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Kaio

 

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20 agosto 2022

It Is Up To Me Now, Turn On The Bright Lights


20 de Agosto de 2002 foi a data de lançamento de Turn On The Bright Lights, o álbum de estreia do Interpol, uma banda de rock novaiorquina que foi uma das principais expoentes do "post-punk revival" que marcou o rock alternativo da década de 00. A sonoridade do Interpol é fortemente calcada em bandas como Joy Division e Echo and the Bunnymen e, em menor medida, The Smiths, Sonic Youth e shoegaze (p.ex., My Bloody Valentine e Ride).

A faixa de abertura não poderia ser mais atmosférica: "Untitled" cria de forma lenta e efetiva o clima sombrio e melancólico que dominará Turn On The Bright Lights. Em seguida temos "Obstacle 1", uma das canções mais empolgantes do repertório do Interpol (e provavelmente a mais famosa deste álbum); as guitarras são particularmente envolventes.


"NYC" é a faixa em que a influência do shoegaze é mais explícita, com texturas oníricas, os vocais blasé e a "wall of sound" criada pelas guitarras. "PDA" é outra canção de ritmo cativante, graças à competentíssima "cozinha" (bateria + baixo da afiadíssima dupla Samuel Fogarino e Carlos Dengler); não por acaso, é a canção deles que mais costumo ouvir em festas/baladas de temática post-punk.

Possivelmente a faixa de melodia mais "animada" do álbum é "Say Hello To The Angels", e a letra é de um romantismo um pouco desconcertante: "You lack the things / To which I relate / But I see no harm". Depois de uma sequência inicial tão forte, "Hands Away" serve como um interlúdio, com sua letra lacônica e seus arranjos relativamente mais calmos (mas não desprovidos de tensão).

"Obstacle 2" pode não ser tão famosa quanto a sua xará "Obstacle 1" (com a qual, aliás, não tem nenhuma relação lírica ou sonora), mas nem por isso deve ser subestimada; o refrão é mais uma declaração de amor inusitada: "If you can fix me up, girl, we'll go a long long way / If you can fix me up, girl, you'll go a long long way". "Stella Was a Diver and She Was Always Down" é um dos destaques de Turn On The Bright Lights; mais uma vez a banda se sobressai na criação de um certo "mood" através das guitarras de Paul Banks (que também é o vocalista do Interpol) e Daniel Kessler.

"Roland", uma das faixas mais antigas do repertório do Interpol (ao lado de "PDA", ela está no EP Fukd ID 3, lançado no fim de 2000), tem um humor meio cáustico em trechos como: "My best friend’s a butcher, he has sixteen knives / He carries them all over the town, at least he tries / Oh look it stopped snowing".

As duas últimas canções do álbum também estão entre as melhores. "The New" é provavelmente a minha preferida, porque é um épico de 6 minutos que despeja melancolia em sua primeira metade (vide trechos como "But I can't pretend I don't need to defend some part of me from you") e se torna furiosa em sua metade final (mais uma vez tenho que falar das guitarras - desta vez, de como criam texturas que geram forte ressonância emocional). "Leif Erikson" começa em um clima quase fúnebre depois da tempestade que foi "The New", mas aos poucos ganha fôlego (em especial quando a bateria finalmente entra, na metade da faixa) para fechar o disco em grande estilo: "I'll bring you when my lifeboat sails through the night / That is supposing you don't sleep tonight / It's like learning a new language (...) We'll pick up those lonely parts and set them down".

No 10º aniversário deste álbum, foi lançada uma edição comemorativa, com remasterização e duas faixas bônus: a curta e instrumental "Interlude" e a longa e excelente "Specialist".

Após um debut tão poderoso, é até compreensível que o Interpol nunca tenha alcançado novamente o mesmo patamar - ainda que tenha chegado perto em vários momentos do álbum seguinte, Antics (2004). Não importa; Turn On The Bright Lights sozinho já seria o suficiente para marcar o nome deles entre os destaques daquela geração; para mim, é um dos 10 melhores álbuns da década retrasada.