Hoje é o 30º aniversário de Last Splash, talvez o disco mais beneficiado pela boa vontade do público em relação ao rock alternativo desde que o mesmo ascendeu ao mainstream graças à ascensão meteórica do Nirvana no fim de 1991. Digo isso porque ele é um álbum bem experimental, frequentemente guinando para sonoridades (e letras) esquisitas e caóticas, e mesmo seu maior hit, "Cannonball", está longe de seguir a receita do sucesso radiofônico: a introdução tem uma voz distorcida (gerado por Kim Deal cantar bem perto de um microfone gaita), os vocais dos versos demoram quase 50 segundos para entrar, a linha de baixo começa no tom "errado", há uma pausa súbita no meio da canção, a letra é frequentemente incompreensível etc.
Por outro lado, é inegável o faro melódico de Kim (algo que já era notado em sua canção própria nos Pixies, "Gigantic", e nos adoráveis backing vocals que costumava fornecer às canções de Black Francis), e nos Breeders ela está muito bem acompanhada pela baixista Josephine Wiggs, o baterista Jim Macpherson e a guitarrista (e sua irmã gêmea) Kelley Deal.
Além do clássico "Cannoball" (cujo divertido clipe tocou bastante na MTV e com certeza ajudou na exposição do álbum), outros destaques de Last Splash são "No Aloha" (com uma dinâmica sonora à la Pixies), "I Just Wanna Get Along" (que muitos interpretam como uma cutucada em Black Francis: "We were rich once before your head exploded"), "Do You Love Me Now?" (embora a melhor gravação dessa faixa seja a do EP Safari), o delicioso cover da country "Drivin' On 9" e os singles "Divine Hammer" (uma canção power pop que entrou no disco de última hora e ainda assim é um de seus pontos altos) e "Saints" (um grunge melódico que talvez seja uma das canções de Last Splash que mais influenciou outras bandas alternativas com vocais femininos, inclusive Live Through This, o 2º álbum do Hole).
