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Kaio

 

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31 janeiro 2010

Fast Post

Saturday Night: aprovada.
Comprei "O Jogo da Amarelinha" (Cortázar) por apenas 15 reais. A Saraiva o tinha colocado em promoção (de R$ 64,00 por 29,90), e eu aproveitei que já estava com pontos suficientes no meu cartão para pedir um desconto de 15,00. Meu professor de Escrita e Sociedade na América Latina dizia que o livro é como "uma bíblia dos beatniks latino-americanos", então imagino que deva ser bom.
Fui com uma amiga na Livraria Cultura, no Park Shopping e depois na Party Libre, mas ela só pôde ficar um pouco na festa (felizmente, tocou "No You Girls" e "Reptilia" antes de ela sair).
Fiquei por lá até as 4 da manhã. Destaque para a discotecagem de Bezzi, um dos melhores setlists que ouvi numa boate nos últimos tempos. Teve muita Manchester ("The Perfect Kiss", "Love Will Tear Us Apart", "24 Hour Party People" e "This Charming Man"), mas também bandas contemporâneas (tipo Gossip e Gorillaz), punk, grunge e até metal farofa (Guns eu não gosto, mas Bon Jovi eu curto!). O CD que ganhei no Troca-troca é bacana; tem até Pulp e Friendly Fires.
Assim como no "sabadomingo" passado, fui lanchar no Extra. O Chandelle de mousse de chocolate estava delicioso! Descansei um pouco enquanto ouvia música no celular, e depois fui para o metrô, chegando em casa um pouco antes das oito horas. Dormi das 9 às 14h30, tomei café da tarde (?!) e antecipei a janta.

Terminei de ler "A fantástica vida breve de Oscar Wao" (Junot Díaz), um romance fantástico. Além de bem escrito, extremamente contextualizado com os dramas políticos da República Dominicana (a.k.a. Trujillo) e repleto de referências pop, o final é lindo. Merece todos os prêmios que recebeu, inclusive o Pullitzer.
Minha rotina mudará um pouco a partir de amanhã, pois agora só terei aulas de Francês nas terças e quintas, e à noite. Mais tempo livre para ler, descansar e sair, fato, mas tentarei aproveitá-lo para já adiantar algumas coisas da universidade, tanto em termos de PET quanto de Aliança pela Liberdade.

Para quem estava com saudades do Kaio dramático em relação ao seu passado (por mais recente que este venha a ser), meu Formspring trouxe a ocasião para que ele reaparecesse:

Conte algo que você já fez na vida mas não faria de novo, e o porquê.
Penso que eu passei minha adolescência muito fechado em meu próprio mundo. Eu deveria ter sido menos anti-social.
Não que 2003-2007 tenham sido anos ruins (afinal, devo a eles muito do que gosto em mim hoje), mas imagino que poderiam ter sido ainda melhores se eu saísse mais, conhecesse mais pessoas e lugares.
Porém, da melhor maneira que me é possível, estou tentando recuperar este tempo perdido na universidade... Por enquanto, está dando certo.

29 janeiro 2010

A América Latina segundo Carlos Rangel

Nota: a edição do livro utilizada para o fichamento foi publicada pela UnB, em 1981.


1. Biografia

· Nasceu em 1929, em Caracas.

· Estudou Literatura Comparada nos EUA na França, e deu aulas de Literatura Espanhola e Hispano-americana na NYU e de Jornalismo Informativo e de Opinião na UCV (Venezuela).

· Desenvolveu uma longa carreira na imprensa escrita e televisiva, trabalhando como analista político. O programa jornalístico de opinião que apresentava junto com sua esposa, Sofia Imber, alcançou grandes índices de audiência.

· Seus dois livros, “Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário” (1976) e “O Ocidente e o Terceiro Mundo” (1982), rejeitam a tese recorrente de que a culpa pelo subdesenvolvimento da América Latina reside nos Estados Unidos e em outros países ricos e industrializados.

· Sofrendo de depressão profunda, cometeu suicídio em 1988.

2. “Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário”

· A América Latina é a história de um fracasso. Sua própria origem já era problemática: uma sociedade criada a partir de amos e escravos, raptores e mulheres violadas. O seu subdesenvolvimento é mais político do que econômico.

· AL e os EUA: inveja e ressentimento. A oposição aos Estados Unidos como eterno paradigma. Porém, os EUA são desenvolvidos porque, já como colônia, eles apresentavam valores e hábitos propícios para a prosperidade. Imperialismo surgiu muito mais por motivos de defesa externa, e não por “parasitismo”.

· Mediadores culturais: os mitos do “bom selvagem” (utopia do Novo Mundo, e o seu novo homem, imaculado e não-contaminado pela civilização ocidental) e do “bom revolucionário” (o aventureiro romântico que guiará a humanidade para o “fim da História como regresso à Idade de Ouro”). O realismo fantástico enquanto expressão literária desses ideais. Miranda foi ignorado, Bolívar foi deturpado. Tais mitos geraram complexo de culpa no Ocidente (Europa) e eterna ilusão na América Latina.

· Marxismo: chegou tardiamente, mas teve profundos impactos sociopolíticos e culturais. Premissa de que os conflitos de classe são inconciliáveis. Porém, Marx e Engels eram “etapistas”; por exemplo, acreditavam que a Índia precisava ser colonizada pela civilização ocidental.

· Leninismo e “terceiro-mundismo”. Ao contrário do que se pensa, os verdadeiros revisionistas são os leninistas. A tese do imperialismo como “jogo de soma zero” justificaria a revolução na Rússia, e foi sistematizada na III Internacional como estratégia política: apoiar movimentos nacionalistas nas colônias e países dependentes para favorecer a URSS. A humilhação das elites nacionais foi o motor do “terceiro-mundismo”. Rivalidade entre APRA (ortodoxos / “reformistas”) e PCs (revisionistas / fantoches soviéticos).

· Igreja: apresentou crescente aproximação com a esquerda (exemplo extremo – Teologia da Libertação). Desde o início da colonização, foi um poderoso instrumento de c controle social. Para retomar sua importância no 3º Mundo, legitima os regimes comunistas, como tática contra-hegemônica aos americanos, que são liberais e protestantes. Com isso, há reversão do anticomunismo presente até Pio XII.

· Caudilhismo: após instabilidade social surgida a partir das guerras de Independência, surgem líderes locais e regionais (fazendeiros, p. ex.) que procuram fomentar a unidade nacional, ao mesmo tempo em que conservavam uma casta de privilegiados. Surge, assim, tradição golpista, com a disputa entre caudilhos.

· Universidade e intelectuais: na AL, as universidades foram basicamente “recrutamento e formação de novas elites dirigentes”. O investimento excessivo nas universidades “públicas, gratuitas e autônomas” foi em detrimento a educação básica. Os universitários “revolucionários” se tornavam burocratas; já os intelectuais, “secretários” dos caudilhos.

· Estudos de caso

· I – Argentina: o desastre causado pelo governo de Perón como queda de Ariel perante Calibán. O país latino-americano mais próspero até o início do século XX (legado de “assimilacionistas” como Sarmiento) entrou em decadência com os excessos do anti-norte americanismo. Este ganhou feições populistas e fascistas com Juan Domingo Perón, que reverteu a maior parte dos avanços econômicos e políticos da Argentina até 1945.

· II – Peru: militarismo “terceiro-mundista”? As Forças Armadas cooptaram o Partido Comunista, unindo o desejo de ordem com a retórica revolucionária.

· III – México: após a sangrenta Revolução Mexicana, surgiu um regime de partido hegemônico (o PRI). A proibição da reeleição presidencial foi um dos fatores de diminuição das convulsões sociais.

· IV – Brasil: militares nacional-desenvolvimentistas. Brasil sempre esteve deslocado em relação à América Latina, talvez por suas pretensões primeiro-mundistas (“o país do futuro”). Regime militar pós-64, com o milagre econômico combinado com repressão política, favoreceu desenvolvimento. (Havia mesmo tão pouca articulação com os demais países latino-americanos? E a “política externa independente” de Jânio e Jango, assim como a Operação Condor?)

· V – Venezuela: região em que o “aprismo” (social-democracia: marxistas que aceitam as regras do jogo democrático) mais teve sucesso, elegendo três presidentes, e obtendo o consenso ideológico e prático dos democratas-cristãos. OPEP como mecanismo de fortalecimento econômico. Foi o único país a não experimentar ditaduras desde 1958. (Chávez reverteu tal tradição democrática e pluralista; por quê?)

· VI – Chile: Um dos países de maior tradição cívica e democrática da América do Sul pôs tudo a perder quando Salvador Allende e os marxistas chegaram ao poder (1970). O país sofreu profunda decadência política, econômica e moral – greves coagindo empresas privadas a serem estatizadas, hiperinflação, desestruturação da economia, fraudes eleitorais, apoio soviético (enquanto a oposição tinha financiamento da CIA), desrespeito às leis e compromissos assumidos. Precipitou-se, assim, o cenário para o golpe de Pinochet. (A nação chilena, nos últimos 20 anos, reconquistou a cordialidade e a tolerância, como prova a própria alternância política entre democratas-cristãos, a Concertación e, mais recentemente, os liberais)

3. Influência

· Sucesso de público e crítica, Rangel obteve boa recepção da imprensa internacional. Porém, sofreu as esperadas críticas dos intelectuais de esquerda, especialmente a latino-americana.

· “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano” (Plínio Mendoza, Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa), de 1995: crítica mais ácida da hegemonia das interpretações esquerdistas, nacionalistas e populistas dos problemas latino-americanos.

· Voltou a ganhar popularidade nos últimos anos em seu país natal, graças às investidas do governo de Hugo Chávez contra as liberdades políticas e econômicas e a própria democracia venezuelana.

26 janeiro 2010

Question of the day

What if I take my master's degree at New School for Social Research? Yes, I'm talking about that avant-garde university of New York.
I don't know... Since the last weeks, I've been thinking a lot about where to study after my graduation at UnB (end of 2011 or 1st semester of 2012). The main thinkers of Libertarianism lived and/or studied in the USA (some of them at NY, too; Rothbard and his master Mises, for example). So, if I want to be part of this tradition, of the renewal of Libertarian thought (and, of course, a Brazilian contribution for it), the best option of country to take the master's degree - and also the doctorate - isn't Brazil or even UK, but probably... United States of America.
Yes, I'm aware that, if I really want to go to New School, I'll have to study like hell for the next (and last) 2 or 3 years of my graduation. I'll have to take one of those proficiency tests, and look for scholarships. However, if I keep this goal in mind, maybe my future might be very interesting. I'm confident that I can get more than IUPERJ or USP.
Okay, you can call me pedant for writing this post in English, heh.

24 janeiro 2010

The Kaio's Vida Noturna

Acho que podemos começar contando como foi a noite passada.
Saí de casa às 17h, e peguei um ônibus para a rodoviária. Em seguida, fui de metrô para o Park Shopping. Às seis da tarde, estava na Livraria Cultura. Comprei dois CDs que eu havia reservado ("Rid Of Me", PJ Harvey e "The Very Best Of", The Stone Roses), e encontrei uma amiga minha com quem tinha combinado de ver "Sherlock Holmes". A sessão começou às 19h. Gostei do filme, é um blockbuster que cumpre sua função de divertir. Mesmo que seja estranho ver um Sherlock tão bom de luta, Robert Downey Jr. foi muito bem no papel, e conseguiu representar o empirismo perspicaz e jeito (provavelmente) cocainômano e sexualmente ambíguo do detetive. Jude Law e Rachel McAdams também se destacaram como, respectivamente, Watson e Irene Adler.
Voltamos para a Cultura depois da película, e depois que ela foi embora (22h30), fui para a fila do Drops Music Bar, uma boate na qual haveria a 4ª Party Libre, provavelmente o grande achado destas minhas férias em termos de festas. Como entrei antes das 11 e meia, não precisei pagar (adoro estas promoções, rs), e fui logo "fritar" na pista. Mais uma vez, dancei bastante, e a trilha sonora, embora trouxesse muitas escolhas óbvias (Strokes, Franz, Daft Punk, Bloc Party, Killers, Hot Chip, CSS etc.) - mas nem por isso menos perfeitas para a 'dancefloor' -, houve algumas surpresas na discotecagem, como bandas mais bregas (Bon Jovi, RPM) e irreverentes (Ultraje a Rigor, Mamonas).
Quando deu 4 da manhã, eu já estava exausto, e resolvi ir embora. Pena que, embora eu tenha gravado um CD para o "troca-troca de CDs e K7s", não recebi na saída (provavelmente algum bêbado que não trouxe CD pegou o de alguém na saída). Sem ressentimentos, no entanto.
Eu tinha ouvido dizer que o Carrefour lá do lado era 24 horas, mas, depois de conferir as três possíveis entradas, vi que não estava. Felizmente, o Extra, que ficava do outro lado da rua, estava. Tomei o meu "café da madrugada" por lá: água mineral e Danette. Logo depois, cochilei, enquanto a TV do supermercado passava Chaves. Às 6h30, resolvi me levantar, e fui para a estação de metrô. Quarenta minutos depois, chegou um que ia para a rodoviária do Plano. Peguei um ônibus, e às 8 em ponto, estava em minha kit. Não demorou muito para que eu fosse para a cama. Acordei às 16h.

Não nego que, depois dessa "aventura solo", senti-me um junkie - só que sem o sexo e as drogas, rs. Nem ligo de continuar bebendo só Coca-Cola e nunca ficar com alguma garota nas festas. Não estou com tanta vontade de paquerar, fumar e beber (álcool) a ponto de me arriscar nestas três empreitadas. Um dia isso pode mudar? Pode, mas enquanto eu estiver satisfeito sendo um sóbrio que começa e termina a noite sozinho, this might take a while...
As outras festas seguiram um roteiro mais ou menos parecido, inclusive na música: a Play! de 8/1 também foi uma "lonely but fun night". Porém, na Landscape do dia 2, fui com uma amiga; e, na Drops do sábado anterior, encontrei vários colegas da universidade.
Metade das férias já se foram; para os 50% finais, pretendo ir mais ao cinema (só fui duas vezes nesse mês, justamente anteontem, com o inteligente "Amor sem Reservas", e ontem - o já citado "Sherlock Holmes") e continuar saindo para discotecagens de electro/rock toda 6ª ou sábado - e, espero, que meus amigos(as) venham mais.

-> Mudando de assunto, estou lendo "Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário", de Carlos Rangel, que será tema do próximo colóquio. O ensaio dele sobre a América Latina é esclarecedor e contundente, e mescla posicionamentos realistas e 'assimilacionistas', a partir da crítica de Rangel às escolhas políticas equivocadas dos latino-americanos ao longo de seus 5 séculos de História. Para ele, houve um agravamento desse quadro após as independências do Séc. XIX, período em que o caudilhismo, em seus objetivos supostamente nacionalistas, sepultou as chances que o continente tinha de se colocar à altura dos EUA. Ainda estou na pág. 89; quando terminá-lo, farei uma análise mais detalhada.
-> Descobri muitas bandas interessantes ao longo dos últimos dias, desde as oitentistas Gang of Four e The Cars até as contemporâneas Vampire Weekend, Hadouken!, Shitdisco e Be Your Own Pet. Será que alguma delas conseguirá se consolidar no meu gosto musical, como o fizeram recentemente PJ Harvey, Friendly Fires, Pains of Being Pure at Heart e Cascavelletes?
-> Quanto ao Big Brother 10, ainda não sei para quem torcer. A drª Elenita roubou a cena na primeira semana, mas anda meio apagada no jogo; Dourado continua sendo o boçal que era no BBB4, mas cresceu no jogo, ainda mais depois que ficou evidente a postura coercitiva e desrespeitosa dos demais quanto à sua sinceridade cortante e à sua (hetero) sexualidade bem resolvida; Twittess é a mais lesada, graças a seu "wannabe" ineficaz de vilã e estrategista, mas acho que ela deveria ficar mais tempo no jogo - é interessante ver uma nerd tentando se virar em um jogo "de gente grande" e que não envolve scripts e followers, hehe; Serginho prometia ser um dos destaques, mas está se revelando tão heterofóbico quanto a 'bicha velha' Dicésar (que é simpático, mas fofoqueiro de primeira). Quanto ao resto da casa, Lia se revelou uma cobra, Alex é potencialmente um bom jogador que precisa sair da casca de "super-sério" e Eliézer é um "banana", que em sua arrogância infantilóide não percebeu o quanto está sendo usado e manipulado por Cláudia; e por aí vai.
See ya.

23 janeiro 2010

Se começou bem...

... há grandes chances de continuar bem? Se for este o caso, 2o d.M. (2010 no calendário kaiônico) promete ser o melhor ano da minha vida. Em suas primeiras três semanas (e, se contarmos com os dois meses passados - lembram daquela teoria do "meu ano começa em Novembro"? -, o raciocínio continua valendo, ainda mais porque meu IRA subiu para 4,74 e ganhei um DS de Natal, rs), este ano vem se revelando muito bom. É sério, estou tendo as melhores férias de minha vida.
Meu cotidiano anda cobrindo todas minhas as necessidades e hobbies: livros, CDs, internet (subtópicos: VGChartz, BBB, 1 mol de redes sociais), política (libertarianismo), festas, cinema, milk shakes, universidade (tanto PET quanto CriLit), língua estrangeira, e por aí vai.
Se, nos últimos anos, eu descobri o quanto morar sozinho em outra cidade é uma experiência incrível, ao combinar autonomia, amadurecimento e liberdade responsável, nestas férias estou levando essa constatação ao extremo. Quem diria que passar as férias longe da família seria tão bom?
Não entendam com isso que eu não aprecio a companhia da minha mãe, dos meus irmãos, do meu pai (que, por causa do trabalho, de vez em quando me visita em Brasília) ou mesmo dos meus amigos goianienses. Muito pelo contrário, aliás. A questão é outra: assumir o risco de passar Janeiro e Fevereiro por aqui era ver se, pela 1ª vez em minha vida, eu conseguiria ter férias que não fossem uma linha tênue entre tranquilidade e tédio. Uma hora ou outra, nós nos cansamos de passar dois ou três meses de nossas vidas somente assistindo a sitcoms, jogando videogame, madrugando na internet e, é claro, comendo e dormindo.
Sendo assim, a dinâmica dessas semanas que estou passando na capital brasileira valoriza três coisas que eu sempre quis fazer mais no meu recesso letivo: 1 - Estudar, mas em um ritmo mais leve, sem parecer com um período de aulas regular; 2 - Ler e discutir mais política e literatura; 3 - Night-out, sair mais (seja para cinemas ou boates). Cumpri (1) com o Francês e a Crítica Literária; quanto ao (2), os colóquios; para o (3), as festas em que já fui e os filmes que já vi (sobre esse assunto, falarei mais no próximo post).
Seria precipitado da minha parte dizer que... me sinto feliz? Pois é; há tempos que eu não me sentia bem comigo mesmo. Nem me importo de passar pequenas raivas (as "clássicas" são esperar ônibus por 45 minutos para ir às festas e fazer a maior bagunça na cozinha quando preparo o almoço), pois, na maioria das vezes, elas antecedem bons momentos.
Essa sensação foi mais intensa quando, no meio da semana, li por acaso alguns dos meus textos mais antigos no blog. Fiquei até surpreso com o tanto que eu era revoltado, chateado e irritado com tudo e todos - e, especialmente, comigo mesmo. Parece que eu desesperadamente tentava a cada segundo provar algo para mim mesmo, uma espécie de "rebeldia arrogante". Felizmente, só temos 15, 16 anos uma vez na vida, e hoje me considero uma pessoa mais bem-resolvida. Se continuo com várias ansiedades e neuras? É claro! Porém, elas já não tem mais o poder que tinham sobre meu humor e minha personalidade.

Até a próxima. =)

19 janeiro 2010

O Novo Liberalismo em Milton Friedman

Divulguei melhor o 2º colóquio, e estou com a impressão de que amanhã virão mais pessoas que no primeiro... tomara! Aqui estão as anotações que utilizarei (o fichamento de "Capitalismo e Liberdade" baseou-se na edição da Artenova de 1977, e dos dois outros livros, as edições da Record, publicadas nos anos 80):

Biografia

· Nasce na cidade de Nova York, em 1912.

· Teve uma “fase keynesiana” nos anos 30, quando trabalhou na formulação de programas governamentais para o New Deal.

· Casa-se com o a economista Rose Friedman, com quem dividiu a autoria de várias obras. Em 1946, torna-se professor de Teoria Econômica na Universidade de Chicago, onde trabalharia pelos próximos trinta anos. Maior expoente do monetarismo, Friedman se destaca pelos seus estudos sobre a relação entre política monetária e inflação.

· Países como Hong Kong, China, Chile, Indonésia e Islândia inspiraram-se nas idéias de Friedman durante seus processos de modernização econômica. No caso chileno, “Chicago boys” (discípulos do economista) formaram a equipes econômica do governo.

· Ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1976, por suas pesquisas sobre monetarismo. Alcança o ápice de sua popularidade no início dos anos 80, graças à série de TV “Free to Choose” (baseada no livro homônimo) e à presidência de Ronald Reagan, cuja atuação na economia era de forte influência dos novos liberais.

· Morre aos 94 anos, em 2006, na cidade de São Francisco.


Capitalismo e Liberdade

· Publicado em 1962, foi um sucesso de público e crítica. Propõe-se a discutir qual a importância da economia capitalista em uma sociedade livre.

· O que importa não é o que um país pode fazer por um homem, ou o que este pode fazer por seu país (discurso de Kennedy), mas sim o que podemos fazer por meio do Estado – e, evitando que este destrua a liberdade para cuja proteção nós o estabelecemos.

· Funções do governo: proteção de nossa liberdade contra os inimigos externos e contra nossos próprios compatriotas; preservar a lei e a ordem; reforçar os contratos privados; promover mercados competitivos. Pode facilitar ação coletiva, mas apenas se há muitas vantagens em fazê-lo.

· O capitalismo competitivo ajuda a evitar a concentração de poder (grande ameaça à liberdade), ao separar o poder econômico do poder político, permitindo assim controles mútuos. A empresa privada é condição necessária, mas não suficiente para a liberdade política. Frente às ameaças coletivistas, deve-se colocar a ênfase na liberdade econômica como instrumento de liberdade política.

· Para o liberal, os homens são seres imperfeitos, e o problema básico da organização social é descobrir a melhor maneira de coordenar as atividades econômicas de um grande número de pessoas. Entre as duas alternativas possíveis (direção central, coerção x cooperação voluntária, mercado), a 2ª opção é geralmente a melhor.

· Para garantir a liberdade efetiva de troca, cabe à organização de mercado da atividade econômica impedir que uma pessoa interfira na atividade de outra; ou seja, proteger o consumidor, o vendedor e o empregado da coerção de suas contrapartes.

· Há necessidade de um governo para estabelecer as “regras do jogo”, mas cabe ao mercado reduzir as questões que devem ser decididas por meios políticos. Permite, assim, diversidade, representação proporcional de interesses e respeito às minorias. O poder econômico pode ser disperso, e está mais aberto a inovações.

· Os meios apropriados são a discussão livre e a cooperação voluntária, e toda forma de coerção é inadequada. O ideal é a unanimidade sem conformidade, entre indivíduos responsáveis.

· Como a liberdade de uns deve ser limitada para preservar a dos outros, o Estado é necessário – mas, como árbitro que garante o cumprimento das regras consensualmente aceitas. Quanto às “externalidades”, tomar cuidado ao avaliar sua grandeza e os custos (e a distribuição dos mesmos) para superá-las.

· Um pequeno número de pessoas, quando dispõe de amplos poderes sobre o sistema monetário de um país, pode cometer erros responsáveis por grandes calamidades econômicas (ex.: Fed e Grande Depressão).

· O livre comércio é desejável e benéfico mesmo com redução unilateral de barreiras, tarifárias ou não.

· O gasto público deve se limitar às atividades que a comunidade, por motivos de ação coletiva, preferiu deixar nas mãos do Estado; além disso, não deve ser usado como instrumento de estabilização da economia – a “política expansionista” do keynesianismo não tem qualquer base lógica ou empírica.

· Um grau mínimo de alfabetização e conhecimento por parte da maioria dos cidadãos + ampla aceitação de um conjunto comum de valores: condições importantíssimas para uma sociedade democrática e estável.

· Quanto à educação, em termos de custo-benefício, é preferível restringir o papel do Estado à distribuição de “vouchers” para os pais, para que estes pudessem pagar a educação de seus filhos em escolas “certificadas” (ou seja, avaliadas pelo Estado como tendo um mínimo de qualidade). Para os pais que quisessem escolas ainda melhores, complementariam os “vouchers” (cupões) com seu próprio dinheiro.

· Na economia de mercado, a eficiência está isolada de características irrelevantes (cor da pele, p. ex.). A etnia e a religião não são critérios para se definir a qualidade de um produtor ou empregado. O Estado deve impedir danos positivos (forçar uma pessoa a assinar algo contra sua vontade), mas não os negativos (recusar-se a firmar um contrato que só beneficie o contratado), pois estes limitam a cooperação voluntária.

· Ao elevarem o salário de uma profissão, os sindicatos necessariamente reduzem a oferta de empregos disponíveis (restrição do mercado de trabalho), o que aumenta a desigualdade de salários entre trabalhadores.

· O licenciamento ocupacional coloca os interesses específicos de um grupo de produtores acima dos interesses difusos dos consumidores. Regulamentar as profissões cria privilégios, monopólios e protecionismo.

· Quanto à distribuição de renda, o princípio “De cada um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas necessidades” tem suas limitações. Além de ser contraditório com a igualdade de tratamento, ignora-se que as pessoas são diferentes, e também o são suas escolhas e riscos assumidos.

· A desigualdade em termos de propriedade (herança) não é intrinsecamente menos justa que a desigualdade de dotação pessoal: talentos herdados podem valem tanto quanto riquezas herdadas. O mesmo se aplica para desigualdades de mérito e de sorte.

· Medidas para o bem-estar social: programas de habitação seriam mais eficientes se recursos fossem distribuídos em dinheiro e não em espécie; o salário mínimo gera efeitos opostos aos pretendidos, e aumenta o desemprego (logo, a pobreza); preços mínimos na agricultura afetam a produtividade e prejudicam os consumidores; o “seguro social”, além de ineficaz, baseia-se em um paternalismo, ou seja, a idéia de que o Estado sabe gastar melhor o dinheiro do que os próprios indivíduos.

· A redução da pobreza pode se iniciar por um imposto de renda negativo, que suplementaria as rendas dos 20% de consumidores de renda mais baixa. Opera fora do mercado (não o distorce, portanto) e é de alcance mais amplo. Mesmo uma baixa taxa uniforme geraria tanto ou mais arrecadação que o imposto progressivo.

· Um ponto central da filosofia liberal é a crença na dignidade do indivíduo, em sua liberdade de usar ao máximo suas capacidades e oportunidades segundo suas próprias escolhas, tendo como única obrigação não interferir na liberdade de outros indivíduos de fazer o mesmo. Há, portanto, uma clara diferença entre a igualdade de oportunidades e a igualdade material.


Liberdade de Escolher

· Obra de divulgação do pensamento ‘neoliberal’. Lançada em 1980, ganhou versão em vídeo logo depois.

· Uma parte essencial da liberdade econômica é ser capaz de decidir como usar a renda que obtemos – gastos, poupança e distribuição. Se há restrições e controles à liberdade econômica, inevitavelmente a liberdade em geral (expressão, imprensa - e mesmo a religiosa) será afetada.

· O Estado de bem-estar social aumentou excessivamente os gastos do governo e elevou o desemprego e a inflação. Além disso, o imposto da previdência social prejudica tanto pobres quanto ricos, e a medicina socializada elevou os custos da população com serviços médicos. Por que não criamos um imposto de renda negativo (receber fração das deduções não utilizadas) e gradualmente desativamos a previdência social?

· Políticas sugeridas: controle mais estreito da oferta de moeda pelo Fed; cancelamento de leis que favorecem sindicatos; descriminalização das drogas; limitações de impostos e gastos.

· A sociedade que coloca a liberdade em primeiro lugar, ao invés da igualdade, acaba tendo uma maior liberdade e também maior igualdade. Já aquelas que priorizaram a igualdade terminarão sem ambas.


Tirania do Status Quo

· Continuação de “Liberdade de Escolher”. Defesa das políticas do governo Reagan. Publicado em 1984.

· Um novo governo dispõe de seis a nove meses para introduzir grandes mudanças. As adicionais virão gradualmente, e as forças políticas temporariamente derrotadas se reagruparão, mobilizando-se para reverter as mudanças iniciais. Essa reversão de idéias políticas vale tanto para governos de esquerda quanto de direita.

· Os corpos legislativos são fortemente influenciados por grupos de interesses particulares favoráveis a programas governamentais que lhes dêem grandes benefícios, impondo pequenos e difusos custos aos demais concidadãos. Surge, assim, um triângulo de ferro: beneficiários (privilegiados pela legislação), políticos (em busca de votos) e burocratas (que se nutrem da mesma). A “tirania do status quo” cria privilégios e dificulta mudanças políticas.


Influência

· Abertura econômica na América Latina, nos Tigres Asiáticos e no Leste Europeu. O Chile, por exemplo, tornou-se uma das mais prósperas economias latino-americanas.

· A metodologia de Friedman admite a economia como ciência que deve ser neutra de valores, visando à maior objetividade, simplicidade e capacidade de predição. Sua análise da Grande Depressão, a crítica à Curva de Philips e as teses da taxa natural de desemprego e da “estagflação” ganharam popularidade a partir dos anos 70.

· Muitos economistas keynesianos apontaram a filosofia de livre mercado de Milton Friedman como uma das responsáveis pela crise econômica contemporânea. Ao mesmo tempo, embora Friedman tenha chegado a sugerir a abolição do Federal Reserve, suas teses monetaristas influenciaram medidas do Fed durante a crise (ex.: não elevar os juros; resolver a deflação com injeção de moeda).


17 janeiro 2010

Take Care of Yourself

Como prometido, eis o início do resumo dos meus 15 primeiros dias de férias (ou algo próximo disso) em Brasília.

Evangelion
Sabe quando um desenho te cativa tanto que você não se importa de acordar cedo só para ver 6 episódios consecutivos, almoçar, rever dois deles, tirar um cochilo, rever outros dois, jantar, ver o 1º filme e depois... dormir? Pois bem, meu domingo passado foi desse jeito! Fiquei fissurado por Neon Genesis Evangelion nesses últimos dias. Em pouquíssimo tempo, vi todos os capítulos da série, e já assisti aos dois filmes lançados na época ("Death and Rebirth" e "The End of Evangelion"). Anteontem, conferi o recente "Rebuild of Evangelion 1.0: You Are (Not) Alone", 1º capítulo da nova tetralogia evangélica (?).
Já conheço EVA há quase oito anos (li umas 3 edições do mangá, gostei bastante, mas acabei não comprando outras; estava muito vidrado em CDZ na época), porém foi só nas últimas semanas que realmente me dediquei a conhecer a fundo a série. Um dos estopins foi ter assistido, quase por acaso, o episódio 25 (logo o penúltimo da série!) no Animax, quando ainda estava em Goiânia. Achei aquela viagem psicológica da narrativa tão fascinante que coloquei meu Torrent para trabalhar, e baixei vários GBs de vídeos da série Neon Genesis.
O desenho ajudou-me a preencher os vazios da minha programação na 1ª semana de férias em Brasília. Porém, com o passar dos episódios ele se tornou parte fundamental da mesma, como foi o caso do domingo 10/1. Valeu a pena: ele pode se considerar culpado por redespertar meu interesse por animes (e mangás, também), congelado durante tantos anos. Dois anos atrás, vi 27 dos 37 episódios de Death Note. Estava adorando, mas do nada parei de ver. Deve ter sido a frustração pela morte de um personagem (spoiler alert!), ou porque não estava no "geist" para cultura japonesa. Não é o caso destas minhas férias de verão de 20 d.M. Será mesmo que Evangelion terá um "efeito dominó" em mim, e me fará ver mais animes? Já baixei o Akira, e tenho alguns planos. Tomara que, desta vez, eu vire mesmo um otaku; afinal, é inadmissível um nerd/geek como eu ter passado tantos anos adorando apenas o "mainstream" dos desenhos japoneses: CDZ, DBZ e Pokémon...
Vamos falar sobre EVA, portanto. A série tem como um de seus pilares a densidade psicológica de seus personagens. Peguemos o principal e as 3 semi-protagonistas, por exemplo:
1. Shinji Ikari, a Terceira Criança, é aquilo que Ayn Rand chamaria de "altruísta servil" - faz tudo que os outros mandam (ou querem), independentemente de gostar ou não da atividade/comportamento. Pilotar o Evangelion Unidade 01, por exemplo, é algo que ele muitas vezes abomina; em pelo menos 3 oportunidades, Shinji chegou a abandonar a NERV, organização paramilitar responsável pelos EVAs y otras cositas más. Porém, seu desejo de agradar às pessoas (especialmente seu pai, chefe da NERV) - e não gerar o desprezo delas (por mais que, muitas vezes, isso seja só a imaginação fatalítica de Shinji) - falou mais alto, e nosso herói relutante sempre retornou. Há quem diga que ele ainda está na "fase oral", daí a relação sempre maternal que mantém com as garotas. [Aviso: não darei spoilers, apenas apontarei traços mais genéricos sobre situações da série!] Alterna entre momentos de angústia (episódios 3-4), raiva mais do que justificada (episódios 18-19) e até corrupção moral (filme "The End of").
2. Asuka Langley Soryu, 2ª Criança, é uma garota barulhenta, exaltada e muitas vezes arrogante. Sempre chama a responsabilidade para si, e pilotar seu EVA Unidade 02 é a maneira que encontrou para mostrar seu valor para todos. Porém, com o decorrer da série (ep. 22, principalmente), descobrimos que, no fundo, ela é uma adolescente emocionalmente muito abalada e deprimida, que presenciou a morte da própria mãe e, a partir desse trauma, tentou criar uma imagem de menina confiante e forte. Ela e Shinji têm uma relação curiosa, em que não sabemos até que ponto ela gosta dele (e vice-versa, talvez), ou se Asuka simplesmente o odeia por, embora de personalidade tão hesitante, Ikari ser melhor que ela enquanto piloto de Evangelion.
3. Rei Ayanami, a Primeira Criança, é a personagem mais enigmática da série. Seu jeito frio, silencioso e distante faz com que ela pareça impenetrável e inabalável para todos à sua volta. Porém, com o decorrer da trama, ela gradualmente desenvolve emoções, dando uma conotação martírica à sua abnegação. Sua relação com o pai de Shinji, Gendo Ikari, é bem estranha, e a cada novo fato descobrimos um sentido até religioso nessa aproximação. Sendo sincero (as feministas diriam "machista"), eu diria que ela é a garota perfeita para 7 em cada 10 homens (não sei se é meu caso, acho que prefiro a irritante e explosiva Asuka, rs): bonita, calada, estável e misteriosa.
4. Misato Katsuragi, a Capitã, é uma sobrevivente do Segundo Impacto. Tem "complexo de Elektra", e tanto seu ingresso na NERV (onde seu workaholic pai, falecido, trabalhava) quanto sua turbulenta relação com Kaji (ex-namorado dos tempos de faculdade) são demonstrações disso. Contrasta uma vida profissional impecável com uma vida pessoal desorganizada (vide seu apartamento e seus relacionamentos) e irresponsável (além de não saber cozinhar, é comum ela acordar e, logo depois, tomar cerveja ou sake). Embora tenha o dobro da idade de Shinji (28 x 14), muitas vezes fica a impressão de que ela sente algo por ele, o que talvez explique ela ser tão desinibida em seu trato com o garoto.

Também há muito a ser dito sobre os coadjuvantes, como Ritsuko, Gendo e Toji, mas deixemos isso para outra ocasião.
Hideki Anno, criador de Neon Genesis Evangelion, disse se surpreender com a popularidade da série, a despeito de personagens tão problemáticos e pessimistas. Lembrando, aliás, que foi durante um longo período de depressão do próprio Anno que este teve a idéia da série.
De fato, é inusitado uma série tão inteligente e complexa ter obtido tanto sucesso. Porém, creio que parte do êxito de EVA reside justamente em seu enfoque psicológico (até psicanalítico, eu diria), que o distancia dos demais "desenhos de robô". O público japonês (e também o do resto do mundo) certamente se identificou com os dilemas e as dificuldades dos personagens, todos eles solitários e obrigados a amadurecer rapidamente graças a uma situação extrema. Sua trama distópica e repleta de referências bíblicas e à cultura pop japonesa também funciona como diferencial.
Em breve, farei por aqui uma resenha de "The End of Evangelion", tomando o cuidado de não contar o final do filme. Já vou adiantando que até chorei em algumas cenas (ok, já tinha acontecido isso comigo em alguns dos eps. finais) - mas, não vão pensando que um filme é um dramalhão (ou que eu sou um chorão!), pois a história nos oferece muitas reviravoltas que geram outras sensações no espectador. A mais recorrente, talvez, é a confusão ("Hein, que diabos está acontecendo?!").
Enquanto isso... "shounen yo shinwa ni nare!"

Matérias de Verão
Eis a melhor desculpa que eu arranjei para que minha mãe não achasse que eu ficaria à toa se passasse as férias em Brasília. "Estudar, oras!" De fato, foi uma decisão sábia da minha parte ter corrido atrás, e obtido Crítica Literária (UnB) e Francês intensivo - Intermediário 1 (Cultura Francesa). Além de não impedir que eu possa sair quando eu quiser - afinal, estou de férias! -, estou adiantando créditos unbistas com uma matéria que vale a pena e, simultaneamente, melhorando meu Francês, que ano passado deixou a desejar.
Crítica Literária: meu professor resolveu direcionar a disciplina para a análise teórica e técnica da poesia brasileira. Porém, também estamos lendo textos de autores internacionais, como Michael Hamburger e Jonathan Culler. Devo dizer que estou gostando bastante. Além daquela minha paixão mal-resolvida pelas Letras, pesa o fato de que pretendo fazer as vezes de crítico literário, inclusive em minha produção acadêmica (aproximar a Teoria Política da Literatura, por assim dizer).
Francês Intermediário 1: a turma só tem 3 pessoas (eu, o 'professeur' e um aluno mais velho), o que torna a dinâmica da aula mais descontraída e produtiva. Muitas vezes, privilegiamos a conversação, o que vem sendo bom para expandir meu vocabulário e me deixar menos travado para falar a língua francesa. Porém, já estamos pensando em outras possibilidades para continuar a aula não-restrita à gramática e ao livro didático; por exemplo, tivemos a idéia de ler um texto do Camus (o primeiro capítulo de "Le Mythe de Sisyphe").

Por hoje é só. No próximo texto, cobrirei os demais pontos levantados no Post-Expectativa. Au revoir!

15 janeiro 2010

Post-Expectativa

Que tal retomar algo típico deste blog simiesco? Estou falando dos "post-expectativa", aquele feito um ou dois dias antes de um (ou mais) texto(s), basicamente para anunciá-los.
Sendo assim, eis os tópicos sobre os quais quero falar mais nas próximas ocasiões em que aparecer por aqui:

-> Os colóquios sobre o pensamento político libertário. Será que "filosofar na sorveteria" é um projeto viável?
-> Neon Genesis Evangelion, meu vício dessas férias. Contarei sobre como este anime já me rendeu muitas gargalhadas, lágrimas, surpresas e reflexões.
-> Planos e ambições acadêmicas: UK ou USA, onde fazer mestrado, PET etc. Eu e meus planos a longo prazo.
-> Livros que comprei, ganhei e/ou estou lendo. Será que terei tempo (e disposição) para ler tudo aquilo que adquiri recentemente, e não repetir 2009?
-> Férias em Brasília: festas, filmes, rotina... Como anda a vida cultural de Kaio F.
-> Matérias de verão: Crítica Literária e o Francês intensivo. No final das contas, é bom aproveitar Janeiro para estudar?

Hoje à noite, tentarei fazer um equilíbrio cultural: primeiro, ceder aos guilty plesasures e assistir ao BBB 10; pois é, ainda gosto de Big Brother, e não estou nem aí para vocês, "patrulha ideológica anti-reality shows globais". Depois, viagens psicanalíticas/distópicas/futuristas: verei o primeiro filme de Rebuild of Evangelion, "You Are (Not) Alone". É meio estranho vê-lo apenas 4 dias depois de "The End of Evangelion", sendo que a distância temporal dos dois é de 10 anos... porém, eu não aguentaria esperar mais do que isso para conferi-lo.
Até logo!

13 janeiro 2010

A Filosofia Objetivista de Ayn Rand

Hoje ocorreu o primeiro colóquio cultural sobre autores e temas liberais/libertários. Foi na Sorveteria Palato, às 18h. Finalmente estou realizando o meu sonho de discussões filosóficas e políticas - e o melhor, de forma informal e descontraída. Vieram, além de mim, quatro colegas. Sobre o que falamos? Ayn Rand!
A seguir, as anotações que utilizei na minha fala. A parte sobre "A Virtude do Egoísmo" é basicamente um fichamento do livro, o qual foi publicado em 1991 pela editora Ortiz (mas, em parte, utilizei a versão resumida do Instituto Liberal).

Biografia

  • Nasce em São Petersburgo, em 1905.
  • Consegue visto e sai da Rússia bolchevique, em 1926.
  • Casa-se com o ator Frank O’Connor, em 1929.
  • Trabalha durante alguns anos como roteirista de cinema. No final dos anos 30, começa sua produção literária.
  • Massacrada pela crítica, seus livros alcançam imenso sucesso comercial gradualmente, graças ao “word of mouth”.
  • Relacionamento com o amante (e parceiro intelectual) Nathaliel Branden dura cerca de uma década, encerrando-se em 1968.
  • Fundadora do movimento objetivista, adquire forte influência entre jovens universitários nos anos 60. De certa maneira, atua na Guerra Fria cultural.
  • Morre de câncer de pulmão, em 1982.

A Virtude do Egoísmo

  • Egoísmo é a preocupação com nossos próprios interesses. Este conceito não inclui avaliação moral. Para o altruísmo, o critério de valor moral de uma ação é o seu benefício (o povo, o outro; menos a si mesmo).
  • O que importa é o que o homem escolhe para valorizar, e não quem ou o fato em si. Deve-se defender o direito do homem a uma existência moral racional; o homem deve ser o beneficiário de seus próprios atos morais.
  • Há, no entanto, a diferença entre agir de acordo com um código racional de princípios morais e guiar nossos atos por caprichos, desejos irracionais. Nesse segundo caso, temos um subjetivismo ético.
  • Valores: razão, propósito e auto-estima. Virtudes respectivas: racionalidade (razão como única fonte de conhecimento), produtividade (trabalho) e orgulho (ambição moral).
  • Todo ser humano é um fim em si mesmo, e não um meio para o bem-estar dos outros. Propósito moral mais alto do ser humano: realização de sua própria felicidade. Emoções básicas: felicidade (triunfo da vida) e sofrimento (alerta da morte).
  • Deve-se aceitar a própria vida como princípio fundamental e da busca dos valores requeridos por ela, para alcançar a felicidade.
  • Crítica à busca “egoísta” dos próprios caprichos (Nietzsche) e ao altruísmo servil ao capricho dos outros, que é um hedonismo ético-social (Bentham, Mill e Comte). Enfim, é um canibalismo moral.
  • Egoísmo racional: valores exigidos pela vida humana, sem o sacrifício de ninguém. Princípio da troca (negociantes de valor) gera justiça, pois somente quem se valoriza a si mesmo é capaz de valorizar alguém. Conhecimento e comércio são maiores ganhos da convivência social; são formas de cooperação.
  • Princípio político: ninguém possui o direito de iniciar o uso da força física contra os outros. No máximo, apenas em retaliação e contra aqueles que iniciam seu uso. O único propósito moral adequado de um governo é proteger os direitos das pessoas (vida, liberdade, propriedade e a busca da felicidade), o que inclui protegê-las da violência física.
  • A ética objetivista é a base moral do capitalismo – mas, aquele puro e desregulamentado (laissez-faire). O melhor sistema social é aquele que deixa os homens livres para conquistarem e manterem seus valores.
  • Deve-se agir sempre de acordo com a hierarquia de seus valores, pois somente ela permite juízos de valor e uma conduta racional.
  • Amor e amizade são valores profundamente egoístas. O amor é uma expressão de auto-estima e resposta aos valores pessoais em outra pessoa. Preocupar-se com o bem-estar de quem se ama é parte racional de interesses egoístas. A virtude em ajudar aqueles que se ama não é abnegação ou sacrifício, mas integridade (lealdade com convicções).
  • Riqueza e conhecimento não são presentes da natureza; têm que ser descobertos e conquistados pelo próprio esforço do indivíduo.
  • É indispensável assumir a responsabilidade de encontrar os meios necessários e adequados para que alcancemos nossos objetivos. Quem não é responsável pela própria vida e por seus próprios interesses, não leva em consideração os interesses e a vida dos outros. Ignora-se, assim, que pela cooperação social, eles também são responsáveis pela satisfação de seus desejos.
  • O compromisso entre a liberdade e o controle governamental é impossível. Aceitar algum controle, mesmo que seja “um pouco”, já é uma renúncia à inalienabilidade dos direitos individuais, em prol do princípio do poder arbitrário e ilimitado do governo.
  • Nada corrompe tanto uma cultura ou o caráter do homem quanto o agnosticismo moral; ou seja, a idéia de que não se deve fazer um julgamento moral dos outros. A conseqüência desta postura é o cinismo amoral, em que o medo da responsabilidade perante a uma realidade objetiva (afinal, não há como escapar das escolhas que devemos fazer, assim como dos valores morais implicados) leva certos indivíduos a se sentirem livres para fazer julgamentos irracionais.
  • Da mesma forma que o culto da incerteza, na epistemologia, é uma revolta contra a razão, o culto da moral cinzenta, na ética, é um revolta contra os valores morais. Em economia mista, por exemplo, há homens de premissas mistas, mas a mistura não permanece “cinza” indefinidamente; é apenas um prelúdio para a predominância do lado mais amoral.
  • A ética coletivizada, enquanto altruísmo, afirma que o infortúnio de uns é a hipoteca a ser paga por outros. Porém, isso prejudica a compreensão de direitos e do valor da vida de um indivíduo. Tal criação de deveres sociais é coercitiva e se sustenta por premissas frágeis.
  • Essencialmente, o socialismo é a negação dos direitos de propriedade individual, pois o uso e controle destes são coletivizados – o que não significa que o serão em benefício do povo; há uma tendência oligárquica. Se quem produz não possui o resultado de seu próprio esforço, não possui a própria vida, pois esta se torna propriedade do Estado. Tanto o nazismo quanto o comunismo são formas de socialismo, ambos tomados por uma ilusão de grandeza que justificaria as mortes e o despotismo.
  • Os direitos individuais são o meio de subordinar a sociedade à lei moral. Aliás, é justamente esta a realização mais revolucionária dos EUA, pois estes traçaram a distinção entre os criminosos e o governo, ao proibir ao segundo a versão legalizada das atividades do primeiro. Além disso, a defesa dos direitos do homem (ou seja, de sua liberdade de ação) passa pela defesa do capitalismo laissez-faire.
  • De forma sucinta, governo é o meio de colocar, sob leis objetivamente definidas, o uso retaliatório da força física. Cabe também ao governo a função de árbitro que decide as disputas (segundo leis objetivas), assim como proteger os contratos firmados entre os cidadãos. Sendo assim, em um sistema social adequado, qualquer um pode fazer o que quiser, exceto aquilo que é legalmente proibido. Porém, um funcionário do governo não pode fazer nada, a não ser aquilo que é legalmente permitido.
  • Para pagar as funções legítimas de um governo, bastaria uma taxação voluntária. Para aqueles que não podem pagar tal custeio, haveria um bônus propiciado por aqueles que podem fazê-lo. Isso, no entanto, não é redistribuição de riqueza, pois cobriria apenas benefícios indiretos (exemplo dos bancos desocupados de um trem).
  • O racismo é a forma mais cruel e primitiva de coletivismo, pois atribui significado moral e/ou sócio-político à linhagem genética de um homem. Ou seja, julga um homem não por sua própria índole ou ações, mas pelas índoles e ações de um coletivo de antepassados. Cria-se, assim, uma auto-estima automática. Porém, doutrinas, por mais nocivas que sejam, não podem ser proibidas por lei. O racismo privado é menos uma questão legal que moral. Os “direitos civis” (por exemplo, cotas raciais nas escolas), com o argumento de “equilíbrio racial”, também estão sendo racistas, ao criar uma culpa racial coletiva.

A Nascente

  • Adaptação cinematográfica (1949), com Gary Cooper no papel do protagonista: o impetuoso arquiteto Howard Roark.
  • Os quatro capítulos expõem os quatro tipos de indivíduos segundo Ayn Rand: Peter Keating (arquiteto, plagia desenhos arquitetônicos clássicos para fazer sucesso), o “homem que não poderia ser, e não sabe disso”; Ellsworth Toohey (vilão do livro, um relativista moral por excelência), o “homem que não poderia ser, e sabe disso”; Gail Wynand (ambicioso dono de uma grande cadeia de comunicações), o "homem que poderia ser"; e, por fim, Howard Roark (também arquiteto, enfrenta dificuldades por colocar sua integridade em primeiro lugar), o “homem que todo homem deveria ser”.
  • “A Nascente” (em inglês, “The Fountainhead”), em suas discussões sobre modernismo arquitetônico (e uma crítica ao apego às formas clássicas e ao ecletismo), mostra que a arte, para Ayn Rand, deve ser a perfeita expressão das idiossincrasias e do auto-interesse do artista; não deve, portanto, jamais ser movida pelo interesse comercial, caso este implique abrir mão dos ideais e da individualidade, em prol do que o “público” quer.

Quem é John Galt?

  • Obra-prima de Ayn Rand. É seu livro mais longo (cerca de 1100 páginas, na edição americana) e bem-sucedido.
  • Os homens e mulheres mais talentosos dos Estados Unidos (único país do mundo que ainda não se tornou uma “república socialista”), cansados de serem explorados pela ética coletivista predominante (e os problemas sociais e econômicos gerados por esta), resolve entrar em “greve”. Ao longo dos anos, povoam uma região afastada e isolada, e lá iniciam uma sociedade de moldes utópicos: sem Estado, apenas indivíduos excepcionais em suas respectivas áreas (petroquímica, engenharia, filosofia, arte, construção civil...). Todos unidos pelos mesmos valores: o livre mercado e o respeito mútuo.
  • Divisão maniqueísta da sociedade: de um lado, os egoístas racionais e individualistas, dotados de espírito inovador e empreendedor; do outro, os altruístas e “social-democratas”, preocupados com a “responsabilidade social” e o sacrifício dos ricos em benefício dos demais.
  • Crítica ao crescente intervencionismo na economia e sociedade americana após o New Deal, influenciado por economistas como Keynes. A visão de Rand sobre o governo apresenta convergência com as teses da Public Choice; por exemplo, quando explicita o jogo de interesses especiais e o uso questionável do dinheiro dos contribuintes pelas agências governamentais.
  • Longo discurso filosófico, proferido por John Galt, expõe as linhas gerais do pensamento objetivista. Além de afirmar a supremacia do indivíduo, critica-se o tom coercitivo e nocivo que a moral altruísta (a dos “usurpadores”) implica. Cada um de nós possui preferências completas, objetivas e que motivam ações – portanto, é condenável se render aos caprichos (sejam eles seus ou dos outros) ou à “sanção da vítima” (tolerar o parasitismo da maioria as pessoas à nossa volta, como se fosse um martírio inevitável). Outro discurso, feito por Francisco d’Anconia, notabiliza-se por apontar um lado moral no dinheiro.

Influência

  • Alan Greenspan – o ex-presidente do Federal Reserve era discípulo de Rand, e em sua atuação pública sempre prezou pelos princípios do livre mercado.
  • Ronald Reagan – a “nova direita” (neoliberais) chega ao poder nos EUA, em 1981, com um discurso em prol da redução do Estado e da valorização da iniciativa privada.
  • Filósofos, economistas, políticos e escritores libertários, mas também conservadores. Ayn Rand é respeitada pelos primeiros pela sua defesa da primazia do indivíduo (e seus talentos) e da liberdade de pensamento e ação; pelos segundos, por seus argumentos de defesa da propriedade privada e dos cortes vigorosos dos gastos públicos (“Welfare State”).
  • Os livros de Rand continuam a vender muito bem (principalmente nos Estados Unidos), ainda mais com a renovação do interesse pela autora, graças à escalada intervencionista dos últimos anos, em resposta (ou como causa?) para a crise econômica mundial.