Soy loco por ti, América?!
Some a isso os jesuítas, que sempre condenaram o negócio e o trabalho, que seriam determinantes para um desenvolvimento do capitalismo. Como se não fosse o bastante, após a independência das colônias, no século XIX, se seguiram várias ditaduras, principalmente as de militares, sendo que algumas ocorreram até bem pouco tempo atrás (a de Pinochet acabou em 1990).
O mundo entrou na globalização nos últimos 20 anos, com a hegemonia do capitalismo e a doutrina neoliberal (que de liberalismo não tem praticamente nada, já que várias práticas keynesianas, como os oligopólios, foram mantidas). Contudo, parece que o Muro de Berlim não caiu por essas terras. Nos últimos seis, sete anos, se observou um notável crescimento dos partidos de esquerda.
No Chile, os socialistas buscaram um discurso moderado e reformista, e foram reeleitos recentemente. Aliás, talvez seja o governo 'canhoto' que mais vem funcionando no continente, regido a altas taxas de crescimento, baixos juros e, por incrível que pareça, a aprovação dos EUA. Na Argentina, Néstor Kirchner conseguiu recuperar a economia com medidas populistas bem ao estilo dos peronistas, e, por enquanto, vem obtendo êxito.
Contudo, nos outros países, não é bem isso que se observa nas gestões esquerdistas. Cuba está há 47 anos sob a ditadura comunista de Fidel Castro, em que os avanços na educação, na saúde e nos esportes são ofuscados pela falta de liberdade e o fracasso na economia e na alimentação. Na Venezuela, Hugo Chávez vem fazendo uma administração bem turbulenta, cheia de mandos e desmandos e provocações aos Estados Unidos. Percebe-se que ele é um protótipo de ditador nos seus discursos nacionalistas, demagógicos e exaltados. No Brasil, em 2002, após três tentativas malogradas, o PT, finalmente, conseguiu ganhar a eleição presidencial, elegendo o ex-líder síndical Lula. O governo conseguiu estabilizar a economia, mas a custo de muita ortodoxia, juros elevados, alta carga tributária e crescimento pífio. Na área social, predomina o assistencialismo; a política diplomática é repleta de erros; ocorreu um cisma no partido, gerando a dissidência radical (e intransigente, diga-se de passagem); isso sem falar na crise política, com governo e aliados afundados em denúncias (e provas) de corrupção, em escalas bem maiores do que as registradas na gestão de Fernando Collor.
Mas parece que a irregularidade da administração petista não foi suficiente para impedir um surto esquerdista na América Latina. Além da 'esquerda festiva' e cheia de discursos anacrônicos que freqüentam o Fórum Social Mundial, também tivemos a eleição de vários políticos que se diziam "lulistas". Na Bolívia, Evo Morales foi o primeiro índio que chegou à presidência do país, e seu despreparo é tamanho que seu programa de governo se resume à promessa de estatizar a produção de gás natural. O uruguaio Tabaré Vásquez representou a centro-esquerda contra os blancos e os colorados, e venceu. E no México e no Peru, os candidatos com discurso radical e anti-EUA estão entre os favoritos nas pesquisas.
Talvez os latino-americanos não querem ainda embarcar na pós-modernidade e na globalização, e é sinal dessa obsolência a vitória de políticos populistas e nacionalistas/socialistas. O discurso "contra Bush, o imperialismo, as corporações, o neoliberalismo e as elites reacionárias" parece ter encontrado eleitorado. O atraso permanente da região é evidente, ela sempre está um passo atrás do resto do mundo. O socialismo morreu, mas a hipocrisia e a farsa dos marxistas (e adjacências), ainda não.