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Kaio

 

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29 junho 2018

Fazendo 28 anos em grande estilo

Nada como comemorar o aniversário terminando o doutorado! =)
A banca foi maravilhosa: todos os professores (Alba Zaluar, Christian, Lynch João Cezar de Castro Rocha, Pedro Villas Bôas e Roberto Romano) fizeram comentários extremamente valiosos; anotei tudo, deu 8 páginas, rs.


28 junho 2018

Considerações sobre a 1ª fase e expectativas para as oitavas-de-final


A última rodada da 1ª fase manteve o alto nível desta Copa, que já garantiu o bronze na categoria "Melhores mundiais das últimas 3 décadas". A média de gols caiu um pouco (de 2.66 para 2.54), em parte por causa de confrontos modorrentos em grupos em que a classificação já estava praticamente definida (C e G) ou envolvia uma combinação de resultados que incentivava uma postura cautelosa (H). Por outro lado, vários grupos (B, D e F) tiveram desfechos emocionantes, e outros (A e E) terminaram com boas partidas.
Grupo A: Como bem definiu uma matéria do Trivela, o Uruguai deu um "choque de realidade" na Rússia, mostrando que as 2 empolgantes vitórias contra Arábia Saudita e Egito não são o bastante para vencer seleções mais tradicionais e tecnicamente superiores. O primeiro gol teve até um quê de cômico, com um erro de marcação russo deixando o caminho aberto para Suárez marcar de falta. Os uruguaios fizeram sua melhor partida em Copas desde 2010, e podem se dar ao luxo de sonhar alto - se não com título, pelo menos com uma semifinal. Tudo bem que daqui em diante só enfrentarão adversários difíceis (a começar pelo próximo, Portugal), mas a boa defesa e a ótima dupla de ataque podem ser dois triunfos da Celeste. Quanto aos russos, resta saber se vão absorver a pancada e se redimir nas oitavas. Quanto ao Egito, mais uma vez decepcionou, e perdeu de virada para a Arábia Saudita, que encerrou de forma digna sua participação na Copa após uma estréia tão desastrosa.

Grupo B: Espanha e Portugal tiveram muito trabalho para saírem com o empate contra Marrocos e Irã, respectivamente. Os espanhóis chegaram a ficar duas vezes atrás no placar, e os portugueses quase levaram a virada (o que daria a vaga aos iranianos) nos acréscimos. Ou seja, as duas seleções que, com seu eletrizante 3x3, protagonizaram a abertura "de facto" da Copa terminam a 1ª fase em situação um pouco preocupante. Talvez o mata-mata reacenda o espírito copeiro da seleção lusitana e sirva de teste para a Espanha montada por Lopetegui e comandada emergencialmente por Hierro - a qual, caso consiga corresponder no campo à qualidade que seus jogadores mostram nos campeonatos europeus (principalmente em La Liga), pode ter um caminho relativamente acessível até a final.

Grupo C: França 0x0 Dinamarca foi o pior jogo da Copa até agora, com duas seleções covardes e acomodadas com um resultado que classificava os escandinavos e mantinha a liderança dos franceses. Espera-se que o descanso tenha servido para voltarem com força total para seus compromissos nas oitavas, do contrário essa postura preguiçosa será punida pelas empolgadas Croácia e Argentina. No outro jogo da última rodada, o Peru despediu-se bem da Copa, com vitória por 2x0 sobre a Austrália. É uma pena que o pênalti não convertido de Cueva tenha sido decisivo para a eliminação peruana, pois esta era uma seleção que tinha mais a oferecer na Copa do que a Dinamarca.

Grupo D: Eu estava em um seminário acadêmico enquanto acompanhava a rodada decisiva deste grupo pelo rádio, e foi difícil conter em público a minha tensão com as reviravoltas de Nigéria 1x2 Argentina. Messi abriu o placar; Mascherano cometeu o pênalti infantil que empatou o jogo; no finalzinho, o improvável Rojo (sim, o mesmo cuja expulsão na final da Copa América de 2016 em parte tirou o ímpeto albiceleste) marcou o gol da classificação. Os argentinos, de favoritos a quase eliminados, conseguem avançar de forma heróica ao top 16 da Copa; numa hilária definição de Douglas Ceconello, foi "o triunfo da autogestão anarquista com treinador decorativo". Seu desempenho daqui em diante é uma incógnita - seleções em situação semelhante (como a Itália de 94 ou a própria Argentina de 90) chegaram à final, mas também existe a possibilidade de tomarem uma surra histórica dos franceses. Quanto aos croatas, repito o que disse no post anterior: eles já fizeram ótimas campanhas de 1ª fase anteriormente para caírem no primeiro mata-mata (vide as Eurocopas de 2008 e 2016), então é melhor não criar hype exagerado para que eles não nos frustrem novamente.

Grupo E: O Brasil joga cada vez mais como o Corinthians de Tite na Libertadores de 2012 ou, principalmente, nos campeonatos brasileiros de 2011 e 2015: eficiente, defensivamente seguro, pouco agressivo e pragmático. Curiosamente são as mesmas características da famigerada (mas bem-sucedida) seleção brasileira de 1994, embora Tite diga ser fã da seleção de 1982. Deu certo com as experiências inspiradores e pode dar certo agora, mas também recomendo pé no chão com a seleção brasileira. O time vem melhorando a cada partida, mas pode sofrer contra o imprevisível México de Osorio, ainda mais se eles fizerem 1x0. Se formos nós a abrir o placar, o cenário é mais tranqüilo, pois, como as derrotas para o Chile (7x0, 2016), Alemanha (4x1, 2017) e Suécia (3x0, 2018) nos ensinaram, os mexicanos sob comando do treinado colombiano se desesperam quando estão atrás no placar. Quanto à Suíça, ela vem sendo acometida por uma "empatite" (2 de 3 jogos, e, se não fosse o gol salvador de Shaqiri contra a Sérvia, teria sido em todos), e não duvido que o mesmo ocorra no jogo equilibrado que terá contra a Suécia.

Grupo F: Ainda recolhendo meu queixo depois dos jogos deste grupo. A Suécia massacrou o México e a Alemanha, mantendo a tradição de seleções campeãs que são eliminadas na 1ª fase da Copa seguinte (o próprio Brasil fez isso em 66), foi humilhantemente derrotada pela Coréia do Sul. Considerando o mantra "força mental, organização tática e frieza", foram justamente essas três coisas que faltaram na seleção alemã nessa Copa. O time não soube se renovar taticamente (seu 4-2-3-1 ficou "manjado", depois de 2014 todo mundo ou o imitou ou aprendeu a enfrentá-lo), faltou frieza pra resolver jogos difíceis (no da Suécia, p.ex., venceram na base do "abafa", e o mesmo golpe não funcionou contra a Coréia) e a força mental passou longe (pois o técnico foi conservador, deixando quem estava melhor em forma de lado (p.ex., Ter Stegen e Sané) e se atendo a jogadores do elenco de 2014 que não estavam em boa fase neste ano - ou seja, cometeu o mesmo erro de Felipão na Copa passada, ao repetir o elenco da Copa das Confederações de 2013, e isso ainda por cima rachou o elenco alemão entre a "panelinha do Bayern" e os demais. 
A Alemanha cometeu o mesmo erro de todas as campeãs mundiais que falharam em fazer boa campanha na Copa seguinte, algo que vem se repetindo desde 1966 (mesmo a Argentina vice de 90 e o Brasil vice de 98 não estavam à altura de suas seleções campeãs em 86 e 94, respectivamente): acharam que bastava repetir a fórmula do título para se dar bem novamente. O futebol, contudo, é dinâmico, e 4 anos são tempo mais do que suficiente para um estilo de jogo ser aprendido e anulado por seus adversários. 
Quanto ao suecos, são outra seleção que terminou a 1ª fase em curva ascendente, e podem ir longe caso mantenham seu bom futebol coletivo - por incrível que pareça, a ausência de Ibrahimovic deu uma coesão que faltava a essa seleção há tempos, talvez desde o 3º lugar no mundial de 1994. Sobre o México, é uma seleção instável: pode fazer jogos excelentes como a estréia contra a Alemanha ou desastrosos como a derrota para a Suécia. Resta saber qual versão enfrentará o Brasil.


Grupo G: O grupo mais chato da Copa, devido ao desnível técnico entre, de um lado, Inglaterra e Bélgica e, do outro, Tunísia e Panamá. Até rendeu boas goleadas, mas o tão aguardado confronto entre as duas seleções européias foi quase tão preguiçoso quanto Dinamarca x França; o que o salvou da modorra foi o belo gol à la Robben de Januzaj. É compreensível o temor de ambas em ficar em 1º na chave e, com isso, ficar no mesmo lado do chaveamento de Brasil, Uruguai, Argentina, Portugal e França; porém, o 2º lugar traz logo de cara um nada simples embate contra a Colômbia e, dado o histórico recente de decepções protagonizadas por belgas e ingleses, não me surpreenderia uma queda precoce. Coube à Inglaterra a vice-liderança do grupo G; caso superem os colombianos, de fato podem ir longe na Copa (a não ser que, p.ex., os suecos mantenham sua sanha contra seções tradicionais). No que concerne à Bélgica, foi premiada com um confronto fácil contra o Japão, mas dali em diante terá desafios duríssimos para fazer jus à sua reputação entre os jogadores de FIFA/PES.

Grupo H: Após 2 rodadas espetaculares, este grupo se despede da Copa num tom um pouco melancólico. No caso da Colômbia, não tanto pelo futebol (a equipe buscou o resultado e mereceu a vitória, que saiu de mais uma cabeçada certeira do gigante dançarino Mina), mas pela preocupante contusão de James Rodríguez. Quanto às outras três, pelo futebol excessivamente pragmático: a Polônia fez 1x0 e achou que isso bastava para compensar o fiasco que protagonizou na Copa; o Japão, após tomar 1x0, se limitou a tocar a bola, pois ainda estava matematicamente classificado (em um critério de desempate atípico, mas relativamente justo: o "fair play", i.e., o número de cartões amarelos); Senegal jogou para gastar o tempo, e só acordou depois de tomar o gol colombiano, mas já era tarde demais para reagir - por mais que eu tenha gostado do futebol senegalês nos jogos anteriores, este foi um castigo justo pela procrastinação em jogar bola. Os colombianos se redimiram após a derrota para os japoneses, e terminam a 1ª fase em alta, embora sem um de seus principais jogadores. Já o Japão avança às oitavas em baixa, e terá que jogar muito mais do que jogou até agora para oferecer alguma resistência à Bélgica.

Sobre os confrontos das oitavas, eis alguns comentários:

França x Argentina: o jogo mais aguardado, pois qualquer resultado pode acontecer, desde uma goleada francesa até uma vitória heróica de Messi e cia. Embora no papel a França seja claramente melhor, eu não descartaria completamente a possibilidade da anarquista (ou anárquica) Albiceleste continuar a crescer na dificuldade.

Uruguai x Portugal: promete ser um jogo bem disputado, e não duvido que tenha muitas faltas (quem sabe pode ser um novo Portugal x Holanda, rs). Os uruguaios estão jogando melhor, mas um dia inspirado de Cristiano Ronaldo pode ser um fator de desequilíbrio.

Espanha x Rússia: os espanhóis mostraram alguns problemas contra Marrocos, mas ainda estão num patamar superior aos russos. A seleção anfitriã terá que operar um milagre para conseguir chegar ás quartas pela 1ª vez desde que a Rússia (na época URSS) alcançou esta façanha pela última vez, em 82.

Croácia x Dinamarca: a seleção croata tem tudo para repetir a ótima campanha de 98, e para isso terá de enfrentar justamente outra seleção cujo melhor desempenho em mundiais também foi na Copa da França (para aumentar a coincidência, as duas estavam no mesmo grupo das eliminatórias, com os dinamarqueses passando em 1º e os croatas tendo que encarar uma repescagem). A retranca dinamarquesa pode funcionar, mas pelo bem da Copa será melhor se os croatas avançarem.
Brasil x México: eis uma revanche de Osorio contra Tite após o empate de 1x1 entre São Paulo e Corinthians no Brasileirão de 2015 (no qual os corinthianos foram campeões e os são-paulinos ficaram em 4º lugar, com o técnico colombiano saindo um pouco antes do final da disputa para poder assumir a seleção mexicana). A seleção brasileira vem jogando melhor nesta Copa, mas o México tem um histórico recente de crescer em embates com o escrete canarinho (vide 0x0 na Copa do Mundo de 2014 e vitórias nas Olimpíadas de 2012, nas Copas América de 2001 e 2007 e nas Copas das Confederações de 1999 e 2007).
Bélgica x Japão: tudo indica que será uma barbada para os belgas, mas tudo pode mudar se, por exemplo, um pênalti for cometido aos 3 minutos e o jogador que o cometeu for expulso.
Suécia x Suíça: talvez o jogo das oitavas com mais cara de que terá prorrogação e pênaltis. Duas seleções boas defensivamente, mas os suecos propõem mais o jogo. Tomara que façam 1x0 para os suíços tentarem repetir a boa atuação contra os sérvios.
Colômbia x Inglaterra: tende a ser um dos melhores jogos das oitavas. Os ingleses têm um elenco de alto nível e boa disciplina tática, mas cabe lembrar que do outro lado temos um técnico experiente que pode estar em sua última Copa (Pekerman), um zagueiro-artilheiro (Mina) e dois destaques ofensivos (Cuadrado e Falcao García).

P.S.: Se fosse para dizer quem eu acho que ganha nas 8 partidas, minhas apostas seriam: Argentina, Uruguai, Espanha, Croácia, Brasil, Bélgica, Suécia e Inglaterra.

24 junho 2018

Um balanço das duas primeiras rodadas da Copa 2018


32 dos 64 jogos da Copa do Mundo da Rússia já foram disputados, e até agora não tivemos nenhum 0x0. Se por um lado é verdade que vários desses jogos terminaram em 1x0 (inclusive todos os três jogados no dia 20/6), por outro a média de gols parcial é 2.66, idêntica à das Copas recentes com melhores médias (França 98 e Brasil 14).
O nível técnico dessa Copa vem sendo muito bom; o equilíbrio entre as seleções é o maior desde 1998, e mesmo algumas das seleções “menores” jogaram bem. Vamos a uma análise da situação de cada grupo às vésperas da 3ª e última rodada da primeira fase.

Grupo A: A anfitriã Rússia começou o torneio de forma arrasadora, com uma goleada sobre a Arábia Saudita – treinada por Pizzi, o mesmo que levou o Chile do céu (venceu a Copa América Centenário, com direito a 7x0 no México e nova vitória nos pênaltis sobre a Argentina) ao inferno (ficou de fora da Copa do Mundo, despedindo-se com uma derrota contundente para o Brasil) em apenas um ano. Ele deu um jeito de ir ao torneio para o qual não conseguira classificar os chilenos, mas não foi poupado de novo vexame. Menos mal que na segunda rodada os sauditas perderam “apenas” por 1x0 para os pragmáticos uruguaios, que conseguiram a classificação antecipada com duas vitórias magras (a primeira delas, contra o Egito, ainda foi no sufoco). No mais, os egípcios mostraram não ter muito a oferecer além de Salah, e para piorar este não está na melhor forma desde o ippon que tomou de Sergio Ramos na final da Champions. Rússia e Uruguai vão decidir amanhã quem será o líder da chave, mas de qualquer maneira não vão evitar uma pedreira, dado os dois prováveis classificados do...

Grupo B: Portugal e Espanha pegaram um grupo relativamente tranqüilo, embora tenham tido um pouco de trabalho para despachar Marrocos e Irã na segunda rodada. Cristiano Ronaldo continua sendo uma seleção à parte, tendo feito todos os 4 gols portugueses. A decisão de se poupar na reta final do campeonato espanhol se mostrou acertada, pois ele chegou na Copa em ótima forma, ao contrário do que havia ocorrido em 2014. Resta saber até onde pode levar a sua seleção, mas depois do título da Euro 2016 (no qual, mesmo machucado na final, viu seus compatriotas saírem campeões) não podemos mais duvidar do potencial lusitano. Também ajuda o fato de que o técnico Fernando Santos é copeiro. Quanto à Espanha, por enquanto o time não parece ter se abalado pela trapalhada seguida de demissão de Lopetegui (o qual havia acertado a renovação de seu contrato com a seleção espanhola, mas três semanas depois não honrou sua palavra e assinou com o Real Madrid). Conseguiu vencer a forte retranca iraniana (organizada, vejam só, por um técnico português) e deve ter um jogo fácil com Marrocos para confirmar o 1º lugar do grupo. A propósito, Portugal 3x3 Espanha foi um duelo de titãs (leia-se: o time espanhol x CR7), e é forte candidato a melhor jogo da Copa – não por acaso, é dele a foto que estampa esse post, mais especificamente da cobrança de falta de Cristiano Ronaldo que levou ao gol de empate português.

Grupo C: Na primeira rodada, os franceses, candidatos ao título, tiveram mais trabalho do que o esperado para bater os australianos; os peruanos jogaram melhor, mas tiveram muito azar (e certa incompetência na hora de finalizar) e acabaram derrotados pelos dinamarqueses. Na segunda, a França eliminou precocemente o Peru, que tentará vencer a Austrália na última rodada para conseguir uma vitória em uma Copa pela primeira vez desde a 1ª fase de 78 (já que passaram em branco na 2ª fase daquele mundial e na 1ª da Copa de 82). Um gol de Guerrero teria caráter apoteótico, considerando o drama que foi para ele poder chegar a jogar no mundial. Quanto à Dinamarca, está praticamente classificada, mas precisa pelo menos empatar com a França para não ficar à mercê do desempenho australiano. 

Grupo D: Uma das chaves mais interessantes da Copa, pois a cada jogo as possibilidades de classificação mudavam completamente. A Argentina terminou a 1ª rodada um pouco pressionada após o empate com a Islândia, mas ainda com boas chances de ficar em 1º lugar; após a humilhante derrota para a Croácia (seja pela lambança de Caballero no primeiro gol ou, principalmente, pela postura apática da defesa no terceiro), ficou à beira da eliminação; porém, os argentinos, enquanto assistiam pela TV à vitória da Nigéria sobre os islandeses, tiveram que desarrumar suas malas às pressas, pois suas chances foram ressuscitadas. No papel, basta à Albiceleste ganhar bem dos nigerianos (por pelo menos 2 gols de diferença, para não ficar dependente do placar do outro jogo, em que a Islândia vai pegar a já classificada Croácia); na prática a situação é bem delicada, não só pelo bom futebol mostrado pela seleção africana na 2ª rodada, mas também pelos enormes problemas internos pelos quais passa a seleção argentina, desde a AFA até a relação do técnico com os jogadores – inclusive foi noticiado hoje que fizeram um motim contra Sampaoli e vão decidir eles próprios a escalação do time. No mais, os croatas vêm jogando melhor do que o esperado, e nesse ritmo podem chegar pelo menos às quartas dessa Copa (embora tenham passado a mesma boa impressão na 1ª fase da Euro 16 e caíram já nas oitavas).

Grupo E: Muita gente não deu bola para o bom nível dos adversários do Brasil na 1ª fase, e agora estão assustados com as dificuldades que nossa equipe vem enfrentando. Eu já esperava um confronto complicado com a Suíça, e outro um pouquinho menos com a Costa Rica. O que me preocupa, contudo, é que o espectro de 2014 continua assombrando a equipe: a equivocada escolha de Thiago Silva como capitão (mesmo depois do papelão que ele proporcionou no jogo contra o Chile na Copa passada; acho que Marcelo, até pela sua carreira vitoriosa no Real Madrid, tem mais cacife para ser o capitão); a postura “fominha”, o teatro e o descontrole emocional de Neymar; e os erros táticos, como o mau posicionamento no escanteio que levou ao gol da Suíça (independentemente de ter sido falta ou não). Tite precisa blindar a seleção contra essa instabilidade anímica, pois do contrário um novo desastre nos aguarda no mata-mata, mesmo que seja por “apenas” 1x0 (já que nossa defesa é bem melhor que a de 4 anos atrás) em vez de 7x1. O 2º tempo contra a Costa Rica foi um pouco animador, com as entradas de Douglas Costa e Firmino e a mudança tática de um previsível 4-2-3-1 (ainda mais considerando que as jogadas do Brasil vinham sendo quase sempre pela esquerda, em torno de Marcelo e Neymar, o que facilitava o trabalho da defesa adversária) para um 4-3-3 ou mesmo um 4-2-4. A contusão de Douglas, contudo, deixa nas mãos de Tite duas opções para o lugar de Willian (que não parece ter chegado ainda à Copa): Renato Augusto (caso opte por melhorar a criação no meio-campo) ou Firmino (se quiser mais ofensividade). Quanto à Suíça, o 1º tempo com derrota parcial para a Sérvia foi preocupante; será que, após arrancar um empate contra o adversário mais difícil do grupo, ela iria ser praticamente eliminada já na 2ª rodada? Não foi o caso, pois os suíços fizeram um 2º tempo espetacular, em que sintomaticamente os dois gols foram feitos por jogadores cujas trágicas histórias de vida (tanto Shaqiri quanto Xhaka nasceram em Kosovo) davam um gosto especial em derrotar os sérvios. Estes agora têm que vencer os brasileiros para avançar na Copa; não é impossível, caso repitam o que fizeram no 1º tempo contra a Suíça. Caso avance, o Brasil pode ter uma aguardada revanche já nas oitavas...

Grupo F: ... pois a Alemanha também pegou um grupo complicado e pode passar tanto em 1º quanto em 2º, a depender do que acontecer no “mata-mata antecipado” entre Suécia e México. Os mexicanos começaram a Copa com uma surpreendente (e merecida) vitória sobre os atuais campeões mundiais, e também jogaram bem contra os sul-coreanos. O problema é que o gol de Son que tomaram nos acréscimos do jogo de ontem arrancou uma vantagem importante para a última rodada: poderiam perder por um gol de diferença dos suecos e se classificariam independentemente do que acontecesse no jogo entre Alemanha e Coréia do Sul. Agora uma vitória sueca por qualquer placar os coloca à frente dos mexicanos – e, caso os alemães mantenham o favoritismo contra a seleção asiática, o México cairá na 1ª fase mesmo tendo feito 6 de 9 pontos possíveis. Algo parecido aconteceu em dois grupos na Copa de 94: no grupo D, a Argentina goleou a Bulgária e virou contra a Nigéria, mas um gol nos acréscimos da Bulgária a derrubou de 1º para 3º lugar; no F, a Bélgica venceu Marrocos e até a arquirrival Holanda, mas bastou uma derrota pelo placar mínimo para a Arábia Saudita para também despencarem da liderança para #3. A diferença é que no mundial de 1994 havia repescagem; em 2018 não há, portanto o México não pode vacilar contra a Suécia. De vacilo os suecos entendem, afinal quase eliminaram os alemães, mas por não saberem fazer catimba (faltou um tutorial de Libertadores para eles), acabaram tomando um gol no último minuto de jogo. A Alemanha sofreu muito, rendeu menos do que o esperado, também falhou um pouco no emocional (o time ficou paralisado durante o atendimento de Rudy, o que permitiu à Suécia crescer no jogo e fazer seu gol), mas sai da 2ª rodada numa situação relativamente tranqüila. A questão é se o final épico e raçudo do jogo contra a Suécia será o bastante; Löw vai precisar melhorar o desempenho da equipe a tempo das oitavas, onde pode ter de encarar uma “final antecipada” com o Brasil.

Grupo G: Bélgica e Inglaterra foram sorteadas para o grupo mais fácil da Copa, e não desperdiçaram a oportunidade – se bem que os ingleses quase fizeram isso na vitória apertada contra a Tunísia. O Panamá foi goleado por ambas as seleções, e os tunisianos sentiram falta do contundido goleiro Hassen em sua derrota para os belgas – embora não tenham jogado tão mal quanto o 5x2 poderia dar a entender. Harry Kane chegou à artilharia parcial da Copa com 5 gols, ainda que 2 sejam de pênalti e 1 sem querer (a bola desviou nele). Belgas e ingleses chegam empatados em pontos e saldo de gols na última rodada; caso o duelo saia sem vencedor no placar, o “Fair Play” (isto é, o número de cartões amarelos e vermelhos) vai decidir a liderança da chave. Este jogo será um bom teste para duas equipes que têm muito a provar – os belgas, pela geração de jogadores espalhados nos melhores clubes europeus; os ingleses, porque não chegam a uma semifinal de Copa ou Euro há 22 anos.

Grupo H: O grupo mais balanceado e emocionante da Copa (seguido de perto por D, E e F) provavelmente proporcionará ainda mais momentos de tensão (e bom futebol) na última rodada. Senegal e Japão surpreenderam em suas estréias, derrotando as seleções mais cotadas – Polônia (que vem de uma boa campanha na Euro 2016) e Colômbia (que foi 5ª colocada no mundial de 2014 e 3ª na Copa América Cententário). No confronto entre africanos e asiáticos, um jogo cheio de possibilidades, em que o 2x2 acabou sendo justo. Já o “duelo dos desesperados” entre sul-americanos e europeus terminou com uma contundente vitória colombiana. A atuação monstruosa de Cuadrado, Mina, James Rodríguez e Falcao García mostra que a derrota para os japoneses foi mesmo um acidente de percurso; não fosse a infantil expulsão de Sánchez aos 4 minutos de jogo (e o subseqüente gol japonês no pênalti que cometeu), talvez a Colômbia também tivesse vencido aquele jogo. Agora precisa derrotar a competitiva seleção senegalesa para avançar às oitavas, naquele que promete ser um dos jogos mais eletrizantes da rodada. Já o Japão precisa apenas empatar com a decepcionante Polônia, que após toda a manobra para ser cabeça-de-chave da Copa (jogou menos amistosos para manter uma pontuação alta no ranking da FIFA), mostrou em campo que não faz jus a esse status. Tal como a Argentina, mudou radicalmente de esquema tático de um jogo para o outro, e em ambos os casos a formação adotada na 2ª rodada foi o 3-4-3 (que é meu esquema favorito, embora seja uma escolha suicida caso a equipe em questão não esteja entrosada, dependa demais de um só jogador para resolver o jogo e não tenha bons defensores – justamente o caso de argentinos e poloneses); porém, não soube adaptar a tática ao adversário: a Colômbia, jogando no 4-2-3-1, conseguiu preencher melhor o meio-campo e era mortal nos contra-ataques. Resta tentar se despedir de forma minimamente digna da Copa contra os japoneses – algo que seus carrascos de Senegal e Colômbia gostariam muito, pois o saldo de gols pode acabar decidindo o 2º colocado do grupo.

P.S.: Estou gostando muito dessa Copa. Ainda não está no mesmo patamar de excelência das duas melhores que ocorreram desde que nasci (1998 e 2014), mas é uma concorrente forte pelo 3º lugar no pódio – e, dependendo do que ocorrer daqui em diante, talvez até algo mais. 
P.S. 2: Itália e Holanda fazem falta nesse mundial. Espero que as duas seleções consigam se renovar para voltar na próxima à altura de suas tradições futebolísticas.
P.S. 3: O início da Copa foi um ótimo catalisador para eu terminar logo minha tese. Escapei um pouquinho da escrita para ver jogos como a abertura e Espanha x Portugal, mas perdi todos do 3º dia (16/6) para concluí-la; sem problemas, depois fiz uma maratona de VTs, rs.