"Palavras são sombras, as sombras viram jogos"
Ah, é verrdade, li a peça do Nelson Rodrigues mesmo. Ótima, diga-se de passagem. Personagens cativantes, trama bastante tensa, picos de ironia, um desfecho arrepiante... enfim, "O Beijo no Asfalto" faz justiça ao seu subtítulo "Tragédia Carioca em 3 atos". Aliás, quero ver se acho "Bonitinha, mas Ordinária" e "Vestido de Noiva" para ler.
Já "Brás, Bexiga e Barra Funda" é uma compilação de contos sobre o cotidiano dos imigrantes italianos na cidade de São Paulo da década de 20. A idéia é boa, e os enredos em termos gerais também (especialmente um chamado "Corinthians 2 x Palestra 1", sobre uma garota que é protótipo de maria-chuteira), mas... o estilo do autor é entediante. Sei que é intencionalmente que ele utiliza pontos em excesso, para 'marcar' cenas mais descritivas; entretanto, o texto fica travado demais. Prefiro muito mais o diâmetro oposto a isso, verificado, por exemplo, nas obras de Jack Kerouac e Clarice Lispector, com o fluxo de consciência. Para piorar, o livro tem um quê de datado, até mesmo pela temática da imigração. Pode ser que eu tenha sido chato e fresco em relação à obra, mas prefiro acreditar que existem livros bem melhores que este de Antônio de Alcântara Machado.
Comecei hoje a ler "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda. Se o ensaio for tão bom quanto as 40 páginas de textos introdutórios - feitos por Maria Odila Leite da Silva Dias e Antonio Candido - deixam a entender, então estou diante de uma ótima leitura. Interessante notar que a visão historista dele é muito válida para análises na área das ciências sociais, fornecendo um ênfase à cultura, aos valores e tradições acumulados pelos povos durante o processo histórico; estes são muito negligenciados pelos pensadores mais materialistas. Começarei a ler "Raízes" propriamente dito amanhã.
É claro que eu não me limitaria a simplesmente ler, mas também a preparar a minha ida para o outro lado do balcão. Trocando em miúdos, continuo escrevendo Megalomania Psíquica. Estou cheio de idéias para a obra, desde alternância constante de vozes narrativas até doses cavalares de metalingüística e crítica musical e literária. Também decidi mudar o nome da personagem porra-louca: chamar-se-á Alice a antiga Leila. Considero tal nome mais adequado para a lisergia que a caracterizará. De quebra, já estipulei uma 'dead line' para o livro: Setembro de 2008. Até lá, já terei vivido experiências (ou mesmo apenas divagações) suficientes para compor o enredo da obra. Também seria tempo mais do que suficiente para reescrevê-la e quem sabe até preparar uma sequência, por que não?
Para fechar o post, F1. Poxa, o GP do Japão foi provavelmente o melhor do ano. A chuva tornou a corrida bem mais emocionante, dramática e instável. A batida de Alonso, a bela ultrapassagem de Massa sobre Kubica na última curva e o ótimo desempenho dos pilotos que formaram o pódio - Hamilton (cada vez mais próximo do título), Kovalainen e Räikkönen - foram os destaques da prova.
Good night, little creatures.
27 setembro 2007
27 Set
Não é nada fácil para um brasileiro discorrer sobre o seu país. O Brasil é um exemplo de nação que é, simultaneamente, das mais dignas de orgulho e vergonha. Um caso atípico na História, e um povo com uma saga excêntrica, para bem e para mal. Resta a cada um fazer a sua opção sobre como pensar o Brasil, inclusive com alguns (famigerados) dualismos, do tipo otimismo ou pessimismo.
Já tivemos momentos decisivos, oportunidades de reviravoltas que foram abortadas. A própria Independência poderia ter sido executada de outra maneira. 1889, 1930, 1964 e, mais recentemente, 1989 foram algumas datas que trouxeram mudanças conjunturais (e algumas até estruturais) que ocorreram de maneira bem mais conservadora do que poderiam ter sido. É claro que divagar sobre o "se", o hipotético na História, é uma mera especulação que não traz resultados, apenas lamentações. Mesmo assim, é frustrante constatar que raramente - ou mesmo nunca - o povo brasileiro fez a opção pelas reformas profundas, pela alteração sensível e intensa dos paradigmas. Seria um tolo temor ou algo mais sério do que isso?
É impossível enaltecer a elite sociopolítico-econômica pelo que ela contribuiu até hoje pelo país. Ela nunca foi realmente ambiciosa, pois sempre optou pelo que era mais fácil de se executar - e, conseqüentemente, mais excludente. Já vestiu a máscara das mais diversas tendências ideológicass, mas jamais abandonou seu eterno comodismo.
Também não se pode elogiar a classe média pelo seu passado. Durante toda a construção histórica do Brasil, ela jamais cumpriu o seu papel de renovadora de valores, de mercado consumidor expressivo que tem voz política. O próprio Golpe de 64 mostrou uma "mid-class" que fez uma marcha "da Família com Deus e pela Liberdade". O nome bonito esconde a faceta hipócrita, pseudomoralista e letárgica de seus participantes. Os militares agradeceram, pois foi o apoio popular que precisavam para derrubar Jango e tomar o poder.
Poder-se-ia até poupar os mais pobres da culpa pelos fracassos do país, mas tal perdão não procede. É claro que a nação já passou pelas mais diversas humilhações e repressoões a qualquer tipo de movimentação popular, mais isso não é uma exclusividade nossa. O que torna a situação brasileira ímpar é que a classe baixa nunca se levantou contra a opressão e buscou tentar mudar o seu destino. É como se a tão celebrada alegria do povo brasileiro exterminasse a sua capacidade de lutar por direitos e justiça social. Volto a repetir: não somos ambiciosos.
Após todas essas linhas, seria provável acreditar que nosso país não tem solução, só restando o conformismo, certo? Errado. O Brasil tem um potencial inexplorado de proporções colossais. Nossa cultura é uma das mais ricas e sincréticas da Terra. Recursos naturais e humanos não faltam. Somos elogiados no exterior por algumas iniciativas interessantíssimas (por exemplo, os biocombustíveis, a postura conciliadora nas relações internacionais e pequenos e médios empreendimentos dos mais inovadores). A desigualdade começou a diminuir. A liberdade já é soberana em várias frentes. E patriotismo não falta, até mesmo para os que se consideram céticos. Em um mundo cosmopolita, ainda há espaço para a valorização do Brasil. Poderíamos ser maiores e melhores, mas são justamente as expectativas e as tentativas de fazer acontecer que poderão gerar a tão desejada Mudança.
Redação de hoje. Tirei 98. Foi até mais do que eu esperava, visto que não gostei muito do texto. Achei ele muito morno, chato. O tema era bom, mas eu paguei o preço de continuar fazendo as redações às 5 da manhã, logo após acordar. Estava muito cansado e nem fiz rascunho antes de passar a limpo. Tanto que provavelmente um dos décimos que 'perdi' foi em razão das rasuras.
No geral, meu dia foi muito bom. Estou lendo um livro escrito meses antes da eleição de 89, chamado "Collor: A Cocaína dos Pobres", de Gilberto Vasconcellos. Apesar de muito esquerdista em suas opiniões, o autor analisa muito bem o contexto do fim dos anos 1980, inclusive com a imensa influência da televisão e as grandes possibilidades de polarização ideológica em um eventual segundo turno (o que, aliás, foi justamente o que ocorreu). Olha, acredito que, se eu pudesse votar em tal pleito, provavelmente teria optado pelo liberal Afif Domingos no primeiro turno e pelo Fernando Collor no 2º. É óbvio que eu teria lá minhas suspeitas quanto ao discurso fabricado e midiático dele, mas seria um mal menor perante um Lula e um PT que ainda falavam em 'organização da sociedade civil' e desprovidos de experiência e capacidade para assumir a Presidência. Se a Era Collorida já foi uma catástrofe, as coisas não teriam sido melhores com petistas que ainda acreditavam em socialismo e estatização da economia.
Ah, terminei anteontem de ler "Incidente em Antares". Foi o sexto livro consecutivo de um autor brasileiro que eu li nas últimas semanas. É quase uma fase nacionalista para Kaio Felipe, não? Quase isso, já que ontem eu tentei ler "O Ateneu" e o achei muito maçante, assim como também não passei de 30 páginas lidas de "Policarpo Quaresma". Creio que ainda não é momento para me afundar de vez na literatura tupiniquim. Assim que terminar "Cocaína dos Pobres", lerei "O Beijo no Asfalto" (Nelson Rodrigues) e partirei para uma obra indicada para o PAS - "Brás, Bexiga e Barra Funda", de Antônio de Alcântara Machado. Ah, e achei na biblioteca do colégio um ensaio que quero ler há tempos: "Raízes do Brasil", do Sérgio Buarque de Holanda.
Mesmo assim, é provável que eu retorne em breve para o internacionalismo literário costumeiro. Há vários livros que comprei nos últimos meses e ainda não li, Tenho planos ambiciosos, passando por nomes como Anaïs Nin ("Henry & June"), Dostoiévski ("Recordações da Casa dos Mortos"), Tolstoi ("Anna Karênina"), Michael Cunningham ("Laços de Sangue") e até um que eu ando injustamente atrasando a leitura: "A Montanha Mágica", do Mann. Em meados de Fevereiro, eu estava a elogiar efusivamente o romance, até apontando-o como provável melhor livro que eu já havia lido; no entanto, parei na pág. 502 quando fui devolvê-lo para a amiga que havia me emprestado. Ganhei um de aniversário da minha mãe, mas praticamente nem toquei nele, rs.
Enfim, é quase indubitável que passarei dos 40 livros lidos até o fim do ano. E os estudos não serão prejudicados, até porque resolvi marcar agendamentos durante todas as próximas semanas para tirar dúvidas sobre "As Quatro Matérias", o quarteto Bio-Fis-Qui-Mat. Hoje mesmo resolvi uns trinta exercícios da UnB de Química.
Boa noite, este post já está longo demais.
24 setembro 2007
Smile, I use mouthwash!
No mais, as aulas de História foram ótimas, especialmente a que eu tive hoje à tarde sobre Roma. Estou cada vez mais desconfiado de que eu gosto mais de tal civilização do que dos gregos. Talvez porque a saga deles seja bem mais emocionante e repleta de grandes (e alguns odiosos) homens. Os gregos "perdiam" tempo demais filosofando, dramatizando sobre a vida. Roma já era mais boçal: batia, depois copiava a cultura alheia e já partia para outro quebra-pau. Típico de latinos nervosinhos, rs. Isso tudo em meio aos trancos e barrancos do Senado, que foi um exemplo para a Históría em matéria de corrupção, grandes oradores e assassinatos. Pena que, na versão brasileira de tal instituição, estes dois últimos itens não são tão comuns quanto o primeiro dos citados; talvez uma chacina seguida de uma renovação com senadores mais capacitados seria a solução para o atual cenário. Ou não.
II - Faltam só 127 páginas para que eu conclua "Incidente em Antares"; estou na 365. Se a reta final do romance manter a qualidade das páginas anteriores, creio que ele entrará facilmente no meu top 10 de livros prediletos. Fiquei até com vontade de ler outras obras de Érico Veríssimo, como O Tempo e o Vento" e "Clarissa".
III - Ah, gravei ontem um CD com três musas do que resta de boa música na década 00: Lily Allen (ska + doses cavalares de ironia = faixas que não saem do cérebro. Não sei coo demorei tantos meses para resolver gravar as melhores dela), Kate Nash (duas semanas ouvindo constantemente essa mocinha fizeram de mim um viciado nas canções adoráveis dela, que conseguem traduzir temas aparentemente banais em boas melodias, letras ácidas e vocais arrogantes à britânica) e Regina Spektor (precisei de apenas uma hora para decidir colocá-la no álbum. Bastou a mim ouvir umas dez faixas, gostar de todas elas e separar as 7 mais para pôr no CD).
IV - Estou impressionado com o desempenho dos times goianos na Série C. Dois já conseguiram vaga para a fase final (nela, 8 equipes disputarão 4 vagas para a 2ª Divisão) - Vila Nova e Crac -, e a outra está a uma vitória da vaga (Atlético). O que falta em bons políticos e música decente em Goiás sobra em futebol...
Enquanto isso, na Primeirona, o Palmeiras voltou ao G4. E passou por cima do Corinthians (que, de quebra, está na zona de rebaixamento) para tal feito! Meu lado futebolístico não poderia estar mais contente, hehe.
21 setembro 2007
Kaio is rubbish
Já fiz quase tudo de inútil que pretendia no post de ontem, mas o necessário está esperando para ser realizado.
- Ainda nem comecei o texto que precisava fazer (ok, já fiz o brainstorm, mas quem disse que isso basta?). Poxa, é muito cinismo até mesmo para mim. Tenho que terminá-lo até as 23h, se quiser dormir com a consciência tranquila!;
- Não estudei bulhufas. Será que eu preciso começar a fazer autoterrorismo psicológico para pegar na caneta e fazer algum mísero exercício?
- Em compensação, já baixei hoje dois álbuns do Blur (13 e Think Tank; fiquei com saudade de ouvi-los...) e um do Verve;
- Li 50 páginas de "Antares". Ainda faltam trinta para cumprir a cota diária que estabeleci (of course, ela não vale para os domingos).
- Ainda não assisti ao "filme bom", e nem mesmo este é uma prioridade para o garoto que vos escreve.
Enfim, tenho aproximadamente 200 minutos para tentar resolver o meu 21 de Setembro. Hoje é Dia da Árvore, não? Ah, procurem por algum ambientalista se quiserem alguma homenagem bonitinha. Kaio não está animado a ponto de ficar elogiando a Natureza.
Hum, acabei de me lembrar de algo interessante que ocorreu a mim pela manhã: resolvi escrever um livro.
Em meio à aula de Literatura, que não me interessava por ser sobre um livro que (olha a hipocrisia pragmática!) não cairá no meu vestibular ("O Leopardo é um Animal Delicado", de Marina Colasanti), criei as seis personagens. Utilizei inúmeros aspectos do Anfisismo e de e outras de minhas teorias perspectivistas na elaboração deles, como se estivesse escrevendo um romance filosófico.
Acho que é uma boa idéia já deixar registrado aqui no blog o nome e o aposto dos 6 caracteres, visto que eu posso 1. Mudar o nome de algum deles no futuro (aliás, já mudei o nome de quatro deles nas últimas horas); 2. Ficar famoso e me lembrar do dia em que surgiu a idéia do meu primeiro livro; ou 3. Abandonar a obra e rir da imbecilidade da mesma quando reler este post daqui a alguns meses ou anos.
A propósito, o nome provisório do romance será Megalomania Psíquica (a verborragia esconde uma idéia simples: todos os personagens são suficientemente pretensiosos para se acharem individuais, únicos, originais, atípicos). Eis os infames:
I - César, o egocêntrico. [Será o meu alterego, hehe. Não poderia renegar meus anseios por subjetividade!]
II - Júlia, a perfeccionista. [Paixão platônica de César, ou vice-versa. Também poderá ser uma amiga para papos sobre anarco-capitalismo e post-punk.]
III - Henrique, o boêmio. [Este aqui encarnará o esquerdista festivo, o "anti-Kaio", rs...]
IV - Leila, a hedonista. [Porra-louca, intensa. Uma 'melancolia que sabe dançar'.]
V - Mário, o sentimental. [O rapaz sensível que gosta de poesia, videogames nintendistas e cultura brasileira.]
VI - Giovana, a sereníssima. [Não se engane: o aposto é ambíguo, visto que ela é a mais paradoxal dos seis.]
Mais detalhes nos próximos posts. Agora eu tenho que escrever logo o artigo. Não faltam mais 200 minutos, mas sim uns 160! Help!
[Atualização às 23:24, feita para estragar o melodrama do post: consegui terminar o artigo sobre a política em Goiás há alguns minutos. Não tenho certeza se ele ficou realmente bom, mas, por via das dúvidas, revisá-lo-ei amanhã à noite. Boa noite.]
20 setembro 2007
Enterlude
17 setembro 2007
Jive talkin'
Estou completamente obcecado por Disco. Vários fatores, desde (bons) filmes e clipes na televisão até os livros, me levaram a ter um surto setentista nos últimos dias. Baixei dezenas de músicas dos tempos das calças boca-de-sino, e até gravei uma coletânea com as 22 canções mais destacadas da discoteca. Há algumas que já anunciam a transição para sonoridades típicas do anos 80, como "Celebration" do Kool & The Gang e "Pop Muzik" do M, mas, no geral, privilegiei as canções mais 'puras' da cena. Tanto que coloquei cinco faixas dos Bee Gees, cinco do Chic, duas do ABBA e as demais sendo interpretadas por diversos outros artistas da época. Só deixei Blondie de fora porque gravei um best of da banda em meados de Agosto.
A semana passada foi ótima, tendo sido provavelmente uma das melhores sequências de 7 dias dos meus últimos anos. Deu (quase) tudo certo, tanto no ócio quanto na escola. Só faltou o aval para viajar logo para o Poliedro. Já não aguento mais de ansiedade, quero ir logo para lá e passar um mês em uma experiência de vida tanto do ponto de vista acadêmico quanto do pragmático e do, digamos, existencial. Se eu conseguir morar tecnicamente sozinho em outro estado por 4 semanas, é sinal de que poderei aguentar tranquilamente os anos que pretendo passar em Brasília.
Hum, estou sem idéias para continuar este texto... mas, acredito que já disse o suficiente por hoje.
14 setembro 2007
"Tô cansado de me cansar!"
É até comum que alguém se canse de ser sexy, ingênuo ou inútil, mas o cansaço deste (autoproclamado) Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros é completamente vago de sentido. Chega até a ser metalingüístico: "Tô cansado de me cansar!" Ei, na verdade quem disse tal frase foram os Titãs, em uma música de vinte anos atrás! Ou seja, chegou-se ao ponto em que não são os radicais de classe média que estão inconformados com o país, mas sim o diâmetro oposto a eles: os conservadores, a famigerada 'classe média hipócrita'!
A própria organização da OAB já demonstra o caráter corporativista do Cansei. Já se passou a época em que os advogados tinham uma opinião política digna de respaldo. Que se diga o mesmo de médicos e industriais, representados respectivamente pelo CRM e a FIESP. Aliás, a única ideologia que é visível nos "cansados" é a do falso moralismo. A contribuição da maioria deles por um Brasil melhor foi mínima; até impostos alguns sonegam. Logo, que não venham eles falar em solidariedade e reformismo, até porque só mesmo a Revista Veja acredita que as "elites" fazem realmente o seu papel na construção de um país menos deplorável.
Mesmo assim, que não se cometa o equívoco de tachar o Movimento Cansei de direitista. Eles não defendem bandeiras liberais, internacionalistas e/ou libertárias; pelo contrário, vários de seus militantes são tucanos (portanto, centristas) ou até mesmo pró-Lula. Logo, as críticas que parte dos governistas e "vermelhos" fizeram ao movimento são tão inócuas quanto o próprio. Alguns apelaram até para o "conspiracionismo", alegando a existência de uma ameaça golpista. Tal argumento não passa de um tolo saudosismo em relação à Marcha da Família com Deus pela Liberdade (Março/64), que reuniu meio milhão de manifestantes. A própria matemática desmente tal analogia, visto que as passetas do Cansei nunca passaram da marca de 5 mil pessoas.
Considero infelizes determinadas perguntas dualistas, como as que pretendem resumir os "cansados" a uma prova de egoísmo elitista ou um ato legítimo. A última coisa da qual a análise política se necessita é de simplismo, de generalizações. O ser humano é essencialmente egocêntrico, assim como qualquer passeata pacífica (e até mesmo algumas mais violentas) é legítima. Logo, a pergunta mais sensata a se fazer seria: "Movimento Cansei: existe uma retórica séria por trás dele ou é apenas um chilique oportunista?" Após a leitura das últimas linhas, fica claro que a segunda opção é a mais condizente com a realidade. Enquanto isso, em Brasília, o Estado continua na ineficácia e burocracia excessiva costumeiras...
[Mais um 10 na redação! A corretora até disse que o texto ficou melhor que os da coletânea, rs. Ando em uma fase ótima, praticando bastante os três pilares do conhecimento (ler, escrever e conversar). Já terminei de ler a biografia do Paulo Francis que um amigo me emprestou, e agora lerei uma obra do próprio Franz: "O Afeto que se Encerra". Ah, e a 'fase sociável' continua, felizmente.]
12 setembro 2007
Eis o Anfisismo, 1 ano depois
O meu objetivo com tudo o que acredito e penso é conscientizar-me não só de minhas limitações, mas também dos potenciais inexplorados, as capacidades negligenciadas ou simplesmente desconhecidas. A vida é muita curta para perder qualquer segundo com atividades que não causem algum tipo de prazer e satisfação, independentemente destes serem intelectuais e/ou sensoriais, e mesmo que a custo de muito esforço. Não por acaso, durmo em média 6 horas por dia, às vezes até menos do que isso. Prefiro monologar no quintal a desperdiçar tempo sobre o travesseiro. Meu estilo de vida pode parecer completamente incompatível com minha ideologia libertária, mas tal pré-julgamento não procede. Como dou um valor gigantesco à minha liberdade de escolha, é na opção por ser sóbrio, auto-psicólogo e egocêntrico que me satisfaço. Não precisaria seguir estereótipos e negar a minha individualidade para conseguir ser feliz com a minha vida e meus princípios.
Acima de tudo, o Anfisismo é sincrético, ou seja, coexistem nele várias influências e tendências intelectuais, sendo as principais o Existencialismo, o Perspectivismo, o Liberalismo, o Idealismo e até o Anarco-Individualismo. É uma filosofia que mescla aspectos mais racionalistas e metódicos com outros que denotam maior exaltação à espontaneidade e ao experimentalismo.
Como qualquer corrente filosófica que se preze, há uma forte carga subjetiva nos princípios anfisistas. E, não poderia deixar de ser, ele é bem... a minha cara. Idiossincrático ao extremo, em certos momentos até egoísta e elitista. Até mesmo porque meu objetivo nunca foi fazer do Anfisismo popular e acessível, ao menos não no momento. Ainda não passei por uma “fase Bertrand Russell” (trocando em miúdos, não “resolvi” que o mundo deveria pensar como eu), e provavelmente só o faria se realmente tivesse condições para tal – ou seja, um mínimo de respaldo acadêmico.
De certa maneira, há um caráter otimista e anti-niilista em meu pensamento. Ainda conservo a expectativa de que o Século XXI poderá terminar muito bem, inclusive com economias mais abertas, problemas sociais mais amenos, sociedades mais libertárias, pessoas mais esclarecidas. É indubitavelmente uma utopia, inclusive indo de encontro com a tendência de muitos escritores e filósofos de serem trágicos e pessimistas quanto às projeções sobre o futuro (vide “
Eis o Anfisismo, uma epifania anti-epifânica. Ao invés da súbita revelação levar a uma submissão à dita realidade nua e crua, optar-se-ia por uma reinvenção da mesma.
11 setembro 2007
K.F.
Ainda na noite do post passado, consegui terminar de ler "A Paixão Segundo G.H.". Ok, o livro não é tão perfeito quanto eu imaginava. Clarice é meio prolixa, o que torna o romance meio entediante em certos momentos. Mesmo assim, a escrita intensa, intimista e emocionada da autora compensa tais defeitos, e garantiu ao livro figurar entre os melhores que eu já li.
Aliás, ainda houve, além de "Manual para Moças em Fúria" e "G.H.", outro livro ótimo que eu comecei e terminei na semana passada. Estou falando de "Geração Beat", peça teatral escrita por Jack Kerouac em 57 e recém-lançada tanto no mercado americano (2005) quanto no brasileiro (mês passado). Ganhei o pocket book do meu professor de Geopolítica, que, assim como eu, adora literatura 'beatnik'. "Geração Beat" consegue transformar um enredo banal e simples - o qual, aliás, envolve até apostas em corrida de cavalos - em uma história cativante e divertida, com personagens muito carismáticos, destacando-se Milo e Buck.
De acordo com as minhas contas, já concluí 30 leituras neste ano. E poderão ser 31 amanhã, caso eu termine "O Povo Brasileiro". Faltam só 50 páginas, e, como a parte na qual estou é um dos pontos altos da obra de Darcy Ribeiro (o capítulo "O Brasil Caipira"), creio que conseguir concluir tal empreitada. Falarei mais sobre o livro em uma futura resenha, mas já adianto que estou adorando-o. O autor pode ter algumas opiniões bem diferentes das minhas - para início de conversa, ele é ultra-nacionalista e esquerdista -, mas sua argumentação consistente e a brilhante análise histórica realizada minimizam as picuinhas ideológicas e mantêm a grandeza de "O Povo Brasileiro".
Falando um pouco sobre música, eis uma listagem rápida sobre o que eu ando ouvindo bastante nos últimos dias:
1 - Sonic Youth, 2 - Amy Winehouse, 3 - Kate Nash, 4 - Lily Allen, 5 - Interpol, 6 - White Stripes, 7 - Cabine C, 8 - Iggy Pop, 9 - The Who, 10 - Depeche Mode.
Sobre a minha vida, hã, acho que não há muito sobre o que dizer. Nada de excepcional nos últimos dias. Este é o lado ruim de ter uma existência relativamente tranquila e feliz: não há dramas para relatar e problemas para lamentar, rs. Mesmo assim, é claro que eu prefiro que as coisas sejam desse jeito. Ser um rapaz metódico, autoconfiante e que organiza sua rotina de uma maneira assaz sistemática (inclusive na hora de fazer divagações e comentários gaiatos na sala de aula, por mais espontâneos e constantes que sejam) vale a pena. Mesmo assim, lembremo-nos de que meus anos costumam começar em Agosto, e Setembro e Outubro são dois meses que geralmente são repletos de (ligeiras) mudanças e transformações em minha vida. Logo, devo estar consciente de meu karma e aproveitar esta calmaria temporária.
05 setembro 2007
Let your knickers down for a one night stand
Mudando de assunto, dei uma curta parada em “O Povo Brasileiro” (estou na pág. 212) para ler “A Paixão Segundo G.H.”, de Clarice Lispector. Provavelmente terminarei tal leitura até amanhã, visto que faltam menos de quarenta páginas. Aliás, estou adorando tal livro. O fluxo de consciência gerado pela epifania que a personagem teve é denso e amargo, e envolve totalmente quem lê o romance. Também pude constatar que esta é uma obra ideal para ser lida em voz alta, por mais estranho que pareça!
Descobri tal faixa em Abril de 2004 (se minha memória não falha, no dia 28 de tal mês). Já estava viciado em Beatles desde Setembro do ano anterior - aliás, semana que vem minha beatlemania comemorará quatro anos -, e já tinha até gravado coletâneas com minhas prediletas do quarteto do Liverpool. Mesmo assim, foi com “I Am The Walrus” que eu realmente acabei com a última dúvida que poderia haver sobre como os Beatles marcaram o meu gosto musical - e a minha vida - desde os meus 13 anos.
A primeira vez em que a ouvi foi através de um LP deles que eu tinha acabado do comprar naquele dia, o “1967-
Falar sobre a letra de “I Am The Walrus” poderia consumir horas, visto que ela é repleta de possíveis interpretações para cada verso. Contentar-me-ei em falar sobre algumas coisas essenciais: I – A referência a Edgar Allan Poe na última estrofe foi uma boa sacada de Lennon; II – A alusão à estória “A morsa e o carpinteiro”, de Lewis Carroll, parece se limitar ao título da faixa; III – O próprio John confessou que os 2 primeiros versos (“I am he as you are he as you are me / And we are all together”) foram frutos de uma viagem de ácido; IV – Poucas canções conseguem mesclar tão bem melancolia, egocentrismo, auto-indulgência, sarcasmo e, claro, psicodelia; V – Que dizer de freiras pornográficas, sufocantes fumantes, creme amarelado pingando no olho de um cão morto e pingüins ordinários cantando Hare Krishna? E tudo isso sentado em um floco de cereal, esperando a van chegar!
Também seria desnecessário comentar hipnótica melodia da canção. A produção de George Martin valorizou os vocais ‘lesados’ de Lennon, a bateria e (principalmente) os teclados, mas também a guitarra e o baixo auxiliaram na criação da atmosfera soturna evocada por “I Am The Walrus”.
A propósito, Oasis e Frank Zappa já fizeram covers da faixa, mas nenhum dos dois conseguiu fazer uma performance à altura da original.
02 setembro 2007
Kool Thing
... Resolvi fazer uma maratona com as minhas 40 prediletas do Sonic Youth. Já baixei todas, e, no momento em que escrevo esta frase, estou ouvindo a vigésima faixa, "Disappearer", do Goo (90). Sim, a maratona é em ordem cronológica, e não poderia deixar de ser, né? Se é para ser sistemático, que o faça também quanto à música!
... Antes dessa overdose de SY, injetei uma dose cavalar de Pixies. 20 gramas, digo, faixas. Fui mais ou menos democrático com cada álbum do quarteto, mas se leve em conta que democracia é um 'valor que não vale' para mim quando o assunto é música. O que é sensato, afinal é impossível que alguém não consiga separar, discriminar as suas canções e bandas prediletas. Ok, esta foi uma consideração muito óbvia. Vamos pular para outro assunto.
... Before listening to Pixies, eu estava no shopping Bouganville. Lá pelas 10 da manhã, fui a uma palestra sobre Aquecimento Global que seria feita por alguns professores (inclusive 2 que dão aula no meu colégio), que, aliás, estão lançando um jornal de distribuição gratuita voltado para os alunos de Ensino Médio. O nome? Gazeta Estudantil.
... Pois bem, a aula-debate foi muito boa, fazendo com que o atraso de uma hora fosse apenas um pequeno detalhe. Excetuando-se um dos seis convidados, que era um climatologista bem prolixo e entediante, todos os professores expuseram muito bem as suas considerações. Destacaram-se, na minha opinião, um de História , que fez um raciocínio interessantíssimo relacionando a mídia e seu papel quanto à exploração quase hollywoodiana do aquecimento global; e um de Literatura, que falou sobre arte e o certo descaso que a contemporaneidade/pós-modernidade tem em relação a temáticas ambientais, talvez pelo momento de reconstrução e crise existencial pelo qual ela está passando.
... Quando acabou a palestra, fui almoçar no Burger King com uma colega minha. Foi ótimo, pois conversamos bastante, até a hora em que ela foi embora - lá pelas 15h40 - , e minha mãe me buscou uns quinze minutos depois. Ando muito sociável nos últimos dias; na semana passada, houve pelo menos outras duas oportunidades em que bati um longo papo com alguém lá da escola. Logo, aquela conversa fiada minha de "Sou anti-social" era só uma farsa mesmo. Não que eu tenha deixado de ser uma pessoa profundamente individualista e apreciadora da solidão, mas pelo menos soube equilibrar as coisas e manter boas conversas sempre que possível.
... Ontem à tarde, no outro shopping (o Goiânia), aproveitei a liquidação e comprei três livros por menos de 7 reais. Já terminei um deles hoje: "Almanaque 02 Neurônio: Manual para Moças em Fúria". Adorei-o; haja sarcasmo, amargura (no bom e engraçado sentido), auto-crítica e crônicas deliciosamente divertidas em um só livro! Já tinha ouvido falar sobre o site 02 Neurônio há alguns anos, e também já tinha visto tal livro na prateleira da livraria, embora tenha sido meio indiferente em ambos os casos. Nada como uma queima de estoque para eu encontrar uma boa leitura, mesmo que ela não tenha a mim como público-alvo (a propósito, isso não quer dizer que sou um daqueles metrossexuais que lêem Nova para "aprender mais sobre o que pensam as garotas", mas apenas um rapaz curioso e interessado em bom humor, ainda mais se ele vier de um segmento quase diametralmente oposto a mim).
... A conclusão à qual cheguei sobre as fêmeas que por acaso se identifiquem e/ou sejam análogas às escritoras de "Moças em Fúria" é que elas são beeeem estranhas, mas nem por isso desinteressantes. Se algum dia eu for namorar, espero que a garota seja bem freak, do tipo que dança sozinha como se fosse uma epiléptica e sabe o que significam as palavras Joy Division, Pavement, Hayek e Kerouac... ei, espera, isso faria dela uma versão feminina de mim! Oras, já havia comentado nos posts de 22 e 31 de Julho que é justamente esta a minha pretensão, rs!