(A little) less worried
Não irei à aula amanhã (primeira vez que faço isso deliberadamente, sem show do New Order ou PoliONU como desculpa, desde... a sexta série, em 2002!), mas provavelmente vou na escola à tarde, para pegar uma monitoria de Matemática e ajudar uma colega minha a estudar Grécia e Roma. Será meu último dia antes da prova do PAS... Ei, chega de terrorismo psicológico, Kaio! Relax, man!
Quando tudo isso passar, tenho muita coisa para postar aqui no blog, desde a minha (tola) redação de hoje até algumas coisinhas sobre "Megalomania Psíquica", música, literatura e banalidades em geral.
28 novembro 2007
Less than 64 hours
Para piorar, eu fiz justamente a última coisa que poderia fazer: pegar algum livro pra ler. Como eu nutria a obsessão de ler 50 livros em 2007, não poderia me concentrar totalmente nos estudos enquanto não alcançasse tal marca. Não titubeei em largar o pederasta do Rousseau quando finalmente me cansei do livro dele; anteontem eu parti para Henry David Thoreau. Li pouco na segunda e na terça, até porque nesses dois dias eu REALMENTE estudei, mas hoje encerrei com louvor tal leitura.
"A Desobediência Civil e Outros Escritos" é a obra em questão. Já havia lido o ensaio que dá nome ao livro há mais de dois anos, na época em que estava em transição ideológica; contudo, acreditei que agora era o momento certo para ler outros textos de um dos pais do libertarianismo. Achei bacana a preocupação dele com meio ambiente, mas acabei não gostando tanto do escrito "Um passeio num inverno rigoroso", que é totalmente detalhista. "Andar a pé" é um pouco melhor, pois traz várias reflexões interessantes sobre a importância do pleno contanto entre homem e natureza. "Leituras", extraído da obra "Walden", é excelente na tentativa de enfatizar o valor dos clássicos que formaram o chamado Cânone Ocidental. As vinte e oito páginas retiradas do ensaio "Uma semana nos rios Concord e Merrimack" analisam as diferenças entre a cultura ocidental e a oriental, abordando inclusive a visão de mundo mais contemplativa e passiva destes. Para isso, ele remete a vários escritos, inclusive "Bhagavat-Gita". Além disso, desferem-se críticas aos 'reformadores' que querem acabar com a vida pacata, e propõem megalomanias que anulariam a essência humana.
Nem vou me aprofundar muito no ensaio principal, deixarei isso para outra ocasião. Já estou cansado e pretendo dormir em, no máximo, meia hora.
Torço para que, amanhã, eu melhore um pouco o humor, e pare de ver os cenários 2 e 3 citados no post anterior como os mais prováveis.
26 novembro 2007
Alguma coisa sobre mim - parte 2
Ufa, finalmente terminei de ler, na quarta-feira passada, o livro “A Ditadura Escancarada”, de Elio Gaspari. Ótima obra, aliás, tão boa quanto o volume I, “Envergonhada”. A parte sobre a tortura, a luta armada nas cidades, a anarquia militar e, principalmente, a Guerrilha do Araguaia são os destaques do livro.
Foi o quadragésimo nono livro que li nesse ano. Para ser o qüinquagésimo livro de 2007, escolhi “O Contrato Social”, de Rousseau, que eu comprei há quase 3 anos e até hoje não terminei. Ando meio arrependido da escolha, visto que a obra é cheia de altos e baixos, e, para piorar, a tradução não é das melhores. Se eu não terminá-lo até terça de manhã, terei que escolher outro livro. Um bom motivo para que o termine rápido é o fato de que...
22 de Novembro: Também falta pouco para as provas do PAS...
Pois é, nos dias 1º e 2 de Dezembro eu farei a terceira etapa do Programa de Avaliação Seriada da UnB. Será a minha primeira chance de entrar na Universidade de Brasília no ano que vem, sendo que a segunda será através da prova 1/2008, em 19 e 20 de Janeiro do ano que vem.
Não negarei que estou bastante ansioso quanto ao PAS. Se, por um lado estou otimista e confiante, por outro estou preocupado, já que não estudei de maneira muito, digamos, ortodoxa nesse ano. Em nenhum momento sacrifiquei os meus hobbies em troca do que chamam de “treinar exercícios por umas três, quatro horas diárias”. Sou muito orgulhoso para mudar meu estilo de vida mesmo diante de uma situação como essa.
Aliás, já estabeleci três cenários possíveis para o que ocorerrá comigo a partir de Dezembro:
1. Se eu tirar uma nota boa no PAS e tiver grandes chances de passar, ficarei bem mais tranqüilo, e estudarei pro 1/2008 sem me sentir tão pressionado. De quebra, posso até aproveitar para continuar lendo bastante e, quem sabe, ser mais sociável com meus colegas. Repetir conversas como a que eu tive com três deles no último sábado seria muito bom.
2. Se eu tirar uma nota razoável e tiver certa dúvida quanto às minhas chances de passar, terei que aumentar o ritmo de estudos pro 1/2008, mas continuarei lendo e conversando, mas em doses um pouco menores. Também não ficarei tão confiante a ponto de já preparar despedida de Goiânia e coisas do gênero.
3. Agora, se eu não for bem no PAS, terei que partir para o estoicismo, ou qualquer outra postura moral-filosófica de total abnegação. Sem livros, sem papo, sem TV ou PC: estudar para a UnB o dia inteiro. Só daria intervalos quando estivesse me estressando ou enlouquecendo, mas, assim que voltasse ao normal (?), afundar-me-ia nos estudos novamente.
Sendo freudiano, diria que há três preparações psicológicas simultâneas: meu superego já cogita o cenário 3; meu ego vê o 2 como o mais provável; já meu id vislumbra o 1 como uma realidade iminente. O que fazer, então? “Should I stay or should I go?”
23 de Novembro: Bons momentos coroados pelo Goiânia Noise Festival
Minha semana terminou muito bem. Já na quinta, fui a cinco aulas: duas de Química na turma de Biológicas e duas de Geopolítica e uma de História nas Humanas. No dia seguinte, peguei um horário de Física na sala de Exatas e duas de História. Senti-me muito bem com essa pequena liberdade...
Ah, finalmente tirei meu título de eleitor na sexta. Fui adiando ao longo dos últimos meses tal atitude, mas chegou a uma hora em que eu realmente precisava fazê-lo, até porque seria um contra-senso que uma pessoa tão tarada por política (curso universitário, inclusive) demorasse tanto para ter o direito de votar. Devo admitir que foi horrível passar a eleição passada apenas como observador.
A noite do dia 23 guardaria uma última satisfação: o Goiânia Noise Festival. O evento conseguiu ser ainda melhor do que eu esperava, compensando a edição 2006, em que eu me entreguei à misantropia e só fui ver o show dos Los Hermanos.
Cheguei às 20h44, um pouco mais tarde do que costumo chegar, e o suficiente para perder um dos shows que eu queria ver: Barfly. Nas primeiras horas, aproveitei para fazer uma das minhas tradicionais peregrinações, perambulando por todos os locais possíveis do (enorme) espaço do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Equipado om a minha bolsa-mochila azul e uma latinha de Coca-Cola Zero, achei até um local onde se vendia LPs antigos (pena que eram meio caros, senão eu levava; achei até Smiths, o “White Album” dos Beatles e o "Closer" do Joy Division!), outro que comercializava HQs do Angeli e um estande da Petrobras – uma das patrocinadoras do Noise, aliás – em que era possível jogar Guitar Hero II. Não usufruí nenhum dos três bens, mas dei uma olhada em todos, hehe.
Fui encontrando alguns amigos e colegas com o passar do tempo, mas o que estava esperando mesmo eram os shows. Algumas bandas fizeram apresentações medíocres, como o MQN e o Violins, mas as últimas três apresentações (todas depois da meia noite, aliás) fizeram cada centavo dos 20 reais do preço do ingresso:
1. Móveis Coloniais de Acaju, divertida banda brasiliense, fez um show com uma surpreendente e intensa participação e identificação do público. Caramba, o pessoal que estava perto de mim lá nas primeiras “filas” (a propósito, o palco da abóbada do Niemeyer é enorme!) não parava de pular, bater palmas, dançar e cantar junto com o Móveis. Só conhecia de memória uma música deles, “Seria o Rolex?”, mas estou perdoado, porque é justamente a melhor faixa do conjunto.
2. The DT’s vieram direto de Seattle para Goiânia, constituindo-se em uma das atrações estrangeiras do Goiânia Noise Festival. Aliás, conheci duas das outras de duas maneiras diferentes: vi e gostei de um pedaço da performance de Rubin & Los Subtitulados, e dias antes do evento conheci pela internet o Battles, banda dos EUA que tocou no domingo, último dos três dias do festival – lembrando que eu só fui na sexta. Enfim, voltando ao DT’s, eles misturam soul com hard rock e até grunge, e o resultado é um som bem barulhento e provocante. Destaque para a vocalista, que teve presença de palco e boa voz.
3. Pato Fu era o principal motivo para eu ir ao Noise. Devo confessar que, até quinta, eu conhecia pouca coisa do som deles, mas resolvi tirar a noite do dia 22 para baixar tudo que pudesse da banda. Após mais de 20 faixas executadas em meu WMP, de fato comecei a gostar mais do Pato Fu; não por acaso, sabia praticamente de cor umas oito canções que eles cantaram no show!
A apresentação foi maravilhosa em todos os detalhes, desde o carisma de Fernanda Takai (o auge foi quando ela colocou óculos escuros e chapéu de coelho para cantar “Capetão 66.6 FM”) e de John até a seleção equilibrada da playlist, contemplando boas músicas de quase todos os álbuns da banda (só o “Rotomusic de Liquitificapum” ficou de fora). As minhas favoritas, aliás, continuam sendo “Eu” (quase um hino do egocentrismo), “Made In Japan”, “Anormal” e “Depois”. As poucas grandes canções que eles não tocaram foram “Pinga” (apesar da insistência da ala mais boêmia da platéia, hehe) e os covers, como “Ando Meio Desligado”, “Cities In Dust” e “Eu Sei”.
A conclusão à qual chego é que o Noise de 2007 foi realmente ótimo. Foi o melhor ‘adeus’ que eu poderia dar para a cena indie de Goiânia, visto que não será a mesma coisa quando eu for de Brasília para cá no ano que vem para ver algum festival...
Bem, este post ficou realmente bem longo; tanto que tive de dividi-lo em duas partes. Pronto, consegui recapitular a semana passada!
25 novembro 2007
Alguma coisa sobre mim - parte 1
16 de Novembro: Diclassetadas
O evento de despedida dos terceiros anos superou as minhas expectativas. Após a serelepe bagunça que predominou nos dois anos anteriores, o colégio tomou algumas medidas para diminuir a anarquia: pela manhã, só o 3º ano poderia participar, e haveria as dicas propriamente ditas para o vestibular; já pela tarde, o pessoal das outras séries poderia entrar, predominando as homenagens, farras e discursos do corpo docente. Aliás, não foram apenas os professores e coordenadores que falaram para as massas, pois este que vos escreve também fez um, hã, pronunciamento. Tudo bem que, apesar de bonito, meu discurso ficou bem hipócrita, mas as pessoas gostaram bastante, talvez porque não falei rápido demais e consegui imprimir um tom de voz bem eloqüente e alto. Que bom, hehe.
Cumpri a minha promessa feita no Diclassetadas de 2005, e não chorei. Pelo contrário, dei muitas risadas e gargalhadas, mas não senti a necessidade de derramar lágrimas. Meus colegas, contudo, ficaram com a cara inchada de tanto chorar... Creio que sentirei saudade de uma meia dúzia de gatos-pingados, mas não fiz nenhum verdadeiro amigo no ensino médio; apenas manti alguns que conheci ainda no 1º grau. Modéstia à parte, mas aqueles que estudaram comigo no Colégio Classe continuarão a se lembrar de Kaio Felipe, uma criatura assaz histriônica e excêntrica, mas a recíproca não ocorrerá. Espero que na faculdade ocorra o contrário, e eu possa montar uma 'panelinha pequeno-burguesa', hehe.
Ah, eis uma frasezinha para eu me lembrar do Diclassetadas: “Eccentric guys like you never win. They will always prefer ordinary people”. Não tentem me perguntar o significado disso, isso é quase que uma piadinha (ou não) interna.
20 de Novembro: Ciências Ocultas
Na segunda passada, houve as aulas de ressaca após o domingo da prova da UFG. Não a fiz, mas isso não me impediu de ter de responder mais de 50 vezes à pergunta "Prestou na Federal, Kaio?" durante a última semana. O clima foi de depressão coletiva no colégio, com a maioria dos alunos sem tanta esperança de ter passado. Pelo que me disseram, a prova da UFG foi realmente difícil, em parte por certas questões mais bem elaboradas, em parte porque algumas ficaram bem ambíguos e com mais de duas alternativas possíveis.
Enfim, pelas próximas três semanas valerá a divisão das turmas por áreas - um antigo sonho meu, aliás. No primeiro dia, comecei a aproveitar esse sistema: peguei duas aulas de Texto na classe de Humanas e uma de Física na de Biológicas; nas restantes, fiquei na sala de estudos mesmo. Já na terça 20, peguei apenas duas aulas de Geopolítica, pois passei o resto do tempo ou estudando para o PAS ou preparando um ato que realizaria no último horário: uma aula de Ciências Ocultas para os desocupados.
Foi meio improvisado, mas pude falar sobre diversos tópicos, como satanismo e mensagens subliminares. A aula foi um sucesso: quase vinte alunos compareceram, e meu professor de Geopolítica topou aparecer como convidado especial, para comentar sobre algumas bandas de rock ligadas às idéias satanistas, como o Black Sabbath.
Na tarde daquele dia, preparei uma lista com textos e exercícios de vestibulares imaginários comentados (qualquer dia desses publico aqui no blog), visando à segunda aula. Infelizmente, não pude dá-la, porque um dos bedéis do colégio a censurou. Sim, ele disse que eu estava atrapalhando quem estava estudando na sala de estudos; mesmo assim, tenho certeza de que ele não notou que 90% (ou mais) dos que estavam em tal recinto estavam mais ocupados com conversas. Tsc, tsc... Isso me lembra de algo que eu li, mas isso é algo para falar no tópico de 21/11.
23 novembro 2007
Ando meio ligado
15 novembro 2007
Discurso para o Diclassetadas de amanhã
Estou convicto de que acertamos ao escolher o Colégio Classe para cursar o ensino médio. A escola nos ofereceu inúmeras oportunidades de enriquecimento intelectual e cívico. Não foram poucos os Cafés Filosóficos, os Multitemas, os Painéis de Notícias, os Cineclasses, os Biodebates e até mesmo os saudosos Luzes da História que eu considero inesquecíveis. Todas as equipes de todas as áreas realizaram um trabalho respeitável, humano, sempre instigando os alunos a adquirirem mais conhecimento.
Somos personalidades das mais heterogêneas que se encontraram. Foram muitas conversas produtivas, debates, divagações... Intrigas também, mas nada que uma boa dose de indulgência não resolvesse.
A atmosfera do colégio nos motivou a ter consciência da autodeterminação para os estudos; a não sermos robôs comandados pela supostamente inquestionável autoridade do corpo docente; a desenvolvermos a autonomia, a flexibilidade e a independência.
Todos os três passos foram fundamentais. Durante o 1º ano, começamos a lidar com novas responsabilidades, que exigiram de nós mais maturidade. No 2º, em meio a um ano de transição e inseguranças, pudemos fazer um exame de consciência, ao repensar atitudes e, quem sabe, a própria existência. E agora, no 3º ano, que estamos a encerrar, sacrifício e definição foram palavras de ordem. Foi o momento em que mais nos dedicamos aos estudos, na expectativa de que tal aplicação venha a valer a pena.
Em 2008, ao adentrarmos no campus da universidade para a qual formos aprovados, seja ela a UFG, a UnB, a USP, a UNICAMP ou outra, o sentimento de vitória nos acompanhará. Talvez alguns de nós jamais voltarão a se encontrar pelo resto de nossas vidas. É o caminho natural, afinal fizemos nossas escolhas: curso, universidade, carreira, ambições. Resta-nos seguir em frente, portanto.
Não farei agradecimentos em específico, até porque precisaria de muito tempo para enaltecer os seres humanos incríveis com que convivi no último triênio. Provavelmente não me esquecerei dessa geração que tanto me marcou. E a festa nunca termina; prossigamos com o Diclassetadas!
13 novembro 2007
De volta à Granja dos Bichos
A União Soviética surgiu em um contexto político e econômico favorável para o intervencionismo. No entre-guerras, o pensamento liberal estava desgastado, tanto em razão da Crise de 1929 como pelo fortalecimento das idéias nacionalistas e imperialistas. Além disso, o respaldo ao socialismo era considerável entre os intelectuais da época, que criticavam as desigualdades socioeconômicas geradas pelo capitalismo. Já com Trotsky no exílio e Stálin no poder, os soviéticos, através do Plano Qüinqüenal de 28, criaram um modelo em que o Estado dirigia a economia; centralizou-se o planejamento para todos os setores.
Inicialmente, tal prática foi bem-sucedida, permitindo que a URSS se industrializasse rapidamente. Não demorou muito para que correntes como a centro-esquerda (como os democratas nos EUA), as ditaduras militares latino-americanas e até os nazi-fascistas se inspirassem nesse dirigismo estatal em seus planos econômicos. Após a Segunda Guerra, então, os trabalhistas chegaram ao poder em quase toda a Europa Ocidental, com destaque para a Inglaterra de Clement Attlee. Eis o Welfare State.
Ainda assim, houve quem desconfiasse dessa "onda vermelha". Não estamos falando de conservadores, mas sim de dissidentes da própria esquerda. Dois pensadores estiveram à frente de sua época nesse aspecto: George Orwell e Friedrich Hayek. Este, que foi o mais destacado membro da Escola Austríaca de Economia, publicou em 1944 o ensaio "O Caminho da Servidão". A obra é uma crítica contundente à planificação econômica e a ameaça da mesma às liberdades individuais. Para muitos, é o marco inicial do neoliberalismo. Já Orwell escreveu dois romances ("1984" e "A Revolução dos Bichos") que alertavam para o crescente totalitarismo soviético, a adulteração da memória histórica e a perda da privacidade.
Apesar dessas críticas surgidas dentro da Intelligentsia européia, a Guerra Fria parecia pender para o lado da URSS até meados dos anos 60. Vários fatores contribuíram para isso; revoluções vitoriosas, como a chinesa (49) e a cubana (59); o surgimento de países-satélite no Leste Europeu; os êxitos na corrida espacial, destacando-se o Sputnik e a "Terra azul" de Yuri Gagarin; a boa imagem que o Ocidente tinha de Kruschev; o grande crescimento dos partidos de esquerda por todo o mundo; a forte associação do movimento estudantil com o esquerdismo, tendo como apogeu o Maio de 68 na França. Enfim, são muitos os motivos que nos levam a considerar tal década como o apogeu vermelho.
O que, então, levou à queda do "Império soviético"? Em primeiro lugar, a insustentabilidade da economia estatizada, que gerou desabastecimento e profundos entraves nas relações de mercado. Segundo, a burocracia criada pelo Partido Comunista, culpada pelo autoritarismo, o imobilismo e a corrupção que assolaram a máquina pública. Terceiro, o dogmatismo que não conseguia controlar a heterogeneidade; esta, um antigo calcanhar-de-aquiles da esquerda, acarretou em vários rachas, seja entre países (URSS x China) ou dentro das próprias agremiações (por exemplo, dissidências ligadas à luta armada que surgiram do PC brasileiro). Outro fato foi a excessiva preocupação com o setor bélico, que prejudicou a produção de bens de consumo e gerou uma grave obsolência industrial.
Há, no entanto, uma razão para o fracasso do socialismo real que vem de suas próprias raízes. Estamos falando do ideal de igualdade a qualquer custo. O desejo de garantir a justiça social, fortalecendo o Estado para que este a promovesse, foi, assim como Hayek já previra, um atentado à liberdade e à democracia. Ao contrário do capitalismo, que, mesmo não sendo uma regra, permitia regimes que tolerassem o direito de livre expressão, a ideologia socialista jamais conseguiu se impor sem uma ditadura. A coisa não teria sido diferente se Trotsky, o Bola-de-neve da "Revolução dos Bichos", tivesse assumido a União Soviética no lugar de Stálin, representado pelo porquinho Napoleão. A própria teoria coloca o nivelamento socioeconômico acima do respeito à individualidade. É certo que algumas tentativas de "humanização" do socialismo existiram, mas todas fracassaram; vide Alexander Dubcek na Tchecoslováquia, Allende no Chile e o próprio Gorbatchev nos últimos anos da URSS.
Sobre a pergunta deixada no 1º parágrafo, podemos refletir o seguite: sim, é verdade que o capitalismo globalizado torna cada vez mais difícil uma tentativa de planificação econômica, visto que até mesmo os Estados socialistas remanescentes vêm adotando práticas de economia de mercado; a China é o melhor exemplo disso. Mesmo assim, o Muro de Berlim ainda não caiu para os intelectuais e a cultura mundial. É inegável que a influência do pensamento esquerdista ainda é imensa, para bem e para mal. Não estamos falando apenas do culto a pessoas como Che Guevara, mas sim de toda uma visão de mundo. A maioria das bandas de rock, cineastas, professores, atores, universitários, escritores e qualquer outro tipo de expressão artística e/ou intelectual ainda evoca certas idéias socialistas, ou simplesmente social-democratas. A direita não é tão, por assim dizer, "chique" como seus adversários ideológicos, mesmo que suas propostas econômicas tenham demonstrado ser mais realistas e eficientes. A conclusão à qual se pode chegar é a de uma coabitação entre as duas correntes de pensamento. Até questões como aquecimento global, a reforma agrária e a política externa dos EUA ainda geram uma certa bipolarização. Em outras palavras, um modelo socialista é atualmente inviável, mas as idéias de esquerda continuarão na praça por um bom tempo.
11 novembro 2007
Pensando no amanhã
Comecemos pelo meu cotidiano. Desde que parei de tomar café, no início do mês passado, descobri três coisas:
1. Eu não sou dependente de cafeína. Não sofri nenhuma crise de abstinência ou coisa do gênero.
2. Tomar apenas um leite com achocolatado em pó pela manhã é um ótimo substituto.
3. O café me segurava quando eu ficava com sono na sala de aula. Agora, quando o cansaço aparece, simplesmente me rendo aos cochilos.
Aliás, as aulas de Química, Biologia e Física viraram praticamente horários de soneca para mim. Daqui a pouco vou ter que levar um travesseiro para o colégio, rs.
Calma, isso não quer dizer que estou muito relaxado em relação aos estudos .Hum, pelo menos não tanto quanto poderia ser... Continuo trazendo as provas da UnB dos últimos três anos, que eu imprimi no semestre passado, para resolver quando estou com vontade. Isso sem falar nos agendamentos que faço nas tardes de terça, quarta e/ou quinta.
Enquanto as específicas e maratonas da vida não começam, vou tentando me virar sozinho. Acredito ter mais empenho na semana que há de se iniciar amanhã, visto que até minha leitura atual ("A Ditadura Escancarada", de Elio Gaspari) facilita uma atmosfera de comprometimento com os estudos. Além do mais, faltam apenas três semanas para a prova do PAS e dez para o 1/2008 da UnB. Como diria o Muse, "time is running out", hehe.
Hoje mesmo fiz minha inscrição para o vestibular de Janeiro da Universidade de Brasília. Um detalhe me fisgou durante o processo: o orgulho que eu senti em colocar Ciência Política como opção de curso. =)
Segundo tópico: Diclassetadas. Dessa vez, a pseudoformatura do 3º ano será realmente uma pseudoformatura para mim, e não um evento (bobo, a propósito) no qual eu fui quando aluno do primeiro e do segundo ano. O que pode torná-lo especial para mim é que o pessoal da minha sala pediu-me para ser o orador da turma, e fazer um discurso lá. Obviamente, adorei a idéia, e já estou a pensar sobre o que posso falar.
Por último, o livro. Continuo a escrevendo quase todos os dias, e já tenho alguma noção de como será o enredo. Minhas prioridades para "Megalomania Psíquica" nos próximos dias são as seguintes:
1. Aprimorar o perfil psicológico de Giovana e Alice. Preciso "montar" a adolescência de cada uma delas, inclusive os fatores, pessoas e situações que participaram do desenvolvimento de suas personalidades. Algumas dificuldades já surgiram, como explicar a influência da família na instabilidade emocional de Giovana e o aprofundamento de Alice no contato com sexo e álcool.
2. Fazer com que a amizade de Júlia e César soe realmente como um diálogo de parte de mim com a outra parte. Afinal, eles são meus alteregos, quase extensões autobiográficas.
3. Mário e Henrique, como projeções sobre como eu seria se tivesse "mudado" em certos momentos de minha adolescência, carregarão o fardo de ser um exame de consciência para mim (e, quem sabe, para os leitores que se identificarem): eu seria mais feliz e livre se tivesse tomado outras decisões e atitudes em certas ocasiões importantes?
4. Traçar um paralelo entre as posturas filosóficas e políticas de cada um dos personagens com seus respectivos comportamentos. Ah, também associar as bandas e canções favoritas não custa nada.
5. Delimitar o espaço-tempo (o qual, provavelmente, será de oito ou nove meses, ocorrendo na "cidade natal" e, depois, na "cidade da faculdade"), também determinando a frequência dos flashbacks, para que eles não acabem virando 'longbacks'. Estou a escrever da maneira menos linear possível, mas preciso pelo menos organizar-me um pouco mais quanto a esse propósito.
6. E, é claro, fazer um acerto de contas com o meu passado. Acho que vou acabar retratando muita coisa que ocorreu comigo nos últimos sete anos, assim como especularei sobre o que poderia ter acontecido se eu tivesse feito outras escolhas. Afinal, como bem definiu uma amiga minha, "o livro é parte do fim da minha adolescência, como se eu estivesse pondo para fora tudo o que vivi e pensei para seguir adiante".
Ah, se possível, publicarei algum trecho do livro nos próximos dias. Não garanto, já que provavelmente não terei tanto tempo disponível, mas não custa nada separar uma hora para publicar alguma coisa aqui no blog. Até mais.
Egoperspectivismo
O primeiro é este que vocês estão a ler, chamado Egoperspectivismo.
Vocês devem ter estranhado esse nome. "Egoperspectivismo? Que diabos é isso?" Bem, é um termo que eu criei para definir uma nova teoria da minha linha de pensamento. Consiste em trabalhar um assunto ou tema com vários pontos de vista, visando a constituir uma análise idiossincrática a partir deles. Ou, como eu defini para uma amiga minha:
"(...) creio que consistir-se-á em analisar uma mesma situação sob 2 ou mais pontos de vista, (...) mas sem deixar de contextualizar-se, e, como o 'ego' sugere, submetendo até mesmo a realidade do futuro ou passado da qual se deseja analisar à sua própria visão de mundo, sem negar a subjetividade."
Para não deixar que tal palavra se limite a (mais) um pedantismo, vamos a uma aplicação prática. Já que estou bem empolgado com a leitura de duas das quatro obras da tetralogia de Elio Gaspari sobre o regime militar (já li "A Ditadura Envergonhada" e comecei anteontem a ler "A Ditadura Escancarada"), discutirei qual posicionamento eu tomaria em relação à crise política de 1964, que levaria à Revolução (?) de 1º de Abril.
Acredito que não precisarei falar sobre os antecedentes históricos; vamos direto ao ponto.
1. Se, naquela época, eu tivesse contato com as obras de escritores como Kerouac, Hayek e Friedman, e meu pensamento político e econômico fosse ligado à direita libertária, provavelmente eu não apoiaria o golpe. Não aceitaria sacrificar a minha liberdade de expressão em troca de uma ameaça (concretizada, aliás) de autoritarismo e repressão. É claro que a polarização ideológica complicaria uma possível neutralidade de minha parte, logo há a possibilidade de eu preferir o exílio a ficar em um Brasil regido por uma ditadura, independentemente de ela ser capitalista ou socialista. Destino? Inglaterra, quem sabe. De quebra, eu teria a oportunidade de viver por lá na época em que o rock deles teve uma ascensão brilhante, contando com bandas como The Who, The Kinks, Rolling Stones e, é claro, Beatles. Se eu não tivesse dinheiro para tal viagem, ficaria no Uruguai ou no Chile, pelo menos até ter condições de partir para a Europa.
2. Não descarto a possibilidade de que eu seguiria a maioria dos intelectuais da época, e me alinharia aos socialistas. Talvez simplesmente fosse da esquerda festiva, mas não duvido quanto a uma filiação ao PCB e um apoio à radicalização que Jango ensaiava. Mesmo assim, discordaria do populismo radical de Brizola ou a russofilia de Prestes, preferindo um modelo socialista mais heterodoxo. Quem sabe eu não seria um estudante à moda dos franceses e tchecoslovacos de 68? Sim, eu poderia até virar algum jornalista escrachado, como os do Pasquim. Mesmo assim, quanto a algo eu tenho certeza: eu não integraria a luta armada. Não é a minha praia pegar em armas para fazer uma revolução. Acho que também não participaria do Congresso da UNE de 68, por temer que a polícia acabaria descobrindo o sítio em que ele seria realizado. Mesmo assim, continuaria atuando na política por outros meios.
3. E se eu fosse direitista, mas liberal? Ah, certamente discordaria dos rumos do governo de Jango, admitindo até mesmo um golpe para "limpar a casa". Até gostaria da política econômica de Bulhões e Roberto Campos, desenvolvida durante o governo de Castello Branco. Acabaria por condicionar meu apoio à ditadura à continuidade desse liberalismo na economia. Entretanto, quando Delfim Netto entrasse em cena e começasse com as obras faraônicas e o capitalismo de Estado, sem dúvidas eu ficaria decepcionado. Talvez continuasse no país, em um silêncio constrangedor - assim como muitos liberais à epoca -, ou poderia filiar-me ao MDB, vislumbrando uma abertura a médio prazo.
E então, qual a conclusão à qual eu chego? Oras, eu não iria para nenhum dos dois pólos - não apoiaria os militares, tampouco a extrema-esquerda.
Se eu colocasse a liberdade em primeiro lugar, preferiria o exílio voluntário; se a justiça social fosse a minha prioridade, estaria do lado dos esquerdistas mais moderados; e se uma economia mais aberta fosse o que eu mais desejasse, não teria escrúpulos em tolerar por algum tempo a ditadura, mas mudaria de idéia quando o AI-5 entrasse em cena.
Em outras palavras, Kaio poderia estar de três maneiras no ano de 1968: I - Curtindo a vida em Londres, participando de manifestações dos libertários; II - Na clandestinidade, escrevendo em algum jornal nanico; III - Na faculdade de Economia, desiludido com os rumos da ditadura.
E vocês, onde acham que estariam em 68?
04 novembro 2007
Bizarre Love Triangle
Retirado do período Outubro/1931 a Outubro/1932 dos diários de Anaïs, “Henry & June” só pôde ser publicado em 1986, visto que o Hugh Guiler, marido dela na época e um dos ‘personagens’ do livro, faleceu apenas em 85. Reconhecida imediatamente como uma obra-prima da autora francesa, não demorou muito para que viesse uma adaptação para o cinema, quatro anos depois. Aliás, já estou correndo atrás do filme, que tem Maria de Medeiros no papel de Anaïs Nin e Uma Thurman como June Miller.
Em suas 250 páginas, “Henry & June” encanta permanentemente o leitor pelo intimismo, a intensidade da escritora em relatar suas paixões e dramas ou mesmo uma imensa habilidade em utilizar a linguagem típica de um romance no diário. Em apenas um ano, a vida de Anaïs sofre uma imensa reviravolta, transformando o que era mera idealização da cabeça de uma garota reprimida que não sabia o que queria da vida em paixões, desilusões, questionamentos existenciais e muito, mas muito sexo.
O marido Hugo, com quem tem um casamento que não a satisfaz completamente (mesmo o tom hipócrita que ela utiliza para falar da felicidade conjugal não convence), e o primo Eduardo, por quem ela tinha certa atração correspondida desde a adolescência, não bastam para ela. As coisas mudam durante a época do diário, quando ela conhece Henry Miller, um escritor americano que ralava para viver em Paris. Surge imediatamente uma afinidade intelectual entre eles, e a francesa se interessou – e muito – pela mulher dele, June. Esta tem uma beleza estonteante e uma mente que fascina Anaïs. O mais curioso é que ela viajou para NY logo no início da obra, lá pela pág. 40, mas as poucas semanas em que conviveu com a escritora foram suficientes para marcar permanentemente os pensamentos da mesma.
Após a viagem de June, há uma lenta e gradual aproximação entre Henry e Anaïs. Inicialmente se limitam a cartas, mas logo surge a atração física e eles começam a ter um caso. A autora não parece estar incomodada com o duplo adultério (ela em relação a Hugo e seu amante em relação a June), até porque uma das intenções é justamente questionar o sentido da fidelidade. O que importa realmente para ela é começar a viver a vida intensamente; é o fim da angústia de passar 29 anos especulando sobre um futuro em que pudesse ser livre, inclusive para ser promíscua. Agora é hora de penetrar (literalmente) em uma realidade mais espontânea e libertária.
Aliás, algo é inegável: Anaïs Nin é insaciável. Sua vida amorosa (e sexual) não se limitou ao primo, ao marido, June e Henry, já que ela também vive a flertar com outra pessoa que a ajudará muito na mudança de mentalidade: o psicanalista Allendy. Ele sempre tenta associar tudo à infância dela, que teria sido abalada pelo amor imenso que ela tinha pelo pai, o qual, além de não correspondê-lo, era agressivo. Logo, criar-se-ia na cabeça da garota a ausência de uma figura masculina que lhe inspirasse segurança, proteção. Ela tentou encontrar em Hugo tal compensação, mas não demorou a ver nele um homem ‘mole’ e manipulável. Seu primo, então, chega a ser irritante de tão imaturo que é.
Mesmo assim, como o próprio título da obra sugere, o foco é no triângulo amoroso. Henry e Anaïs se amam, mas ambos gostam mais ainda de June. Um dos grandes atrativos para os leitores é justamente descobrir quem é o mais manipulador dos três, quem realmente está a usar os outros dois. Acredito que June Miller cumpre tal papel, já que, mesmo ausente, seu marido e sua "amiga" estão em plena expectativa – e temor – quanto ao retorno da mesma. As incessantes relações sexuais entre os dois sugerem a considerável atração carnal que há entre os dois. Existe, acima de tudo, um duelo psicológico entre uma mulher angustiada que luta para ter um diálogo consigo mesma e um escritor que convive com a contradição entre seus escritos ousados e agressivos e sua essência sensível e carente. E, unindo e separando-os, temos uma garota ambígua, misteriosa e sua “personalidade criada para o limite”, nas palavras da autora.
Uma possível epígrafe para “Henry & June” seria a seguinte: “Mas que jogo soberbo nós estamos jogando. Quem é o demônio? Quem é o mentiroso? Quem é o ser humano? Quem é o mais inteligente? Quem é o mais forte? Quem ama mais? Somos três egos imensos lutando por dominação ou por amor, ou estas coisas estão misturadas? Sinto-me protetora tanto em relação a Henry quanto a June. Alimento-os, trabalho por eles, sacrifico-me por eles. Também devo dar vida a eles, porque eles se destroem mutuamente.”
Ah, antes de terminar a resenha, uma observação: June serviu de inspiração para Mona, uma personagem que Henry criou para “Trópico de Câncer” (única obra dele que eu li, por enquanto), e que também aparece em “Trópico de Capricórnio” e a trilogia “Sexus”, “Plexus” e “Nexus”. Ou seja, temos duas perspectivas para trabalhar se quisermos analisar a gigantesca influência de June na vida de Henry Miller e Anaïs Nin. Em qual delas você confiaria mais? Estariam ambas próximas da verdade? Ou será que não, seriam as duas equivocadas?