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Kaio

 

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21 janeiro 2020

GYN, BSB, SDU

Daqui a algumas horas viajo de volta ao Rio de Janeiro, após quase um mês de férias em Goiânia. Aproveitei muito bem essa estadia. 

Nos dias em que a Carolina esteve aqui, fomos a um churrasco com o pessoal do kendo; dentre outras coisas, jogamos Mario Kart 8 - fui tão bem que precisaram jogar de time para ganhar de mim, rs. Também comemoramos o Natal (aliás, foi a 1ª vez que nós dois fizemos a ceia tanto no Rio, dia 24 à noite, quanto em Goiânia, no dia 25 no almoço), o Ano Novo e aniversário do Fernando no La Eskina, um restaurante mexicano. A propósito, este foi bem divertido, com direito a ver meu irmão pagando mico com os demais aniversariantes - eles tiveram que cantar música latina e dançar pelo restaurante, rs.
Depois que ela voltou para o Rio (pois o recesso dela acabava no dia 6), passei mais tempo com o Aderson; fizemos até maratona de De Férias com o Ex, haha. Dois anos atrás viciei ele nesse reality show quando assistimos à 2ª temporada, que contava com a barraqueira-mór Gabi Prado. Gostei bastante da temporada Celebs, e um pouco menos da 3ª (embora vê-la tenha sido importante para entender certas coisas que aconteceram com Lipe, Yá e Any em Celebs).
Passei um tempo com meu irmão caçula, o Matheus. Ele adorou jogar Pokémon: Let's Go, Eevee! no Switch. Achei curioso como muitas crianças da idade dele (9 anos) quase não conversam, só ficam alternando entre videogame, computador e celular - no caso do Matheus, chegava a usar dois ou três ao mesmo tempo, rs.
Li três livros nesses dias em Goiânia: o romance O Círculo Fechado (Jonathan Coe), que é uma continuação de Bem-vindo ao Clube situada 30 anos depois, passando-se na Era Blair, e por isso cobre desde as mudanças societárias devido às reformas liberalizantes até os primórdios da Guerra do Iraque; o Livro do Disco sobre As Quatro Estações, da Legião Urbana, escrito por Mariano Marovatto; e Missa Negra (John Gray), uma reflexão histórica, política e filosófica sobre as religiões políticas modernas, desde o jacobinismo e o bolchevismo até o neoliberalismo e o neoconservadorismo. Curiosamente os livros do Coe e do Gray dialogavam muito, pois foram escritos na mesma época, e ambos se posicionam criticamente em relação ao envolvimento de Tony Blair com o thatcherismo na economia e com a Guerra do Iraque na política externa.
Também fiz minha tradicional viagem a Brasília. Nos três dias em que estive lá saí com vários amigos: 1) com a Janaína fui a uma incrível exposição da Björk no CCBB (havia vídeos em realidade virtual do álbum Vulnicura e clipes antigos, dos quais vimos 13, que eram dos discos Post, Homogenic e Vespertine), jantei na creperia La Recette (a qual fica justamente na quadra comercial em que eu morava) e fui a uma ótima festa anos 80 (All Star) no Velvet Pub; 2) com a Nathalia, que me hospedou na casa dela, vi The Irishman (que de fato é um filme que merece Oscar), Fleabag (que indiquei para ela) e Sex Education (acabou de estrear a 2ª temporada no Netflix), ela me mostrou algumas músicas do Tame Impala e fomos com um amigo dela à pizzaria Dom Bosco (ela, que é carioca, enfim conheceu o programa mais brasiliense que existe, rs) e ao restaurante/bar Loca Como Tu Madre; 3) almocei com o Modelli, e conversamos bastante sobre coisas nerd, como Magic, animes, séries, games etc.; 4) com o Mateus comi pastel e bati papo no Sebinho, e a Nathalia nos encontrou lá mais tarde; 5) visitei o Chico, um lendário livreiro que fica no Ceubinho da UnB, e conversamos, dentre outras coisas, sobre editores famosos; 6) encontrei a Luísa após três anos, e fomos junto com a Jana no 5uinto Bar, onde a conversa fluiu muito bem, cobrindo desde política até cinema. Além disso, aproveitei os dias na capital federal para ir ao Sebo Musical da 215 norte, onde comprei o CD Permanent Waves (Rush).
Na volta a Goiânia enfim encontrei o Gino, e tivemos uma ótima tarde de domingo. Indiquei várias bandas para ele, presenteei-o com dois CDs (Cabeça Dinossauro e a coletânea Perfil dos Los Hermanos, sendo que esta na verdade era dele, mas estava comigo há anos, desde que me mudei da nossa kitnet em Brasília), fomos ao parque Vaca Brava com meus irmãos e a namorada do Fernando.
Terminei de catalogar os CDs que deixei em Goiânia; quase todos eles são coletâneas de bandas cujos álbuns de estúdio estão na minha estante no apartamento do Rio. O catálogo está no meu perfil no Album of the Year. Ainda sobre música, nessas férias eu ouvi bastante Rush (tanto minha playlist e meu DVD, citados no post anterior, quanto o recém-adquirido Permanent Waves), Engenheiros do Hawaii (aliás, por sorte encontrei uma camiseta deles em uma loja de música do Buriti Shopping), King Crimson (trouxe meu box The Great Deceiver para ficar ouvindo aqui), Titãs e Legião Urbana (duas bandas de que deixei alguns CDs em Goiânia). Ah, e adquiri dois CDs duplos ao vivo que estavam em promoção na Livraria Leitura do Goiânia Shopping: Progeny: Highlights From Seventy-Two (Yes) e Glastonbury 2000 (David Bowie).

2020 deve ser um ano decisivo, já que terminarei meu doutorado em História e farei vários concursos acadêmicos. Espero que seja um ano melhor do que os dois últimos, em que fiquei muito à toa após o fim do doutorado em Sociologia. Ah, e daqui a cinco meses me tornarei um balzaquiano! Pior que nem me sinto como alguém à beira de completar 30 anos; só não sei se isso é bom (mentalidade jovial) ou ruim (falta de maturidade), rs.

P.S.: O título do post é uma referência a uma postagem de quase 10 anos atrás.

11 janeiro 2020

Love and life are deep

Conheci Rush em 2012, quando estava fazendo uma lista de músicas de rock com letras libertárias. Acabei com deparando com as influências da filosofia objetivista de Ayn Rand na lírica de Neil Peart, o letrista e baterista desta banda. Gostei de "Tom Sawyer" (ainda mais quando, meses depois, vi a hilária cena envolvendo ela em Freaks and Geeks) e "Something For Nothing", mas não cheguei a me aprofundar na banda, pois achei muito "hard rock" (em especial pelos vocais agudos de Geddy Lee) para o meu gosto, à época predominantemente indie/post-punk.
Foi só em 8 de Novembro do ano passado que enfim dei uma chance para o Rush. Estava andando pelo Largo do Machado, onde havia uma feira de livros com uma barraquinha vendendo 3 CDs por R$ 5. Um dos que levei foi Moving Pictures. Escutei-o na manhã do dia seguinte, por sinal um dia bem simbólico: 9 de Novembro de 2019, o aniversário de 30 anos da queda do Muro de Berlim – um evento que tem tudo a ver com o apreço à liberdade e o desprezo pelo coletivismo de Peart. Mal terminei de ouvir Moving Pictures e ele já era um dos meus álbuns favoritos de rock progressivo - uma primeira impressão que foi reforçada na segunda audição, poucos minutos depois. Já está no meu top 20 de discos do estilo.
Enfim pesquisei mais sobre o Rush, e resolvi fazer o caminho inverso: depois de escutar o álbum de 1981, fui ouvir os discos deles dos anos 70. Poucos dias depois comprei o CD Retrospective I (1974-1980) - a propósito, uma ótima antologia da fase mais progressiva da banda - e fiquei mais fã ainda do trio canadense. O vocal de Lee deixou de me incomodar, até porque ao longo dos anos ele foi mudando seu estilo de cantar. Acho que eles foram melhorando a cada álbum até chegar ao ápice em Moving Pictures. Primeiro cortaram os excessos do hard rock em prol das estruturas do rock progressivo, e quando esta etapa chegou ao seu limite em Hemispheres (1978), fizeram um novo ajuste estilístico: músicas mais curtas e incorporação de elementos de new wave e reggae. Em outras palavras, o Rush começa inspirado por Led Zeppelin, depois tem uma fase Yes e a partir dos anos 80 é influenciado por  The Police. A propósito, os discos da década de 80 me agradam bastante justamente porque têm um som mais calcado em sintetizadores.
Em Dezembro adquiri outros 3 CDs do Rush: o álbum 2112 (cuja faixa-título é um épico de 20 minutos de temática distópica inspirada pelo romance “Anthem”, de Ayn Rand) e as coletâneas Retrospective II (1981-1987) e Icon. Também comprei o DVD Live in San Francisco 1988 (que na verdade é uma reedição de A Show of Hands, gravado em Birmingham); ver uma performance ao vivo deles me fez admirar ainda mais o trio Neil, Geddy e Alex.

O Rush era música de, por e para nerds - por exemplo, nas letras sobre ficção científica e fantasia. Não por acaso, a imprensa musical odiava eles, tratando suas canções como imaturas e feitas para adolescentes. O fato de Neil Peart ser libertário também não era bem visto pela crítica, já que os jornalistas musicais em geral eram de esquerda; além disso, eles eram mais simpáticos ao punk, o que reforçava ainda mais a antipatia pelo rock “pretensioso” e “técnico” do power trio canadense. Isso gerou uma situação divertida, relatada em The Show That Never Ends (David Weigel): nos anos 70, o jornalista Barry Miles, do New Musical Express, era um dos poucos em seu meio que de fato tinha lido Ayn Rand, e estava ofendido que o Rush a havia homenageado em 2112. O que ele não esperava era que Peart estivesse disposto a defender seu ponto de vista em um longo debate; ao contrário do estereótipo do baterista “ogro”, no Rush ele era o intelectual da banda. Neil defendeu que o indivíduo deve ser colocado como prioridade, e quando o entrevistador começou a levantar dúvidas, Peart deu uma resposta deliciosamente ácida, citando o país dele como estudo de caso: “You’re living in the best example. Look at Britain and what socialism has done to Britain! It’s crippling! And what it’s done to the youth. What do you think The Sex Pistols and all the rest of them are really frustrated about? They’re frustrated because they’re growing up in a socialist society in which there’s no place for them as individuals. They either join the morass or they fight it with the only means left. They have literally no future and I lived and worked there and I know what it feels like and it’s not very nice” (p. 163).
Neil Peart entrou no Rush às vésperas do 2º álbum da banda (Fly By Night, de 1975), e foi decisivo não só no departamento lírico, mas também para a sonoridade do Rush; a sua reputação como um dos bateristas mais virtuosos de todos os tempos não é imerecida, e ele completa perfeitamente o “guitar hero” Alex Lifeson e as acrobacias do vocalista Geddy Lee entre o baixo e os teclados.
A história de vida de Neil passa por duas tragédias consecutivas: em 1997, sua filha morreu em um acidente de carro; um ano depois, sua esposa faleceu devido a um câncer. Ele pediu para se afastar do Rush até se recuperar emocionalmente, e a banda ficou em hiato até 2001. Durante esse período ele viajou de motocicleta pelas Américas do Norte e Central. Foi nessa época que conheceu sua segunda esposa, com quem teve sua segunda filha. Quando a banda voltou, enfim fizeram um show no Brasil, tão espetacular que quebraram a regra de gravar um álbum ao vivo somente após quatro de estúdio para lançar essa performance, cujo ápice é a platéia cantando a instrumental “YYZ”:


O Rush encerrou oficialmente sua jornada de 50 anos em 2018, mas no fim de 2015 Neil já havia comunicado sua aposentadoria, devido a uma tendinite crônica e problemas nos ombros. Pouco depois ele descobriu que tinha câncer no cérebro (gliobastoma), e após uma batalha de mais de três anos veio a falecer no dia 7 de Janeiro – embora a família só tenha divulgado a notícia ontem, em um exemplo de respeito à privacidade cada vez mais raro no mundo do rock.
Neil Peart deixa um legado enorme tanto como letrista quanto como baterista. Fico feliz de pelo menos ter virado fã de sua banda meses antes de sua morte. Em homenagem a ele fiz uma playlist do Rush, com 40 músicas e que funciona como um CD triplo em ordem cronológica: 1974-1977 (faixas 1 a 12), 1978-1982 (13 a 26) e 1983-2012 (27 a 40):