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31 outubro 2023

Captain leads his dance right on through the night - join the dance...



O segundo grande álbum de rock progressivo que faz 50 anos neste mês de Outubro é Selling England By The Pound, cuja data oficial de lançamento é 12 de Outubro de 1973.* Este disco não apenas é a obra-prima do Genesis, mas também um melhores LPs de rock lançados nos anos 70.

Selling England... é o quinto álbum de estúdio do Genesis, e o terceiro com a formação clássica da banda (1971-1975), composta por Peter Gabriel (vocais, flauta, oboé, percussão), Tony Banks (órgão, piano, Mellotron, guitarra de 12 cordas), Mike Rutherford (baixo, cítara elétrica, violoncelo, guitarra de 12 cordas), Steve Hackett  (guitarras) e Phil Collins (bateria, percussão e backing vocals).  A banda vinha crescendo a cada disco, e este LP de 1973 é o trabalho mais consistente e magnífico dessa formação do Genesis - ainda que Foxtrot (1972) e The Lamb Lies Down on Broadway (1974) também sejam de altíssimo nível. 

Dave Connolly é preciso em sua análise: "O rock progressivo é uma espécie de narrativa [storytelling] musical. Os dois álbuns anteriores do Genesis, Nursery Cryme [1971] e Foxtrot, certamente se enquadram nessa descrição. Talvez até Trespass [1970] também. Mas Selling England By The Pound elevou a discussão com sons que pareciam um conto de fantasia ganhando vida. As guitarras de Stephen Hackett, os teclados de Tony Banks e os vocais de Peter Gabriel são quase sobrenaturais em sua expressão. Adicione a seção rítmica de Phil Collins e Michael Rutherford e você terá algumas das músicas mais sublimes de todos os tempos."

As três primeiras faixas também são as melhores do disco, formando uma tríade espetacular:

1) "Dancing With The Moonlit Knight", cujo título provisório era "Disney", abre o disco com uma declamação melancolicamente patriótica: "'Can you tell me where my country lies?' / Said the unifaun to his true love's eyes / 'It lies with me!' cried the Queen of Maybe / For her merchandise, he traded in his prize". Junte-se a isso uma atmosfera medieval, com sonoridade céltica, e temos o que George Starostin definiu como "uma declaração trágica do estado atual da Grã-Bretanha, uma lamentação sobre o enorme e intransponível fosso entre o passado romântico e o presente corrupto." A canção vai ganhando vigor, com Gabriel cantando mais alto no refrão e vários solos curtos de guitarra de Hackett, e os dois minutos finais da faixa, também de acordo com Starostin, são "definitivamente um dos momentos mais fascinantes de 'beleza meditativa' que podem ser encontrados no catálogo do Genesis".

2) "I Know What I Like (In Your Wardrobe)" foi o 1º single bem-sucedido da banda, tendo alcançado o 21º lugar das paradas britânicas. É possível que ela tenha conseguido esse feito porque, apesar de ter uma sonoridade progressiva e até mesmo psicodélica, também possui forte apelo pop: a melodia é irresistível; há um flerte estilístico com o glam rock (inclusive na temática sugestivamente andrógina da letra: "Getting better in your wardrobe / Stepping one beyond your show"), o qual estava em seu ápice comercial na Inglaterra; por fim sua duração relativamente "radiofônica" (cerca de 4 minutos, em meio a um disco no qual metade das canções tinha mais de 8 min);

3) "Firth of Fifth", segundo John McFerrin (que concedeu a Selling England... uma das raríssimas notas máximas, "10 (Olympian)", em seu site de resenhas musicais), é um dos melhores momentos do álbum do ponto de vista sonoro: "No que diz respeito à melodia, aos arranjos e principalmente à estrutura, é praticamente a composição progressiva perfeita."

Após três faixas tão exuberantes, Selling England By The Pound concede ao ouvinte uma pausa para respirar na curta e delicada canção acústica "More Fool Me", a primeira da banda a ser composta e cantada por Phil Collins.

O Lado B é aberto pela canção mais longa do disco: "The Battle Of Epping Forest". Ela trata de forma ficcional das lutas de gangues na Inglaterra. É a faixa mais irreverente do disco; Gabriel inclusive emula a voz dos personagens com sotaque hilários. Um dos meus trechos preferidos da letra é sobre o reverendo: "He told me of his strange foundation / Conceived on sight of the Woodstock nation / He'd had to hide his reputation / When poor, 'twas salvation from door to door / But now, with a pin-up guru every week / It's Love, Peace & Truth Incorporated for all who seek."

"After The Ordeal" é um interlúdio instrumental que serve para preparar o ouvinte para outra canção épica (tanto na duração quanto na qualidade): "The Cinema Show", a qual trata dos preparativos para o encontro de um casal, sugestivamente um Romeo e uma Juliet. As expectativas de ambos não poderiam ser mais elevadas: "She dabs her skin with pretty smells / Concealing to appeal / (...) I will make my bed / With her tonight, he cries". A segunda metade da faixa é uma fantástica viagem instrumental, com destaque para os teclados de Tony Banks. 

"Aisle Of Plenty" fecha o álbum repetindo a melodia de "Dancing With The Moonlight", mas com um tema que, comparado ao resto do disco, soa desconcertantemente prosaico - anúncios de supermercado: "English ribs of beef cut down to 47p lb / Peek freans family assorted from 17 1/2 to 12 / Fairy liquid giant - slashed from 20p to 17 1/2 /  Table jellys at 4p each / Anchor butter down to 11p for a 1/2/ Birds Eye dairy cream sponge on offer this week".

Selling England By The Pound foi o maior êxito comercial do Genesis até aquele ponto da carreira da banda: alcançou o 3º lugar das paradas britânicas e o 70º da Billboard (EUA). Mesmo quando o conjunto, já sem Gabriel e Hackett, mudou gradualmente de estilo ao longo dos anos, adotando uma sonoridade mais pop e com uma audiência global cada vez maior, este álbum continuou sendo um dos mais queridos pelos fãs - que foram amplamente recompensados na turnê final do Genesis em 2021-22, cujo setlist continha metade das faixas do álbum (e justamente as melhores): "Dancing With the Moonlit Knight", "Firth of Fifth", "I Know What I Like (In Your Wardrobe)" e "The Cinema Show".

Meu veredicto sobre Selling England... não está distante da análise entusiasmada de McFerrin: "Nunca antes e nunca mais na história do rock progressivo alguém pode encontrar uma confluência tão perfeita de atmosfera, letras bombásticas e ainda assim inteligentes, melodias cativantes, estruturas musicais complicadas e (...) arranjos constantemente divertidos e frequentemente lindos."

* Há, contudo, uma fonte que indica que Selling England.... teria chegado às lojas 14 dias antes, em 28 de Setembro.

 

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