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13 dezembro 2023

Spring Time (album version)

Viajei para São Paulo no fim de semana retrasado (1º a 4 de Dezembro) para ir ao festival Primavera Sound 2023. Quando anunciaram em Junho que haveria um show do The Cure, já seria motivo suficiente para eu querer ir - ainda que meio chateado porque a edição brasileira, ao contrário da argentina e da chilena, não contaria com o Blur (provavelmente por não serem tão populares por aqui a ponto de serem headliners de um dos dias do festival), o qual foi substituído como atração principal do sábado por The Killers.

O line-up do festival, contudo, era tão bom que havia pelo menos outras 7 bandas/artistas que eu queria ver (Slowdive, Beck, The Hives, Pet Shop Boys, Bad Religion, Cansei de Ser Sexy e os próprios Killers) e outros 4 que comecei a ouvir na semana anterior ao Primavera e que fiquei animado para assistir ao vivo (Black Midi, Just Mustard, Soccer Mommy e Carly Rae Jepsen). Desde o Lollapalooza 2014 - no qual vi os shows de Apanhador Só, Raimundos, Johnny Marr, Pixies e Arcade Fire e, por choque de horário, não pude assistir aos de Vampire Weekend, Soundgarden e Arcade Fire - eu não tinha encontrado tantas atrações interessantes reunidas num festival só!

Quando saiu o horário dos shows, infelizmente dois dos que eu queria ver tiveram que ser sacrificados: o Bad Religion se apresentaria entre o Beck e o The Cure, os quais tocariam no mesmo palco; e o CSS faria sua performance no mesmo horário do Slowdive. Felizmente  o Metric, que faria apenas um show solo em São Paulo na sexta 1º/12, foi incluído de última hora no line-up do festival, então agora eu tinha 11 apresentações para assistir ao longo de 2 dias!

Havia, contudo, duas questões para resolver nos dias que antecediam ao festival. A primeira era terminar até a deadline (27/11) um artigo que estava escrevendo para ser um dos capítulos do livro do Krisis, grupo de pesquisa em Teoria Política do IESP-UERJ do qual participo. Após um árduo processo de escrita, consegui concluir "Ensaio de uma Teoria Política Pessimista", um tema que já me interessa há 3 anos e meio (desde que li Pessimism, de Joshua Foa Dienstag) e sobre o qual decidi escrever em Junho do ano passado (quando enfim me "aposentei" do Merquior como objeto de estudo e pesquisa). O texto ficou com 27 páginas e já está em fase de revisão por um dos colegas do grupo.

A segunda, e mais urgente, era revender o ingresso da minha esposa, que não pôde ir por (bons) motivos pessoais. Após várias tentativas ao longo de quase um mês em dois grupos de Facebook, enfim consegui fechar a negociação com um comprador literalmente na véspera da viagem. Que alívio!

Com as pendências resolvidas, pude viajar com a cabeça mais tranquila. Preparei 4 playlists de bandas que tocariam no festival (Pet Shop Boys, The Hives, Beck e The Killers), as quais se juntaram às 2 que eu já tinha (Slowdive e The Cure).

Cheguei cedo na rodoviária, então passei um tempo na Livraria Leitura até a hora do embarque. No ônibus do Rio para São Paulo, li Plataforma (Michel Houellebecq) até a página 69 - estou gostando do livro, tem um tom bem cínico - e ouvi minhas playlists de Hives, PSB e Killers. Consegui fazer um almoço barato no famigerado Graal comendo pequenas porções de peixe, carnes, frango e nhoque.

Assim que cheguei em SP, peguei o metrô para a estação Anhangabaú e fui ao Shopping Light, onde combinei de encontrar o comprador do ingresso da minha esposa. Como ele vinha de uma região mais afastada da cidade, chegou meia hora depois. Deu tudo certo: ajudei ele a ativar a pulseira e ele me pagou logo em seguida.

Agora sim eu podia entrar totalmente no "modo turista"! Às 18h passei na Galeria do Rock, aproveitando que ela ficava no caminho a pé para o apartamento que aluguei via Airbnb na República. Comprei 5 CDs, dentre eles três na Aqualung Records, uma loja cujo site eu já conhecia: The Ballad of Darren (Blur), Turn of the Cards (Renaissance) e Snegs (Som Nosso de Cada Dia).



Após chegar ao apartamento às 19h, até pensei em passear à noite (cheguei a conversar sobre isso nos dois grupos de WhatsApp de pessoas que iam ao Primavera sozinhas), mas bastou jantar no McDonald's que ficava lá perto para de uma só vez matar a fome e ficar com sono, rs. Fui dormir às 22h30, mas perdi o sono às 1h30: a ansiedade para o festival era tão grande que fiquei vendo uma reprise de França 3x1 Polônia (oitavas de final da Copa passada) na FIFA TV - um dos canais disponíveis na televisão do apartamento - para tentar pegar no sono, rs. Também postei no Twitter um resumo da viagem até o momento.

Consegui dormir de novo quase às 5 da manhã, e acordei no sábado às 7h. Tomei café com leite e comi pão de queijo recheado de cheddar no McDonald's, e já estava de volta à Galeria do Rock às 9h, mas dessa vez o foco era comprar camisetas. A primeira parada, contudo, foi na Aqualung, aonde retornei para comprar o CD This Is Why (Paramore) - na noite anterior eu me lembrei que eles deviam ter este álbum, que considero um dos melhores de 2023. Ao longo daquela manhã passei não apenas na Galeria do Rock, mas também em uma outra galeria lá perto, na Rua Sete de Abril. Comprei CDs de Violeta de Outono, The Wedding Present, dois do Prince, entre outros.



Quanto às camisetas, comprei quatro: The Killers na Oficina Rock; Joy Division na London Calling; e The Cure e Sonic Youth na Locomotiva Discos (a loja de que mais gostei na galeria de 7 de Abril).



Após toda essa peregrinação na manhã de sábado, quando fui ver já era 12h30 - hora de almoçar e me arrumar para o festival! Perto do prédio em que eu estava hospedado - e do lado do McDonald's - havia um Habib's. Pedi para viagem cinco esfihas e um kibe. Minha mochila sacola consistia basicamente de: óculos de grau (para trocar com os óculos escuros quando anoitecesse), protetor solar, bolacha Passatempo, cookie Bauducco e garrafas de água mineral. Saí do apartamento às 13h40, e após seis estações na Linha 4 (Amarela) e dez na Linha 9 (Verde) e uma longa ladeira em Interlagos, enfim cheguei ao festival!

(Digressão: durante o percurso da República até Pinheiros, onde fiz baldeação para a Linha 9, bati papo com um cara que faz kendo, a arte marcial que minha esposa pratica há 10 anos! Achei curioso alguém estar carregando nas costas o que aparentava ser uma shinai - espada de bambu - , aí não resisti e perguntei para ele, e de fato era uma shinai e ele, um praticamente de kendo, rs. Ele não conhece minha esposa, mas no dojô dele há um kenshi que já foi do dojô dela no Rio. Foi uma conversa bacana! A propósito, as duas últimas vezes que estive em SP foram para eventos de artes marciais dos quais a Carolina participou - um treino de kendo em Fevereiro/2022 e um exame de iaido em Julho/2023)



O 1º dia do Primavera Sound foi maravilhoso! Cheguei às 15h em ponto e encarei uma maratona de shows, e todos foram excelentes! Faço a seguir uma resenha de cada um deles:



1)  Black MidiVi metade do concerto assim que cheguei em Interlagos. Teve altos e baixos: gostei das faixas mais agitadas (como "Welcome to Hell"), mas as mais lentas (particularmente uma chamada... "Slow") quebraram o ritmo, então saí alguns minutos antes do fim para pegar um bom lugar no Metric.


2) Metric: quando anunciaram que eles fariam um show solo no Cine Jóia na véspera do festival, fiquei bem animado, mas os ingressos gratuitos para quem tinha o passaporte para os 2 dias (Primavera Pass) se esgotaram em pouquíssimos minutos. Tudo mudou no dia 22/11, quando a banda entrou na programação depois que o MUNA cancelou sua participação - a vocalista havia fraturado o tornozelo. 

O setlist do Metric começou em alto nível, pois 3 das 4 primeiras faixas foram singles do álbum Fantasies, o melhor da discografia deles: "Gold Guns Girls", "Gimme Sympathy" e "Help I'm Alive". Obviamente fiquei bem empolgado com essa abertura, inclusive pela oportunidade de enfim ver ao vivo uma banda que comecei a ouvir em 2008 e que foi trilha sonora de bons momentos da minha época de faculdade.


Outros destaques do show foram "Combat Baby", "Black Sheep" e o encerramento com "Breathing Underwater". Também gostei das faixas mais eletrônicas dos discos mais recentes, como "Dark Saturday". Emily Haines tem muita presença de palco, e animou bastante a plateia!


3) The Hives: eu já sabia das brincadeiras deles (ex.: ficarem congelados numa pose por um minuto, botarem a plateia para sentar) por ter ido ao show que realizaram em Brasília em 2008; mesmo assim, não deixou de ser uma performance bem divertida. Os Hives são uma banda extremamente carismática, e provavelmente converteram novos fãs após esta apresentação no Primavera.


Quanto ao repertório, tocaram alguns dos clássicos ("Main Offender", "Hate To Say I Told You So", "Tick Tick Boom") e várias do disco novo, The Death Of Randy Fitzsimmons, o qual ficou muito bom - dentre elas, as melhores foram "Bogus Operandi", "Countdown To Shutdown" e "Rigor Mortis Radio". Como eles são suecos, sofreram bastante com o calor: o baterista Chris Dangerous estava com o rosto vermelho (mas chegou a ficar roxo) e o hiperativo vocalista Pelle Almqvist ficou tão exausto que, durante a última faixa do show, simplesmente se jogou dentro de um freezer horizontal que estava na passarela para recuperar o fôlego.


4) Slowdive: perdi a maior parte da 1ª música ("Shanty") porque o show deles começou antes mesmo dos Hives terminarem, mas fui correndo e ainda peguei um bom lugar - bem mais perto do Palco São Paulo do que alguém que estava em outro palco há apenas 5 minutos geralmente conseguiria, rs.

Mesmo sem poder cantar devido a uma pneumonia, Rachel Goswell deu um show de simpatia, seja fazendo mímica das letras, tocando guitarra ou simplesmente interagindo com a plateia. O setlist do Slowdive foi impecável: escolheram as melhores faixas de Pygmalion ("Crazy for You", "Blue Skied An' Clear"), Slowdive ("Star Roving", "Sugar for the Pill") e do álbum novo, Everything Is Alive ("Kisses"), e ainda fecharam com 3 faixas do Souvlaki que estão entre minhas favoritas da banda: "Alison", "When The Sun Hits" e "40 Days". 


Além disso, tocaram o primeiro single deles, a autointitulada "Slowdive"! Pulei de alegria quando ela começou; embora estivesse no set do show solo que fizeram em São Paulo no dia 30/11, eu não achava que ela ia entrar na apresentação do Primavera Sound. Felizmente estava equivocado! "Slowdive, you can't touch me now..."

Em suma, uma das maiores bandas de shoegaze fez um belo show, e ainda foram agraciados com o pôr do sol ocorrendo durante a apresentação deles. Era um dos concertos que eu mais queria ver no Primavera (ouço Slowdive desde 2006 e Souvlaki está na minha lista de 20 melhores discos da década de 1990), e saí mais do que satisfeito.

Eram 18h25, e como o próximo show que eu pretendia ver era só às 19h50, finalmente tive tempo para marcar de encontrar o pessoal dos dois grupos. Marquei em um "tapete" verde que ficava perto do Palco Barcelona. Vieram a Nicolle e a Jacqueline de um dos grupos e o Guilherme do outro. Foi bem legal fazer esse crossover

Enquanto estávamos lá deu para ouvir o show da Marisa Monte na íntegra - nada que me interessasse muito, mas gostei da homenagem à Rita Lee no final, quando ela convidou o viúvo Roberto de Carvalho para tocar em "Doce Vampiro" e "Mania de Você".

Iríamos ver juntos os Pet Shop Boys, mas foquei tanto em desbravar a multidão para chegar o mais próximo possível do palco que os novos colegas acabaram ficando para trás - mas, pelo que me contaram, ainda assim ficaram em boas posições para assistir ao show.


5) Pet Shop Boys: o melhor show do 1º dia do festival, tanto em termos de produção de palco (caprichadíssima!) quanto de repertório, pois todos os grandes hits da melhor fase da banda (1985-1993) foram executados. Os melhores momentos foram "Suburbia", "Opportunities (Let's Make Lots of Money)", o medley "Where the Streets Have No Name (I Can't Take My Eyes Off You)", "Left To My Own Devices", "Domino Dancing", "Always On My Mind", "It's a Sin" e o excelente bis com "West End Girls" (minha preferida do PSB, até mesmo porque foi a 1ª deles que ouvi, em 1997) e "Being Boring". Além disso, escolheram bem as faixas mais recentes, como "Dreamland" (2020). O vocal de Neil Tennant - que, para minha surpresa, já tem 69 anos de idade! - está intacto.

Ainda bem que decidi dar nota para os meus CDs do Pet Shop Boys na semana anterior ao festival no Album of the Year, pois aproveitei para explorar a discografia deles. Com isso, conhecia todas as faixas que tocaram no show, mesmo as que não são tão famosas, como "I Don't Know What You Want But I Can't Give It Any More" (1999). Em suas quatro décadas de carreira, Neil e Chris Lowe continuam desenvolvendo uma combinação rara de música abertamente pop com letras inteligentes.


6) The Killers: foi uma ótima performance, e poderia ter sido até mesmo a melhor de sábado se dois clássicos não tivessem ficado de fora do setlist: "Jenny Was A Friend of Mine" e "Sam's Town". Havia pelo menos 4 faixas medianas dos discos mais recentes ("The Way It Was", "Shot at the Night", "In the Car Outside" e "Caution") que poderiam perfeitamente ter cedido lugar a pelo menos uma delas. Outras canções dos melhores álbuns da banda, Hot Fuss (2004) e Sam's Town (2006) - ou mesmo alguns dos B-sides de Sawdust (2007) -, também poderiam ter entrado no set, até porque na antevéspera os Killers tocaram duas delas no show solo no Tokio Marine Hall: "This River is Wild" e "Under the Gun".

Devo concordar com Marcelo Costa, do Scream & Yell: "Quando o Killers perceber, tal qual o Interpol, que a única coisa que vale a pena na sua discografia são os dois primeiros discos, e decidir sair em turnê tocando os dois na integra, teremos um show impecável para se acabar de cantar e pular".


Feitas essas ressalvas, Brandon Flowers é um showman dos mais cativantes e empolgantes; o baterista Ronnie Vannucci Jr. também mandou muito bem (o que me fez sentir mais ainda a ausência de "Jenny", uma das canções deles com melhor som de bateria). Faixas épicas como "All These Things That I've Done", "When You Were Young" e "Human" ficam ainda melhores ao vivo. Dentre as canções pós-Day & Age (2008), a melhor foi "The Man", que é dançante e tem uma letra adoravelmente marrenta. Ah, e vale ressaltar que os Killers abriram a apresentação com "Mr. Brightside", deixando a plateia eletrizada desde os primeiros instantes.

Assim que acabou o último show da noite, marquei de encontrar o pessoal de um dos grupos de WhatsApp perto do letreiro do festival. Voltamos juntos para a estação de trem do Autódromo. Foi uma longa caminhada, realçada pela fila enorme para entrar na estação. Só cheguei no apartamento em torno de 1h30 da manhã. Ainda enérgico por um dia tão intenso, só dormi cerca de uma hora depois.


Acordei espontaneamente às 6 da manhã. Tomei café da manhã novamente no McDonald's - desta vez, um queijo quente (estava com saudades dele!) e um café com leite. Fiquei conversando com minha esposa e com o pessoal dos grupos de WhatsApp enquanto ouvia no YouTube canções do Just Mustard e do Soccer Mommy que possivelmente seriam tocadas ao vivo. Fui almoçar às 11h num restaurante lá perto, e foi uma ótima escolha: o prato de macarrão ao molho de tomate - e com o queijo ralado que adicionei - com costela de boi estava delicioso, e era tão grande (servia facilmente 2 pessoas) que levei num isopor o que não consegui comer - seria meu café da manhã do dia seguinte, rs!

O 2º dia do "Prima" manteve o altíssimo nível do festival! Cheguei às 13h35 e fui direto para os shows; sendo assim, faço a seguir uma breve resenha daqueles em que fui:


7) Just Mustard: é uma banda na melhor tradição shoegaze de vocais etéreos e angelicais e guitarras distorcidas - e com o bônus de uma bateria proeminente. Mesmo tendo que encarar o calor de 35º, valeu a pena chegar cedo para o show deles. Os destaques da apresentação foram "Curtains" (cujo efeito tremolo na guitarra lembra o de "Only Shallow", dos também irlandeses My Bloody Valentine) e as ótimas "Deaf", "Frank" e "I Am You". Não sei se era timidez ou calor, mas a banda pouco interagiu com o público - o que não impediu que eu e as pessoas próximas puxássemos um "Just Mustard! Just Mustard!". Dias depois descobri que eles estão abrindo vários shows para o The Cure; digamos que Robert Smith tem bom gosto.


8) Soccer Mommy: a sonoridade bem melódica de Sophia Allison e cia. é um indie pop/rock com elementos de dream pop. Foi um show bem agradável; combinou bem com o ar mais fresco (devido à sombra) do Palco Barcelona. As melhores faixas foram "Circle The Drain", "Shotgun" e "Your Dog", mas o setlist como um todo foi muito bom - tanto que foi uma das bandas que mais ouvi nos dias seguintes ao festival.


Como o próximo show que eu realmente queria ver era o do Beck (mas busquei ficar perto do palco da Carly Rae para pelo menos ouvir o show dela), aproveitei para fazer uma pausa na maratona e combinar de encontrar de novo o pessoal dos grupos. 
Já na saída do show do Soccer Mommy encontrei por acaso o Guilherme. Pouco depois mandei mensagem para a Nicolle, que estava por perto, e ela veio com duas colegas. Conversamos um pouco, mas depois disso houve uma dispersão: o Guilherme foi ver a Marina Sena, as meninas foram para o Bad Religion e eu e a Nicolle queríamos assistir à dobradinha Beck + The Cure.

(Digressão: não fui ao Bad Religion - banda que, aliás, já vi ao vivo em Brasília em 2011 -, mas foi por um bom motivo - chegar às 17h no Palco Corona, no qual o Beck tocaria às 17h40 e o The Cure, às 20h25.)


9) Carly Rae Jepsen: o show mais explicitamente pop do dia. Não é muito meu estilo, então aproveitei para descansar lá perto, e aproveitei para tirar esta foto. Ou seja, eu mais ouvi do que vi a apresentação. De toda forma, gostei de "Run Away With Me" e "I Really Like You", do groove de "Talking to Yourself" e, é claro, do maior hit dela, "Call Me Maybe".

Assim que acabou o show dela e o público que estava lá só pela Carly Rae se dispersou, eu e a Nicolle nos preparamos para a maratona (p.ex., encher as garrafinhas de água nos bebedouros gratuitos) e fomos para o Palco Corona 40 minutos antes do próximo show. Valeu a pena, pois ficamos em uma posição de ótima visibilidade, até melhor do que eu previa que conseguiríamos.


10) Beck: embora já gostasse dele há alguns anos (tenho 6 CDs: Odelay, Mutations, Guero, Sea Change - o qual adquiri dias antes do festival -, Mellow Gold e Midnite Vultures - os dois últimos eu comprei anteontem, ainda movido pelo entusiasmo pós-show), nunca tinha visto um vídeo dele ao vivo, então fui pego totalmente desprevenido por sua enorme energia no palco! 

Foi um showzaço, com várias faixas empolgantes como "Devils Haircut", "Mixed Bizness", "The New Pollution", "Qué Onda Guero", "Girl", "Loser", "Where's It At" e "E-Pro" (a minha favorita dele, e também aquela em que mais pulei, rs). Gosto muito do estilo pós-moderno do Beck, que não respeita barreiras entre gêneros e faz uma música que mistura folk, hip hop, R&B, funk, rock alternativo, country, eletrônica etc.


Parte do que tornou o show tão divertido é que havia um grupo de amigas pernambucanas bem animadas perto de mim. Elas pareciam ser bem fãs do cantor compositor, e aproveitavam qualquer brecha para soltar pérolas como "Beck, tô solteira!" e "Fabiaaaana [amiga delas], cadê você?".

O final foi bem inusitado, com Beck pegando sua gaita para tocar a lo-fi "One Foot in the Grave". Se uma das pendências da minha trajetória de festivais foi ter perdido o show dele no Planeta Terra 2013 porque colocaram no mesmo horário do Blur, ela foi devidamente paga pela incrível performance daquele domingo.

Conversei bastante com a Nicolle nas duas horas que antecederam o show do The Cure. Fiquei feliz de ter feito uma amizade com alguém de gosto musical parecido ao meu! Aliás, percebi que a música é o fenômeno que me deixa mais extrovertido, eufórico, comunicativo e aberto às pessoas; foram raríssimas as vezes na minha vida (por sinal, quase todas elas em festivais) que puxei tanto papo com quem estava à volta, rs.

Pontualmente às 20h25, começou o show mais aguardado do Primavera Sound 2023...

11) The Cure: sem dúvidas o melhor show do dia e do festival. Diria até que foi melhor do que o show deles em que fui no HSBC Arena, em 2013; teve 11 faixas a menos (29 x 40), mas tiraram os "fillers" (leia-se: só tem uma faixa do Wild Mood Swings [1996] e nenhuma dos três discos seguintes) e o próprio estilo expansivo da música do Cure combina mais com uma apresentação ao ar livre do que com um ambiente fechado. 

Todas as fases da banda foram bem representadas: as canções longas e atmosféricas, as góticas, as dançantes, as românticas, o jangle pop... E ainda tocaram "Charlotte Sometimes", o que foi uma grata surpresa, pois ela não estava no setlist da apresentação deles na Argentina!

Os destaques do show foram muitos, mas vou me limitar a citar 12 das 29 canções tocadas: no primeiro ato, "Lovesong", "Inbetween Days", "Just Like Heaven" e o trio do Seventeen Seconds composto por "At Night", "Play for Today" e "A Forest"; no bis / segundo ato, "Disintegration" e a própria "Charlotte Sometimes"; no terceiro ato (ou segundo bis) os melhores momentos foram a beleza gótica de "Lullaby", a eletrizante "The Walk" e as animadas e fofinhas "Friday I'm in Love" e "Boys Don't Cry".

As canções novas, que possivelmente entrarão em um novo álbum, o qual Robert Smith nomeou Songs in a Lost World, parecem promissoras  - particularmente "Alone", que tem uma letra bem melancólica; porém, uma delas ("Endsong") soou meio arrastada, e fiquei até meio distraído enquanto ela não terminava sua longa introdução instrumental. Tudo bem, isso é perdoável, é parte da própria "experiência Cure", e serviu para dar um respiro para a reta final do show, onde a banda caprichosamente concentrou seus maiores hits, como se fosse uma recompensa para aqueles que atravessaram a etapa mais introspectiva e soturna da performance.

Já que vários sites (Scream & YellG1, Estadão, Tenho Mais Discos Que Amigos) fizeram um ranking dos shows do Primavera Sound, resolvi fazer o meu próprio. Os critérios são bem subjetivos, mas também tentei me pautar por certa objetividade (p.ex., consistência do setlist, o que tirou pontos dos Killers mas favoreceu os PSB e o Slowdive). Se fosse uma tier list, os dois primeiros ficariam no S, do 3º ao 7º colocados é um empate técnico com todos no A, o 8º e o 9º foram B e o 10º e o 11º, C. Vou indicar essa hierarquia por cores:

1º The Cure

2º Pet Shop Boys

3º Beck

4º The Killers

5º Slowdive

6º The Hives

7º Metric

8º Soccer Mommy 

9º Just Mustard

10 - Carly Rae Jepsen (com a ressalva de que este eu mais ouvi do que vi)

11º Black Midi


23h05. O "Prima" chegava ao fim. Após me despedir da Nicolle (que foi encontrar o pessoal da excursão com quem veio ao festival), encontrei a Luana e a Fernanda - duas das garotas do grupo com quem eu tinha voltado no trem na noite anterior - e uma amiga delas. Dessa vez teve bem menos fila para voltar para casa, até porque muita gente resolveu comprar a passagem do trem expresso após verem a fila mínima para este na entrada da estação no dia anterior. Curiosamente isso virou uma situação à la "a lebre e a tartaruga": tanta gente decidiu pelo expresso que a fila "comum" - de quem só pagou a passagem normal de trem/metrô - ficou menor que a do próprio expresso, rs.

Cheguei no apartamento no mesmo horário (1h30), sempre andando perto de outras pessoas, até porque o bairro em que estava hospedado (República), mesmo sendo boêmio - literalmente do outro lado da rua do prédio havia o Bar Brahma - e bem iluminado, tinha alguns transeuntes meio suspeitos, e não era bom ficar dando mole.

Dessa vez peguei no sono em torno de 2 da manhã, e novamente acordei às 6h. Comi o supramencionado café-almoço (macarrão com costela), postei no Twitter e no Instagram fotos e resenhas dos shows de domingo, arrumei as malas e o apartamento e parti para a rodoviária. Enquanto esperava o ônibus embarcar, comprei no estande da Livraria Leitura na rodoviária, por apenas R$ 13,90, um livro do Hayek (O Renascimento do Liberalismo) que eu quase havia comprado na volta da viagem anterior para São Paulo. Já faz um bom tempo que não comungo da ideologia liberista da Escola Austríaca, mas de qualquer maneira era um bom preço por um livro de um autor que posso vir a ler no futuro por um pretexto ou outro. Fiquei um tempo na Sala VIP da 1001, e o embarque atrasou um pouco. Do meu lado e no banco da frente vieram um rapaz e duas moças que foram ao outro grande evento ocorrido em SP naquele fim de semana: a CCXP (Comic-Con). Achei engraçado que o menino não fazia ideia do que era o Primavera Sound - bom, cada um com sua respectiva cultura pop, rs.

Na volta para casa fiquei ouvindo duas playlists: a de Beck e a de The Cure. Tive que esperar meia hora na rodoviária até o preço do Uber baixar, e enfim cheguei em casa às 18h30. Assim que a Carolina chegou em casa, contei para ela a jornada narrada até aqui.

***

Vamos às considerações finais. No dia seguinte ao festival, li o seguinte tweet: "talvez pareça que o sentido da minha vida seja apenas ver shows e é. é isso mesmo". Estou me sentindo exatamente assim após o Primavera Sound. Incrível a capacidade de um festival renovar as energias e também servir de marco importante na minha vida. Isso já tinha acontecido comigo antes (Planeta Terra 2010: o ápice da época universitária; Planeta Terra 2011: a despedida dessa época, pois uma semana antes eu tinha defendido minha monografia; Planeta Terra 2012: a redenção de um ano complicado; Planeta Terra 2013: o primeiro festival em que fui com a Carolina; Rock in Rio 2019: em meio a um dos anos mais difíceis da minha vida, fui a um grande parque de diversões que teve como inusitada atração um show épico do King Crimson), mas dessa vez a sensação foi mais forte. 

O festival foi há 10 dias, mas na minha cabeça parece que ele continua, pois ainda estou ouvindo sem parar as bandas em cujos shows eu fui. Ontem fiz uma playlist de Metric, e na semana passada vi no Globoplay dois dos shows que não pude assistir ao vivo: Cansei de ser Sexy e Bad Religion. 

O do CSS foi simpático: os vídeos no telão mostravam que a banda de reputação hipster (vide paródia do Hermes & Renato: "Também Sou Hype") hoje em dia não tem medo de se assumir cringe; o setlist contou com algumas das minhas favoritas ("Music Is My Hot Hot Sex", "This Month, Day 10", "Let's Make Love and Listen to Death from Above", "City Grrrl" e "Alala")e Luísa LoveFoxxx aproveitou o espaço para contar como saiu de uma depressão e como estava feliz de estar novamente tocando para um grande público - e de fato na plateia havia muita gente da minha faixa etária (30-35 anos) que ouvia muito a banda na adolescência e estava feliz com o retorno. 

Já a lendária banda punk de Los Angeles fez um bom show, com muitas rodinhas na animada plateia e a execução de clássicos como "Infected", "21st Century (Digital Boy)", "You", "American Jesus" e "Sorrow", mas achei que o setlist não foi tão bom quanto aquele que vi em Brasília 12 anos atrás - mas talvez seja apenas porque tocaram muitas canções recentes, e eu conheço mais as faixas deles dos anos 80 e 90.

(Digressão: nos últimos dias também assisti ao concerto do Blur no Primavera argentino, que disponibilizaram na íntegra no YouTube. Damon Albarn disse repetidas vezes que era o último da história da banda. Se é verdade ou não, o show foi por vezes errático - Damon parecia meio "alterado" -, mas nem por isso menos emocionante)

Enfim, ir ao "Prima" foi uma experiência muito boa, e certamente fechará - ao lado do show do Paul McCartney no qual vou sábado que vem! - 2023 em grande estilo. Foi um dos melhores anos da minha vida - certamente o melhor desde 2015.


P.S.: Hora de revelar o "bom motivo pessoal" que citei no início do texto para a Carolina não ter ido ao festival: ela está grávida; nós vamos ser pais! 😊 Ela já está com 18 semanas de gravidez, e o bebê está previsto para nascer em Maio. Esta foi outra boa razão para o festival ter me marcado tanto: foi uma "despedida" de uma etapa da minha vida, pois daqui em diante terei o desafio da paternidade e quem sabe, daqui a uns anos, um(a) companheirinho(a) para ir aos shows comigo!

 

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