo. Parecia, até que houve a ruptura - o movimento punk, que foi engatinhando até explodir em 77, com a anarquia do Sex Pistols, a politização do Clash e a simplicidade dos Ramones. Daí pra frente, só surgiram bandas de peso, que desencadeariam em dois movimentos similares, mas com pequenas diferenças - a new wave, que era mais acessível, e o post-punk, o qual era mais, digamos, alternativo. Da primeira, tivemos Talking Heads, Blondie e The Police surgindo ainda nos anos 70; do segundo, a década foi encerrada com os primeiros singles do Cure, a fundação do Echo and the Bunnymen, os solos de guitarra improvisados dos americanos do Television e o álbum de estréia do Joy Division.
Anos 80 - O post-punk seguiu firme e forte no início dessa década. O Joy Division, antes da morte de Ian Curtis em 18/5/1980, ainda lançou compactos como "Love Will Tear Us Apart" e o disco Closer; com suas melodias densas, letras melancólicas, bateria quase militar e baixo à frente da guitarra, o grupo influenciou várias bandas. The Cure alternou-se entre as mais diversas sonoridades - o soturno (80 a 82), o electro pop (83), o psicodélico (84), o pop alternativo (85 a 88) e o rock deprimido (89). Siouxsie and the Banshees, Bauhaus e Sisters of Mercy foram a faceta gótica do post-punk. Enquanto isso, na new wave, o New Order iniciou a conexão do rock com a eletrônica, e foram contemporâneos ao Depeche Mode, Duran Duran, Tears for Fears, Eurythmics, etc.
Com forte influência dos anos 70 (notoriamente do Led Zeppelin, do Deep Purple e do Black Sabbath), o heavy metal explodiu, e seus principais nomes foram Metallica, Judas Priest e Iron Maiden. O hard rock teve anos de glória, inicialmente com AC/DC, Van Halen e Aerosmith, e anos depois com Guns n' Roses, Bon Jovi e Poison.
Nós, brasileiros, tivemos nos anos 80 o auge de nosso Rock, graças a conjuntos como Titãs, Legião Urbana, Ira!, Barão Vermelho, RPM, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Violeta de Outono, entre outros.
O U2 conciliou política, amor e religião e construiu uma sólida carreira. Os Smiths expressaram com muito lirismo a angústia da juventude oitentista. Nos EUA, tivemos o hardcore como um punk mais agressivo (principal nome - Dead Kennedys), e o indie rock, com bandas que trabalhavam em gravadoras independentes e faziam uma sonoridade bem diferente daquilo que se ouvia nas rádios. Os três maiores nomes foram Pixies, Sonic Youth e R.E.M; as três, assim como os britânicos do Stone Roses, deram uma demonstração do que seria feito nos...
Anos 90 - No Reino Unido, o shoegaze, cheio de guitarras distorcidas, vocais etéreos e canções atmosféricas, teve como precursores duas bandas dos anos 80 (Jesus and Mary Chain e Cocteau Twins), mas seus maiores nomes foram Slowdive e My Bloody Valentine. O Primal Scream e o Happy Mondays fizeram a transição das décadas na capital mundial do Rock entre 80 e 91, Manchester. Este posto passou a uma cidade americana, Seattle, com a explosão do grunge, que provou que o rock feito nos EUA estava mais melancólico do que nunca, talvez pela desilusão com a geração sem causa que se construía, fato comprovado pelas letras e melodias do 'rock de garagem', capiteneado pelo Nirvana, mas tendo outros grandes conjuntos, como Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains. Os alternativos ianques também fizeram bonito, com bandas como Pavement, Smashing Pumpkins e Weezer.
Em 1994, a cena muda radicalmente, com o suicídio (?) de Kurt Cobain e a ascensão do britpop, que teve seu auge com a rivalidade entre duas bandas geniais, Blur e Oasis; foi nessa época também que o Radiohead evoluiu musicalmente e lançou um dos melhores discos da década, OK Computer. Placebo, The Verve e Supergrass também fizeram sucesso.
O rock ficou mais comercial na segunda metade dos anos 90, com o new metal (Linkin Park, Korn, Limp Bizkit) e o pop-punk (Green Day, Offspring, blink-182); contudo, bandas importantes como U2, R.E.M. e Red Hot Chili Peppers estavam no seu auge.
Enquanto isso, na selva, digo, no Brasil, poucos se destacaram - talvez Skank, Mamonas Assassinas e Pato Fu. O pop e o axé predominaram nas rádios.
Anos 00 - essa, sim, parece ser uma década perdida. A globalização musical ficou ainda mais acentuada, e nos faz ter centenas de roqueiros bem diferentes nas paradas - de Strokes a Evanescense, de System of a Down a Coldplay, de White Stripes a Good Charlotte, de Muse a Simple Plan, de Charlie Brown Jr. a Los Hermanos, etc.
O que acontece, no entanto, é que não há uma banda fantástica, que seja realmente grandiosa. Sobrou em quantidade, faltou em qualidade. Há som para todos os gostos, mas ainda não surgiu a banda que alguém possa realmente dizer que é "a banda da década". A minha maior aposta é no Franz Ferdinand, que mesclam várias boas influências, e seus dois primeiros discos são ótimos; realmente espero que eles continuem com um bom trabalho no terceiro álbum.
O Rock ainda não morreu, mas está em coma. Não precisa de salvadores, mas sim de alguém que saiba fazer algo consistente, criativo e marcante. E eu ainda não vi isso nessa década.

11 julho 2006

Shine On You Crazy Diamond!

1. Nota fúnebre - faleceu Syd Barrett (1946-2006), um dos fundadores da maior banda de Rock Progressivo do século XX, o Pink Floyd. Ele foi um gênio da música contemporânea, e suas composições eram recheadas de letras viajantes e uma atmosfera sonora única. O primeiro disco da banda prova isso, com canções como "Astronomy Domine", "Bike" e "Interstellar Overdrive". Ele também teve alguma participação no álbum seguinte, Saucerful of Secrets, compondo "Jugband Blues" e tocando em "See Saw" e "Remember a Day". Seus problemas com as drogas acabaram o levando à ruína, e ele teve de sair da banda. Waters disse certa vez que "seria impossível o Pink Floyd começar sem ele, mas também seria impossível continuar com ele".
Após esse ocorrido, o Pink Floyd mergulhou em um período de instabilidade, mas pôde concretizar a sua fase Space Rock (70-73) com grande êxito, com os LPs Atom Heart Mother, Meddle e a obra-prima Dark Side of the Moon (aliás, este tem na música "Brain Damage" uma referência bem sutil a Syd, no verso "The lunatic is on the grass"). A banda lançou, em 1975, Wish You Were Here, um dos seus melhores álbuns, e uma verdadeira homenagem ao ex-líder do Pink Floyd, explícita em "Shine On You Crazy Diamond" e na faixa-título. Há também quem diga que o personagem criado em The Wall, caracterizado pela fama insustentável e o isolamento, seja uma mistura de Roger Waters com o próprio 'diamante louco'.
Syd Barrett entrou em uma viagem sem volta com o LSD. Tanto que sua loucura chegou a um estágio insustentável, e ele teve de passar as últimas três décadas de sua vida morando com a mãe, na completa reclusão, e se dedicando apenas à jardinagem e a assistir televisão. Sua ascensão e queda viraram uma das maiores lendas do Rock. É inegável a importância dele para o underground do final da década de 1960. David Bowie e Marc Bolan são alguns dos confessos influenciados.
Segundo a imprensa, a diabetes é o provável motivo da morte de Syd, mas nada está confirmado até agora. Só nos resta agora dizer adeus a esse grande músico...

2. Promessa é dívida, e hoje de manhã eu assisti ao filme Trainspotting.
Gostei muito do que vi. As atuações foram fantásticas, destacando-se a de Ewan McGregor (não por acaso, foi Trainspotting que o "revelou"). O roteiro é bem escrito e bem executado. O enredo é um forte retrato da decadência da juventude dos anos 90, que deixa explícito que não querem ter objetivos de vida e não têm a intenção se preocupar com coisas rotineiras. "Faça suas escolhas, mas para quê optar?", como diz o leading do DVD. A heroína acaba sendo a solução para todos os problemas - depressão, desilusão, dor, fracassos amorosos, tédio...
Renton (McGregor) está disposto a abandonar o vício, mas encontrará vários obstáculos em seu caminho. Também são retratadas as suas relações com a família (seus pais acham que ele não tem rumo, mas mesmo assim o amam) e amigos, como o oportunista Sick Boy (Jonny Lee Miller), o temperamental Begbie (Robert Carlyle), o atrapalhado Spud (Ewen Bremner) e sua namorada menor de idade, Diane (Kelly MacDonald).
Trainspotting relata bem as sensações do usuário de heroína, mas não tenta ser verossimilhante quanto às chances de recuperação do viciado em algumas passagens; talvez ele tente passar uma idéia de que é fácil largar as drogas, ou faça uma ironia e sátira à realidade - creio eu que seja a segunda opção.
A trilha sonora é um dos maiores destaques, sempre com a música certa na hora certa. "Lust For Life" (Iggy Pop), "Sing" (Blur), "Trainspotting" (Primal Scream), "Temptation" (New Order) e "Perfect Day" (Lou Reed) são algumas das que tocam no filme.
Recomendo bastante o filme. Só uma ressalva - tenha estômago para algumas cenas...

10 julho 2006

Everything in its right place

1. Nova banda para se viciar - Radiohead. Conheço e admiro o som deles há um bom tempo (quase 2 anos), mas notei que nunca tive uma "semana de obsessão" por eles. Já tive uma (ou mais) para várias bandas, como Beatles, Joy Division, The Cure, Muse, Titãs, Stone Roses, Oasis, Pixies, My Bloody Valentine, entre tantas outras. Agora, é a vez de Thom Yorke e companhia serem a minha escolha. Para isso, nesse exato, momento, estou gravando um CD duplo com o melhor do Radiohead. Ah, meu top 5 de favoritas deles é formado por "Fake Plastic Trees", "Vegetable", "Exit Music (For A Film)", "2 + 2 = 5" e "Karma Police".

2. Poema que eu escrevi ontem à noite, após um péssimo encontro com ex-colegas de 8ª série, no qual ficou comprovado que minhas tentativas de ser mais sociável são um fracasso atrás do outro (ah, fiz referência a um verso de "Coffee and TV" :

VOLUNTARIAMENTE

Cansada, a minha mente
Quer repousar eternamente
Eis um réquiem da hipocrisia
Para celebrar a vida vazia

Situação insustentável
Decisão irrevogável
Para aqueles que excluem
Achando que incluem

Noites sem dormir
Palavras a repetir
Não chega a ser grave
Mas não deixa de ser um entrave

Sociabilização é complicado
Sempre algo dá errado
Tentativas em vão
De sair da isolação

Todos agem igual
Como se fosse regra proporcional
Risadas tão deploráveis
E conselhos tão ignoráveis

O solitário é sempre o vilão
Segundo os outros, sem emoção
Embora prefira se enclausurar
Que aos amigos enganar

Só... sozinho... sem destino
Caminho... perdido... para sempre
Só... sozinho... sem destino
Caminho... perdido... para sempre

Pouco resta a falar
Sequer uma negligência salutar
Eremita, mas voluntário
Antes isso que um otário

3. O Materazzi foi o protagonista daquela final. Cometeu penalidade inexistente, fez o gol da Itália, provocou o Zidane de uma maneira que deixou o franco-argelino descontrolado e foi um dos que converteu os 5 penais da Azzurra. Não foi o melhor em campo (Pirlo, Malouda, Ribery e Cannavaro foram os destaques), mas teve papel decisivo, para bem e para mal.

4. Amanhã eu quero assistir Trainspotting. Comprei o filme semana passada e até hoje não assisti... minhas tentativas de gostar mais de cinema vêm sendo um fiasco total. Realmente, eu não sirvo para cinéfilo, nem quando tenho um bom filme em mãos. =(

09 julho 2006

L'Italia è il campione della tazza del mondo!

Eu avisei, eu avisei...
A Itália é tetracampeã da Copa do Mundo!
A Azzurra termina o Mundial como a segunda melhor defesa (2 gols sofridos) e como o segundo melhor ataque (12 gols marcados). Cinco vitórias e dois empates. Um esquema tático eficiente. Muita garra, raça e força. Um elenco sem grandes estrelas, mas recheado de jogadores esforçados.
Os franceses fizeram uma Copa irregular. A primeira fase foi péssima - empates contra Suíça e Coréia do Sul, e uma vitória nada surpreendente contra Togo. Nas oitavas, cresceram contra a Espanha, e fizeram 3x1. Na fase seguinte, enfrentaram o Brasil, que jogou muito mal e não resistiu a uma "goleada de 1 a 0". O semifinalista Portugal até lutou mais que os brasileiros, mas a clara limitação técnica os impediu de vencerem. Na grande final, a França tentou impor seu estilo de jogo e, durante o 2º tempo regulamentar e em toda a prorrogação, foi até melhor que os italianos. Ela poderia até ter vencido. Poderia. Faltou algo - eficiência. Ela não soube aproveitar as chances que teve quando era superior em campo.
A Itália não jogou tão bem como contra a Alemanha, é verdade. Mesmo assim, não se rendeu, independente do cansaço físico inevitável. Não se arriscou tanto quanto deveria, mas teve a coragem de segurar o jogo para uma inevitável decisão de pênaltis, o que seria tentar quebrar um karma de 3 derrotas seguidas em copas nas penalidades (1990 na semi para os argentinos, 1994 na final para os brasileiros e 1998 nas quartas-de-final, justamente para os franceses).
Buffon fez defesas salvadoras, Pirlo jogou bem, Materazzi se redimiu do pênalti (que foi inexistente) com um belo gol de cabeça, Cannavaro segurou o ataque (?) da França, Toni quase virou o jogo, etc.
O jogo foi tenso, nervoso, emocionante. Não foi o melhor jogo da Copa, mas deixou qualquer cardíaco à beira da morte.
Zidane manchou uma carreira brilhante com uma atitude vergonhosa, ao dar uma cabeçada em Materazzi. Não há desculpas para um ato tão ridículo quanto esse.
Nos pênaltis, a Itália acertou os cinco. Trezeguet errou o segundo da França. 5 a 3. Itália tetra. E Kaio feliz.

04 julho 2006

In between days

Ó, como é triste constatar que o tédio das férias já conseguiu me dominar! Isso porque minhas aulas de inglês ainda nem acabaram - ainda tenho aula hoje e quinta-feira, nas quais haverão as avaliações.
Mesmo assim, já me sinto bem blasè, e o computador e a televisão consomem boa parte de meu tempo. Gostaria de sair com algum (a) amigo (a), ir a algum lugar, sair. Gostaria, embora não faça por onde, e fique, como sempre, mais idealizando do que realmente agindo. Eis meu velho empecilho.
Separei alguns livros para ler nessas férias - Os Vagabundos Iluminados, de Jack Kerouac (se for tão libertário e espontâneo quanto On The Road, vou gostar dele); A Controvérsia, de Jean-Claude Carrière (presente de aniversário de um amigo. É um romance filosófico ambientado na Espanha de 1550, cujo tema é se seria justo os colonizadores espanhóis subjugarem, escravizarem e matarem os índios do Novo Mundo); Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (sim, sou o único ser humano que ainda não o leu. E pretendo mudar isso); e Leviatã, de Thomas Hobbes (mesmo se eu não tiver paciência para lê-lo inteiro, tenho a intenção de pelo menos absorver as idéias centrais).
Na parte musical, já estou preparando várias coletâneas, algumas porque as anteriores estavam incompletas - caso de David Bowie (2 CDs), Sonic Youth (2 CDs), Muse (1 CD), Radiohead (2 CDs) e Os Mutantes (2 CDs) - e outras de bandas que eu ainda não tenho nenhum "best of" gravado - Jimi Hendrix (1 CD), Mogwai (2 CDs), R.E.M. (1 CD) e Belle and Sebastian (1 CD).
Também pretendo fazer umas pesquisas sobre Política, Eleições 2006 e coisas do gênero. Atualmente, me posiciono a favor do Cristovam Buarque, mas, ao que parece, o Geraldo Alckmin foi muito bem no Roda Viva. O meu objetivo em alguns posts de cunho político será fazer análises das propostas, atitudes e chances de cada candidato. O Lula é o grande favorito, mas isso não tornará a eleição monótona, como a de 1998 foi. Bem, pelo menos espero que não...
Meus devaneios psicológicos continuarão intensos, como sempre foram. Andarei em círculos várias vezes no meu quintal nos próximos dias, falando sozinho e filosofando. Espero ter algum "insight" para escrever mais letras.
O blog, como vocês perceberão, será mais atualizado que a média (1,1 a cada 2 dias). Nem preciso explicar o porquê, certo?
Pretendo assistir a vários filmes. Agora eu tenho tempo de sobra, e não há motivo para deixar de ir na locadora e alugar uma pilha de películas que eu tenho muito interesse em ver. Preciso explorar meu lado cinéfilo que está tão escondido, hehe...
Se houver algum evento de rock alternativo na cidade, também pretendo ir. O underground concentra várias pessoas legais, apesar das tribos posers, com punks, metaleiros e emos se achando o máximo.
...
Ei, espera. Criei várias opções de entretenimento para essas férias! Bem, vou até imprimir esse post para, no dia 25 (volta às aulas), eu não reclamar que não haviam opções...

02 julho 2006

Política e futebol

1. Acabou o prazo para que os candidatos lançassem suas candidaturas. Entre os presidenciáveis, os únicos realmente expressivos são Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT).
Não vou poder votar porque fiz 16 anos meses depois do fim do prazo para tirar o título de eleitor, mas isso não faz diferença, pois eu vou poder dar minhas opiniões políticas sem ser panfletário ou algo do gênero.
Cristovam, além de ser meu candidato predileto, é um dos poucos esquerdistas tupiniquins que eu respeito. Quando governador do DF (1995-1998), ele acabou com o monopólio das companhias de ônibus (atualmente, são 10 atuantes no Distrito Federal), investiu bastante na educação e demonstrou-se bastante sensível a reformas progressistas e serenas. Perdeu para Roriz porque este tinha mais carisma e paternalismo, e, infelizmente, qualquer povo sucumbe a isso (se bem que a eleição foi bem apertada, com diferença de menos de 1 ponto separando os dois no segundo turno). Quando ministro da Educação, teve sua atuação anulada por Lula, que o demitiu sem razão aparente após apenas um ano no cargo. Pouco depois, ele se cansou da hipocrisia petista e mudou-se para o PDT. Felizmente, isso não indica uma identificação dele com o brizolismo, mas sim com uma esquerda menos megalomaníaca e mais realista que o PT.
2. Em Goiás, a disputa será entre Alcides Rodrigues (PP, com apoio do PSDB do atual governador, Marconi Perillo), Maguito Vilela (PMDB, ex-governador e líder das pesquisas), Demóstenes Torres (PFL, senador e metido a moralista), Barbosa Neto (PSB, tendo na chapa o PT), Elias Vaz (PSOL, um dos mais idiotas esquerdistas de Goiás) e Walter Souto (PHS, candidato a lanterninha).
3. Portugal e Inglaterra fizeram um jogo bem equlibrado como eu já previa, mas não necessariamente emocionante. Nas cobranças de pênalti, quem fez a diferença foi Ricardo, goleiro português, que defendeu 3 e garantiu a classificação de seu país. A equipe de Felipão conseguiu chegar mais longe do que se esperava, mas eu tenho lá minhas dúvidas se apenas garra e auto-estima farão de uma seleção apenas razoável como a lusitana, campeã do mundo.
Eles farão a semifinal com a França, que dominou o Brasil, que conseguir ser ainda pior do que nas quatro partidas anteriores, provando para quem quisesse ver que o "futebol de resultados" das quatro primeiras partidas da seleção tupiniquim só funcionaria contra seleções fracas, mas não contra uma das potências do futebol mundial. A equipe não precisava fazer futebol-arte, mas apenas demonstrar disciplina tática como a Itália ou coletividade como a Alemanha, e não mais do que isso. O triunfo francês por 1 a 0 só não foi maior porque três jogadores se salvaram do fiasco geral - Dida, Lúcio e Juan.
Admito que torci o jogo inteiro pela vitória dos franceses, que jogaram com muito mais empenho do que nós. Corri risco de vida quando comemorei o gol de Henry em meio a dezenas de pessoas (assisti ao jogo com um pessoal), mas não me importei de ter aprovado quem jogou melhor, e não quem simplesmente ganhou.
4. Sobre a 'perda da única alegria do brasileiro': Um povo sem um mínimo de vontade política, capacidade de lutar pelos seus direitos, passividade, alienação e comodismo como o nosso não merece alegrias. Prefiro que os brasileiros (inclusive eu) continuem sofrendo com essa Copa do que comemorando uma vitória irreal, que não mudará o país, afinal futebol, por mais emoções que envolva, é só um esporte de massas.
Nosso povo não têm força sequer para exigir melhoras na qualidade de vida - basta que um populista como Lula monte programas assistencialistas que a grande maioria da classe baixa se conforme e vote nele novamente. Não há politização aqui, e muito menos gente interessada em fazê-la sem distorções. Somos um país sem futuro, e nem eu, nem você podemos realmente mudar isso. Somos mais uma "geração perdida", iludida por falsas promessas de melhora.
Assim que eu puder, vou embora do Brasil, não aguento viver em um país medíocre e incapaz de reagir perante os fracassos como o nosso (ao própria Copa nos mostrou isso - enquanto a torcida alemã continuou até o fim empolgada, e conseguiu dar ânimo para a equipe, a nossa permaneceu calada, e se limitou a xingar o Parreira, com a velha hipocrisia de que 'a culpa é sempre do técnico', e nunca dos jogadores ou dela própria, que superestimou e endeusou a equipe).

01 julho 2006

Qual o problema de buscar conhecimento?

Fiquei surpreso (negativamente) quando duas amigas minhas me disseram (uma há algum tempo, a outra nessa semana) que eu não aceito desconhecer algo, que sempre que alguém fala sobre algo que eu não conheço, eu vou logo atrás. Parece que as pessoas consideram isso "arrogância e desejo de sempre ser melhor do que os outros".
E eu não consigo entender o porquê dessa má interpretação.
Cara, qual o problema de ir atrás de filmes, livros e bandas que eu nunca vi/li/ouvi? Eu sempre tive grande interesse em aumentar meu leque cultural, de não ficar preso e limitado a algo específico. Talvez seja mesmo uma curiosidade, herança da minha infância. Por exemplo, eu ainda não assisti a vários filmes clássicos, mas qual o problema de eu achar que o deveria? Será que isso soa tão mal assim, aparentando que eu quero vê-los só por ver, e não porque tenho vontade e real interesse?
É mais um motivo para que eu não confie nas pessoas. De qualquer maneira, me consideram extremista. Se eu digo que detesto um artista e odeio festas ou comemorações babacas, me chamam de "mau-humorado", "anti-social" e "autoritário". Se eu demonstro vontade em ler um determinado livro ou passar a escutar uma determinada banda, eu sou "pretensioso", "não tenho uma meta" e "não aceito o fato de não conhecer algo".
Isso, no entanto, não me incomoda. Eu estou sempre aberto a novas idéias, mas sei manter minha mente fechada a algo que não me agrade. Por exemplo, ao mesmo tempo que acho ridículos os indies que adoram se passar por vanguardistas, também não vou deixar de ouvir uma banda grunge só porque "fãs de post-punk não gostam de grunge".
Espero ter sido claro nessas minhas considerações. Que os outros me entendam melhor para saberem que eu sou intransigente e transigente ao mesmo tempo, como qualquer ser humano dotado de criticismo.

Bem, voltando aos assuntos tradicionais:
1. A Itália me surpreendeu (positivamente) e demonstrou uma disciplina tática magnífica contra a Ucrânia, combinando defesa compacta, marcação cerrada e um ataque discreto, porém oportunista. Nas poucas chances que a equipe teve para marcar gols, não as desperdiçou, e aniquilou os ucranianos por 3 a 0. Toni desencantou, Totti jogou bem, Buffon salvou várias vezes, Zambrotta fez um dos gols... enfim, a Azzurra "cruel e sanguessuga" mostrou que pode muito bem ganhar a Copa.
Ela enfrentará nas semifinais os alemães, que bateram os argentinos nos pênaltis. Eu bem que torci para que os hermanos vencessem (ao contrário da grande maioria dos meus colegas e a velha hipocrisia da rivalidade Brasil x Argentina), mas o Pekerman fez burradas imperdoáveis nas substituições, o goleiro Abbondanzieri se contundiu e o reserva Franco, francamente (perdão pelo trocadilho), era fraquinho, e o Sorín, na sua única falha no jogo, deixou tudo fácil para o Klose fazer o gol de empate. Para 'piorar', o Lehmann fez duas defesas na disputa de pênaltis, demonstrando muito sangue frio.
Hoje Inglaterra x Portugal farão uma partida bem equlibrada, e o Brasil terá de provar que realmente é a grande seleção desse Mundial contra a França, que vem tendo uma gradual evolução na Copa.
2. Terminei de ler Lolita no dia 28. A obra é fantástica. Nunca vi um livro com um protagonista tão cheio de idiossincrasias e auto-indulgência, inclusive sendo cínico ao admitir seus defeitos e crimes. Lolita é realmente a perfeita representante das ninfetas, com sua "inocência" e progressiva maculação durante o enredo. Nabokov abusou das descrições, que algumas vezes podem travar a leitura, mas são essenciais na criação da atmosfera, sempre explicitando o vouyerismo do pedófilo Humbert e as insinuações ora despretensiosas, ora intencionais da garotinha.
Minha parte preferida é justamente o diário que ele faz dos dias nos quais ficou na pensão de Charlotte, mãe de Lolita, e que por algum tempo foi sua esposa, quando ele começou a ficar completamente obcecado pela jovem.
Ele prova por A mais B que, no fundo, todos nós, coroas e ninfetinhas, homens e mulheres, somos uns pervertidos, por mais que vários consigam esconder isso com muito esforço (ou mesmo canalizar o desejo sexual em outras atividades, como esportes, videogames, música), embora a mente vá continuar suja... hahahahaha, Freud tinha lá alguma razão (por mais que Nabokov o ache um charlatão).