Política - Kaio Felipe vs. Os Vermelhos
No meu colégio, a cada 6 ou 7 semanas, nas quartas à noite, ocorre o Multitemas, um debate sobre algum assunto atual relacionado a ciências humanas. O da última 4ª foi sobre A Esquerda Na América Latina. Já sentiram que vem briga por aí, não?
E foi uma luta numericamente desigual. Poxa, era eu contra o mundo. Dos sessenta alunos, pelo menos uns 80% eram socialistas, e 3 dos 4 professores que organizaram o debate, idem. Felizmente, o outro "membro do corpo docente" era meio cético - aliás, eu gostei muito das opiniões dele. Soube falar só na hora certa, sempre com ótimos argumentos.
Aliás, esquerdismo, meus caros, é uma doença, que impede qualquer tipo de respeito à opinião alheia, o desprezo à liberdade de expressão, são intransigentes por essência. Digo isso porque já fui um, sei muito bem como é.
O debate foi rolando. E, como eu esperava, não deixavam eu falar. Os 'red teachers' não paravam de falar, e depois deram a voz a alunos que comentaram coisas absurdas do tipo "o socialismo só será possível quando não houver mais direita e esquerda" ou "professor, o comunismo é possível no Brasil nos dias de hoje?". Com 1 hora de debate, finalmente iriam me deixar falar, mas dei a minha vez para um colega meu que queria comentar algumas contradições da lista que eles passaram para os alunos sobre o tema. Afinal, eu não posso defender a liberdade de expressão se não a pratico.
Meia hora depois, após ouvir dos professores que "Hugo Chávez é fascista", "a esquerda defende os pobres e os movimentos sociais" e "PMDB é direita", finalmente eu pude dar a minha opinião.
Comecei dizendo muito obrigado aos professores por terem fornecido uma lista que, na verdade, era um panfleto comunista, completamente parcial. Depois, fiz minha teoria sobre o que seria direita e esquerda para mim. Falei que não passavam de duas maneiras de gerenciar a economia de um país - ou com um Estado mínimo e que respeitasse o livre mercado (direita), ou com um modelo de forte intervenção estatal, assistencialismo e planificação econômica, sustentado por uma altíssima carga tributária. Nisso, eu aproveitei pra dizer que o problema do Brasil não eram salários baixos, mas sim impostos altos.
Depois, parti pro massacre a Marx. Disse que enquanto cientista político e economista eu o respeitava, mas disse que Max Weber era tão importante quanto ele nessa área; contudo, como panfletário e ideólogo ele era um idiota, que influenciou gerações e gerações a defenderem uma utopia, uma idéia impraticável, radical e anti-democrática. Cheguei a dizer: "Marx só pode ter sido irônico quando escreveu o Manifesto Comunista, e propunha 'Como NÃO governar um país'. Pô, ele devia estar bêbado quando escreveu aquela bosta de livro!'. O professor me perguntou se o meu blog (!) não era panfletário, e eu disse "Porra, o blog é meu, eu posto o que eu quiser, porque ninguém lê mesmo, pois é tudo uma bosta, e eu também sou um bosta!".
Nisso os marxistas se indignaram, ainda mais com a auto-crítica que eu fiz. Um dos professores só faltou espumar de tão tenso que estava. O outro estava doido pra deixar outra pessoa falar. E então, uma menina do terceiro ano vem falar pra mim: "Você pensa que é quem pra falar mal de um gênio como Marx? Você não tem argumentos pra isso, e pra isso fica falando numa linguagem complicada, pra ninguém te entender".
Bem, eu nem apelei quando ela disse isso. Primeiro, porque provavelmente ela não entendeu nada que eu disse, e por isso me acusou de ter falado 'palavras difíceis'. Depois, porque era uma típica opinião de uma pessoa que não entende porra nenhuma de política e precisa ficar se apoiando em um barbudo cuja ideologia já é anacrônica para ter alguma opinião válida. Mas tudo bem, respeito a opinião dela, mesmo sem reciprocidade por parte dela. Pra piorar, um dos professores esquerdistas, que era uma pessoa que eu admirava muito, por ter um grande conhecimento sobre música e literatura (eu já falei sobre ele, num post do dia 22/10/05), apoiou a garota. Ridículo.
Não me abalei, e respondi citando Nietzsche: "Destruir ídolos - esse é o meu dever". Ela não entendeu, e disse a resposta mais imbecil que se poderia esperar: "Mas Marx não é um ídolo"... (espaço para gargalhadas). Na réplica, eu decidi então expor meus argumentos de maneira mais calma, já que todos pediram pra que eu não falasse tão agressivamente e tão rápido. E o fiz - expliquei com outras palavras a minha teoria. "A propriedade privada é que determina a posição econômica. Um governo de esquerda se acha no direito de tomar, de confiscar a propriedade do indivíduo, para realizar uma reforma agrária radical. Já um de direita respeita essa propriedade, pois acredita na liberdade, que 'mercado livre, país livre', e que se for feita uma reforma agrária, que seja inteligente".
Pronto. Venci a discussão. Tanto que um dos 3 vermelhos até mudou de assunto e foi pras considerações finais, e voltou ao discurso "esquerda social, direita capital". Mas era Game Over pra ele. Quando acabou o Multitemas, o pessoal do 3º ano e do cursinho veio falar comigo, e eu fui explicando a minha visão, e até destruí aquela história de que todo movimento social é de esquerda. Mentira. ONGs, por exemplo, são uma coisa tipicamente de direita, pois partem de uma iniciativa privada - ou seja, é o indivíduo, e não o Estado, que decide fazer a sua parte, lutar por um mundo não tão horrível. Aproveitei pra ajudar uma garota a diferenciar anarco-socialismo de anarco-capitalismo, porque ela achava que anarquistas formavam um agrupamento homogêneo.
Bem, eu sou um livre pensador, mas tenho uma leve tendência pro liberalismo e para a direita porque são menos insensatos e refutáveis que o comunismo ou o nacionalismo. E porque combinam com o meu ponto de vista mais realista sobre o mundo.
E eu não tenho medo dos meus professores, se for pra brigar com eles eu brigo mesmo. Sinceridade, acima de tudo. Se eles vierem com velhos jargões marxistas tentando enganar a mim e aos outros alunos, saberão que têm oposição. Não é porque eu só tenho 15 anos que eu não posso discutir política no mesmo nível que eles. Eles não são melhores que eu, e vice-versa.
Agradecimentos aos dez pensadores/escritores que deram importantes contribuições ao, hã, Kaionismo (!). Eu não poderia desenvolver minhas próprias idéias se não tivesse lido as obras e analisado as teorias desses caras:
Max Weber, Nietzsche, Schopenhauer, Dostoievski, John Locke, Freud, Maquiavel, George Orwell, Thoreau, Aldous Huxley.