[Meu Facebook] [Meu Last.FM] [Meu Twitter]


 

 

Kaio

 

Veja meu perfil completo

 

 

 

 

25 abril 2019

I put my trousers on, have a cup of tea and I think about leaving the house



Há 25 anos, em 25 de Abril de 1994, o Blur lançou Parklife, um dos melhores e mais importantes álbuns britânicos dos anos 90. Foi o primeiro de vários discos da banda que alcançariam o 1º lugar das paradas inglesas, e representou o estouro definitivo do britpop - embora os primeiros passos do estilo já houvessem sido dados dois anos antes pelo próprio Blur, com o single "Popscene" (cuja letra debochada sobre a indústria musical parece uma herdeira de "Top of the Pops", dos Kinks). 

Já escrevi sobre Parklife em 2014: 
"Após apostar numa sonoridade genuinamente inglesa e em letras irônicas e sociológicas no álbum Modern Life is Rubbish, a banda deu prosseguimento a essa nova estética (e ética) em Parklife. O resultado foi um álbum criativo e eclético: temos a dance music 'Girls & Boys', o pop beatlemaníaco de 'End of a Century', o deboche à classe média londrina de 'Parklife' e 'Tracy Jacks', o romantismo desiludido de 'To the End', a psicodelia de 'Far Out', o hardcore de 'Bank Holiday' e, por fim, a épica 'This is a Low'."
O que eu teria a acrescentar?
1. Phil Daniels (ator principal do filme Quadrophenia, baseado no álbum homônimo do The Who e retrato dos mods, uma das inspirações estéticas do britpop) foi convidado pelo Blur a cantar em "The Debt Collector", mas Damon Albarn achou que esta canção ficava melhor como instrumental, então Phil acabou emprestando seus vocais para os versos da faixa-título. Deu tão certo que ele aparece no clipe e foi convidado para cantar Parklife em várias ocasiões, inclusive nas turnês de 2009 e 2012/13.





2. Embora a proposta de escrever letras baseadas no cotidiano britânico fosse uma continuidade em relação a Modern Life, Parklife adiciona um olhar mais aguçado, por vezes cáustico - e isso será levado às últimas conseqüências no álbum seguinte, The Great Escape. Ex.: "London Loves" ("London loves / The way people just fall apart / London loves / The way you just don't stand a chance"), "Jubilee" ("He not keen on being like anyone else / So he just plays on his computer games") e, de forma mais melancólica, em "End of a Century" ("Sex on the TV / Everybody's at it / The mind gets dirty / As you get closer to thirty").
3. "This is a Low" foi gravada na última sessão de estúdio antes da finalização do álbum. O produtor Stephen Street disse à "Uncut" em 2009 que foi esta faixa que levou Parklife a outro nível, graças à inspirada guitarra de Graham Coxon e à bela letra de Damon.




17 abril 2019

Hey, must be a devil between us or whores in my head



17 de Abril de 1989: neste dia, os Pixies lançaram a sua segunda obra-prima: Doolittle.

Após o imenso sucesso de crítica de Surfer Rosa, principalmente na Inglaterra, a banda resolveu gravar um sucessor que mantinha a fórmula do álbum anterior (canções curtas com versos calmos e refrões furiosos + letras sobre violência, sexo, morte e temáticas bíblicas), mas a aperfeiçoava até seu limite. Em entrevista para a revista Uncut em 2004, o produtor Gil Norton (que também trabalhou em Ocean Rain, do Echo and The Bunnymen) relata que buscou, junto do vocalista e guitarrista-base Black Francis, clarificar estilisticamente a dinâmica sonora "loud-quiet-loud" (que inclusive é o nome de um documentário sobre a banda). 
Francis estava particularmente inspirado naquela época, e colocou no álbum pelo menos seis das canções mais famosas dos Pixies: os singles "Monkey Gone to Heaven" (repleta de simbologia religiosa: "If man is five, then the devil is six, then God is seven") e "Here Comes Your Man" (sonoridade extremamente pop e cativante), além de "Debaser" (eletrizante faixa de abertura que cita Luis Buñuel e cuja dinâmica Kurt Cobain admitia ter inspirado "Smells Like Teen Spirit"), "Wave of Mutilation" (que meses depois foi regravada em uma versão lenta e acústica, a qual realçou sua letra mórbida), "Hey" (a guitarra de Joey Santiago garante momentos inesquecíveis) e "Gouge Away" (uma no mínimo inusitada interpretação da história de Sansão e Dalila).


Doolittle, contudo, é um disco tão consistente que todas as outras nove faixas também são espetaculares. "Tame" é de uma tensão sexual palpável; "I Bleed" tem como destaque tanto a linha de baixo de Kim Deal quanto o seu backing vocal; "Dead" é um elo com a estética crua de Surfer Rosa; "Mr. Grieves" é um empolgante reggae; "Crackity Jones" é a mais acelerada - e curta - do álbum; a divertida "La La Love You" conta com vocais do baterista David Lovering; "No. 13 Baby" é a composição mais sofisticada, com direito a um coda de quase 2 minutos; "There Goes My Gun" retoma o clima sombrio; e "Silver", composta por Francis e Deal, é uma faixa country com atmosfera desoladora.
Os B-sides dos singles também possuem várias canções de alto nível que poderiam perfeitamente ter entrado no álbum, em especial "Into The White", que conta com ótimos vocais de Kim Deal e uma bateria notável.
Doolittle manteve o êxito entre os críticos, mas também foi um relativo sucesso comercial: o álbum alcançou o top 10 na Inglaterra (e, duas décadas e meia depois, conseguiu disco de platina) e seus dois singles foram top 5 nas paradas de rock alternativo nos EUA, onde superou a marca de 1 milhão de cópias às vésperas de seu 30º aniversário. 
A turnê de divulgação do álbum, contudo, marcou o início da desintegração da banda, com o crescente choque de personalidades - mas também estético - entre Black Francis (que chegou a fazer uma turnê solo) e Kim Deal (a qual lançaria, no ano seguinte, o primeiro álbum dos Breeders). Doolittle encerra, portanto, a melhor fase dos Pixies, a qual deixou frutos em várias bandas de rock alternativo nas três décadas seguintes; além do supracitado Nirvana, o legado deles se estende sobre Radiohead, PJ Harvey, Weezer, The Strokes etc.