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Kaio

 

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03 julho 2008

Direto da Alcova

Este é o primeiro post de uma trilogia. O blog ainda está a viver a comemoração de meu 18º aniversário, portanto nada mais adequado do que persistir na auto-exaltação, não acham?

1. "Direto da Alcova": texto sobre o primeiro livro que li aos 18.
2. "Correspondência do Condado": resenha sobre o último livro que li antes dos 18.
3. "A magia da Montanha": comentários sobre o melhor livro que li antes dos 18.

Depois disso, Kaio ingressará na leitura de três obras de um dos autores mais importantes do século passado... guess who?

Já que o texto em si ainda não se iniciou, mais um adendo.
Finalmente comprei os últimos livros da minha lista de pedidos de aniversário; bem, pelo menos os que eu encontrei e/ou pude pagar.
Como vocês viram no post retrasado, eu já havia conseguido: "Lutando na Espanha" (Orwell), "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano" (Llosa, Montaner e Mendoza), "A Insustentável Leveza do Ser" (Kundera), "A Ilha" (Huxley), "Carlota em Weimar" (Mann) e "Ulisses" (Joyce).
Ontem, no shopping Conjunto Nacional, comprei outros dois: "A Volta do Idiota" (Llosa, Montaner e Mendoza) e "Dublinenses" (Joyce).
Na volta para casa, passei em alguns sebos, e finalmente encontrei "A Sociedade Aberta e seus Inimigos" (Karl Popper).
Hoje, na universidade, comprei o décimo e último deles: "A Democracia na América" (Alexis de Tocqueville).
É claro que já localizei e defini os próximos livros que quero, mas eles já não serão financiados e considerados como, hã, presentes de aniversário. Além do mais, já estou entupido de leituras para este mês, então é melhor falar sobre a primeira delas:

O PRIMEIRO LIVRO QUE LI AOS 18: "Escola de Libertinagem", Marquês de Sade

Quem diria, hein? O Sr. Estóico, cuja pureza alguns testes chegam a calcular em torno de 90%, lendo Sade?! Oras, não vejo nada de absurdo nisso, afinal aos 15 eu já lia autores que não eram exatamente politicamente corretos. A maioria dos meus livros favoritos são de autores que alguns chamam de libertinos: Rimbaud, Baudelaire, Henry Miller, Anaïs Nin, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Dostoiévski... Então, por que não ler o maior dos devassos e porra-loucas, o Marquês de Sade?
Não vou negar que já tinha vontade de lê-lo há pelo menos uns três anos, e só estava esperando o momento certo. Oras, é patente que a conquista da maioridade seria a ocasião ideal! Porém, a demora diminuiu um pouco o impacto da transgressão de valores de Sade sobre mim, afinal, pelo menos no âmbito teórico, quase nada do que "Escola de Libertinagem" expôs realmente me chocou.
É claro que, para um sujeito que sequer beijou uma garota até hoje, é uma posição meio desconfortável e estranha aquela em que estou ao afirmar não ter me assustado com toda a luxúria exalada pelo livro do Marquês. Porém, pelo menos nos meus valores e crenças, a libertinagem não é algo deplorável. Pelo contrário, é a mais sublime libertação do id, dos impulsos e das vontades reprimidas. Não pratico atos de âmbito amoroso e sexual porque escolhi um estilo de vida adequado às minhas pretensões, a meu ritmo. É claro que eu poderia adorar uma vida movida pela lascívia, mas, ao contrário da máxima beatnik, prefiro me arrepender pelo não feito. And life goes on...

"Escola de Libertinagem" mostra claramente por que Marquês de Sade está um patamar acima da literatura erótica mais vulgar. A doutrinação da jovem Eugenie não se resume a sexo incessante, depravação e outras coisas relacionadas simplesmente aos prazeres carnais; Dolmancé, a Madame e o Cavalheiro sabem muito bem que é preciso extirpar toda forma de moral cristã da mente do indivíduo para fazer dele um pleno libertino. Tudo o que é castrador, hipócrita, repressor e que imponha restrições às livres expressão e ação (ou seja, religião, hábitos e costumes moralistas, proibições; enfim, simplesmente a idéia da existência de crime, pecado e vício) deveria ser eliminado. O panfleto republicano que os protagonistas lêem (que não é nada mais que uma forma sutil e sagaz de Sade fazer um pequeno tratado filosófico, no intervalo da... putaria, rs) expressa claramente o que se convencionou chamar de "liberdade francesa": sim, aquela que trata de ausência de restrição, e não de coerção (a "inglesa"). Resumindo, é a consumação do "Se Deus não existe, então tudo é permitido".
Como libertário, tendo a ser um pouco mais anti-coercitivo que anti-restritivo, mais a favor da liberdade negativa que da positiva. Por mais que o ideal de liberdade como expressão ilimitada de poder, vontade e capricho seja atraente, acredito que ele seja muito propenso a um niilismo autodestrutivo, o qual frustraria completamente o projeto de uma ordem livre. O egoísmo racional e a inviolabilidade da liberdade individual estariam ameaçados. Sei, também, que o próprio libertarianismo propõe uma ética muito avançada e ambiciosa para ser adotada plenamente pelas sociedades contemporâneas. O que fazer, então? Eu já fiz a minha escolha: respeitar a liberdade positiva, mas refletir, propagar e agir sob os princípios da liberdade negativa. Sade que me perdoe, mas sua libertinagem é muito ousada para um careta como eu.
Ah, sim, divaguei tanto que nem falei sobre aquilo que está mais associado à fama de Sade: o sexo. Bem, sob tal viés a obra é um prato cheio: além de adultério, violação de uma virgem, incesto e homossexualismo, as intensas orgias são movidas por sodomia, sado-masoquismo e outras práticas sexuais que já foram consideradas "criminosas".

Enfim, "Escola de Libertinagem" foi uma boa leitura, e Sade realmente é tão bom escritor quanto eu imaginava.

 

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