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Kaio

 

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17 janeiro 2010

Take Care of Yourself

Como prometido, eis o início do resumo dos meus 15 primeiros dias de férias (ou algo próximo disso) em Brasília.

Evangelion
Sabe quando um desenho te cativa tanto que você não se importa de acordar cedo só para ver 6 episódios consecutivos, almoçar, rever dois deles, tirar um cochilo, rever outros dois, jantar, ver o 1º filme e depois... dormir? Pois bem, meu domingo passado foi desse jeito! Fiquei fissurado por Neon Genesis Evangelion nesses últimos dias. Em pouquíssimo tempo, vi todos os capítulos da série, e já assisti aos dois filmes lançados na época ("Death and Rebirth" e "The End of Evangelion"). Anteontem, conferi o recente "Rebuild of Evangelion 1.0: You Are (Not) Alone", 1º capítulo da nova tetralogia evangélica (?).
Já conheço EVA há quase oito anos (li umas 3 edições do mangá, gostei bastante, mas acabei não comprando outras; estava muito vidrado em CDZ na época), porém foi só nas últimas semanas que realmente me dediquei a conhecer a fundo a série. Um dos estopins foi ter assistido, quase por acaso, o episódio 25 (logo o penúltimo da série!) no Animax, quando ainda estava em Goiânia. Achei aquela viagem psicológica da narrativa tão fascinante que coloquei meu Torrent para trabalhar, e baixei vários GBs de vídeos da série Neon Genesis.
O desenho ajudou-me a preencher os vazios da minha programação na 1ª semana de férias em Brasília. Porém, com o passar dos episódios ele se tornou parte fundamental da mesma, como foi o caso do domingo 10/1. Valeu a pena: ele pode se considerar culpado por redespertar meu interesse por animes (e mangás, também), congelado durante tantos anos. Dois anos atrás, vi 27 dos 37 episódios de Death Note. Estava adorando, mas do nada parei de ver. Deve ter sido a frustração pela morte de um personagem (spoiler alert!), ou porque não estava no "geist" para cultura japonesa. Não é o caso destas minhas férias de verão de 20 d.M. Será mesmo que Evangelion terá um "efeito dominó" em mim, e me fará ver mais animes? Já baixei o Akira, e tenho alguns planos. Tomara que, desta vez, eu vire mesmo um otaku; afinal, é inadmissível um nerd/geek como eu ter passado tantos anos adorando apenas o "mainstream" dos desenhos japoneses: CDZ, DBZ e Pokémon...
Vamos falar sobre EVA, portanto. A série tem como um de seus pilares a densidade psicológica de seus personagens. Peguemos o principal e as 3 semi-protagonistas, por exemplo:
1. Shinji Ikari, a Terceira Criança, é aquilo que Ayn Rand chamaria de "altruísta servil" - faz tudo que os outros mandam (ou querem), independentemente de gostar ou não da atividade/comportamento. Pilotar o Evangelion Unidade 01, por exemplo, é algo que ele muitas vezes abomina; em pelo menos 3 oportunidades, Shinji chegou a abandonar a NERV, organização paramilitar responsável pelos EVAs y otras cositas más. Porém, seu desejo de agradar às pessoas (especialmente seu pai, chefe da NERV) - e não gerar o desprezo delas (por mais que, muitas vezes, isso seja só a imaginação fatalítica de Shinji) - falou mais alto, e nosso herói relutante sempre retornou. Há quem diga que ele ainda está na "fase oral", daí a relação sempre maternal que mantém com as garotas. [Aviso: não darei spoilers, apenas apontarei traços mais genéricos sobre situações da série!] Alterna entre momentos de angústia (episódios 3-4), raiva mais do que justificada (episódios 18-19) e até corrupção moral (filme "The End of").
2. Asuka Langley Soryu, 2ª Criança, é uma garota barulhenta, exaltada e muitas vezes arrogante. Sempre chama a responsabilidade para si, e pilotar seu EVA Unidade 02 é a maneira que encontrou para mostrar seu valor para todos. Porém, com o decorrer da série (ep. 22, principalmente), descobrimos que, no fundo, ela é uma adolescente emocionalmente muito abalada e deprimida, que presenciou a morte da própria mãe e, a partir desse trauma, tentou criar uma imagem de menina confiante e forte. Ela e Shinji têm uma relação curiosa, em que não sabemos até que ponto ela gosta dele (e vice-versa, talvez), ou se Asuka simplesmente o odeia por, embora de personalidade tão hesitante, Ikari ser melhor que ela enquanto piloto de Evangelion.
3. Rei Ayanami, a Primeira Criança, é a personagem mais enigmática da série. Seu jeito frio, silencioso e distante faz com que ela pareça impenetrável e inabalável para todos à sua volta. Porém, com o decorrer da trama, ela gradualmente desenvolve emoções, dando uma conotação martírica à sua abnegação. Sua relação com o pai de Shinji, Gendo Ikari, é bem estranha, e a cada novo fato descobrimos um sentido até religioso nessa aproximação. Sendo sincero (as feministas diriam "machista"), eu diria que ela é a garota perfeita para 7 em cada 10 homens (não sei se é meu caso, acho que prefiro a irritante e explosiva Asuka, rs): bonita, calada, estável e misteriosa.
4. Misato Katsuragi, a Capitã, é uma sobrevivente do Segundo Impacto. Tem "complexo de Elektra", e tanto seu ingresso na NERV (onde seu workaholic pai, falecido, trabalhava) quanto sua turbulenta relação com Kaji (ex-namorado dos tempos de faculdade) são demonstrações disso. Contrasta uma vida profissional impecável com uma vida pessoal desorganizada (vide seu apartamento e seus relacionamentos) e irresponsável (além de não saber cozinhar, é comum ela acordar e, logo depois, tomar cerveja ou sake). Embora tenha o dobro da idade de Shinji (28 x 14), muitas vezes fica a impressão de que ela sente algo por ele, o que talvez explique ela ser tão desinibida em seu trato com o garoto.

Também há muito a ser dito sobre os coadjuvantes, como Ritsuko, Gendo e Toji, mas deixemos isso para outra ocasião.
Hideki Anno, criador de Neon Genesis Evangelion, disse se surpreender com a popularidade da série, a despeito de personagens tão problemáticos e pessimistas. Lembrando, aliás, que foi durante um longo período de depressão do próprio Anno que este teve a idéia da série.
De fato, é inusitado uma série tão inteligente e complexa ter obtido tanto sucesso. Porém, creio que parte do êxito de EVA reside justamente em seu enfoque psicológico (até psicanalítico, eu diria), que o distancia dos demais "desenhos de robô". O público japonês (e também o do resto do mundo) certamente se identificou com os dilemas e as dificuldades dos personagens, todos eles solitários e obrigados a amadurecer rapidamente graças a uma situação extrema. Sua trama distópica e repleta de referências bíblicas e à cultura pop japonesa também funciona como diferencial.
Em breve, farei por aqui uma resenha de "The End of Evangelion", tomando o cuidado de não contar o final do filme. Já vou adiantando que até chorei em algumas cenas (ok, já tinha acontecido isso comigo em alguns dos eps. finais) - mas, não vão pensando que um filme é um dramalhão (ou que eu sou um chorão!), pois a história nos oferece muitas reviravoltas que geram outras sensações no espectador. A mais recorrente, talvez, é a confusão ("Hein, que diabos está acontecendo?!").
Enquanto isso... "shounen yo shinwa ni nare!"

Matérias de Verão
Eis a melhor desculpa que eu arranjei para que minha mãe não achasse que eu ficaria à toa se passasse as férias em Brasília. "Estudar, oras!" De fato, foi uma decisão sábia da minha parte ter corrido atrás, e obtido Crítica Literária (UnB) e Francês intensivo - Intermediário 1 (Cultura Francesa). Além de não impedir que eu possa sair quando eu quiser - afinal, estou de férias! -, estou adiantando créditos unbistas com uma matéria que vale a pena e, simultaneamente, melhorando meu Francês, que ano passado deixou a desejar.
Crítica Literária: meu professor resolveu direcionar a disciplina para a análise teórica e técnica da poesia brasileira. Porém, também estamos lendo textos de autores internacionais, como Michael Hamburger e Jonathan Culler. Devo dizer que estou gostando bastante. Além daquela minha paixão mal-resolvida pelas Letras, pesa o fato de que pretendo fazer as vezes de crítico literário, inclusive em minha produção acadêmica (aproximar a Teoria Política da Literatura, por assim dizer).
Francês Intermediário 1: a turma só tem 3 pessoas (eu, o 'professeur' e um aluno mais velho), o que torna a dinâmica da aula mais descontraída e produtiva. Muitas vezes, privilegiamos a conversação, o que vem sendo bom para expandir meu vocabulário e me deixar menos travado para falar a língua francesa. Porém, já estamos pensando em outras possibilidades para continuar a aula não-restrita à gramática e ao livro didático; por exemplo, tivemos a idéia de ler um texto do Camus (o primeiro capítulo de "Le Mythe de Sisyphe").

Por hoje é só. No próximo texto, cobrirei os demais pontos levantados no Post-Expectativa. Au revoir!

 

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