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Kaio

 

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26 março 2006

Como filosofar a marteladas

Não é a primeira, e nem será a última vez que eu falarei sobre Nietzsche no blog. Talvez seja porque ele é o tipo de filósofo que eu mais respeito - aquele que não se vê como "verdade" ou "grandioso", mas sim como um "destruidor de ídolos" e "imoralista". Ele critica a todos (pessimistas, socialistas, cristãos, Wagner, Kant, nacionalistas, socráticos, Platão, alemães em geral, etc), mas não se coloca como a "resposta para todas as perguntas".
Nietzsche não pretendia substituir aqueles a quem tanto esculhambava. O próprio Zaratustra, síntese de seu pensamento, busca pelo super-homem como se fosse um cético moderado (ou relativista) - sabe que jamais encontrará uma verdade, uma essência, o homem evoluído, mas continua na busca, pois considera esse o seu papel.
Já li sete obras do bigodudo:
- Humano, Demasiado Humano e
A Gaia Ciência são os mais indicados para iniciantes em Nietzsche. Ambas não têm um tema central, se expressando em centenas de pensamentos supostamente desconexos - os aforismos. Eles, contudo, ganham coesão se suas idéias forem devidamente absorvidas. Aliás, é em A Gaia Ciência que ele fala pela 1ª vez sobre o "eterno retorno".
- Assim Falou Zaratustra é, para muitos, a obra-prima dele, pois, através de um estilo poético, o autor constrói o seu alter-ego, Zaratustra. O livro faz muitas referências aos pré-socráticos, devido à sua filosofia mais voltada para a natureza, a solidão, as metáforas, a mente aberta e, principalmente, para as críticas ácidas e sutis ao ser humano e suas fraquezas morais, como a humildade e a resignação à fé.
- Além do Bem e do Mal é o meu predileto. Mais afiado do que nunca, Nietzsche discorre brilhantemente sobre temas polêmicos, como os sistemas políticos, a decadência cultural da Alemanha, os eruditos, os aristocratas, o Estado e os erros da filosofia contemporânea. Ele chega a conclusões bem sensatas, como a de que o cristianismo é um platonismo para o povo e que o socialismo não passa de uma ideologia de rebanho.
- Crepúsculo dos Ídolos é o mais sarcástico de todos. O escritor não poupa alfinetadas nos (supostos) intelectuais do século XIX, e surpreende o leitor com trechos em que, por exemplo, conclui que Sócrates é feio, pois só valoriza o interior e o abstrato. O título é uma ironia à composição "Crepúsculo dos Deuses" de (surpresa!) Wagner.
- Ecce Homo é sua autobiografia. Nietzsche está no auge da sua dupla personalidade e de seus paradoxos - talvez seja o escrito dele que mais esbanja lucidez e loucura. Ele disseca completamente a sua vida e sua personalidade, indicando até as condições físicas e psicológicas mais adequadas para "se filosofar". O egocentrismo do autor é evidente em certos momentos, o que torna Ecce Homo ainda mais fascinante. Aliás, a melhor frase dele está nesse livro: "Derrubar ídolos - isso, sim, já faz parte do meu ofício".
- O Anticristo é o mais curto e direto, e também o mais polêmico dos seus textos. Mais de cem anos depois, continua a ser muito mal interpretado, fato que o próprio Friedrich Nietzsche já previa logo no prefácio, "Este livro destina-se aos homens mais raros". Seus argumentos contra o cristianismo são coerentes e sensatos. Portanto, o mito de que ele era apenas um "louco revoltadinho" deve ser retificado. O raciocínio dele para criticar Jesus e seus seguidores ("O Evangelho morreu na cruz") é bem válido para algo notório: toda e qualquer ideologia, seja ela política, filosófica ou religiosa, é distorcida e deturpada por seus seguidores.

Acho, entretanto, que chegou um momento da minha vida em que eu já não preciso mais de ler Nietzsche. Já "consegui" o que queria - um senso crítico mais apurado. Agora, vou me aprofundar em outros pensadores, para aí sim poder criar minhas próprias idéias. O Kaionismo está por vir, hohohohoho...

 

Comentários:

 

 

Hm, isso tudo com 15 anos? É, vc provavelmente tem um futuro brilhante.


Já gostei mais de Nietzsche há uns dois anos atrás (minha época noir-anti-social-misantropo), hoje em dia vejo ele mais como uma pessoa como todos nós, com erros e virtudes.

Anyway, vivo lendo sempre seu blog, e concordo com o que você disse no post "meia-idade na adolescência", e olhe que ainda sou mais novo que você (14). Bem, te adicionei no msn para tentar trocas uns papos hehe.


15 anos?


Aí, filósofo, te vi no jornal hoje, mais mortal q eu. hauahiaia. Tava massa. E teu blog continua bão bisurdo. Ando falando (bem) dele por aí. Brandão


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