Só os chatos não disfarçam
Dois elefantes incomodam muito mais
Só os mortos não reclamam
Os brutos também mamam
Mamãe eu quero mamar
Eu não tenho onde morar
Eu moro aonde não mora ninguém
Quem tem grana que dê a quem não tem
Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio
Quem esporra sempre alcança
Com Maná adubando dá
Ninguém joga dominó sozinho
É dos carecas que elas gostam mais
A soma dos catetos é o quadrado da hipotenusa
Nem tudo que se tem se usa
Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio
Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio
Os cavalheiros sabem jogar damas
Os prisioneiros podem jogar xadrez
Só os chatos não disfarçam
Os sonhos despedaçam
A razão é sempre do freguês
Eu não tenho onde morar
Moro aonde não mora ninguém
Quem come prego sabe o cú que tem"
Feliz aniversário, querido blog!
27 julho 2008
Ponto de partida
25 julho 2008
Novas idéias para o livro
Resolvi mudar os nove meses em que se passam as ações (e devaneios) da trama. Se antes começava em 21 de Setembro de 17 d.M. e acabava em 29 de Junho de 18 d.M., agora iniciar-se-á em 19/Fev/18 e encerrar-se-á em 9/Nov/18.
O principal e mais óbvio motivo para tal mudança é que eu terei mais quatro meses para "esperar" que algo emocionante aconteça na minha vida, o que forneceria material para os capítulos que se passam entre Julho e Novembro. Tudo bem que eu já desisti de deixar o livro 80% autobiográfico (desde aquela minha pseudo-epifania em Fevereiro, decidi reduzir para uns 20%, rs), mas alguma situação inusitada nas próximas semanas poderia até elevar minha inspiração.
Sei que já é tarde demais para virar um hedonista, afinal, agora que eu tenho 18 anos e já possuo maioridade penal, perdeu-se a graça em tentar viver perigosamente. Virei um pós-adolescente e continuarei a ser apenas um intelectualóide abstêmio. Isso, no entanto, não é desculpa para evitar uma ocasião divertida e inesperada que não necessariamente diminua (muito) meus pontos nos testes de pureza - a propósito, o último deu quase 90%, hehe.
Algumas informações básicas:
- Continuam a ser dezessete capítulos, só que eu não pretendo mais limitar o número de páginas. Se passar de 300, não tem problema;
- Cada um deles terá como pretexto 17 datas diferentes, em uma ordem não-linear. Mesmo assim, os flashbacks remetendo a eventos que ocorreram entre 13 e 17 d.M. serão constantes;
- Tentarei diversificar ao máximo a maneira de narrar em cada capítulo: 'stream of consciousness', narração em 3ª pessoa com discurso indireto livre, diálogos (quem sabe com estilo teatral), narração onisciente em 3ª pessoa, narração polifônica em 1ª pessoa etc. Isso sem falar no egoperspectivismo, pois o 'jeito de ser' de cada personagem será determinante na condução da narrativa (juro que tive essa idéia antes de ver "Skins" e ler "Uma Casa no Fim do Mundo");
- Tenho a intenção de fazer muitas referências literárias, políticas, musicais e filosóficas, mas preciso praticar a sutileza no uso de pressupostos para que este recurso não fique pedante demais - e olha que já ficará muito;
- Como deixa a entender o novo período em que se desenrolará a história, o foco agora é a chegada aos 18 anos, e o espaço oportuno que tal acontecimento dá para um acerto de contas com o passado e uma reflexão sobre o presente e o futuro de cada um dos seis protagonistas;
- Só Alice (13 de Janeiro) não fará aniversário durante estes nove meses, mas em um dos capítulos haverá uma rápida recordação de como foi a aquisição da maioridade pela mais velha do grupo;
- Depois de tantas minúcias, que tal começar a escrever "(Des)construção Psíquica" logo e/ou terminar de ler "Ulisses" (ainda faltam 166 páginas, Kaio)? Boa idéia. Tchau.
23 julho 2008
Consummatum est
Até já criei o blog que dedicarei a publicar auto-resenhas, rascunhos e comentários diversos. Clique aqui para acessá-lo. Há também uma comunidade no orkut, hehe.
Outra coisa teve um desfecho hoje. Terminei de ver todos os episódios das duas temporadas já lançadas de "Skins". 3 GB e mais de 14 horas depois, conferi toda a saga de personagens inesquecíveis como Tony, Jal, Cassie, Sid e Chris. É uma pena que a 3ª não terá nenhum dos oito protagonistas, pois os criadores resolveram criar novas histórias e personagens. Porém, isso não me chateia, pois: I) Effy, a junkie irmã caçula de Tony, continuará no elenco; III) Não estou cético quanto à possibilidade de "Skins" continuar tão bom quanto antes; I) Depois do desfecho da '2nd season', fiquei pensando no quanto seria difícil fazer outra temporada tão boa com os mesmos personagens, ainda mais agora que a maioria conseguiu atingir seus objetivos mais imediatos.
Em outra ocasião faço um novo resumo de cada um dos caracteres, e ainda comento meus episódios favoritos.
Acho que, por hoje, não tenho mais nada a dizer. Aproveite para ler os textos anteriores, hehe. Até.
22 julho 2008
This Bird Has Flown
Eu pretendia que o post de aniversário do blog (31 de Julho é o dia em que Racio Símio completa três anos de existência) fosse o 500º. Até ontem à noite, o plano vinha dando certo: esta postagem que estou a escrever, por exemplo, seria a 494ª, faltando só seis para o meio milhar. Tudo malogrou quando, dando uma olhada em "Editar postagens", eu me lembrei que rascunhos também contavam como posts. Fui dar uma olhada, e vi que havia doze deles, a maioria deles com conteúdos que realmente foram base para textos publicados.
Fiquei chateado, pois, como se não bastasse o texto que você está a ler ser apenas (?) o 482º desde que surgiu Racio Símio, o artigo de aniversário em 2007 proclamava ser o 365º (provavelmente ele foi umas 4 ou 5 unidades menores do que tal número ordinal).
Nevermind, no entanto. De qualquer maneira, o quinquagentésimo post sairá em Agosto, ainda dentro das comemorações de 3 anos de blog.
Há tempos que eu venho adiando algumas resenhas, especialmente as de "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda" (estou a morrer de vontade de execrá-lo, hehe) e "Retrato do Artista Quando Jovem" (culpem a leitura de seu sucessor, "Ulisses", por eu estar demorando tanto a resenhá-lo). Mesmo assim, creio que a inspiração para elas virá em breve. I guess...
E, já que estamos falando de planos naufragados, não poderia deixar de citar algumas coisas que pretendia fazer nessas férias (estudar Cálculo e Latim e voltar a escrever meu livro), mas ainda não retomei integralmente nenhuma delas.
Porém, dediquei meus últimos dias a várias atividades agradáveis, como:
1 - Ler "Ulisses". O livro melhora a cada capítulo, e por mais que Joyce me deixe mais e mais confuso a cada página, não pretendo largar a epopéia até terminá-la. Estou no 15º capítulo, o mais longo de todos; agora, a obra está em um momento meio teatral (os diálogos são hilários e insanos), cheio de devaneios do impagável Leopold Bloom. O judaico-herói, durante sua saga, foi responsável por frases como a seguinte, proferida em resposta ao Cidadão, metáfora do chauvinismo irlandês, e, obviamente, católico: "Seu Deus era um judeu. Cristo era um judeu como eu". Aliás, às 16h30 eu parei na pág. 566. Faltam só 275 para que eu o conclua! Quem sabe eu consiga isso até domingo, dia 27?
2 - Assistir a "Skins". Só restam quatro episódios da 2ª temporada que eu ainda não vi, mas amanhã mesmo já terei encerrado tal empreitada. A cada episódio eu fico mais empolgado com a recuperação de Tony, a indecisão de Michelle, os infortúnios de Sid, a luta de Chris contra sua própria irresponsabilidade, a atitude mais "say yes to life" de Jal, o jeito tolinho e manipulável de Anwar, a fuga de Maxxie da sua stalker e a personalidade auto-destrutiva de Cassie. Esta 'second season' é mais dramática que a primeira, mas nem por isso foram abandonados os momentos ultracômicos ou os bons e velhos sarcasmo e cinismo.
3 - Navegar a esmo pela internet, enquanto como queijo de trança, chocolate meio amargo ou bolacha Cream Cracker. Sim, a vida de solteiro-sozinho-solitário em Brasília continua tão boa quanto poderia ser. Praticamente não saio da kit-net, a não ser para almoçar (isso durante a semana, porque no fim de semana pedi pizza mesmo) ou ver um show dos Titãs, hahahaha...
Porém, depois de amanhã volto para Goiânia, e fico lá até dia 28, pois em tal data reunir-me-ei com outros colegas de POL para irmos a Campinas, onde haverá o encontro nacional da ABCP. Mais detalhes em breve.
Gostei do novo visual do Last.FM. Resolvi aproveitar as mudanças para renovar minha própria estética musical.
Por exemplo, após mais de um ano, abandonei aquela neurose de ter todas as bandas do top 50 (e algumas abaixo, também) com um número redondo de audições (por exemplo, Beatles, 1700; Joy Division, 1550; The Smiths, 1000; Garbage, 320; Portishead, 240 etc.). Sentia-me preso demais por ter sempre que ouvir um artista/conjunto em exatas 10 faixas (ou 20, 30...) Agora, posso ouvir 9, 17, 26, 43 canções sem nenhum remorso! Adeus, uma de minhas manias!
Como disse dias atrás, voltei a curtir post-rock. Só falta baixar Mogwai para completar o cânone, que já está composto por Sigur Rós, Explosions In The Sky, Godspeed You! Black Emperor e A Silver Mt. Zion (e os outros milhões de nomes deles). A sonoridade evocada por bandas como estas é algo inexplicável, ímpar. Pretensiosa, sem dúvidas, mas justamente por isso compatível com meu gosto.
De quebra, resolvi virar um real entusiasta de Smashing Pumpkins, 3 anos depois que passei a apreciar a música deles. Antes eu só escutava mesmo umas vinte faixas, a maioria esmagadora delas 'greatest hits', com uma ou outra fan favourite ("In The Arms Of Sleep", por exemplo). Tirei a manhã para colocar mais 37 mp3 para download, e agora tenho cerca de 4 horas de abóboras incríveis.
Como o concerto do Muse é daqui a alguns dias, seria interessante comprar logo os ingressos (desta vez, vou de camarote mesmo; não quero outra pista a zilhômetros do palco), baixar mais material deles e, é claro, decorar as letras que eu ainda não sei de cor para cantar direitinho no show, hehe.
Ah, antes de terminar, uma enquete. É verdade que, desde o início de Junho, apenas dois textos receberam comentários - e, ainda assim, apenas um em cada - , mas não custa nada apelar para a boa vontade de vocês, comentaristas.
Qual o melhor título para o meu livro?
a) "Megalomania Psíquica"
b) "Pedantismo Megalômano"
c) "(Des)construção Psíquica"
Sim, as três opções são horríveis, mas elas condizem com a qualidade da obra, oras!
Falando no livro, estou pensando seriamente a respeito de algo: será que, só porque o César é BV, virgem, sóbrio e intelectual frustrado, a Júlia também tem que ser? Estaria eu sendo justo ao sacrificar a melhor personagem feminina ao jogá-la em um mundo de elucubrações e abnegação dos prazeres carnais?
Uma coisa já está definida: ela será mais madura, 'pés no chão' e esperta que seu melhor amigo. Enquanto eu, digo, ele é libertário, agnóstico, idealista, futuro cientista político, fã de Beatles e Blur, canceriano e leitor inveterado do bildungsroman "A Montanha Mágica", ela é liberal old-school, atéia, realista, pretensa economista, gosta de Joy Division e The Cure, taurina (era o signo que caía em 17 de Maio, pois, como sou obcecado pelos números cinco e dezessete, esta é uma das minhas datas favoritas desde que era criança) e seu livro predileto é a anti-utopia "1984".
Sim, vocês têm todo o direito de dizer que sou tão solteirão que construí a minha 'garota dos sonhos' no livro. Também podem alegar que estou criando dois alteregos de uma cajadada só, uma vez que ambos reúnem características minhas. Não estariam nem um pouco equivocados ao dizer que isso é um lance meio hermafrodita, "casando consigo mesmo", o cúmulo da egomania. Tampouco eu os refutaria se questionassem o fato de eu gastar tanto tempo elaborando a personalidade e as diferenças (?) entre os caracteres que isso prejudica a própria escrita da obra.
Ok, fui eu mesmo quem levantou estas quatro objeções, mas procurarei responder a estas e outras questões nas próximas postagens. Fui.
20 julho 2008
Titãs + Paralamas (+ Frejat) = show inesquecível!
Enfim, motivos não faltavam para que a noite do dia 19 de Julho fosse digna de esquecimento. Porém, nada disso realmente importa. Por quê? O show foi sensacional!
O atraso foi compensado pela discotecagem anos 80 que estavam tocando para 'distrair' o público. Embora majoritariamente composta por músicas ruins (muitos one-hit wonders, mas do tipo que nem seu único sucesso é decente), o DJ teve lampejos de boas escolhas, como "West End Girls" (Pet Shop Boys), "Strangelove", "Just Can't Get Enough" (Depeche Mode), "Bizarre Love Triangle" e "Blue Monday" (New Order). Previsíveis, é verdade, mas nem por isso menos dançáveis e clássicas.
Por sorte, cheguei cedo e fiquei na 1ª fila (ou seja, na barra de proteção que dividia o 'camarote' da pista). Mesmo sem ter levado meus óculos (sim, continuo menosprezando meus 0,75 graus de miopia), até consegui enxergar bem os artistas durante o show. Até conversei um pouco com algumas pessoas - que, não sei por que, estranharam o fato de eu ter vindo sozinho para a performance.
Quanto à sede, atenuei a mesma graças a umas balinhas de Halls Preto que eu havia levado.
E o motorista do táxi até me deu desconto na volta, como compensação pela minha 'fidelidade', afinal foi o mesmo que me levou na ida.
Mas, falemos logo sobre o show.
O repertório foi idêntico ao do CD e DVD, e mesmo as canções extra são comuns na setlist de Paralamas e Titãs.
A apresentação começou à meia-noite, com a melhor faixa dos titânicos: "Diversão". É uma versão mais curta (3 minutos e meio), provavelmente concebida nas gravações do Mtv Ao Vivo (2005). Nem por isso menos empolgante, diga-se de passagem. E Herbert Vianna a cantou direitinho.
Em seguida, Paulo Miklos retribuiu e cantou "O Calibre". Branco Mello e Herbert dividiram os vocais em "Marvin", que, embora seja melhor na voz de Nando Reis, continuou boa. Logo depois, um pot-pourri com duas faixas de temáticas semelhantes: "Selvagem" e "Polícia". Fantástico.
Frejat fez sua primeira 'intervenção' em duas faixas, "Uns Dias" e outra que eu não me lembro qual era (foi mal, mas assim que eu 'desesquecê-la' atualizo o post). A partir daí, os Paralamas tiveram seu 'momento solo', e tocaram bons hits como "Lanterna dos Afogados", "Vital E Sua Moto" e "Uma Brasileira". Houve também uma curiosa versão acústica de "A Novidade".
Em seguida, os Titãs tocaram sozinhos alguns sucessos. Não faltaram as jurássicas "Homem Primata", "Bichos Escrotos" e "AA UU", e a doce "Epitáfio".
As duas bandas voltaram a coexistir no palco para produzir momentos mágicos como o duelo na bateria de Charles Gavin e João Barone, em "Cabeça Dinossauro". Compareceram também as animadas "Lourinha Bombril", "A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Última Semana" e "O Beco", além das lindas "Trac Trac (Track Track)" e "Go Back".
O líder do Barão Vermelho voltou ao palco para cantar e tocar guitarra na inteligente "Comida" e na irada "Lugar Nenhum". A primeira veio na versão consolidada no Acústico Mtv (que consegue ser ainda melhor que a original, de 87), só que 'plugada'; já segunda teve o peso e a urgência que lhe são indispensáveis.
A melhor dos Paralamas, "Óculos", deu prosseguimento à performance. Sérgio Britto mandou muito bem nos teclados. Para encerrar (ou não) a apresentação, outro pot-pourri, com as adoráveis "Sonífera Ilha" e "Ska".
Um curto intervalo seguiu-se, para depois vir o bis arrasador (e com Frejat de volta!), composto por dois grandes êxitos comerciais: "Meu Erro" e "Flores". Esta, aliás, não poderia ter sido uma escolha melhor para fechar brilhantemente o show, que ficará eternamente em minha memória como um dos melhores acontecimentos na minha vida em 18 d.M.
Após mais de 2 horas de rock and roll nacional de altíssimo nível, o retorno da discothèque oitentista, que, embora estivesse exausto, me manteve dançando. Mandaram, consecutivamente, "Sunday Bloody Sunday" (U2), "In Between Days" (The Cure), "The Boy With The Thorn In His Side" e "Bigmouth Strikes Again" (The Smiths). Nada superou essa seqüência, embora, nos minutos seguintes, ainda houvesse espaço para B-52's, A-ha e Madonna. Quase às 3 da matina, resolvi chamar o táxi e voltar para casa.
Dormi, acordei só para ver F1, cochilei, despertei, almocei pizza enquanto ouvia mp3 de Titãs e Paralamas (manter-me no clima, if you know what I mean), dormi de novo durante o jogo do Palmeiras (nem perdi nada, aliás), acordei de novo, li "Ulisses", vi "Skins" e cá estou eu, encerrando esta postagem. See you, fellas.
19 julho 2008
Standing in the Way of Control
Impossível.
"Skins" é bom demais!
Dando prosseguimento a "Track Track", falemos um pouco mais sobre cada um dos oito protagonistas:
- Tony: Mau-caráter, inescrupuloso, manipulador, auto-indulgente. Culto (vide citações que ele faz e livros que lê), carismático, improvisador, autoconfiante. Enfim, adjetivos não faltam para rotular quem é e o que quer Tony. Já no primeiro episódio fica bem claro que ele é capaz de fazer algo não porque (necessariamente) quer, mas sim porque simplesmente... pode. Com um ego desproporcional, ele se sente capaz de enganar, usar e se aproveitar de todos, inclusive da namorada e dos amigos. Será que, algum dia, ele se dará mal por pisar tanto em cima das pessoas? P.S.: Justiça seja feita, ele é sensacional.
- Sid: na prática, o personagem que aparece mais (pelo menos na primeira temporada), embora seja difícil falar em um 'spotlight' com tantos caracteres em evidência em "Skins". Tem um jeito bem nerd, embora seja um aluno relapso. Subestimado por família e amigos, que não se cansam de inferiorizá-lo. Virgem. Vive se metendo em confusões dignas de uma "Sessão da Tarde" inglesa. Nutre um amor por Michelle desde a infância, embora não seja correspondido. Destaque para um certo momento musical dele no 9º episódio.
- Michelle: No quesito amor, reciprocidade é algo que não existe na vida dela, pois não gosta do cara que a ama (Sid), mas é loucamente apaixonada por um rapaz que Michelle nem sabe se nutre algum sentimento por ela (Tony). Embora bonita (e inteligente quando precisa ser), ilude-se facilmente, e acaba sendo feita de capacho pelos outros, algo que a frustra, pois raramente é levada a sério.
- Jal: Segundo um teste que fiz, é quem mais parece comigo em "Skins", pelo seu empenho nos estudos e na busca por seus objetivos, além do jeito 'grosso' que lhe é peculiar. É a mais séria do grupo, e sempre coloca os outros contra a parede quando nota que eles não estão sendo honestos. Mesmo assim, não é tão sisuda a ponto de deixar de se divertir com os amigos.
- Chris: Porra-louca por excelência. Experimenta qualquer droga que vê pela frente, inconseqüente, irreverente, palhaço... Além do lar desestruturado (pai ausente, irmão morto precocemente, mãe que vai embora sem avisar), o outro ponto relevante sobre Chris é sua paixão descontrolada pela professora de Psicologia, Angie. Será que ela cederá às investidas de seu aluno mais serelepe?
- Cassie: "Lovely", mas desmiolada. Como já disse em outro post, ela é anoréxica, vive no mundo da lua e constantemente foge de seus problemas. "Just wow" como ela sobreviveu a tantos apuros, inclusive uma tentativa de suicídio. Vive tanto na fantasia que acaba se esquecendo que seus amigos se importam com ela. Até onde esse escapismo pode levá-la, não sabemos. "Totally".
- Maxxie: O gay da turma. Tem uma veia artística, pois é excelente desenhista e dançarino. Uma de suas poucas frustrações é o fato de que seu melhor amigo, Anwar, por motivos religiosos, não aceite bem sua homossexualidade. O 'seu' episódio tem uma cena que pode soar polêmica para muitos, embora pouca coisa me choque nessa década 00.
- Anwar: Muçulmano que vive o dilema de curtir a adolescência e/ou respeitar os dogmas e rituais de sua religião, o que também o leva a estranhar certos costumes de sua família. Divide com Sid as 'tags' de virgem e ingênuo, só que bem mais desesperado para conseguir se dar bem com as mulheres. Suas desventuras com uma bela russa são seu ponto alto na temporada.
Pode-se também fazer um apêndice para citar Effy, a enigmática irmã de Tony. Lacônica, acima de tudo. Isso sem falar na vida dupla: é uma garota que estuda em um colégio caro e cujos pais juram que é uma santinha, mas já no primeiro episódio a vemos chegar em casa lá pelas 8 da manhã, vindo de uma festa que deve ter durado a madrugada inteira. Seu disfarce é mantido com a ajuda do irmão, afinal Effy parece ser uma das únicas pessoas (além dele mesmo, é claro) com quem ele se importa.
Há outros coadjuvantes, mas, com a exceção da (já mencionada) atrapalhada profª. Angie e sua tensão sexual com Chris, poucos se sobressaem tanto como os caracteres que já citamos.
O roteiro é realmente muito bom, e, embora não se preocupe em evitar um ou outro estereótipo, retrata de uma maneira bem convincente a juventude inglesa - e, com algumas ressalvas, a de outros países também. Nada de inocência, afinal os 17 anos de idade e o fato de estarem ainda no Ensino Médio (se bem que a grade curricular deles é mais ampla que a brasileira, e ainda por cima com maior liberdade para montar a grade) não os impede de se envolverem em um mundo de sexo, drogas, violência e contravenção. Aliás, chegou-se ao ponto de a arte interferir na realidade, pois as festas insanas de "Skins" viraram tendência na Inglaterra.
Alguns chamam isso de decadência, mas, por acaso a situação já foi melhor mesmo? Tanta nostalgia e saudosismo de certos críticos senis causam-me desconfiança, pois não me parece que os jovens tinham uma vida maravilhosa nas décadas anteriores. A diferença é que, atualmente, há uma liberdade relativamente maior para definir os rumos da vida, seja por auto-destruição, aprimoramento intelectual, sociabilização intensa, diversão hedonista, busca de um sentido ou qualquer coisa que o valha. Claro que seria interessante se tal liberdade fosse acompanhada de maior responsabilidade, mas, enfim, nada é perfeito, ainda mais adolescentes.
Em termos gerais, gostei bastante da 1ª temporada, e mal posso esperar para ver os episódios extra e, é claro, a '2nd season'.
17 julho 2008
Sobre meu 1º semestre na UnB
1. Introdução à Sociologia (a.k.a. "Sociologia"): minha primeira aula na UnB foi dessa matéria. Começou bem, mas com o tempo a doutrinação feminista e esquerdista da professora (e do monitor) cansaram-me. Se, no Ensino Médio, esta disciplina resumiu-se a Marx (haja ideologia e alienação!), Durkheim (haja determinismo e fato social!), Weber (mas, bem de vez em quando, o que seria compensado na universidade), violência e invisibilidade social - além de um ou outro comentário do meu professor falando mal da cobertura "tendenciosa" da Globo quanto à situação da Venezuela - , na faculdade fiquei saturado de direitos da mulher, violência contra a mulher, teorias feministas, racismo e efeitos negativos da globalização. Tsc.
Felizmente, embora entediante, Sociologia foi fácil. Certamente, meu SS mais garantido. Como fui bem nas provas (que pareciam mais um questionário de "você concorda ou não com as idéias da professora, independentemente das suas"?), nos trabalhos do Moodle e só faltei uma aula (a planilha de notas disse que eu faltei duas, mas devo ter esquecido de assinar a chamada em algum dia, pois só me lembro de ter faltado no dia 28/5), tirei nota superior a 9; provavelmente 9,3 ou 9,4. De quebra, embora não haja reciprocidade, a professora virou meio que minha fã, talvez por causa de minha participação na aula e porque eu sempre sentei na mesma carteira, na única cadeira azul da primeira fila do anfiteatro 11.
2. Introdução à Economia (a.k.a. "INTECO"): se eu já gostava de ciências econômicas antes de entrar na universidade, INTECO despertou um interesse ainda maior de minha parte por tal área. Com tantos pontos fortes (professor competente, seqüência do conteúdo adequada e bem didática, 'monitecos' sempre disponíveis para tirar dúvidas, alguns tópicos relacionados a pensamento econômico keynesiano x clássico e histórica econômica brasileira), não foi por acaso que, já em meu primeiro mês de aula, eu decidi que, nos próximos semestres, farei outras matérias da área, como Evolução das Idéias Econômicas e Sociais, Economia Internacional, História do Pensamento Econômico, Microeconomia e Macroeconomia.
Não estudei tanto para as provas e controles, não resolvi mais da metade das listas de exercícios, não fui em várias das monitorias (porém, foi a única matéria em meu 1º semestre que eu não faltei absolutamente nenhuma aula). Logo, minha nota foi apenas razoável: 7,5, levando a um MS. A minha velha sina em relação a matérias que exigem maior dedicação continua; ou seja, gostar bastante de um conteúdo não significa que eu vou bancar o aluno esforçado e gastar horas e mais horas estudando e resolvendo exercícios em casa. Afinal, eu posso (e de fato, fiz isso) gastar este tempo precioso lendo Mises, Hayek, Keynes (sim, até o herege!), Roberto Campos e outros.
3. Introdução ao Estudo da História (a.k.a. "IEH"): a última matéria que eu peguei. O que era para ser um estepe para o meu malogro em conseguir Introdução à Filosofia revelou-se uma aula interessantíssima. Tive noções básicas de Teoria da História, e ainda li bons textos (destaque para os dois últimos, "A Biblioteca de Babel" e "Funes, O Memorioso", retirados do livro "Ficções", de Jorge Luis Borges). Em IEH tive três professores: a 'de direito', que só veio em cerca de quatro aulas, e o dois substitutos, que, no entanto, foram muito bem. Um ficou por conta da parte mais filosófica, das indagações sobre memória, esquecimento, debates sobre o conceito e as limitações da História, entre outros temas, e a outra ficou com a parte mais 'cultural', que envolvia os Annales e outras escolas de pensamento.
Eu envolvia-me bastante nos debates, e cheguei até a usar algumas teorias minhas para tentar entender o conteúdo (por exemplo, o meu famigerado e suspeito 'cosmopolitismo'). A carga de textos foi adequada, e, embora eu tenha lido a grande maioria deles faltando apenas alguns minutos para as aulas, consegui compreendê-los. Fui bem nas provas, com 9,5 na primeira e 9 na segunda, garantindo assim outro SS.
4. Introdução à Antropologia (a.k.a. "Antropologia"): talvez, a matéria que mais superou minhas expectativas. Se, antes de entrar na universidade, eu só imaginava a Antropologia como "um ramo das ciências sociais que adora falar sobre índios", e apenas tinha lido dois pensadores da área (Darcy Ribeiro e Roberto DaMatta), acabei surpreendendo-me com o que tive pela frente. Conheci inúmeros autores e suas respectivas teses, e muitas vezes deparei-me com a situação de um texto refutar (e superar) o anterior, o que prova que a professora soube selecionar bem as leituras. Isso sem falar nas discussões, sempre bem enriquecedoras (destaque para a sessão temática que tratou bastante de política, problemas urbanos e religião).
Aliás, esta foi uma das matérias que eu mudei de horário, em um plano para ter aulas nas manhãs de 3ª e 5ª e, ao mesmo tempo, espaço na grade para adiantar outras disciplinas. Ao que parece, foi um tiro certeiro, pois, além de ter tido aula com uma das melhores professoras do Departamento de Antropologia, o pessoal do meu semestre que continuou na turma do fluxo reclamou muito da 'maestra' deles. Ah, e foi um SS sofrido, pois houve três provas dissertativas em que se cobrou a comparação entre as linhas teóricas dos autores e uma argumentação consistente. Fui bem na primeira e na terceira (9 em ambas), mas quase pus tudo a perder com o 8 que tirei na segunda. Ufa!
5. Introdução ao Estudo do Direito (a.k.a. "IED"): outra que eu fiz em turma alternativa, com o pessoal de REL do 2º Semestre e um ou outro 'outsider' como eu. As primeiras semanas foram muito boas, ainda mais com o confronto ideológico/metodológico entre jusnaturalismo e positivismo jurídico. Porém, a parte sobre normas jurídicas, Constituição e Código Civil foi aquém do que eu esperava, talvez pelo pouco tempo restante para este conteúdo, o que fez com que o professor não se aprofundasse tanto. Se bem que eu nem considero Direito tão interessante assim; ainda o coloco como a "mais exata e fria das ciências humanas", talvez em razão do 'juridiquês' e suas implicações. Ainda bem que a Ciência Política declarou independência e conseguiu se salvar a tempo dessa robotização das ciências jurídicas.
Sim, pode ser que tudo que eu esteja a dizer seja típico de alguém que não conhece direito o Direito (trocadilho deplorável, hein?), mas, embora interessantes, as aulas de IED não mudaram muito meus (pré) conceitos. Pelo que conversei com meus colegas de 1º/2008, a turma deles também não foi animadora, inclusive porque tiveram mais tarefas que a minha (seminários e fichamentos), haja vista que só tive duas provas e o trabalho facultativo. Em contrapartida, acho que aprendi muito mais sobre Direito pelas minhas leituras 'extracurriculares', como "Os Fundamentos da Liberdade", do Hayek. Esta foi minha pior nota no 1º semestre: 7 raspando. Fiquei com MS.
6. Introdução ao Estudo das Relações Internacionais (a.k.a. "IERI"): a decepção do semestre. Eu esperava que esta viesse a ser uma das melhores disciplinas dos meus primeiros meses de faculdade, mas não foi o que ocorreu. A culpa não foi minha, pois, embora não houvesse leituras obrigatórias, procurei vários textos e livros sobre os conteúdos de Relações Internacionais. Também não foi por causa da turma, que, embora não fosse perfeita, reunia várias pessoas bacanas, tanto os(as) alunos(as) do 2º semestre de POL (aliás, esta foi a outra matéria que eu adiantei) quanto os 'de fora', que eram calouros(as) provenientes da Comunicação Social e da Economia. Muito menos se poderia colocar a matéria como bode expiatório, pois temáticas como a TRI (Teoria das Relações Internacionais) são instigantes.
A quem nos resta 'to put the blame on', portanto? O professor. Embora inteligente, ele era desprovido de didática. A desculpa de que queria dar uma aula mais focada no aspecto prático e menos academicista soava bacana, mas logo se viu que aquilo era o prenúncio de uma picaretagem. Passamos quase dois meses com apresentações de grupos, como se fossem aqueles trabalhos/dinâmicas do Ensino Médio - a propósito, meu grupo falou sobre as Eleições 2008 nos EUA, hehe. As aulas 'normais' tinham assuntos quase aleatórios, embora quase todas tenham sido sobre a Teoria dos Jogos, os Sistemas e o papel do Legislativo no âmbito internacionalista. Foi outro SS fácil (não vi minha nota específica, mas como eu fui bem nas atividades e era um dos poucos que fazia muitas perguntas e comentários na aula, devo ter tirado entre 9,5 e 10) embora eu até preferisse ralar mais ao invés de, no dia da "prova" - que mais parecia um exercício de meu professor de Geopolítica do 2º Grau - , ter de ver o professor sair da sala dizendo que "não queria nos constranger". Argh!
7. Introdução à Ciência Política (a.k.a. "ICP"): de longe, a melhor matéria. A professora tinha grande domínio do conteúdo, a turma (majoritariamente, os outros neófitos de POL de 1º/2008) participava bastante nos debates, descobri vários pensadores políticos (Robert Dahl, Michels, Pareto etc.), gostei muito dos textos e temáticas (partidos políticos, sistemas eleitorais, Maquiavel, conceito de política, democracia, Pluralismo, entre outros), os trabalhos suscitaram discussões pertinentes (nem preciso dizer o quanto adorei 'defender uma tese' sobre Libertarianismo, certo?)... Enfim, realmente Ciência Política é tão bom quanto eu imaginava.
Também já não tenho mais dúvidas: quero mesmo seguir carreira acadêmica, dedicando-me a pesquisas e produção intelectual na área de Teoria Política. Sim, trabalhar em uma think tank, escrever livros, dar palestras e conferências, lecionar em uma universidade e tudo o mais. A propósito, tirei a melhor nota da minha turma (9,4), o que me garantiu o quinto SS do semestre. Meu IRA (Índice de Rendimento Acadêmico) ficou em 4,71 (o máximo é 5).
Alguns bons momentos deste 1º semestre:
- Por exemplo, quando o pessoal do curso descobriu que eu tinha minha própria corrente filosófica, o Anfisismo.
- No segundo dia de aula, em que, como o prof. de IERI havia faltado, topei ir ao bar (localizado no complexo de botequins Pôr do Sol) com a galera do segundo semestre. Não demorou para eles descobrirem que eu não bebo, sou um 'book worm' e que não sou tão anti-social quanto imaginava ser.
- Faltei a todas as gincanas e atividades lúcidas da Semana do Calouro. Alguns veteranos ficaram chateados comigo, mas eu não queria perder aulas (e palestras, como as três do mini-curso sobre Neoliberalismo) para ir a eventos que não necessariamente me divertiriam. Além do mais, sou muito paranóico com essa coisa (ou condição) de calouro, então seria difícil me convencerem a ir, por exemplo, à Aula Magna, pedir dinheiro nos sinaleiros para pagar o ingresso para o CHUCAPOL, usar crachás bobos ou fazer elefantinho pelos corredores do ICC. Ah, e faltei aos dois churrascos, CHUCAPOL e CHUPOL...
- Em compensação, fui o único neófito que compareceu à Feijoada Política e um dos dois que participou do COPOL. Sobre o primeiro, foi um dos melhores sábados deste ano para mim. Quanto ao segundo, joguei pelo amado Weber Brahma, que se consagrou como bicampeão moral. Pouco importa o fato de termos perdidos os três jogos, sendo dois por 5 a 0 e um por 3x1 para o campeão de 2007, o Medida Provisória. O importante é que somos um time carismático!
- A Semana Política merece ser lembrada. Quem sabe, um dia, não serei eu um dos palestrantes?
- Já citei a apresentação sobre Libertarianismo? Sim? Ah, tudo bem então, hehe.
- O fato de eu ter conhecido tantas pessoas legais em apenas 4 meses prova que, realmente, estou muito longe da misantropia. Foi gente de todos os lugares, cursos, ideologias e idades. =)
- Li bastante. 35 no semestre, sendo 26 desde que começaram as aulas, e vários deles já entraram na lista dos melhores livros que já tive o prazer de ler. Sobre isso, no entanto, eu já falo, falei e falarei em dezenas de posts, não acham?
- Ah, as festas. Se excluirmos eventos que eram 'almost parties' (a Feijoada de dois tópicos atrás e o Arraiá dos CAs, por exemplo), houve três em que eu fui: Biovinil (28/4), Festa da Arquitetura (7/6) e Realize (21/6); uma melhor que a outra, diga-se de passagem. Boa música (tanto para ouvir quanto para dançar), 'nice people' e diversidade de ambientes foram a fórmula do sucesso.
Devo ter esquecido muitos outros aspectos memoráveis destes últimos meses, mas, por enquanto, é isso. E que venha o 2º semestre!
Track Track
Antes-de-anteontem deveria ser o dia em que o CESPE liberaria o resultado do vestibular 2º/2008. Aproveitando que eu estou em Brasília, resolvi ir à UnB para, junto com outros gerontos (ou veteranos), recepcionar os neófitos (ou calouros) de Ciência Política. Infelizmente, devido a problemas técnicos (que novidade...), eles adiaram o resultado para ontem, às 17h.
Dia 15, novamente estava eu na porta do Ceubinho, esperando pela liberação. Felizmente, dessa vez ela veio, e até com um leve adiantamento (16:45). Foi bem legal e divertido ver aquela comemoração toda dos(as) aprovados(as). Depois, fui para o Pôr do Sol encontrar alguns colegas (e um ou outro calouro). Voltei para casa lá pelas 21h, porque meu pa, que estava trabalhando na cidade, veio me visitar (isso mesmo, inversão de papéis; agora é ele o hóspede, hehe).
Ontem, comecei a escrever um post ("Sobre meu 1º semestre na UnB"), mas o adiei para o(s) próximo(s) dia(s). O motivo? Estava assistindo a um ótimo seriado de TV britânico, chamado "Skins". Comecei a baixar os episódios no fim de semana, mas foi só na quarta-feira que conferi o material. E não me decepcionei! No decorrer do dia, vi os quatro primeiros episódios, e gostei da crueza e o do sarcasmo que caracterizam a série. Desde diálogos afiados (destaque para as constantes referências literárias, como Sartre, Nietzsche e até "Dawson's Creek", hehe) até personagens extremamente cativantes (ainda não decidi meu predileto, embora eu me julgue uma mistura da auto-confiança de Tony, a nerdice de Sid e a introspecção de Jal, além de um ou outro detalhe dos outros quatro protagonistas), "Skins" prova que os ingleses conseguem fazer uma série teen bem mais verossímil e ácida que os americanos.
[A seguir, um pouco de auto-crítica, pois eu adoro os três seriados que citarei] Não há espaço para o dramalhão interminável de "The O.C.", a futilidade de "Gossip Girl" e a prolixidade do já citado "Dawson's Creek" (não falei de "Barrados no Baile" porque a acho meia-boca, o lado bobinho dos anos 90). Claro que a série também mostra o lado melodramático, fútil e prolixo de alguns personagens, mas nunca em doses tão cavalares, até porque um dos seus pontos fortes é justamente o roteiro ágil. Isso sem falar no 'egoperspectivismo' (sim, minha teoria literária se aplicada a programas de TV também), pois cada episódio é focado em um dos protagonistas e sua respectiva maneira de encarar a realidade. Por exemplo, o de Cassie mostra seus pais ninfomaníacos, seus problemas com a anorexia e sua personalidade etérea, infantil e um pouco paranóica. As sacadas para ligar as histórias paralelas de cada um dos caracteres são outro aspecto elogiável (por exemplo, a trama envolvendo um certo Maddison...).
Para fechar o texto, há um outro motivo para que eu esteja fazendo tanta procrastinação aqui no blog: "Ulisses". Embora minha mente fique mais confusa a cada página, isso só aumenta meu encanto pela obra. As alusões a Homero, Shakespeare, Tomás de Aquino, Dublin, a cultura européia como um todo, os próprios livros de Joyce etc. são constantes; o leitor sente que está a enriquecer sua bagagem cultural a cada página. Paremos por aqui, no entanto, pois aquela postagem sobre este ilustre escritor dublinense será publicada em breve. Aguardem...
13 julho 2008
The Birth and Death of the Day
Por enquanto, vem sendo um agradável revival.
Falando nisso, como se sabe, hoje é Dia do Rock. Esta escória completa 54 anos neste 13 de Julho. Porém, nem me arrisco a fazer um post especial sobre tal estilo musical. Mesmo assim, agradeço a todas as bandas que ajudaram a fazer do Rock um dos maiores legados do século passado. A lista é extensa, portanto, recomendo que dêem uma passada em meu Last.FM para conhecer o que seria bom Rock and Roll sob a ótica kaionista.
Das coisas que eu queria fazer hoje, cumpri 4 e deixei 2 para amanhã:
1s- De fato, minutos depois que acordei, comecei a ler "Ulisses". Após cinco blocos de leitura (qualquer dia desses explicarei tal sistemática) no decorrer do dia, parei na pág. 101. Li quatro dos dezoito capítulos. Estou muito empolgado com o livro, que é até mais... hã... histriônico e ímpar do que eu imaginava. 'Further information' no próximo post.
2s - Também voltei a escrever meu livro. Planos e intenções não me faltam, mas agora devo provar para mim mesmo que sou capaz de escrever uma obra que corresponda a tudo o que o meu intelecto jura que é. Por enquanto, seguirei um caminho mais linear; logo, "comecei pelo começo", com o capítulo 1. Mais detalhes, no decorrer de 18 d.M.!
3s - Fiz a dobradinha pipoca + futebol. Pena que o Palmeiras frustrou-me, e conseguiu perder para o São Paulo (2 a 1)... Ok, vamos pular esse assunto.
4s - Pretendia escrever no blog hoje, independentemente do que fosse redigir. Bem, cá estou.
1n - Em compensação, não será hoje a prometida resenha de "Retrato"... Não se preocupem, será no próximo post (x2).
2n - Não retomei o estudo autodidata de Latim. Espero que o faça nas próximas vinte e quatro horas.
[Bocejo] Acho que já vou dormir. Se 13 de Julho foi um bom dia, 14 também pode ser.
Ah, antes que eu me esqueça, há um outro motivo para que esta data tenha um valor simbólico para mim. Um ano atrás, eu descobri que tinha passado no vestibular da UnB pela 1ª vez. Não pude fazer a matricular naquela ocasião (não tinha terminado o Ensino Médio, o diretor do meu colégio não liberou o comprovante de conclusão, eu sequer tinha lugar para morar...), mas foi um ato que deu-me confiança para ter um 2º semestre tranqüilo e indolente.
Se a segunda metade de 17 d.M. foi tão boa, um dos motivos para isso foi minha constatação de que eu não teria tantas dificuldades para ser aprovado em Ciência Política, e que, portanto, poderia continuar estudando no meu ritmo usual, sem neuroses, hehe.
Agora sim. Boa noite.
12 julho 2008
Let the Sunshine...
Já tinha ouvido (e lido) bons comentários sobre este filme, mas ainda não havia aparecido a ocasião ideal para vê-lo. Pois bem, ontem eu queria ocupar minha mente com cinema e pizza. Encomendei uma de quatro queijos + frango com catupiry, e fui à locadora do meu bloco para procurar um bom filme. Por sorte, "Pequena Miss Sunshine" estava disponível. Não titubeei e o aluguei.
De fato, é uma ótima película, que pode ser encaixada em um curioso fenômeno recente: as 'comédias cult americanas'. Não se iluda pela distribuição da Fox (que, aliás, após a boa recepção do filme no Festival de Sundance, teve de concorrer com outras produtoras para ser a distribuidora), pois estamos falando de uma produção de orçamento modesto (US$ 8 milhões), movida por um roteiro original competente (e que mereceu o Oscar 2007), boas atuações (também sendo premiado neste aspecto, com o oscarizado Alan Arkin como ator coadjuvante) e, é claro, a boa e velha sensibilidade artística apurada!
Apesar de o enredo girar em torno da viagem da excêntrica família Hoover para a Califórnia, onde a filha caçula, Oliver (Abigail Breslin), disputará um concurso de beleza, há várias tramas paralelas envolvendo cada personagem. O pai, Richard (Greg Kinnear), quer emplacar um livro e um programa de TV motivacionais baseados em seu método dos "9 passos", através do qual afirma constantemente que otimismo e atitude positiva são indispensáveis para o sucesso. A mãe, Sheryl (Toni Collette), tenta conciliar todos os conflitos e tensões da casa, e coloca a honestidade em primeiro lugar.
Oliver é uma adorável garota de 7 anos de idade; sonha em ser Miss, e se esforça diariamente para alcançar tal objetivo. Seu irmão, Dwayne (Paul Dano), oito anos mais velho, é leitor ávido de Nietzsche (logo, não se surpreendam com a atitude "Eu odeio o mundo" dele, hehe) e fez voto de silêncio, e só o quebrará quando conseguir entrar na Força Aérea.
Frank (Steve Carell), tio deles e irmão de Sheryl, é um ex-professor homossexual, grande estudioso da obra de Marcel Proust (haja gente culta nesse filme!), e tentou suicídio depois que teve um amor não-correspondido por um de seus alunos, que começou a namorar Larry Sugarman, outro especialista em Proust (o 2º maior dos EUA, segundo Frank, que se considera o 1º), que ainda por cima ganha uma bolsa de estudos e escreve um best-seller sobre o autor francês, para a indignação do personagem de Carell (o qual, aliás, teve uma boa atuação, demostrando assim sua versatilidade por pegar um papel bem diferente dos que ele teve em "O Virgem de 40 Anos" e "The Office").
Edwin (Alan Arkin), avô das crianças e pai de Richard, exala bom humor com seu jeito maluco de ser. Conseguiu ser expulso do asilo em que morava por ser viciado em heroína. Os diálogos em que ele contracena são um dos destaques do filme; "Fuck a lot of women, Dwayne" e "When you're old you're crazy not to do it [usar heroína]" são algumas das palavras de sabedoria deste velho sagaz.
"Pequena Miss Sunshine" consegue transformar uma história que tinha tudo para virar melodrama em uma doce e animada comédia. São pequenos detalhes, como os problemas da Kombi, as discussões por qualquer motivo bobo e a força de vontade de cada um dos 6 protagonistas (afinal, é impossível dizer quem desta aloprada família é o personagem principal), que levaram este filme a conquistar tanta gente (inclusive eu, oras). Nem vou contar muito sobre o enredo, pois bastaria uma coisa que eu dissesse para estragar a surpresa de várias outras cenas. Então, boa película para vocês! E não se esqueçam: "O verdadeiro perdedor é aquele que tem tanto medo de não ganhar que sequer tenta".
Amanhã promete ser um bom dia, por motivos que explicarei na próxima postagem. Além disso, deixarei minha resenha de "Retrato do Artista Quando Jovem" - concluí tal leitura há algumas horas - para este post de 13 de Julho. Até logo!
11 julho 2008
Férias joyceanas
Entre os dias 4 e 7 de Julho, li os contos de "Dublinenses". Percebe-se que, a cada história, a habilidade do escritor vai se aprimorando. Aqui já se delineiam algumas das características típicas de suas obras, como: o fato de Dublin ser o ambiente de todas as narrativas; as recorrentes discussões sobre política e religião, duas grandes paixões (e fardos) dos irlandeses; a mediocridade e tédio que contaminam a capital, mas que não impedem que haja sempre algo de muito original e curioso por trás de cada personagem e situação; e, é claro, a personalidade forte, impulsiva e geniosa que estes caracteres do povo irlandês têm.
Eu poderia destacar os seguintes contos: "Uma Pequena Nuvem" e a amargura de seu protagonista, Little Chandler, perante o marasmo de sua vida comparada ao êxito de Gallaher, um amigo que não via há tempos; "Um Caso Doloroso", que mostra o arrependimento de James Duffy por ter perdido toda uma vida sem se arriscar, sendo agora tarde demais para se livrar da inevitável solidão; "Graça", que tem um desenrolar interessantíssimo e revela como Joyce preza temáticas como redenção, amizade e Igreja Católica; por último, o melhor de todos, "Os Mortos", repleto de personagens envolventes (por exemplo, Browne, as irmãs Mary Jane, Júlia e Kate, seu 'sobrinho' Gabriel e a esposa dele, Gretta), além de um desfecho surpreendente.
"Retrato do Artista Quando Jovem" demonstra o quanto o autor irlandês era capaz de evoluir de um livro para o outro. Estamos falando de um romance que, lenta e gradualmente, ganha em densidade, deixando o leitor cada vez mais absorvido pela obra. Antes de mais nada, é auto-biográfico, pois há muitas semelhanças entre as trajetórias de James Joyce e Stephen Dedalus: os internatos, os problemas financeiros da família, o envolvimento com prostitutas, a relação de amor e ódio com o catolicismo...
Os fluxos de consciência, paulatinamente, ganham espaço, a ponto de, em certos momentos, haver a indagação quanto a se estar lendo um diálogo, uma descrição em 3ª pessoa ou um monólogo, ou as três opções sob uma atmosfera onírica. No último trecho que li antes de redigir este post (parei no início da IV parte, pág. 139), seguem-se várias páginas discorrendo sobre pecado, inferno, angústia, arrependimento, dogmas católicos, confissão... enfim, Stephen fica mais e mais consternado pelo conflito entre os prazeres carnais e o peso na consciência.
Algumas partes de "Retrato do Artista Quando Jovem" surpreendem pela crueza e o realismo, como a passagem em que Dedalus é injustamente castigado com a palmatória pelo Padre Dolan, e vive o dilema de ir ou não ao reitor contar que não merecia tal punição, e evitar que apanhasse ainda mais no dia seguinte.
Enfim, ainda não terminei o livro para ter um julgamento definitivo (ceteris paribus, amanhã eu o concluo; no mais tardar, domingo), mas, por enquanto, está sendo uma leitura prazerosa.
Assim que eu concluí-lo, começarei a ler aquele que é um forte candidato a entrar no top 5 de melhores livros que eu já li: "Ulisses". Em um ano em que estou a enfrentar vários livros bem longos (na maioria dos casos, leituras adiadas há anos, como os próprios "O Senhor dos Anéis" e "A Montanha Mágica"), nada como pegar um clássico de 900 páginas para aproveitar o que ainda me resta das férias, não é mesmo?
Nas próximas postagens, mais detalhes deste meu plano de leituras, além de notas sobre meu cotidiano, ensaios sobre política e economia (sim, eles voltarão!), resenhas sobre livros e CDs, entre outras coisas! Bye-bye!
08 julho 2008
A Magia da Montanha
O MELHOR LIVRO QUE LI ANTES DOS 18: "A Montanha Mágica", Thomas Mann
Exatos dois meses depois que eu terminei de lê-la, esta obra finalmente será resenhada de maneira 'definitiva' por mim. Há alguns textos datados de Maio/08 e Janeiro/07 sobre o livro, mas pretendo encerrar o ciclo de comentários aqui e agora... ou não, afinal, pode ser que eu me esqueça de dissecar algum aspecto relevante. Porém, não se preocupem, pois, até o fim do ano, lerei outras obras de Mann (talvez "Morte em Veneza" e "Carlota em Weimar", as quais já tenho, ou futuras aquisições, como "Doutor Fausto" e "Os Buddenbrooks"), e aproveito para falar um pouco mais sobre este clássico.
Acima de tudo, "A Montanha Mágica" é um romance de formação (bildungsroman), ou pelo menos emula as principais características de tal estilo. Com isso quero dizer que a obra conta como se processou o crescimento e amadurecimento intelectual e emocional de seu protagonista, de seu nascimento até a sua morte. Aliás, a saga de Hans Castorp também é um retrato mais do que fiel da Europa às vésperas da I Guerra Mundial. Mann, em vários momentos e metáforas, demonstra a enfermidade que assolava a alma européia naqueles anos, e que inevitavelmente resultaria em um amargo conflito que se arrastou de 1914 a 45. Afinal, ainda acredito na tese de que a II Guerra é uma continuação da primeira, após um intervalo de vinte anos nos quais a intolerância, a melancolia, o desejo de vingança e a ameaça do retorno às armas não se dissiparam em momento algum.
Castorp não é tão medíocre quanto o narrador imagina. Pelo contrário, é justamente a sua mente aberta que o permite evoluir tanto nos dias, meses e anos que passou na montanha. Além do mais, ele foi objeto de disputa até mesmo por dois pensadores, Settembrini e Naphta. Mas, sobre eles falaremos mais tarde.
Ainda sobre o protagonista, sua paixão por Clawdia Chauchat não poderia passar em branco. É nela que se revela até onde ele pode ir por um desejo, acima de tudo, carnal, afinal ele não nega que sua atração pela 'russa distinta' deve muito à sensualidade que ela evoca. É inegável que ele não ficaria tanto tempo nos Alpes em Davos se não fosse por esta notável mulher, que foi capaz de fazê-lo esperar por tanto tempo pelo seu retorno. A conversa em francês entre os dois é um dos momentos mais tensos da obra, e encerra maravilhosamente a primeira metade da mesma.
Alguns críticos já compararam Hans Castorp com a República de Weimar, pelas idéias conflitantes que coexistem em sua mente. Ele é, de fato, algo como o equilíbrio, o ponto de convergência entre as mais opostas visões de mundo. Arriscar-me-ei (e sei que isso pode soar como a mais torpe estupidez) que ele é um símbolo da 'construção anfisista do ser humano': repleto de ambigüidades; enfermo e lúcido ao mesmo tempo. Está sempre disposto a aprender mais sobre a vida e sobre si mesmo, mas revela uma olhar sobre a realidade que não deve em nada àqueles que aparentam serem mais sábios e experimentados.
O episódio da avalanche é um dos que melhor revela o caráter do protagonista. O fluxo incessante - e aterrorizante - de pensamentos que lhe acomete naquela quase-tragédia impressiona o leitor, que mal consegue acreditar quando ele escapa são e salvo, de corpo e alma, daquele infortúnio.
Os coadjuvantes são quase todos interessantíssimos, mas limitemo-nos a falar sobre alguns deles:
Já se disse algo sobre Mme. Chauchat, mas, ainda que fosse dito mais, seria insuficiente para elucidar os mistérios que esta mulher emana. Deixo para que os próprios (outros) leitores tirem suas conclusões.
Hofrat Behrens, doutor e diretor do sanatório em Davos, é ciência, pura ciência. Pouco lhe importam as emoções e caprichos de seus pacientes, pois sua frieza não se abala com tais impulsos. Mesmo assim, marca sua presença em várias cenas decisivas.
E quem poderia se esquecer das palestras do Dr. Krokowski sobre amor, doença, tempo...? E os passeios diários? E as sessões espíritas com a garota de poderes mediúnicos que era sua protegida?
Joachim Ziemssen, o primo de Hans, acumula uma frustração enorme pelo fato de sua doença lhe impedir de voltar para a planície e a vida militar. Nem mesmo os, hã, seios opulentos de Marusja desviavam este rapaz de sua monomania. Após muito aturar, ele acaba dando uma de desertor, mesmo ainda não estando plenamente curado. O resultado, por triste que fosse, não poderia ter sido diferente: meses depois, ele é vencido pela enfermidade, e retorna para os Alpes para lá descansar antes de seu fim iminente. A sua morte é, sem dúvidas, um dos momentos do livro que mais me marcou.
Falando em óbito, outro que era aguardado, mas que nem por isso perdeu sua carga trágica, foi o de um dos personagens mais carismáticos deste romance: é de Mynheer Peeperkorn que estamos falando. Hans Castorp demora um pouco para aceitar a personalidade tão... expansiva e extrovertida deste camarada, mas logo vê nele a representação de uma filosofia de vida dionisíaca, hedonista. Assim como quase todos no sanatório, ele é irresistivelmente atraído pelo ébrio Peeperkorn. Seu suicídio, por incrível que pareça, foi verossímil depois de tudo o que ele fez durante sua curta e marcante passagem. Chauchat realmente sabia escolher seus amantes, hehe.
Por último, comentemos o maior embate intelectual entre caracteres da história recente da Literatura: Settembrini x Naphta. De um lado, um italiano, humanista, de aguçada percepção sobre a excêntrica atmosfera do sanatório (e, por que não?, do resto do mundo também), metódico, otimista, liberal, democrata e parnasiano. Do outro, um judeu que se tornou jesuíta, que encara a realidade da maneira mais ácida possível, livre-pensador, pessimista, simpático ao comunismo e outras ideologias totalitárias, um autêntico 'radical-conservador'.
Os debates entre estes dois homens são, certamente, um dos motivos que me fizeram colocar "A Montanha Mágica" como meu livro predileto. Todos os assuntos imagináveis são um pretexto para que ambos se coloquem em campos diametralmente opostos: religião, política, cultura, arte, guerra, morte... Se Castorp é Weimar, Settembrini é a voz do cânone ocidental pregando paz, harmonia, valores republicanos e liberalismo, enquanto Naphta encarna os radicalismos que ganhavam mais e mais terreno naquela época: nacionalistas, socialistas e anarquistas. Este é um mestre na persuasão sofística e adepto do mais cru realismo, enquanto aquele é impecável como estilista da língua, dotado de retórica aos moldes clássicos. Por mais tentador que seja, não podemos generalizar e colocar Settembrini na direita e Naphta na esquerda, pois o judeu-jesuíta é, simultaneamente, revolucionário e reacionário.
A exaltação de ambos em suas discussões colossais chega a tal ponto que a própria honra deles é decidida em um duelo. O italiano, usualmente tão pacifista, aceita o desafio de seu rival, e afirma a Hans que certas questões só podem ser resolvidas da maneira mais bárbara possível. Ele ainda dá um tiro para cima no duelo, demonstrando que não tinha a mínima intenção de matar Naphta; para meu choque (sério, quase chorei nessa cena), este atira em sua própria cabeça. A quatorze páginas do final do livro, em um capítulo em que imperaram a fúria e a discórdia, é hora de dar adeus a um personagem por demais intenso.
Não nego que me identifiquei muito como Settembrini, assim como considero que suas constantes tentativas de dissuadir Hans Castorp de pensamentos mórbidos sobre morte e doença são dignas de um pensador que ama tanto a humanidade e a liberdade que chega a estar preso, dominado por sua própria ideologia, enquanto seu adversário caminha livremente por todas as crenças (daí o fato de eu tê-lo chamado de livre-pensador, por mais que ele use seu dom para fins que se oponham a tudo o que se considera "livre").
Sobre o estilo da obra, entre tantas qualidades (narrativa repleta de fluxos de consciência, descrições minuciosas sobre assuntos como tuberculose, diálogos excepcionais, uma 3ª pessoa que não teme soar como 1ª quando quer encarnar certas idéias etc.), é interessante notar, por exemplo, como o autor trabalha o tempo cronológico com um caráter bem psicológico. Trocando em miúdos, é o próprio volume de experiências e novidades na estadia de Castorp na montanha que influencia a passagem temporal.
Seu primeiro dia no sanatório dura 100 páginas, enquanto seus últimos três, quatro anos por lá passam voando. Quando nos damos conta, a Grande Guerra estoura, e o protagonista sente-se no dever de lutar pela sua pátria no conflito. Após 7 anos em Berghof, naquilo que inicialmente seria apenas uma visita de 3 semanas ao primo doente, Hans Castorp dá adeus à Montanha Mágica, e caminha para a provável morte no campo de batalha.
"E o resto são escombros", como diria aquela canção da Legião Urbana cujo nome remete ao livro cuja resenha eu encerro por aqui. Boa noite.
05 julho 2008
Correspondência do Condado
I. Ontem houve o Arraiá dos CAs, que acabou tirando da Realize o posto de "última festa do meu 1º semestre de faculdade". Embora ela tivesse todos os ingredientes para ir de encontro com meus gostos, eu até me diverti. Acabei virando balconista e tesoureiro da barraca do CAPOL.
Foi uma experiência interessante, pois, além de me dar noções práticas de comércio, descobri que, por indiferença ou flexibilidade moral, eu não me sinto mal em contribuir para a embriagüez alheia; e olha que não estamos falando apenas de cerveja e chopp, como também xiboquinha. Como sempre, desta vez com a justificativa de "não consumirá sua própria mercadoria", permaneci sóbrio; preferi tomar chocolate quente proveniente da barraca do CACOM. De quebra, comi uns cookies muito bons do CADIN.
II. Assim que eu terminar essa série de posts, falarei sobre o autor que estou a ler. Amanhã, no ônibus para Goiânia, é provável que eu termine ou fique bem próximo de concluir o primeiro dos três livros dele que lerei em Julho. Mistério...
III. Falando na roça asfaltada, decidi que só vou passar oito dias das férias por lá: entre 6/7 e 10/7 e de 24/7 até 28/7. No resto de meu recesso, ficarei em Brasília mesmo. Sim, eu sei, inúmeras pessoas já me disseram que isso é estupidez. Porém, não vejo por que não aproveitar as férias sozinho, em minha kit-net. Posso aproveitar o tempo livre para ler, escrever, estudar (sim, até porque vou pegar 30 créditos no semestre que vem, então seria sensato já me preparar para matérias pesadas como Cálculo 1, Formação Econômica do Brasil e Teoria Política Clássica) e sair.
Já descobri dois eventos nos quais posso ir: os shows de Titãs + Paralamas (dia 19) e o Porão do Rock, com Muse entre as atrações (2/8). Quero ver se encontro mais alguns, afinal, por mais que eu confie na minha força de vontade, sei que é impossível aproveitar as próximas 5 semanas sem mais opções de 'night out'. Afinal, se é para largar Goiânia porque não quero passar o dia inteiro na frente da TV vendo VH1, sitcoms e desenhos animados ou jogando bola no quintal, preciso encontrar motivos razoáveis para escolher Brasília como meu sítio até a volta às aulas, não acham?
Ok, agora sim vamos para o tema do post.
Se considerarmos os livros que li durante o ano de 2007, foram cinqüenta e sete:
- "Pornopolítica" (Arnaldo Jabor)
- "Uivo" (Allen Ginsberg)
- "O Fantasma de Canterville e Outros Contos" (Oscar Wilde)
- "Os Vagabundos Iluminados" (Jack Kerouac)
- "A Dança do Universo" (Marcelo Gleiser)
- "As Catilinárias" (Cícero)
- "A Política" (Aristóteles)
- "Ciência e Política: Duas Vocações" (Max Weber)
- "O Processo" (Franz Kafka)
- "A Controvérsia" (Jean-Claude Carrière)
- "Um Sonho Americano" (Norman Mailer)
- "Nove Noites" (Bernardo Carvalho)
- "O Idiota" (Dostoiévski)
- "O Fantasma de Luis Buñuel" (Maria José Silveira)
- "Relações Internacionais" (Williams Gonçalves)
- "Uma Casa no Fim do Mundo" (Michael Cunningham)
- "Einstein e o Universo Relativístico" (J. C. Reis, Andréia Guerra, Marco Braga e Jairo Freitas)
- "Física Moderna para Iniciados, Interessados e Aficionados: vol. 1" (Ivan Oliveira)
- "Ciência Política: Introdução à Teoria de Estado" (Itami Campos)
- "As Seis Lições" (Ludwig von Mises)
- "Capitalismo e Liberdade" (Milton Friedman)
- "O Caminho da Servidão" (Friedrich von Hayek)
- "O Rei da Vela" (Oswald de Andrade)
- "Calabar" (Chico Buarque e Rui Guerra)
- "Trópico de Câncer" (Henry Miller)
- "No que Acredito" (Bertrand Russell)
- "Onde encontrar a Sabedoria?" (Harold Bloom)
- "Almanaque 02 Neurônio: Manual para Moças em Fúria" (Raq Affonso, Nina Lemos e Jo Hallack)
- "A Paixão segundo G.H." (Clarice Lispector)
- "A Genealogia da Moral" (Nietzsche)
- "Geração Beat" (Jack Kerouac)
- "O Povo Brasileiro" (Darcy Ribeiro)
- Biografia de Paulo Francis (não me lembro do nome do autor)
- "O Afeto que se Encerra" (Paulo Francis)
- "Incidente em Antares" (Érico Veríssimo)
- "Collor: A Cocaína dos Pobres" (Gilberto Vasconcellos)
- "O Beijo no Asfalto" (Nelson Rodrigues)
- "Brás, Bexiga e Barra Funda" (Alcântara Machado)
- "Raízes do Brasil" (Sérgio Buarque de Holanda)
- "Retrato do Brasil" (Paulo Prado)
- "Cem Anos de Solidão" (Gabriel Garcia Márquez)
- "História do Brasil" (Murilo Mendes)
- "A Náusea" (Jean-Paul Sartre)
- "A Queda" (Albert Camus)
- "Laços de Família" (Clarice Lispector)
- "Antologia Poética" (Mário Quintana)
- "Henry & June" (Anaïs Nin)
- "A Ditadura Envergonhada" (Elio Gaspari)
- "A Ditadura Escancarada" (Elio Gaspari)
- "A Desobediência Civil e Outros Escritos" (Thoreau)*
- "Carta sobre a Tolerância" (John Locke)
- "Poemas" (Fernando Pessoa)
- "O Jogador" (Dostoiévski)
- "Cultura e Psicanálise" (Herbert Marcuse)
- "O Futuro de uma Ilusão / O Mal-estar na Civilização / Dostoiévski e o Parricídio" (Freud)
- "Notas do Subterrâneo" (Dostoiévski)
- "A Sabedoria da Vida" (Schopenhauer)
Para compor a lista**, desconsiderei um livro paradidático que era uma minibiografia ilustrada do Chico Buarque. Além de ser muito curta para ser considerada como leitura, ela nem me convenceu a ter interesse pela música desse ícone (?) da MPB.
*Na verdade, eu já havia lido "A Desobediência Civil" em 2005, mas, como os 'outros escritos' somavam mais 90 páginas e eram relevantes, resolvi validá-los como leitura.
**Ah, sim, além de minha própria memória, a fonte da pesquisa foi o próprio blog, pois aqui resenhei várias destas obras.
Em 2008, até 5 de Julho, foram mais trinta e seis:
- "As Portas da Percepção / Céu e Inferno" (Aldous Huxley)
- "Laranja Mecânica" (Anthony Burgess)
- "O Contrato Social (Jean-Jacques Rousseau)
- "Discurso da Servidão Voluntária" (Étienne La Boétie)
- "Teoria do Caos" (Robert Murphy)
- "A Teoria dos Ciclos Econômicos" (Murray Rothbard, Friedrich Hayek, Gottfried Haberler e Ludwig von Mises)
- "A Lei" (Fréderic Bastiat)
- "Intervencionismo" (Ludwig von Mises)
- "A Utopia" (Thomas Morus)
- "Ensaio sobre a Liberdade" (Stuart Mill)
- "Uma Teoria sobre o Socialismo e Capitalismo" (Hans-Hermann Hoppe)
- "Política e Relações Internacionais" (Marcus Faro de Castro)
- "Esquerda e Direita: Perspectivas para a Liberdade" (Murray Rothbard)
- "Desemprego e Política Monetária" (Friedrich von Hayek)
- "O Mercado" (Ludwig Von Mises)
- "A Nova Economia Brasileira" (Mario Henrique Simonsen e Roberto Campos)
- "O Estrangeiro" (Albert Camus)
- "À Paz Perpétua" (Immanuel Kant)
- "Sociologia dos Partidos Políticos" (Robert Michels)
- "Entre os Cupins e os Homens" (Og Francisco Leme)
- "Sobre a Democracia" (Robert Dahl)
- "Liberalismo" (Ludwig von Mises)
- "As Conseqüências Econômicas da Paz" (Keynes)
- "Ideologias e Ciência Social" (Michael Löwy)
- "Os Fundamentos da Liberdade" (Friedrich von Hayek)
- "A Montanha Mágica" (Thomas Mann)
- "Economia Internacional (van Meerhaeghe)
- "Análise das Relações Internacionais" (Karl Deutsch)
- "Uma Crítica ao Intervencionismo (Ludwig von Mises)
- "A Virtude do Egoísmo" (Ayn Rand)
- "Walden" (Thoreau)
- "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda" (Keynes)
- "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" (Tolkien)
- "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres" (Tolkien)
- "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" (Tolkien)
- "Escola de Libertinagem" (Marquês de Sade)
Porém, como se sabe, sou egocêntrico a ponto de praticamente considerar que o ano começa mesmo em 29 de Junho. Logo, o primeiro livro que li aos 17 foi o de Ciência Política do Itami Campos e...
Já deve ser de conhecimento geral a minha demora para finalmente ler SdA, então, vamos falar logo sobre o livro em si.
A saga de Frodo e cia. é a prova definitiva do poder da imaginação. Tolkien, movido pela fantasia, criou, em todos os detalhes possíveis, um mundo extraordinário em que coexistem humanos, hobbits, elfos, anões, orcs, ents e várias outras criaturas. O interesse pela mitologia nórdica ajudou o autor a criar o divisor de águas na cultura nerd, pois daí em diante praticamente tudo, desde RPGs até as histórias sobre o fantástico na literatura, na música, no cinema etc., seriam de alguma forma influenciados por "O Senhor dos Anéis".
A primeira parte, "A Sociedade do Anel", é mais conversa do que ação. Isso significa que um dos pontos fortes da obra, os diálogos, são valorizados, tanto quanto as descrições. Entre os melhores momentos do 1º livro, ressalto a clareza e a gradação pela qual o leitor fica sabendo do poder do Anel e, conseqüentemente, do fardo que Frodo terá; além disso, as cenas que se passam em lugares como a casa de Tom Bombadil, Pônei Saltitante, Valfenda, Minas Moria e Lothlórien são todas inesquecíveis. O súbito final, com Sam e seu Mestre pegando um barco em direção ao Leste, aumenta a vontade de imediatamente começar a ler a segunda parte.
Estamos falando de "As Duas Torres". Em comparação com o resto da trilogia, pode ser considerada a 'menos genial', mas isso não a impede de ter várias passagens incríveis. No livro III, temos o desenrolar da trama em Rohan, Fangorn e Isengard, com vários personagens que até então não tinham aparecido tanto (como Pippin e Merry) ganhando bastante - e merecido - espaço. A ressurreição de Gandalf, o Entebate e a queda de Saruman são três 'highlights'. Já no livro IV, bem mais descritivo, é exclusivamente sobre Frodo, Sam e os perigos que encontram no caminho para Mordor. Faramir é um dos coadjuvantes mais interessantes; Gollum é uma criatura assaz irritante; também vale dizer que fiquei muito surpreso quando Samwise revelou toda a sua coragem e determinação na reta final de "As Duas Torres", praticamente se equivalendo a Frodo no papel de protagonista.
Isto também é verificado em "O Retorno do Rei", a ponto de se poder falar em 'dois pequenos-grandes heróis'. Mesmo sendo mais curta que as outras duas, a parte final é a melhor da trilogia, alcançando os maiores níveis de tensão de toda a saga. A batalha sangrenta de Minas Tirith, a loucura de Denethor, a morte de Théoden, a bravura de Éowyn e Meriadoc, as mãos de Aragorn salvando vidas, a vitória parcial seguida de uma jornada até o Portão Negro delineiam o cenário que antecede o momento crucial. Enquanto isso, Frodo e Sam, após conseguirem escapar da Fortaleza Orc e chegarem em segurança (?) até a Montanha da Perdição, quase põem tudo a perder quando o primo de Bilbo é subitamente tomado pelo desejo de permanecer com o Anel. Porém, Sméagol resolve a situação com 'a mordida de dedo mais importante de toda a história da Terra-Média', e cai junto com seu Precioso.
A trama, no entanto, ainda não está encerrada, pois faltam 87 página para o verdadeiro fim. Antes do mesmo, temos como destaques a coroação de Aragorn, seu casamento com Arwen (e, ao contrário do filme, o pai dela, Elrond, não demonstra nenhum receio ou oposição a tal união), o companheirismo de Legolas e Gimli, a aproximação entre Faramir e Éowyn e, é claro, o que aguardava os hobbits no Condado. Aliás, este último ponto praticamente encerra o livro com chave de ouro (apesar de que ainda temos a misteriosa ida dos Portadores para os Portos Cinzentos), afinal é o momento em que os quatro usam de toda sua experiência em aventuras para botar ordem na casa. Quando se descobre que Saruman está por trás dos infortúnios na Vila dos Hobbits, o leitor fica pasmado e chocado - bem, pelo menos foi assim comigo. Tolkien realmente deu um show de coesão, coerência e reviravoltas, até mesmo depois do 'final cinematográfico'.
Enfim, creio ser desnecessário enfatizar o quanto "O Senhor dos Anéis" é brilhante. Posso ter enrolado seis anos para lê-lo, mas não foram em vão. Li a obra na hora certa, no lugar certo, e isso elevou a estima que cultivo por ela.
Até a próxima.
*** Esta segunda metade do post foi concluída em 6 de Julho, em meados de 8 de manhã.
03 julho 2008
Direto da Alcova
1. "Direto da Alcova": texto sobre o primeiro livro que li aos 18.
2. "Correspondência do Condado": resenha sobre o último livro que li antes dos 18.
3. "A magia da Montanha": comentários sobre o melhor livro que li antes dos 18.
Depois disso, Kaio ingressará na leitura de três obras de um dos autores mais importantes do século passado... guess who?
Já que o texto em si ainda não se iniciou, mais um adendo.
Finalmente comprei os últimos livros da minha lista de pedidos de aniversário; bem, pelo menos os que eu encontrei e/ou pude pagar.
Como vocês viram no post retrasado, eu já havia conseguido: "Lutando na Espanha" (Orwell), "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano" (Llosa, Montaner e Mendoza), "A Insustentável Leveza do Ser" (Kundera), "A Ilha" (Huxley), "Carlota em Weimar" (Mann) e "Ulisses" (Joyce).
Ontem, no shopping Conjunto Nacional, comprei outros dois: "A Volta do Idiota" (Llosa, Montaner e Mendoza) e "Dublinenses" (Joyce).
Na volta para casa, passei em alguns sebos, e finalmente encontrei "A Sociedade Aberta e seus Inimigos" (Karl Popper).
Hoje, na universidade, comprei o décimo e último deles: "A Democracia na América" (Alexis de Tocqueville).
É claro que já localizei e defini os próximos livros que quero, mas eles já não serão financiados e considerados como, hã, presentes de aniversário. Além do mais, já estou entupido de leituras para este mês, então é melhor falar sobre a primeira delas:
Quem diria, hein? O Sr. Estóico, cuja pureza alguns testes chegam a calcular em torno de 90%, lendo Sade?! Oras, não vejo nada de absurdo nisso, afinal aos 15 eu já lia autores que não eram exatamente politicamente corretos. A maioria dos meus livros favoritos são de autores que alguns chamam de libertinos: Rimbaud, Baudelaire, Henry Miller, Anaïs Nin, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Dostoiévski... Então, por que não ler o maior dos devassos e porra-loucas, o Marquês de Sade?
Não vou negar que já tinha vontade de lê-lo há pelo menos uns três anos, e só estava esperando o momento certo. Oras, é patente que a conquista da maioridade seria a ocasião ideal! Porém, a demora diminuiu um pouco o impacto da transgressão de valores de Sade sobre mim, afinal, pelo menos no âmbito teórico, quase nada do que "Escola de Libertinagem" expôs realmente me chocou.
É claro que, para um sujeito que sequer beijou uma garota até hoje, é uma posição meio desconfortável e estranha aquela em que estou ao afirmar não ter me assustado com toda a luxúria exalada pelo livro do Marquês. Porém, pelo menos nos meus valores e crenças, a libertinagem não é algo deplorável. Pelo contrário, é a mais sublime libertação do id, dos impulsos e das vontades reprimidas. Não pratico atos de âmbito amoroso e sexual porque escolhi um estilo de vida adequado às minhas pretensões, a meu ritmo. É claro que eu poderia adorar uma vida movida pela lascívia, mas, ao contrário da máxima beatnik, prefiro me arrepender pelo não feito. And life goes on...
"Escola de Libertinagem" mostra claramente por que Marquês de Sade está um patamar acima da literatura erótica mais vulgar. A doutrinação da jovem Eugenie não se resume a sexo incessante, depravação e outras coisas relacionadas simplesmente aos prazeres carnais; Dolmancé, a Madame e o Cavalheiro sabem muito bem que é preciso extirpar toda forma de moral cristã da mente do indivíduo para fazer dele um pleno libertino. Tudo o que é castrador, hipócrita, repressor e que imponha restrições às livres expressão e ação (ou seja, religião, hábitos e costumes moralistas, proibições; enfim, simplesmente a idéia da existência de crime, pecado e vício) deveria ser eliminado. O panfleto republicano que os protagonistas lêem (que não é nada mais que uma forma sutil e sagaz de Sade fazer um pequeno tratado filosófico, no intervalo da... putaria, rs) expressa claramente o que se convencionou chamar de "liberdade francesa": sim, aquela que trata de ausência de restrição, e não de coerção (a "inglesa"). Resumindo, é a consumação do "Se Deus não existe, então tudo é permitido".
Como libertário, tendo a ser um pouco mais anti-coercitivo que anti-restritivo, mais a favor da liberdade negativa que da positiva. Por mais que o ideal de liberdade como expressão ilimitada de poder, vontade e capricho seja atraente, acredito que ele seja muito propenso a um niilismo autodestrutivo, o qual frustraria completamente o projeto de uma ordem livre. O egoísmo racional e a inviolabilidade da liberdade individual estariam ameaçados. Sei, também, que o próprio libertarianismo propõe uma ética muito avançada e ambiciosa para ser adotada plenamente pelas sociedades contemporâneas. O que fazer, então? Eu já fiz a minha escolha: respeitar a liberdade positiva, mas refletir, propagar e agir sob os princípios da liberdade negativa. Sade que me perdoe, mas sua libertinagem é muito ousada para um careta como eu.
Ah, sim, divaguei tanto que nem falei sobre aquilo que está mais associado à fama de Sade: o sexo. Bem, sob tal viés a obra é um prato cheio: além de adultério, violação de uma virgem, incesto e homossexualismo, as intensas orgias são movidas por sodomia, sado-masoquismo e outras práticas sexuais que já foram consideradas "criminosas".
Enfim, "Escola de Libertinagem" foi uma boa leitura, e Sade realmente é tão bom escritor quanto eu imaginava.
02 julho 2008
De repente 18
Exceto no âmbito da lei, fazer 18 anos muda pouca coisa na minha vida. Apesar de eu adotar a tag 'pós-adolescente' com maior firmeza agora, sinto que, aos 17 anos, eu já tinha consolidado a minha personalidade, aparando arestas e amadurecendo nos aspectos que julgava imprescindíveis.
Sob o critério da 'experiência de vida', continuo incólume, tanto em amor e sexo quanto em álcool e demais drogas. "E não me arrependo!", como diria o padrinho mágico Cosmo; afinal, não acredito que eu seria mais feliz, satisfeito e autoconfiante se eu bebesse, fumasse e/ou namorasse. Além disso, o celibato e a sobriedade (ainda) não me transformaram em um velho rabugento, então não vejo problemas em me relacionar com outras pessoas a despeito de não compartilhar do estilo de vida da maioria delas.
As expectativas para os 5 anos que irão compor minha pós-adolescência são as melhores possíveis. Quero dedicar-me intensamente a meus estudos na universidade, publicar livros, ampliar meu leque cultural, conhecer pessoas interessantes, ir a festas em que se toque música boa... isso tudo "being myself, (...) like no one else", ou 'reflexões do oásis' adjacentes.
Como se sabe, sou bastante sistemático, e utilizo alusões, comparações, divisões e outros métodos anacrônicos para analisar e organizar o meu passado. Inúmeros posts no blog já se utilizaram de tais artifícios, e eu farei o mesmo aqui.
8 anos: ano de transição. Torna-se um pirralho mais calmo, e afasta-se definitivamente dos alunos boçais. Primeiros indícios de interesse por política, a ponto de fazer pesquisas eleitorais sobre quem seriam os próximos representante de sala e governador e senador de Goiás.
9 anos: início da Fase Nerd, que se estenderia pelos próximos quatro anos. Motivos para isso não faltam: consuma-se o vício por Pokémon; amigos são quase todos fanáticos por PCs, games e 'o lado cult do futebol'; oratória aprimora-se, com as devidas proporções; primeira (e, talvez, única) paixão, por uma garota que se sobressaía em relação às demais pela sua extroversão, inteligência e - por que não? - beleza.
10 anos: crescente interesse pelo Jornalismo (fato corroborado pela publicação de quatro edições do Jornal do Kaio). Primeiras conversas (e leituras, vide o hilário e didático livro "O Planeta Eu") sobre sexo, embora Kaio encarasse tal assunto sob um viés bem mais teórico do que, hã, digamos, prático. Continua apaixonado pela tal menina, embora cada vez mais ciente dos defeitos dela, além de suas próprias falhas que poderiam dificultar um possível namoro. No fim do ano, ele parece estar à beira de desistir da garota, até mesmo porque ela passa a estudar em um turno diferente. Outro poké-ano, diga-se de passagem.
11-12 anos: se, por um lado, Kaio ficou mais solitário, por outro manteve seu grupo de amigos. Dedicou um maior tempo a nerdices, desde criar enredos de RPGs (destaque para a trilogia futurista Genesis e um que até a professora de Literatura aprovou: o medieval A Jornada Sagrada) até comprar todo mês revistas de games e mangás dos Cavaleiros do Zodíaco. Além disso, criou reality shows (Adolescência) e seriados de TV imaginários (fanzines de CDZ, Pokémon e Dragon Ball), todos eles repletos de alteregos. Ah, isso sem falar no novo jornalzinho: Teen News.
13 anos: o fim de uma era, para bem e para mal. Há uma revolução vocacional (de jornalista para cientista político), ideológica (de "gosto de política, mas ainda não tenho um partido, uma bandeira" para esquerdista social-democrata), musical (de rock 'n' roll casual para beatlemaníaco), televisiva (de desenhos animados para sitcoms), de mentalidade estudantil (de "tenho que estudar para a prova de Ciências" para "mal posso esperar pelo Ensino Médio, e vou até pegar livros didáticos das próximas séries") etc.
14 anos: debates no Politizados Fórum, revistas Caros Amigos, vitória na simulação de júri em defesa do "socialismo democrático", descoberta de The Clash, aulas de História e Geografia, pretensões megalomaníacas... enfim, foi o ano mais 'canhoto' de Kaio. Não sabia ele que as sementes plantadas por "A Revolução dos Bichos" não vinham no sentido de torná-lo mais socialista, mas justamente o contrário...
15 anos: adeus, esquerda! Kaio endireita-se e começa a se identificar com as idéias libertárias. Também foi aos quinze que ele fundou o seu primeiro blog bem-sucedido (não em público ou crítica, mas em duração e dedicação). De quebra, entre Outubro e Novembro teve um curto interesse por uma garota três anos mais velha, que foi uma das influências que ele teve no desenvolvimento do livre pensamento e no gosto musical e literário mais apurado. Sim, foi aqui que ele começou a curtir Joy Division, Dostoiévski, Smiths, Nietzsche, Pixies, Huxley, Franz Ferdinand, Schopenhauer, Velvet Underground, Kerouac, entre outros. Foi um ano decisivo, pois suas decisões determinariam grande parte do resto de sua vida. Como era de se esperar, ele fez escolhas "conservadoras", e não se tornou um junkie. Como se verá em seu livro, é aqui que se distingüe um César de um Henrique, uma Júlia de uma Alice.
16 anos: deliberadamente, um ano mais dark e entediante, pelo menos até o fim de 2006. Em meio à parte cultural mais soturna, a paranóia criadora de "problemas imaginários", outro interesse-relâmpago-e-não-correspondido-por-uma-fêmea e uma patética incursão na poesia, Kaio Felipe ainda teve bons momentos, como o show do New Order em São Paulo, o salto qualitativo em sua produção textual (acredite, ela já foi pior) e um novo despertar para os estudos no início de 2007.
17 anos: como já foi insistentemente dito, o melhor ano da vida do garoto, por enquanto. Em doze meses, leu pouco mais de 90 livros, começou a escrever um (ok, pelo menos fez alguns rascunhos e bolou a maior parte da trama, mas... bem, isso é assunto para outro post), descobriu que não era tão anti-social quanto julgava ser, deu sua primeira palestra, passou no vestibular, cursou seu 1º semestre de Ciência Política, começou a morar sozinho...
18 anos: o que aguarda Kaio F. nos próximos dias, semanas e meses? Não perca os próximos capítulos da saga deste ser nefasto em Racio Símio!