Como filosofar a marteladas
Nietzsche não pretendia substituir aqueles a quem tanto esculhambava. O próprio Zaratustra, síntese de seu pensamento, busca pelo super-homem como se fosse um cético moderado (ou relativista) - sabe que jamais encontrará uma verdade, uma essência, o homem evoluído, mas continua na busca, pois considera esse o seu papel.
Já li sete obras do bigodudo:
- Humano, Demasiado Humano e A Gaia Ciência são os mais indicados para iniciantes em Nietzsche. Ambas não têm um tema central, se expressando em centenas de pensamentos supostamente desconexos - os aforismos. Eles, contudo, ganham coesão se suas idéias forem devidamente absorvidas. Aliás, é em A Gaia Ciência que ele fala pela 1ª vez sobre o "eterno retorno".
- Assim Falou Zaratustra é, para muitos, a obra-prima dele, pois, através de um estilo poético, o autor constrói o seu alter-ego, Zaratustra. O livro faz muitas referências aos pré-socráticos, devido à sua filosofia mais voltada para a natureza, a solidão, as metáforas, a mente aberta e, principalmente, para as críticas ácidas e sutis ao ser humano e suas fraquezas morais, como a humildade e a resignação à fé.
- Além do Bem e do Mal é o meu predileto. Mais afiado do que nunca, Nietzsche discorre brilhantemente sobre temas polêmicos, como os sistemas políticos, a decadência cultural da Alemanha, os eruditos, os aristocratas, o Estado e os erros da filosofia contemporânea. Ele chega a conclusões bem sensatas, como a de que o cristianismo é um platonismo para o povo e que o socialismo não passa de uma ideologia de rebanho.
- Crepúsculo dos Ídolos é o mais sarcástico de todos. O escritor não poupa alfinetadas nos (supostos) intelectuais do século XIX, e surpreende o leitor com trechos em que, por exemplo, conclui que Sócrates é feio, pois só valoriza o interior e o abstrato. O título é uma ironia à composição "Crepúsculo dos Deuses" de (surpresa!) Wagner.
- Ecce Homo é sua autobiografia. Nietzsche está no auge da sua dupla personalidade e de seus paradoxos - talvez seja o escrito dele que mais esbanja lucidez e loucura. Ele disseca completamente a sua vida e sua personalidade, indicando até as condições físicas e psicológicas mais adequadas para "se filosofar". O egocentrismo do autor é evidente em certos momentos, o que torna Ecce Homo ainda mais fascinante. Aliás, a melhor frase dele está nesse livro: "Derrubar ídolos - isso, sim, já faz parte do meu ofício".
- O Anticristo é o mais curto e direto, e também o mais polêmico dos seus textos. Mais de cem anos depois, continua a ser muito mal interpretado, fato que o próprio Friedrich Nietzsche já previa logo no prefácio, "Este livro destina-se aos homens mais raros". Seus argumentos contra o cristianismo são coerentes e sensatos. Portanto, o mito de que ele era apenas um "louco revoltadinho" deve ser retificado. O raciocínio dele para criticar Jesus e seus seguidores ("O Evangelho morreu na cruz") é bem válido para algo notório: toda e qualquer ideologia, seja ela política, filosófica ou religiosa, é distorcida e deturpada por seus seguidores.
Acho, entretanto, que chegou um momento da minha vida em que eu já não preciso mais de ler Nietzsche. Já "consegui" o que queria - um senso crítico mais apurado. Agora, vou me aprofundar em outros pensadores, para aí sim poder criar minhas próprias idéias. O Kaionismo está por vir, hohohohoho...