Seven Years
Naquele décimo sexto dia do mês de abril de 99, era uma sexta-feira, aniversário de um amigo meu. Eu estava eufórico, pois seria a primeira festa que eu iria sozinho. Encontrei vários colegas de escola lá, me diverti bastante, comi um monte de doces e salgados, me entupi de Coca Cola e... e... conheci a T. (abreviação do nome dela). Estava muito bem vestida, com um sorriso cativante. Conversamos muito na festa, e eu fiquei fascinado com ela. Percebi que o instinto animal pesou sobre mim, e fiquei encantado com T. Nunca mais fui o mesmo. O garotinho, que dias antes jurava que jamais namoraria, mudou de idéia.
Insisti na amizade com ela. Até decidi fazer basquete para ficar mais tempo com T. Ainda me lembro de algumas datas, como 29/04/99, o dia em que estudamos juntos a classe morfológica dos substantivos. Eu nunca tinha me sentido tão feliz na minha vida. Cheguei a convidá-la para o meu aniversário, mas ela teve que viajar nas férias (29 de junho, naquele ano, já era no recesso escolar); contudo, ela me surpreendeu (positivamente) - ligou para mim no dia do meu 9º aniversário.
Ninguém tinha percebido a minha paixão até um certo dia de agosto daquele ano, quando a professora notou que eu sempre sentava na mesma fila com ela. No início, o pessoal da sala falava em tom de brincadeira que eu gostava da tal garota, mas não demorou muito para perceberem que era algo sério - sim, sério. Não é porque eu ainda era bem jovem que não poderia ter um sentimento "adulto".
Na festa à fantasia de uma colega de classe, passei o tempo inteiro com ela. Um outro menino de minha turma também não desgrudava - eu cheguei a pensar que ele gostava dela, mas era só amizade. O ano acabou, mas eu continuava obcecado por ela. Aliás, por ela e pelos monstrinhos de bolso, como bem definiu minha mãe em certa oportunidade, quando disse "Kaio, você só pensa em Pokémon e T. !"
2000 foi um ano mais complicado. Amadureci muito rápido, e já me considerava um adolescente. Talvez fosse verdade, já que sempre estive á frente dos meus colegas no desenvolvimento intelectual. E a T., também. Aliás, eu e ela éramos os dois melhores nas provas. Acho que ela "ganhava" de mim em Biologia e Português, e eu, em Geografia e História.
Não namorávamos nem nada - era um amor (ou paixão) quase platônico; eu achava que era unilateral, mas, em 2004, uma amiga minha me disse que a T. também gostava um pouco de mim. Mas, no meu caso, era mais do que gostar. Virou quase uma monomania. Toda noite, eu sonhava com ela. Não imaginava meu futuro sem T. E foi justamente por essa disparidade que nada poderia dar certo. Ao contrário do The Sims, você não pode manipular relacionamentos visando igualar a intensidade do amor de cada um dos envolvidos.
Apareceu um concorrente - o rapaz era filho de pessoas famosas, riquinho, esnobe, metido - um verdadeiro cafajeste (não digo isso pelas costas; eu falei isso na cara dele em uma oportunidade. Ganhei um soco no estômago, e ele, uma advertência da coordenadora). Ele parecia ser interessado na T., mas era só por diversão. Tudo ficou mais claro na festa de 10 anos dela, na metade daquele ano, aliás, um dos momentos-chave desse período. Eu me esforçava cada vez mais para conquistá-la - convenci minha mãe a comprar um colar para ela, e fui até amigável com a mãe de T. (eu nunca tive preconceito com "sogras"). Para a surpresa de todos, cantaram o "com-quem-será" duas vezes - uma com o cara interesseiro, e outra comigo. Só que estava claro que só eu que realmente a amava. O tal sujeito, aliás, "ficou" com uma menina na festa, dentro de um carro. Ridículo. No final da festa, ocorreu o contato físico - beijei o rosto dela.
No segundo semestre, meu sofrimento continuou - e ainda havia quem achasse que eu estava sendo cruel com ela ao deixar subentendido que queria ser correspondido. Pessoas que dizem isso não se colocaram no meu lugar. Hoje, eu me vejo quase como um Werther. Aliás, foi ela quem me indicou Legião Urbana, que até hoje é uma das minhas bandas brasileiras prediletas (acho que a primeira que eu ouvi após a dica da T. foi "Pais e filhos").
No final do ano, fiquei sabendo que ela (e 60% da turma), graças a uma 'modinha', iriam estudar de manhã; eu optei por continuar no turno vespertino. Seria uma boa maneira de tentar esquecê-la, e seguir em frente. Mas as conseqüências já eram refletidas na minha personalidade - mais recluso, menos otimista, mais viciado em videogames - a minha paixão por games só acabaria em meados de 2003, quando eu comecei a ouvir Beatles e ler livros sobre história e política.
Encontrei a T. novamente em raríssimas oportunidades. E não perdi a chance de "exorcizar os dêmonios do passado": em 2002, eu estava na biblioteca, e ela também; conversando com meus amigos, falei que não aguentava aquela gaga (sim, T. era gaga, mas eu nem ligava pra isso). Ela ouviu, e veio tirar satisfações comigo. Nem discuti, ouvi tudo com um cara bem cínica. Se a magoei ou não, isso já nem me importava. Por mais irracional que fosse minha atitude, eu precisava fazê-la para tentar esquecer tudo.
Não adiantou muito. Passaram-se os anos, e eu nunca namorei uma garota - cheguei a gostar de uma ou outra, mas era apenas uma atração passageira, de no máximo, 1 ou 2 semanas. O máximo que ocorreu foi por L., entre outubro e novembro de 2005, em que eu voltei a sentir uma paixão impulsiva por alguém. Felizmente, consegui esquecer tudo, virou mera 'nota de rodapé' na minha vida.
O trauma de ter sido desiludido em relação ao amor tão novo ainda me assombra. A garota em si, já nem gosto mais, mas criei uma espécie de restrição a relacionamentos amorosos. Voltei à estaca zero - a idéia de ficar solteiro pelo resto da vida voltou a ser considerada. Não vou fugir dessa realidade, não pretendo enganar a mim mesmo. "Isolation, isolation, isolation..."