Atmosphere
A FESTA NUNCA TERMINA (24 Hour Party People, Reino Unido, 2002) Para quem é fã de cultura pop e rock em geral, e também para quem curte filmes inteligentes e divertidos, eu recomendo muito esse filme.
A história se passa em Manchester, e é contada sob o ponto de vista de Tony Wilson, jornalista musical que fundou a Factory, talvez a mais famosa gravadora independente que já existiu. Abrigou bandas como o Joy Division, o New Order, o Happy Mondays, que revolucionaram o pós-punk, a new wave e o technopop na década de 80. Ele também era um dos responsáveis pela boate Haçienda, point dos indies de Manchester e lançadora de várias tendências. Para quem não sabe, foi na Haçienda que se popularizaram os DJs, o ecstasy e os clubbers. Isso mesmo, foi na cena alternativa que surgiram coisas que hoje são tão populares! =D
A era Factory é demonstrada de uma maneira não muito linear (o que deveria ser um defeito, mas acaba sendo interessante para que o filme não ficasse preso a uma ordem cronológica entediante), e vários dos fatos e pessoas mais importantes do período são mostrados no filme (mesmo que o New Order e “o resto da Inglaterra” tenham sido pouco mostrados).
Martin Hannett, o brilhante produtor do Joy Division, e suas técnicas de gravação “peculiares” (o que resulta em uma das cenas - não-verídicas - mais engraçadas, com ele desmontando a bateria de Stephen Morris e botando-o para tocar no telhado do estúdio, para deixar "She's Lost Control" mais soturna), marca presença. Assim como as loucuras do Happy Mondays, como gravar um disco no Barbados custando 200 mil libras e sem nenhum vocal nas canções (porque o vocalista estava drogado demais para fazer algo que exigisse alguma responsabilidade dele).
Além disso, temos ótimas histórias, como: a do primeiro e lendário show dos Sex Pistols, com 42 pessoas na platéia, sendo que estavam na platéia Peter Hook, Bernard Sumner (que seriam, respectivamente, baixista e guitarrista do JD e do NO), os punks do Buzzcocks, Martin Hannett, Mick Hucknall (vocalista do Simply Red), entre outras futuras celebridades do Brit Rock; o prejuízo dado pelo compacto de Blue Monday (cujo valor de produção mais os impostos eram mais altos que o valor de cada cópia vendida, devido à sua capa extravagante – porém fantástica. Por ter sido, ironicamente, o single mais vendido de todos os tempos, acabou dando prejuízo para a Factory); a morte de Ian Curtis; os problemas com traficantes de ecstasy e a falta de grana que a Haçienda enfrentou.
A Festa Nunca Termina foi todo gravado com uma câmera digital, o que dá uma sensação de liberdade à película. Atores como Steven Coogan (Tony) e, principalmente, Sean Harris (Ian), interpretaram muito bem suas personagens. Contudo, os exageros e distorções de Tony Wilson interferem na realidade dos fatos. Mas vocês queriam o quê? Um documentário realista e chato ou um filme mentiroso e encantador? Uma frase do próprio 'protagonista' resume tudo: "Entre a verdade e o mito, fique com o mito".
Aliás, eu preciso falar da trilha sonora? Músicas como “24 Hour Party People” (Happy Mondays), "Blue Monday" e “Here To Stay” (New Order), “Love Will Tear Us Apart” e “Transmission” (Joy Division) já garantem a qualidade desse setor.
Enfim, chega de falar sobre o filme. Levante-se já do sofá e vá assistir A Festa Nunca Termina, agora!