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Kaio

 

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30 outubro 2007

Até quando esperar

Não postei nos últimos dias porque estava completamente ocupado com o livro "Henry & June" (Anaïs Nin) e com as páginas que escrevi para "Megalomania Psíquica" nas últimas 40 horas. Vamos aos fatos:

1. Após oito meses longe dos festivais de rock alternativo, fiz o meu retorno na etapa goiana do Circuito Decibélica. Ela foi realizada no Martim Cererê. Houve alguns shows interessantes, como os de Violins e Valentina, mas o motivo pelo qual eu fui foi outro: Plebe Rude. Isso mesmo, a lendária banda brasiliense fez seu primeiro show em Goiânia desde 94!
Foi uma performance inesquecível, que durou cerca de uma hora. A banda tocou várias do seu novo álbum, "R ao Contrário", mas não deixou de lado os seus clássicos; tanto que tocou todas as faixas de sua obra-prima, o debut "O Concreto Já Rachou" (1985). Ou seja, executatam ótimas canções como "Johnny vai à guerra (outra vez)", "Até quando esperar", "Proteção", "Sexo e Karatê" e "Brasília". Pulei, gritei e cantei muito durante a apresentação, rs.
Houve outros motivos para que a noite do sábado 27 fosse ótima para mim. Dancei em uma lounge que havia no palco Yguá (os shows foram no Pyguá) - um dos DJs mandou uma tracklist muito boa, que teve Primal Scream, A-ha, Happy Mondays, Scissor Sisters, Jet, entre outros. Só saí quando começaram a tocar umas músicas bem ruins, e voltei pros shows.
Além disso, encontrei vários colegas, e conversei com alguns deles por horas. De quebra, consegui compensar uma burrada que eu fiz (esqueci de pegar o dinheiro que minha mãe me emprestaria, e fui pro festival com pouco mais de 7 reais) e só tomei duas Coca-Cola. Quanto à alimentação, limitei-me às barras de cereais sabor chocolate e morango que eu havia levado.
Fui um dos primeiros a chegar, às 20h, e um dos últimos a sair, lá pelas quatro da manhã. Hum, isso é tão típico de mim, rs.

2. Faltam cinco semanas para o PAS, e meu colégio fez a sacanagem de marcar a maratona só para depois da 1ª Fase da UFG, ou seja, após o dia 18/11! Espero que meu autodidatismo sirva para alguma coisa. Não estou levando os estudos tão a sério quanto deveria, até porque as aulas estão cada vez mais entediantes e cansativas, mas continuo a marcar monitorias/agendamentos para as quartas e quintas à tarde.

3. Creio que a raiva por não ter ido no Tiiiiim Festival anda influenciando meu gosto musical. Por exemplo, Arctic Monkeys e Juliette and the Licks não saem do meu Media Player. Já escutei tanto Killers que (quase) enjoei. E estou pensando seriamente em baixar alguma coisa da Björk (conheço o som dela há praticamente 3 anos, mas nunca me viciei, talvez porque ouvido pouco).
Espero ter sorte diferente em 2008. Se continuarem trazendo artistas internacionais tão bons, os tempos de Hollywood Rock e Free Jazz serão em parte ressucitados, não acham?

4. Putz, a "Megalomania Psíquica" está a me possuir. Escrevi 4 páginas ontem e mais 4 hoje. E tudo porque consegui montar uma sequência bacana de fatos quando acordei ontem. Assim que peguei a folha de papel, comecei a escrever sem parar.
Na verdade, o trecho que eu escrevi nos últimos dois dias corresponde a alguns dos capítulos finais do livro. Diria até que, depois da 8ª página, o romance já estaria à beira do desfecho. Este, aliás, só vou escrever em Junho de 2008, minha nova data para encerrar o livro (pois é, acho que Set/08 está longe demais!). Agora tenho que gerar a coesão entre as outras 15 folhas que escrevi nas semanas anteriores; além de encaixá-las, tenho que me definir também sobre como será o começo e o miolo da história.
A propósito, pretendo publicar alguma coisa que já escrevi aqui em Racio Símio. Soon.

5. "Henry & June" é tão sensacional que acho que nem conseguirei resenhá-lo por enquanto, até porque ainda estou na página 110. Só vou dizer por enquanto o seguinte: ele é forte candidato a duas coisas: I - Um dos melhores livros que li nesse ano; II - Uma pequena ajuda para que eu consiga desenvolver o perfil psicológico dos personagens femininos de "Megalomania Psíquica", já que ele iniciará uma sequência de leituras que eu farei, as quais serão todas de obras que sejam escritas por mulheres ou tenham protagonistas fêmeas (por exemplo, "Madame Bovary" e "Anna Karênina"). Sim, sou pretensioso o suficiente para querer entender 1% da mente feminina. É como se fosse um laboratório para me auxiliar no romance.

25 outubro 2007

Star Shaped

Fiz uma redação sobre pirataria, mas como ela foi completamente despretensiosa (ou seja, só a fiz pra não ficar sem nota; mesmo assim, tirei 94, mais do que eu esperava), nem vale a pena publicá-la aqui.

Estou a ler uma antologia poética de Mario Quintana. Para a minha surpresa, acabei gostando dos poemas dele, especialmente os extraídos de "Canções" e "Espelho Mágico". Ele consegue falar sobre política, amor, solidão, morte etc. com fluidez, sem cansar o leitor.

Assisti ao filme "Superbad" na segunda-feira. Aliás, aproveito para recomendá-lo aos leitores. Fazer uma comédia adolescente tendo nerds como protagonistas - e, conseqüentemente, sendo eles o ponto de vista da película - faz do filme bem divertido, fora do convencional e agradável. Ele tem lá sua sensibilidade, mas sem ser nem um pouco piegas.
Os personagens são todos muito carismáticos: Seth é o gordinho que só fala e pensa em sexo; Fogell (ou McLovin para os íntimos) é totalmente escrachado e histriônico; já Evan é mais contido e CDF, e nutre uma paixão por uma garota chamada Becca; a dupla de policiais Slater e Michaels é garantia de risadas, e satirizam até CSI e Star Wars em seus diálogos.
O mote do filme é algo que não faz tanto sentido no Brasil: as aventuras de dois adolescentes ao tentarem conseguir bebidas alcóolicas para uma festinha. Como se sabe, em nosso país até um pirralho de 13 anos consegue álcool facilmente. Lá nos EUA, no entanto, o (falso) moralismo continuoo mesmo após a abolição da Lei Seca, e a idade mínima para um indíviduo comprar tais bebidas é de 21 anos. Isso sem falar que a fiscalização é bem mais intensa, o que não impede que os jovens de lá consigam burlar as leis com um pouco de astúcia. "Superbad" pega este tema aparentemente banal e constrói a, digamos, saga de Seth, Evan e Fogell; de certa maneira, é uma tentativa deles de, pelo menos na reta final do ensino médio, curtir a vida.
Bem, pelo menos na sessão na qual eu fui, houve pelo menos três cenas em que parecia que a platéia foi contaminada por uma crise de riso coletivo, hehe. Espero que o mesmo aconteça para outros que forem ver a película.

Ando viciado em Blur. Eis uma banda que nunca enjoa; ouvi "Song 2" pela primeira vez aos 7 ou 8 anos de idade, e me aprofundei no som do conjunto há quase três anos. Mesmo assim, até hoje adoro a música deles. Na minha opinião, foi a melhor banda britânica dos anos 90, superando até mesmo Oasis e Radiohead.
Praticamente todos os álbuns deles são perfeitos do início ao fim, destacando-se "Modern Life is Rubbish" (1993), "Parklife" (1994) e "Blur" (1997). Ainda não estou certo se minha faixa predileta deles é "It Could Be You" ou "Country Sad Ballad Man", mas isso não vem ao caso.
É uma pena que, mesmo com a volta de Graham Coxon sendo cogitada, o Blur não tenha planos de lançar um disco novo por enquanto. Pelo nível dos projetos paralelos deles (destacando-se, é claro, o Gorillaz de Damon Albarn, que ainda capitaneia o The Good, The Bad and The Queen), seria possível apostar que o oitavo álbum do quarteto viesse a ser muito bom.
Enquanto isso não acontece, continuarei curtindo mesmo a dance-music hedonista de "Girls & Boys", a distorção aloprada de "Bugman", a perfeição pop de "Beetlebum", a crítica social de "For Tomorrow"...

Obs: Falando em crítica social, quem já notou que "You're The Reason I'm Leaving" (Franz Ferdinand) passa a ter um sentido completamente novo - e irônico - se associarmos tal canção à renúncia de Tony Blair e a posse Gordon Brown como 1º Ministro no Reino Unido? Trechos como "I've no idea, oh / That in four years / I'd be hanging from a beam / Behind the door of number ten" (lembre-se que o mandato de um 'Prime Minister' é de quatro anos, e que o endereço deste é na 10 Downing Street) chegam a ser proféticos, rs.

21 outubro 2007

Um campeão de Asgard

Acertei praticamente todas as previsões do meu "bolão" da F1 no post passado. Räikkönen venceu a prova, e Fernando e Hamilton quase bateram na primeira curva. Com uma combinação de resultados das mais inesperadas - o espanhol em terceiro e o britânico em sétimo -, coube à Ferrari selar o destino de Kimi, ao fazer o jogo de equipe e deixar Massa em 2º e o finlândes com a vitória.
Vi pela internet afora muitos comentários bobos de pessoas que não gostaram do resultado. Alguns alegavam que Räikkönen não merecia ser campeão; outros ainda diziam que Felipe Massa agiu como um pau mandado, comparando-o com Rubinho nos tempos de Schumacher. É óbvio que tais críticas são refutáveis.
1. Kimi já foi vice-campeão em duas oportunidades. Em 2003, sua regularidade quase tirou o caneco de Michael Schumacher (o placar final dos pontos foi de 93 a 91) - e olha que ele só venceu uma corrida naquele ano! Dois anos depois, sua McLaren teve problemas em três corridas que ele liderava (San Marino, Europa e Alemanha), e isso lhe custou o titulo, o qual foi obtido por Alonso. De quebra, em 2007 ele foi um piloto que emplacou uma série de ótimos resultados na segunda metade do campeonato, com 9 pódios (sendo 5 vitórias) em 10 corridas. Além disso, foi o que mais chegou em primeiro: 6 vezes. Por um bom tempo, no entanto, isso foi insuficiente para ultrapassar os dois pilotos da McLaren na classificação, mas ele permanecia coladinho neles na pontuação. A reviravolta veio justamente no derradeiro GP do ano.
2. Felipe esteve em condições de disputar o título durante quase todo o campeonato, mas a Ferrari falhou em pelo menos 3 ocasiões (Hungria, Itália e Japão), e isso lhe custou a chance de ser campeão. Com o quarto lugar garantido e o contrato renovado, qual o problema em fazer o possível para ajudar o colega de equipe? Ele mesmo já dizia em entrevistas que colaboraria com Räikkönen se este ainda tivesse alguma chance de ser campeão, até porque o piloto da Finlândia faria o mesmo na situação dele. Como a prova em Interlagos ofereceu uma combinação favorável, Massa auxiliou seu colega, já consciente de que isso não só lhe daria moral na equipe, como também geraria uma dívida de gratidão para o 'ice man'. Quem sabe o favor não poderá ser retribuído em 2008?

A temporada desse ano foi a mais emocionante da Fórmula 1 desde, hã... poxa, realmente faz tempo que a categoria não teve um campeonato tão equilibrado e tenso. A comparação que poderia ser feita é com 86, quando a Williams, mesmo tendo os dois favoritos ao título (Piquet e Mansell), não soube disciplinar a disputa de egos durante a temporada, e ainda teve o azar de os pneus de Nigel estourarem, o que obrigou Nelson a trocar os seus e perder a vitória (e o campeonato) para Alain Prost.
Hamilton e Alonso passaram boa parte do campeonato se desentendendo, e o clima de instabilidade na McLaren foi agravado pela denúncia (e comprovação) de espionagem. Os dois ainda conseguiram errar na hora H: o espanhol bateu no GP japonês, e Lewis cometeu erros infantis na China e no Brasil. Resultado: dividiram o vice-campeonato, com apenas 1 ponto atrás de Kimi, e ainda terão que correr ano que vem com os carros de números 22 e 23, pois a equipe foi a última colocada no campeonato de construtores em razão da punição da FIA pelo escândalo já citado.
Já Kimi Räikkönen fez justiça à tal frieza que a imprensa adora lhe atribuir, e foi o terceiro campeão vindo de terras nórdicas. Antes dele, Keke Rosberg (1982) e Mika Hakkinen (1998 e 1999) já haviam faturado o Mundial de F1. Pode-se até dizer que ele não tem carisma, mas isso é apenas um detalhe perante à sua competência - e, claro, virtú. Parabéns para a dupla da Ferrari, que conseguiu superar as trapalhadas feitas pelo próprio time, garantindo o título graças a um oportuno 'team work'.

Obs.: Fico triste pela fraca temporada de Barrichello. Ele completou 15 das 17 provas, mas não pontuou em nenhuma delas. O carro da Honda realmente deixou a desejar em 2007, sendo absurdamente lento. Espero que as coisas mudem no ano que vem, quando ele poderá quebrar o recorde de corridas disputadas, o qual pertence a Riccardo Patrese (256).

19 outubro 2007

Aesthetica

Tive a semana inteira para escrever algo no blog, mas acabei por não atualizá-lo. E a justificativa é simples: houve coisas melhores pra fazer do que postar.

Terminei a leitura de três obras entre sábado e quarta: uma curta biografia de Chico Buarque (a qual não foi suficiente para despertar um interesse de minha parte pela obra dele; mesmo assim, já não estou tão intransigente quanto à MPB, mas apenas indiferente), "História do Brasil" (um livro de poemas de Murilo Mendes; muito bom, concilia sarcasmo com aguda crítica social, bem ao estilo dos modernistas) e "A Náusea" (primeiro romance de Jean-Paul Sartre; falarei sobre ele no próximo parágrafo).

O livro do Sartre citado acima é dos mais pessimistas e amargos. Em certos momentos, isso prejudica até a qualidade do texto, que se torna quase insuportável, mas os diálogos sensacionais e as reflexões contundentes do protagonista compensam essas recaídas. Algumas características dos romances do autor
- o engajamento político-ideológico, por exemplo - ainda estão ausentes. Outras, no entanto, já estão bem evidentes, como o intimismo, o desprezo pelos "salafrários", os personagens envolventes (alguns são tão irritantes que acabam cativando o leitor) e a narrativa alternando fluxos de consciência com observações desinteressadas sobre situações do cotidiano e pessoas comuns.
O dilema existencial vivido por Antoine Roquentin é devastador, e o jeito introspectivo dele não é suficiente para esconder a sua melancolia consigo mesmo e com o mundo. O personagem que mais me surpreendeu, entretanto, foi o Autodidata. A conversa entre ele e Antoine em um dos momentos da segunda metade de "A Náusea" é de um ceticismo enorme quanto ao Humanismo, e um fato que ocorre nas páginas finais da obra corrobora com tal desconfiança. O que é, aliás, algo completamente adequado ao contexto do livro, publicado em 1938. A humanidade - e, especialmente, a Europa - atravessou um momento delicado na década de 30, que sepultaria de vez a ilusão burguesa da Belle Époque. O viria depois disso, bem, creio que já é de conhecimento geral: uma guerra sombria, seguida de uma profunda reconstrução de valores e renovaação da cultura ocidental.
Não seria, portanto, errado afirmar que "A Náusea" foi um dos livros que mais influenciou a juventude que mudaria o mundo nas décadas seguintes. A juventude, a partir da própria busca de um sentido existencial, passou a ter uma real importância na mudança de paradigmas do século XX, especialmente nas décadas de 50 e 60.

Em minha redação da semana, o motorista de ônibus usava mesóclise e os culpados pelos atropelamentos eram os próprios pedestres. Fiz o texto em menos de meia hora e mesmo assim recebi uma boa nota (96). O corretor deve ter acordado com bom humor. Ainda bem, hehe.

Comecei a ler "A Queda", de Albert Camus. Sim, acabou-se a fase latino-americana e patriótica de minhas leituras; já estou encaminhando uma francesa-existencialista. Se tudo der certo, ainda abrirei exceção para Mario Quintana, mas só porque é a única obra indicada para o PAS que falta para eu ler.

Em música, continuo ouvindo o básico: Smiths, Cure, Oasis, Legião Urbana, Muse e Radiohead.

Fui a uma audiência pública sobre cerrado e caatinga. Um pouco mais chata do que eu esperava, apesar da boa intenção.

O Painel de Notícias que houve quarta-feira no colégio foi excelente. O tema era Violência, mas sem generalizações, já que se tratou desde os massacres em colégios nos EUA até os conflitos na Ásia. Os três professores falaram muito bem, e o debate acabou ganhando uma tônica filosófica das mais pertinentes.

Para finalizar: estou ansioso quanto ao GP do Brasil de Fórmula 1. No meu "bolão", o vencedor será Massa ou Räikkönen. Ainda estou a torcer por uma batida entre o Alonso e o Lewis, rs.

14 outubro 2007

This book is about nothing

[Ah, antes de mais nada, quando falei em meritocracia no post antepassado, foi em alusão a uma sociedade que valorizasse o esforço e a superação, ou, sendo redundante, o mérito. Fazendo um paralelo com algo que ocorre em meu colégio, é como se os 50 ou 60 melhores alunos em notas constituíssem uma sala separada, e houvesse um remanejamento bimestral. Mesmo assim, tal idéia não passa de uma tola retórica, rs.]

Ontem à noite, escrevi mais um trecho para "Megalomania Psíquica". A não ser que me ocorra uma súbita expansão de criatividade, o estilo do livro continuará sendo este, alternando vozes narrativas oniscientes de análise psicológica rasa e as em 1ª pessoa contendo culto de personalidade. Fico até pensando em como agiria um professor de Ensino Médio ao analisá-lo em classe, na hipótese (surreal) de ele vir a ser uma obra indicada, hehe:
"O romance contém várias vozes narrativas, mas no fundo todas elas possuem referências ao pequeno mundo de vivências do autor. Há uma certa heteronímia, visto que ele próprio confessa que fragmentou a sua personalidade entre os 6 personagens. (...) Segundo Kaio Felipe, 'Megalomania Psíquica' seria também a pedra fundamental de uma nova escola literária, o Egoperspectivisimo. Anos depois, quando questionado por um jornalista que levou a sério tal afirmação, ele disse que fora apenas sarcástico, 'pois, além de Egoperspectivismo ser um nome horroroso, ninguém mais está interessado em fazer escola literária desde o Modernismo'."

O'seis estavam em um festival de rock alternativo. Já havia alguns meses desde que foram todos juntos pela última vez, pelos mesmos motivos de sempre: estudos, desinteresse, falta de bandas boas etc. Desta vez, no entanto, não existiam desculpas esfarradas, pois estavam longe da época de provas, os conjuntos que tocariam eram razoáveis e nenhum deles estava realmente entediado e indisposto para sair naquele sábado.
Cada um aproveitou a noite à sua maneira. Alice, como sempre, bebeu bastante e começou a rir do nada. Aproveitou a ebriedade para flertar e beijar algum bonitinho que fosse heterossexual - até porque, segundo ela, "as chances de achar um rapaz lindo e de bom gosto para roupas e música que não seja gay são quase nulas!".
Henrique chegou a dialogar um pouco com ela, mas preferiu ficar no bar-lanchonete com alguns colegas que encontrara. O cigarro lhe tranquilizava enquanto deixou a política de lado para conversar sobre banalidades. "Também os revolucionários precisam debater as besteiras que, infelizmente, as massas tanto adoram.", acreditava ele.

Giovana e Mário foram a alguns shows, mas passaram a maior parte do tempo andando pelo local. Chegaram a esbarrar em alguns conhecidos, mas acharam melhor permanecer em dupla mesmo. Mário fazia um esforço para não pensar em Penélope (que, aliás, vira minutos antes), mas ficou inconsolável ao reconhecer que não iria tomar a iniciativa e falar com ela. Também estava indignado com as letras terríveis das bandinhas indies que cantavam em português. "Nessas horas eu até preferiria que continuassem assassinando a língua inglesa ao invés da última flor do Lácio!"
Já a sua amiga estava aproveitando a felicidade momentânea para apreciar a companhia de Mário, a quem tanto estimava pelo jeito generoso e simpático que possuía. "Sim, sou uma carente incorrigível!", pensava ela. Decidiu tirar aquele dia para relaxar após uma semana tão cansativa na escola; não tivera tempo sequer para terminar de ler uma coletânea de poemas de Fernando Pessoa.
Júlia assistiu a praticamente todos os shows, sempre equipada com sua bolsa-mochila e sua expressão debochada no rosto. Quando notava um riff ou verso ruim de alguma banda, o tédio escorria pela sua face. Caso ocorresse um lampejo de criatividade, ela não deixava de esboçar um sorriso de satisfação. "Contento-me em ser uma patrulha ideológica quando estou no papel de espectadora. Adoraria não ter uma coordenação motora tão horrível para poder tocar baixo e detonar esses fracassados... Ok, estou brincando; foi apenas mais uma auto-indulgência do meu sedentarismo crônico!"
Enquanto isso, o xará de ilustres romanos preferiu o isolamento e a nostalgia. Viu várias das performances, mas logo se rendeu à constatação de que ficaria mais realizado lendo o livro que trouxera. Sua desilusão com a cena underground de sua cidade (e época) era compensada pela releitura de "Subterrâneos", de Jack Kerouac. Em suas reflexões de lobo solitário, uma deles acabou se sobressaindo:
"Há mais de 2 anos, fui a meu primeiro festival de rock independente. Foi bem na época em que já estava viciado em Pixies, Joy Division, Velvet Underground, Sonic Youth etc. Seria correto afirmar que eu tinha uma necessidade de aproveitar a minha liberdade e não me limitar a ser um 'roqueiro de discman', mas também tornar-me um entusiasta de festivais com shows de bandas novas. Pois bem, aquele moço de 15 anos compareceu ao evento - o qual, aliás, teve um atraso de duas horas - e até fui sociável com alguns caras da segunda série do colégio que encontrei por lá. Sentia um certo desprezo por eles, mas o fato de curtirem Nietzsche e Kafka lhes dava um mínimo de respeitabilidade."
Aquele dia foi incrível para César. Ele descobriu uma realidade bem diferente daquela com que estava acostumado. Dançou em alguns shows; conheceu gente interessante (e, pasmem, culta!); comprou uns CDs a preços acessíveis; sentiu-se renovado com aquela mini-sociedade tão urgente e agitada; e também conheceu Alice. Já tinha ouvido Henrique falar algo a respeito de tal moçoila
, mas finalmente tivera a oportunidade de conhecer aquela que passaria a chamar freqüentemente de "a epicurista" ou "a garota que vive cada milésimo de segundo".
Lembrava-se constantemente de um certo momento, na primeira apresentação da noite, em que viu aqueles rapazes e garotas do 2º ano se agarrando, fumando e bebendo. Foi a partir daquele momento, pelo qual ele sentiu tanta repulsa, que teve a certeza de que era um adolescente sóbrio e rabugento. Quando saiu do surto nostálgico, levantou-se do canto em que estava sentado para comprar Coca-Cola, enquanto concluía consigo mesmo que se sentia feliz em sua, digamos, misantropia.

12 outubro 2007

A change of speed, a change of style.

Closer pode ser a obra-prima do Joy Division, e Substance realmente é uma compilação de singles, B-sides e sobras de causar inveja em qualquer banda. Mesmo assim, que não nos esqueçamos do primeiro LP da banda, que é um dos grandes álbuns lançados no ano de 1979 (nem preciso falar em London Calling, Fear of Music ou The Wall, certo?).
O baixo de Peter Hook sobrepondo-se à guitarra de Bernard Sumner, a bateria arrasadora de Stephen Morris, as melodias lentas e hipnotizantes, as letras soturnas e, claro, um vocal dos mais cavernosos e idiossincráticos: eis a fórmula para um disco excepcional. E Unknown Pleasures realmente o é em cada uma de suas 10 faixas, sempre com a atmosfera melancólica que marca cada estrofe e riff.
"Disorder" abre maravilhosamente o álbum. É uma das melhores canções, e contém um forte tom de existencialismo, evidenciado em trechos como "Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man? These sensations barely interest me for another day; I've got the spirit, lose the feeling, take the shock away."
Já "Day of the Lords" tem seu ênfase na guitarra, e a performance de Bernard prova que não é preciso ter muita técnica para desenvolver uma melodia convincente - e arrepiante. Outro destaque é o vocal desesperado de Ian Curtis nos momentos finais da música.
"Candidate" é uma das mais introspectivas e sombrias, e traz ao ouvinte reflexões como "It's just second nature, it's what we've been shown. (...) That's all that we know."
"Insight" tem uma introdução de 40 segundos de fade-in, e apresenta um certo caráter de desilusão e nostalgia. Seu clímax é quando surgem barulhos estranhos vindos de sintetizadores.
Enquanto isso, "New Dawn Fades", um dos grandes momentos de Unknown Pleasures, afunda de vez na melancolia. Novamente Ian apela para o vocais que expressassem raiva e dor.
Os dois maiores destaques do disco são "She's Lost Control" e "Shadowplay". A primeira é praticamente autobiográfica, já que Curtis sofria de epilepsia. A combinação de bateria tribal, baixo melódico e guitarra rasgante faz dela inesquecível. Esta mesma característica instrumental marca "Shadowplay", mas esta é mais roqueira, chegando até a ser dançável.
As últimas três faixas são geralmente subestimadas, mas todas elas têm algo para encantar quem está a ouvir o primeiro LP do Joy Division. "Wilderness" introduz as temáticas horror e destruição, que seriam aprofundadas em Closer através de "Atrocity Exhibition". Já "Interzone" é um 'dark punk' bem acelerado, que evoca os primórdios da banda, quando ainda se chamavam Warsaw. A derradeira faixa, "I Remember Nothing" assusta os desavisados logo no primeiro minuto, com o barulho de uma cadeira quebrando, e fecha com louvor o álbum, falando sobre solidão (e, provavelmente, também sobre os ataques epilépticos de Ian Curtis).
A estética do post-punk foi praticamente definida com Unknown Pleasures, aproveitando elementos que já vinham sendo utilizados nos últimos lançamentos de Iggy Pop e David Bowie (isso sem falar em Velvet Underground, pais de tudo que hoje se autoproclama Rock Alternativo). Durante os meses e anos seguintes, vários discos já trariam características cujos pioneiros foram os caras do JD. Estamos falando, por exemplo, de PiL, The Cure, Siouxsie & The Banshees, U2 etc. Quase três décadas depois, o legado de Curtis, Hook, Morris e Sumner ainda influenciada bandas pelo mundo afora.

A utopia (ou não) da igualdade jurídica

A hipótese de uma plena igualdade socioeconômica é praticamente uma afronta à natureza humana, visto que tal possibilidade seria catastrófica para a liberdade de expressão, a individualidade, a livre concorrência, as artes (e qualquer expressão criativa) e até mesmo para a própria espécie. Em outras palavras, tal nivelamento seria um suicídio da civilização. Há, no entanto, uma outra igualdade bem mais sensata e coerente: a jurídica. Já que ela está cada vez mais deturpada pelos foros privilegiados, é oportuno discorrer sobre tal ideal.
As origens do pensamento ligado à igualdade jurídica são controversas, embora três iluministas, cada um à sua maneira, tenham contribuído para formular tal conceito: John Locke e o “jus naturalis”, o Barão de Montesquieu e a divisão dos poderes e Rousseau e o contrato social. Logo, credita-se a franceses e ingleses uma boa parte das noções ligadas ao Direito construída nos últimos quatro séculos. Quando se pensa em eqüidade perante a lei, não se resume tal ideal à esquerda e seus militantes tão “benevolentes”, mas também às alas liberais e libertárias da direita. Ou seja, não foram/são/serão poucos os que acreditam na necessidade de leis que ajam de maneira equivalente para ricos e pobres, letrados e analfabetos. Eis o Estado de Direito.
O Brasil, como sempre, apresenta situações deploráveis que ferem vários valores jurídicos da cultura ocidental. Um deles é o fato de que presos com diploma de Ensino Superior têm direito a uma cela especial, além de regalias e maiores perspectivas de redução da pena, ou mesmo um regime de liberdade condicional. Para os mais inocentes, isto poderia soar como uma valiosa lição (“Até para ser criminoso deve-se estudar para não sofrer na cadeia”), mas é evidente que tal modelo é uma clara segregação socioeconômica, visto que é mais provável encontrar um brasileiro com diploma que seja rico e influente do que pobre e sem “contatos”. Além do mais, a idéia de privilegiar uma minoria quando se trata de criminosos é um elitismo dos mais cínicos.
Acredito que a concessão de mais direitos (ou menos deveres) só é justificável em um regime de meritocracia; mas, já que o Brasil sempre foi bem mais oligárquico do que aristocrático, não é nem um pouco aceitável conceder um tratamento digno de spa para ricos e diplomados que tenham cometido algum delito. Há uma clara diferença entre distinguir um crime pelas circunstâncias (por exemplo, um homicídio movido por queima de arquivo e outro por legítima defesa) do que pelo status socioeconômico. Trocando em miúdos, um corrupto rico deve ser julgado sobre as mesmas condições que um corrupto de classe baixa.
Sinceramente, acredito que a única separação tolerável nos presídios seria entre os criminosos que apresentassem um grave distúrbio mental (por exemplo, psicopatia e epilepsia) e os, digamos, lúcidos. Não que eu esteja propondo uma aplicação dos planos do alienista machadiano, mas sim uma distinção que favoreceria tratamentos psicológicos, se as autoridades se dispusessem a colocar tal serviço nas prisões. Não sendo este o caso, abomino a possibilidade de certos cidadãos terem foros e prisões especiais, independentemente do intelecto ou do patrimônio. Caso a sociedade tupiniquim realmente se levasse a sério e pretendesse construir um país justo e digno de algum respeito, já teríamos algum tipo de manifestação popular, fosse de setores (ex.: estudantes) ou cidadãos “comuns”. Nunca vi tal atitude, logo concluo que minha opinião é uma mera utopia.

08 outubro 2007

Write for Absolution

Pronto. Após a, digamos, regurgitação que foi o post anterior, voltemos à atmosfera tradicional do blog.
Aproveitarei este texto para tentar esclarecer para mim mesmo alguns detalhes ou traços da personalidade e das ações de cada um dos seis personagens de "Megalomania Psíquica".

É indubitável que a dupla César e Júlia terá uma participação maior na história do que os outros quatro. Motivos para tal decisão não faltam, e, obviamente, os dois principais residem nos fatos de que I - O rapaz é meu alterego e a moça (em parte) também, embora ela seja mais derivada de contemplações desinteressadas e platonismos camonianos; II - Serão os dois personagens com perfis mais capacitados para serem vozes narrativas em 1ª pessoa durante certas cenas. Aliás, vou até transcrever um trecho-rascunho em que este recurso fica evidente e, além disso, a relação entre os dois é explicitada:
"Sinceramente, a única garota que se aproxima do meu ideal é a Júlia, mas tenho receio de que um namoro pudesse destruir a amizade que cultivamos. Somos parecidos em quase tudo, inclusive na egomania. Sim, ela diz ser cosmopolita e tolerante, mas no fundo é tão individualista quanto eu. A diferença é que eu faço disso uma filosofia de vida, uma posição político-ideológica e até mesmo uma defesa do humanismo; já ela transmite a sua vaidade sutilmente, em seus gestos, nas bandas e livros dos quais gosta, nas cenas prediletas dos filmes que gosta e até na maneira de se vestir. Fazendo uma metáfora com Beatles (e que até mesmo corresponde ao disco predileto dela e o meu), Júlia é 'Revolver' e eu sou 'The White Album'."

Francamente, Henrique é uma projeção de como Kaio seria se tivesse decidido "viver a vida intensamente" e continuasse de esquerda aos 15 anos, que foi momento decisivo de sua existência. Como ele passaria a ser se tivesse seguido por um caminho mais improvável?
Segundo os exageros de minhas hipóteses, em apenas dois anos ele já teria começado a fumar cigarro ou até mesmo maconha; beberia freqüentemente, mas nunca a ponto de ter um coma alcóolico, já que não é porque resolveu ser mais liberado que ele quer dar problemas desnecessários para outras pessoas; teria vários relacionamentos descartáveis, típicos dos adolescentes da década 00; considerar-se-ia um filósofo preocupado com os problemas sociais e defensor da Grande Revolução dos 'socialistas democratas'; sairia toda semana, para qualquer festa que lhe parecesse interessante e "propícia para calorosos debates sobre o futuro da humanidade"; agiria como panfletário na escola, com uma certa queda nas notas e uma monomania pelas aulas de História;
tudo que lhe fosse nocivo receberia alcunhas como "pequeno-burguês" e "falso moralismo"; teria um gosto musical mais voltado para bandas engajadas, como The Clash, Bad Religion, Rage Against The Machine ou mesmo os primórdios de Bob Dylan.

Alice é uma personagem de construção perigosa, pois poderá se tornar estereotipada se eu não souber como desenvolvê-la. Apesar de adorar literatura (especialmente românticos de 2ª Geração e autores contemporãneos), sua maior devoção é pelo hedonismo. Mesmo antes de ter completado o 18º aniversário, ela já acumulou mais experiência de vida do que muitos adultos, e em relação a tudo: amor, sexo, drogas, sucessos, fracassos, visual, idéias... Em contrapartida, é também uma garota bem imatura, com dificuldades em lidar com a família (a qual ela culpa por ter transformado em ausência e negligência uma pretensa educação liberal), dificuldade em assumir responsabilidades, desprezo pelos estudos e completamente avessa a se lembrar do passado ou planejar o futuro (a redundância foi intencional).
Creio que só poderei elaborá-la plenamente durante a faculdade, quando possivelmente farei amizade com alguma garota 'epicurista' que possua traços do perfil que estou a fazer para Alice.

Mário é, até certo ponto, baseado em um amigo meu, em meu irmão do meio (detalhe: já avisei aos dois sobre isso, hehe) e até mesmo na minha pré-adolescência.
Digamos que ele seja o personagem mais apegado ao abstrato. É apaixonado por Matemática e Física, muito bom nos videogames, romântico do tipo introspectivo, leitor e escritor de poesias e, acima de tudo, encantado pelo Brasil e pela tecnologia. Tanto que seus professores vivem o chamando de "nacional-desenvolvimentista", por sonhar com um país que valorize simultaneamente a sua identidade cultural e a modernização. Algo como um patriota científico, mas sem a excentricidade de um Policarpo Quaresma ou um Hitler da vida.
Adora RPGs, e desde os 12 anos vive a "mestrar" para colegas nerds. Conhece César desde a sua infância, e os dois, apesar de várias diferenças de personalidade, cultivam uma amizade duradoura. Além disso, sua relativa timidez não o impede de ser um eterno ombro amigo e uma pessoa bem sociável e compreensiva.

Giovana é a mais multifacetada dos 6 amigos. Apesar da fama de sereníssima, ela sempre foi muito perturbada. Apesar de ser alegre e tranquila durante a maior parte do tempo, há certos lampejos de tristeza e melancolia que dilaceram a alma da garota. Ela não sabe se é ou não em razão de algum distúrbio psicológico que a sua personalidade é tão instável, mas está certa de que possui uma ambigüidade idiossincrática. Coexistem momentos em que se sente livre e presa, sincera e hipócrita, autoconsciente e inconseqüente, lúcida e louca. De quebra, há questões que envolvem até sua sexualidade e seu círculo de amizades que vivem a incomodá-la. Ela diz que é contraditória até no nome, "porque Giovana, ao mesmo tempo que é sofisticado, não passa de Joana em italiano."
Guarda algum tipo de vínculo com cada um dos outros cinco, como se fosse um elo entre eles. Adora assistir a animes e jogar games com Mário, troca confidências em sua "psicologia de botequim" com Alice, compartilha anseios por um mundo melhor com Henrique, é companheira de Júlia em sessões de cinema e teatro e troca dicas sobre literatura e música com César (tanto que foi através dele que ela conheceu as suas duas bandas prediletas: The Smiths e Cranberries).

Pronto.

Being boring

Não costumo responder diretamente no post aos comentários (aliás, acho que só cheguei a fazer isso duas vezes no decorrer do blog, uma em Abril e outra em Dezembro do ano passado), mas terei que abrir uma excessão dessa vez:

"Anônimo disse...

seu blog era tão legal, vc fazia textos sobre livros...

Agora tá cada vez mais chato :/"

Além de anônimo, você é cego (a), hehe. Olhe para os posts de 2/10 e 27/9 antes de ficar resmungando sobre algo tão óbvio e patente (a minha chatice). Tudo bem que as resenhas foram superficiais, mas continuam sendo textos sobre livros!
Curioso isso, não? Quando eu resolvo falar mais sobre animes e o livro que estou escrevendo, alguém banca o nostálgico e quer que eu voltei a fazer crítica literária. Ao contrário de outros (cof cof, Harold Bloom*, cof cof), eu não pretendo passar a minha vida falando de obras alheias. É claro que há momentos adequados para falar de literatura em Racio Símio, mas, ao invés de gastar tempo fazendo (mais) textos descartáveis por aqui, eu estou a LER livros. Já foram 39 nesse ano, e o quadragésimo será "Cem Anos de Solidão" (aliás, acordei 4 da manhã só para poder lê-lo em ritmo menos lento, já que considero a manhãzinha a melhor hora doi dia para ler. Talvez volte a falar sobre o romance de García Márquez em breve).

Anônimo, não se preocupe: nunca abandonarei os posts sobre livros, mas você deveria entender que eu preciso primeiro lê-los para depois analisá-los, certo? Pode parecer difícil para você entender isso, mas é uma questão de raciocínio. E nunca existiu fase legal aqui no blog, rs. Nunca fui decadente porque nunca tive ascensão na minha qualidade como escritor.
Como os leitores devem ter percebido, mesmo lendo apenas um ou outro post, não é porque sou otimista e vaidoso que deixo a auto-crítica de lado, por mais cínica que ela seja. Sim, há certos textos que extrapolam os limites da mediocridade, mas vir me encher o saco porque resolvi falar de Death Note (aliás, até ontem já assisti a 27 episódios, e provavelmente verei mais algum hoje à noite. Ainda acho que os 10 primeiros foram os melhores, mas a série continua incrível no decorrer dos capítulos seguintes) e do "Megalomania Psíquica" é o cúmulo, hehe.

A propósito, amanhã (ou dia 10) o blog voltará à programação normal (?), e textos como este não voltarão a se repetir por um bom tempo. Boa noite.

*Nada contra ele, até já fiz resenha de "Onde encontrar a sabedoria?", mas, ao contrário de Bloom, não quero fazer da crítica literária o meu ofício.

05 outubro 2007

Mais um culto personalista desnecessário

Finalmente assisti ao anime "Death Note". Nem vou me alongar nos comentários sobre o mesmo, que é tão bom que nem com dezenas de adjetivos e metáforas eu conseguiria expressar a sua qualidade. Obviamente, identifiquei-me completamente com Yagami Light, o genial psicopata que protagoniza a trama. Também vi no jeito desleixado de L algumas semelhanças com a minha pessoa. Enfim, adorei tal animação, e cada episódio traz um novo e tenso duelo psicológico e intelectual entre os dois personagens.

Na madrugada entre ontem e hoje, eu estava a escrever um post durante a insônia que tive. Achei o texto muito bobo e resolvi, hã, cancelá-lo. A introdução dele era a seguinte:
"Madrugada. 1h20 do dia 5 de Outubro de 2007. Kaio Felipe, com insônia, inicia mais um texto.
Ele está ouvindo Regina Spektor, acabou de ler as 24 primeiras páginas de "Cem Anos de Solidão" (García Márquez) e vê o PC como último recurso para ficar com sono."

A propósito, fui dormir lá pelas 3 da manhã, e só cochilei uma vez no decorrer do dia: na aula de Biologia cujo tema era Histologia Vegetal. Justificável, não? Ok, nem tanto, porque o professor de tal matéria é bom e eu deveria ter dormido corretamente, mas isso não vem ao caso. (Ou será que não?)

Estou cheio de idéias para o romance, embora, ao contrário dos último dias, não tenha escrito nenhum trecho relevante hoje. Creio que amanhã estarei mais inspirado, não sendo excluída a hipótese de que eu decida criar um enredo de verdade ao invés de apenas exacerbar a individualidade dos personagens e submeter a trama aos caprichos deles. Pelo menos já consegui dar uma boa organizada quanto ao perfil psicológico de cada um dos seis.
Fico feliz por terem sido tão diversas e heterogêneas as supostas influências que meus amigos foram apontando quando lhes contei sobre o romance. Pelo menos nisso ele terá um caráter peculiar, pois evidenciará tanto a intertextualidade quanto a busca por territórios inexplorados na literaturas. Por ironia do destino, terei que discordar de um certo Henry Miller, que falava que não existem mais livros para serem escritos. Tal afirmativa só será verdadeira depois que eu concluir meu livro. Pretensão descabida? Sim e não. Oras, o próprio nome provisório do romance é "Megalomania Psíquica"; preciso ser mais claro quanto às minhas ambições e práticas arrogantes?
Ok, é quase certo que o livro não será grande coisa em comparação com os clássicos ou mesmo com alguns contemporâneos. Não será isso, entretanto, que me desanimará a persistir em minha empreitada. Além do mais, tenho toda a liberdade criativa e independência artística disponíveis. Se "Megalomania Psíquica" ficar ótimo ou terrível, a culpa/responsabilidade será toda minha. Portanto, que César, Júlia, Henrique, Alice, Mário e Giovana cumpram o desígnio de extravasar minha imaginação fértil.

02 outubro 2007

O fardo tropical (?)

Consegui terminar de ler "Raízes do Brasil". O ensaio de Sérgio Buarque de Holanda é tão bom que, literalmente, era uma questão de tempo para que eu o concluísse.
Gostei muito da maneira como o autor analisou a influência da tradição cultural dos ibéricos no Brasil. Segundo ele, para a formação de nosso povo, foi decisiva a mentalidade desleixada dos portugueses, que visavam ao "máximo de riquezas com o mínimo de esforço". Esta, somada ao personalismo nas relações sociais (que acarretaria em monstruosidades como o coronelismo), a facilidade em assimilar culturas alheias e o senso estritamente prático e apegado aos hábitos são visíveis na formação da nação brasileira durante os últimos cinco séculos.
Segundo Sérgio, seria difícil afirmar que o Brasil teve de fato a valorização do trabalho, por mais "braçal e árduo" que este viesse a ser. Aliás, fica visível que a influência weberiana na obra dele é menor do que dizem certos intelectuais; aliás, no penúltimo capítulo ("Novos tempos"), ele admite com certa cautela idéias como a de que países de religião protestante são mais prósperos e disciplinados. Digamos que o faz com razão, pois Max Weber abusa dos tipos ideais, podendo estes assumir o caráter de generalizações se mal empregados. Como diz o próprio texto introdutório de "Raízes do Brasil", uma influência mais notável para o historiador foi um pensador italiano do século XVIII, João Batista Vico, que elaborou análises historistas, apontando as 'espirais' presentes no processo civilizatório da humanidade. Para um autor que buscava não se limitar a um viés sociológico ao tratar do Brasil, foi bem oportuno ter encontrado autores com métodos que enfatizavam a dissecação da História. Não por acaso, são justamente as passagens mais narrativas de "Raízes" que tornam o livro tão genial.
Até coisas tão visíveis na atualidade, como a valorização das carreiras de Medicina e do Direito, surgiram em nossa mãe-pátria. O desprezo pelo esforço levou os portugueses a apreciar as profissões liberais, que eram perfeitas para ostentar erudição e evocar aristocracia. A própria burocracia patrimonialista que tanto age de maneira parasita no Estado brasileiro tem parte de suas origens na confiança dada a leis exageradamente abstratas e detalhistas, que até constrastam com o estilo totalmente realista e naturalista dos portugueses. Uma negação da própria cultura constituída por eles, de acordo com o ensaísta.
Até mesmo o Classicismo lusitano simbolizou uma malfadada tentativa de modernização cultural em Portugal. A expansão marítima (a propósito, desmistificada por Sérgio Buarque, que expõe o seu lado austero), que inicialmente enriqueceu (e muito) tal povo, acabaria sendo também a sua ruína, ao incitar a ganância, a prática perdulária e a assimilação de reacionários valores dos nobres pela burguesia levaram a uma agonizante decadência econômica de nossos "achadores". Nas palavras do próprio 'pai do Chico', "Em Camões, a tinta épica de que se esmaltavam os altos feitos lusitanos não corresponde tanto a uma aspiração generosa e ascendente, como a uma retrospectiva melancólica de glórias extintas. Nesse sentido cabe dizer que o poeta contribuiu antes para desfigurar do que para fixar eternamente a verdadeira fisionomia dos heróies da expansão ultramarina."
Conclui-se, portanto, que, entre tantos outros fatores, a contribuição dos portugueses na elaboração da cultura brasileira foi fundamental. Até mesmo a natureza "cordial" (origem do 'jeitinho brasileiro'), em oposição à polidez de, por exemplo, japoneses e anglo-saxônicos. O leitor fica até surpreso por encontrar tantas semelhanças, especialmente nos capítulos finais. Aliás, no último deles o autor tenta expor uma possível solução para os problemas do Brasil, e deixa bem claro que só conseguiríamos o tão almejado desenvolvimento na hipótese de erradicarmos o culto personalista, a tendência ao comodismo e - como eu disse em um texto passado, e vi uma opinião análoga da parte do escritor - a falta de ambição. Do contrário, a estagnação nos aguarda calorosamente.