Um ensaio sobre as minorias
Les dialogues en français sont cruels!
27 janeiro 2007
Happiness. Again!
Pela manhã, escola. Só aulas boas, me interessei por todas. Destaque para as duas de Geografia, não só porque eu amo essa matéria, mas porque o professor é muito bom, explicou a matéria de um jeito que até os 'tapados das Exatas' entenderam.
À tarde, festival Decibélica. Rock alternativo ("Alternativo a quê?" - "Oras, alternativo às bandas de rock, digamos, 'normais'. As bandas alternativas, além de mesclarem vários estilos de rock, fazem um som não necessariamente comercial e radiofônico, se dedicam ao rock por amor à arte."), e de graça! Cheguei lá pelas 16h com um amigo meu (o Gino), mas, como é de praxe em Goiânia, atrasou, só começando às 17h30. Como diria um presidente da Working Designs (não me lembro do nome dele), "Atrasos são provisórios, mas a mediocridade é eterna!".
Hoje, no entanto, tive até alguns motivos para me orgulhar da minha cidade. Acho peculiar o jeito com o qual o rock é lidado aqui. Não há aquela arrogância e pretensão do público roqueiro do Sul e do Sudeste - pelo contrário, os goianos parecem colocar a diversão e o 'do it yourself' como prioridades. Claro que o 'Goianiense way of life' pesa, portanto as pessoas daqui são bem descontraídas, às vezes até meio caipiras, mas é esse jeito serelepe que os torna peculiares. O rock 'n' roll por aqui não é uma entidade de "rebeldes sem causa", mas sim um estilo musical que vai tendo aceitação cada vez maior entre o público (alguns dizem que isso pode ser negativo, eu mesmo achava isso, mas depois do dia de hoje, revi meus conceitos - se rock ainda fosse ultra-underground em Gyn, seria um tédio!), e o local não ficou lotado simplesmente porque os shows eram gratuitos, mas também porque havia pessoas realmente interessadas em ver as bandas e 'fazer uma social' com outros fãs de rock.
A diversidade tribal era enorme - punks, emos, indies, metaleiros, góticos, Old-school rockers... e eu, hehe. Passei a maior parte do tempo conversando com o Gino, enquanto esperava as bandas realmente boas entre as 7 presentes. Até fui no shopping comprar uma Coca-Cola 600 mL (afinal, no barzinho do local só havia bebidas alcóolicas, que muito provavelmente foi a renda do festival, a quantidade de jovens e adultos bebendo cerveja - ou alguma coisa mais forte - era quase uma unanimidade. Quase, pois existe o Kaio.), e aproveitei para comprar um livro, "O Coração das Trevas", do Joseph Conrad. Parece ser ótimo, Coppola se inspirou em parte nessa obra para fazer o filme "Apocalypse Now".
Ah, e os shows bons vieram, sim - Johnny Suxxx and the Fucking Boys (glam rock com toques de indie, dançante ao extremo), Os Rockefellers (um rock mais pesado e bate-estaca, bem animado) e, principalmente, Réu e Condenado (na minha opinião, uma das melhores e mais divertidas bandas brasileiras dos últimos anos, o disco de estréia deles é impecável. O show foi perfeito, só tocaram as melhores; fiquei rouco de tanto cantar - gritando - as músicas!).
Cheguei em casa há menos de uma hora, com a sensação de que esse foi um dos dias mais bacanas do ano, senão o mais. Nem foi preciso otimismo da minha parte, pois a própria realidade se mostrou agradável e empolgante.
26 janeiro 2007
Happiness
E eu consegui, pelo menos nessa primeira semana, fazê-lo. Pude cochilar, assistir às minhas séries favoritas, usar a internet, ler "A Montanha Mágica", ouvir música e estudar. Claro que, com o tempo, eu vou ter um pouco menos de lazer e mais 'trabalho', mas nunca vou dar prioridade total para um ou outro, porque eu não vou ser nem irresponsável nem workaholic nesse ano. Usando termos anfisistas e auto-referentes, vou conciliar o que havia de melhor nas minhas 7ª e 8ª séries e no 1º ano (o compromisso com os estudos) com uma ótima herança do 2º ano (a dedicação às artes e à cultura).
Óbvio que uma pessoa, tendo a sua vida arrumada, vai se sentir realizada e feliz. Esse é o meu caso.
Ah, este é o post # 300 do blog. "Parabéns" para ele.
Amanhã promete ser um dia bacana. Tentarei postar amanhã à noite para confirmar ou não as boas expectativas.
Por hoje é só. Nem vou fazer uma das minhas costumeiras auto-críticas porque estou com uma "alto-estima", hehehe.
24 janeiro 2007
"Eis o que tenho de suave"
Resultado - até ontem à noite, eu estava na página 164, ou seja, cerca de 1/6 de uma obra de colossais 986 páginas!
Hoje, dia do meu segundo dia de aula como aluno do terceiro ano, resolvi me dedicar pra valer ao livro. E deu certo. Na escola, li um pouco, e somado ao que eu li até minutos atrás, aproveitando que estava sozinho em casa, já encerrei o quarto capítulo, e estou na pág. 251.
Eu não tenho quase mais nenhuma dúvida de que este livro, quando eu concluí-lo, será o melhor que eu já li até hoje. Poucas obras conseguem trazer tanto conteúdo, significados e reflexões a cada página. Não li muito sobre o autor, mas Mann deve ter uma veia filosófica fenomenal, pois o romance aborda tantos temas dos mais diversos assuntos que chega a ser espantoso. Isso sem falar nos personagens, todos eles cativantes e profundos, como Settembrini, Joachim, Madame Chauchat e, claro, o protagonista Hans Castorp.
Não tenho certeza, mas provavelmente Renato Russo se inspirou em tal obra para intitular e escrever a canção "A Montanha Mágica", uma das mais lisérgicas e incríveis já compostas pela Legião Urbana, e que pertence ao melhor disco da banda, "V". Não vou me estender muito nessa correlação musical, mas foi uma influência pertinente para Renato, que ajudou a tornar esse álbum ainda melhor, com toda a sua melancolia, dor, pitadas de esperança, desespero e tonalidades épicas (a trinca que abre o CD - "Love Song", "Metal Contra As Nuvens" e "A Ordem dos Templários", é cercada de referências à Idade Média e, por tabela, utiliza-se da retórica adequada para falar da mesma, sempre remetendo à forte religiosidade, às cavalarias, à contemplação bucólica típica do feudalismo e à misantropia).
Deixando, no entanto, as prolixidades à parte (desculpem-me, estou bem empolgado hoje, hehe), "A Montanha Mágica" é um livro com passagens que, muito provavelmente, causarão identificação e satisfação a quem as lê, pelas reflexões que trazem. Trechos como o da palestra do dr. Krokowski sobre o amor, na qual ele discorre brilhantemente sobre o tema e traça até um paralelo interessante com a doença e a enfermidade, são dignos de destaque. O italiano Settembrini, então, é um poço de cultura, e seus discursos humanistas (às vezes até meio nacionalistas ou parnasianos) são vibrantes, por mais que tanto o leitor quanto Hans queiram achá-los exageradas e irrelevantes.
Hans Castorp, aliás, parece redescobrir a vida com a viagem para visitar o primo em um sanatório nos Alpes Suíços, e, de quebra, descansar um pouco. O que era para ser apenas um 'repouso' de 3 semanas se torna uma experiência inesquecível. Quem lê o livro sente que já no primeiro dia de estadia o protagonista dá mostras que uma grande reviravolta na sua vida está a se operar. O jovem se depara com questionamentos filosóficos, existenciais e abstratos que ele jamais imaginaria ter (destaque para um sobre o tempo).
Mesmo tendo lido apenas pouco mais de 25% do escrito, já o recomendo a todos os possíveis interessados. Ao lado de outras obras-primas da literatura mundial, do calibre de "1984" (George Orwell), "Crime e Castigo" (Dostoiévski), "A Divina Comédia" (Dante Alighieri) e "Dom Quixote" (Miguel de Cervantes) [detalhe, eu ainda não terminei de ler essas duas últimas, mas pelo que eu já li, somado à quase unânime opinião de todos que já os leram, me baseei para considerá-los obras-primas], o livro mais famoso de Thomas Mann causa admiração em qualquer um que se disponha a lê-lo.
21 janeiro 2007
Pseudocult até a medula
"Os Vagabundos Iluminados" é, das 4 obras de Kerouac que eu já li (as outras três são "On The Road", "Os Subterrâneos" e "Tristessa"), a mais tranqüila. O protagonista, Ray Smith, ao contrário de outros personagens kerouacianos (como Sal Paradise e Leo Percepied), troca a porra-louquice pelo estilo zen. Pessoa muito espiritual que é, faz inúmeras referências a ensinamentos budistas durante a obra, e cenas como a em que ele fica em uma montanha, solitário, 'ouvindo o silêncio', são um símbolo do Jack Kerouac do final dos anos 50, pouco antes do ceticismo e amargura da última década de sua vida. Como em todos os escritos do autor, há um certo tom melancólico nos personagens (mesmo em Japhy, o amigo oriental de Ray), algo bem comum na geração beat (um ótimo exemplo disso é em poemas como "Uivo", "O Automóvel Verde" e "Sanduíches de Realidade", todos de Allen Ginsberg), que, em meio a toda a loucura, não via o futuro como bons olhos, e o hedonismo, ao invés de dissimular essa realidade, só a expunha mais intensamente. Como eu já disse em um texto do mês passado, o post-punk é um reflexo disso.
O filme "Psicopata Americano" trabalha de maneira realista o tema ao qual se propõe, e o ator Christian Bale atuou muito bem como Patrick Bateman, demonstrando todas as idiossincrasias de um 'típico' psicopata (especialmente nos 20 minutos finais do filme, com o clímax da história, levando a um desfecho satisfatório). Yuppie que é, Bateman concilia o sucesso profissional com a patologia, e entre suas vítimas estão desde colegas de trabalho até prostitutas e mendigos. A sua frieza para matar concilia com seu jeito temperamental e sua lábia altamente persuasiva, tornando-o uma pessoa muito perigosa para todos que o cercam, ainda mais porque poucos têm o mínimo de consciência da psicopatia de Patrick.
"Réquiem Para Um Sonho" é, na minha opinião, o melhor filme sobre drogas já feito, depois de "Trainspotting". Ao contrário deste, no entanto, "Réquiem" preza menos pela ironia e o sarcasmo e mais pelo relato ultra-realista e chocante (mas não sensacionalista) sobre os efeitos de substâncias como as anfetaminas e a heroína em seus usuários. Uma coisa que eu achei bem legal foi a relação que se fez com as estações do ano - o Verão é a melhor época para os quatro protagonistas (todos representados por ótimos atores - Jared Letto, Jennifer Conelly, Ellen Burstyn e Marlon Wayans), que obtém prazer pelas drogas e estão todos bem. No Outono, as drogas já não funcionam tão bem como fuga da realidade, e eles começam a ter problemas. O Inverno é o fundo do poço, com todo o desespero e o horror ao qual eles inevitavelmente alcançariam pelas suas escolhas. Enfim, "Réquiem Para Um Sonho" é alucinante do início ao fim, altamente recomendável. Destaque também para o diretor Darren Aronofsky, que conduziu muito bem o filme.
19 janeiro 2007
Weirds like school
Já até separei a roupa que eu vou usar no primeiro dia de aula, hehe, além de começar a desenvolver mentalmente como será organizado o meu ano escolar, afinal, eu preciso de muito ócio criativo; o curso de Ciência Política que farei na faculdade vai ser muito útil pra (pseudo) intelectuais e (metidos a) filósofos como eu.
Vou estudar bastante, mas sem ser robótico. Quem sabe eu possa bancar o empírico e tentar aplicar as ciências exatas e biológicas na minha vida? Cansei de ser pragmático, não sou frio e calculista o bastante para simplesmente decorar a matéria e aplicá-la nas provas.
Uma coisa que poderia ser um 'ponto negativo' (passar o dia inteiro na escola) nem vai acabar o sendo, pois desde a oitava série eu já estou acostumado a passar praticamente o dia inteiro na escola (nos últimos dois anos, então, virou hábito).
A única coisa chata vai ser tolerar os 'bitolados' por estudar, ou porque estão estudando tudo que não estudaram nos anos anteriores ou porque simplesmente são CDFs. Óbvio que vou me afastar de pessoas que tiverem essa 'conduta', não tenho compaixão por essa raça. Escola é compartilhamento de conhecimento, e não auto-flagelação.
Estou ansioso pelo retorno de algumas das minhas aulas prediletas, como Geografia, História, Redação e Literatura, assim como as extracurriculares, como o Painel de Notícias, o Multitemas e o Café Fisiológico, digo, Filosófico.
Esse ano, de acordo com o meu 'ciclo de empenho nos estudos', iniciará uma nova trinca de "anos nos quais eu estudo bastante". O período 99-01 foi o primeiro desses ciclos, no auge da minha fase nerd / viciado em games. 2002 foi o ano de descanso, porque eu estava mais ocupado jogando Pokémon e Mario, e tive alguns sustos como um 6,5 em Geometria (devidamente melhorado para um 9,5 depois que eu fiz a prova de recuperação). 2003 a 2005 foi o segundo e mais importante até agora, era tanto 10 no meu boletim que minha auto-estima ia às alturas. O ano passado foi o segundo dos 'break times', me dediquei mais a música e literatura e tirei algumas notas baixas (minhas médias finais de Física, Biologia, Matemática e Química ficaram todas entre 83 e 87, bem abaixo do resto). E 2007 é o retorno do 'esforço'.
So, let's go for it. Mais um ano e eu já estarei na faculdade.
P.S.1: Minhas aulas voltam dia 23.
P.S.2.: Simple Plan tocou ontem no BBB7. Mais uma meleca dessas e eu vou retirar o que disse no post passado, elogiando a soundtrack do programa.
P.S.3: Postando do PC da casa de um amigo.
15 janeiro 2007
Big Brother is watching you...
13 janeiro 2007
Free as a bird (?)
A segunda e a terceira foram produto de um acontecimento inesperado.
Domingo, quando eu fui usar o PC à tarde, notei que ele estava fazendo barulhos mais estranhos que os que costuma fazer (os quais já não são lá muito normais). Percebi que o problema era com o cooler do computador. Pedi para o meu tio dar uma olhada, mas, quando ele, após arrumar, fez o PC revelar outro empecilho, dessa vez no vídeo. Não sei se foi culpa dele ou o se o problema já existia e iria aparecer a qualquer hora, mas, enfim, o estrago estava feito e meu padrasto mandou o PC para um técnico arrumar.
Este, por sua vez, descobriu que a raiz dos problemas não era vídeo nem cooler - a memória do computador estava queimada! Resultado - uma semana sem PC, ele só vai voltar segunda-feira.
Eu poderia ter usado o computador do meu padrasto nesses dias, era só pedir pra ele. Por que eu não pedi, então (ou então não fui em uma LAN House, ou coisa do tipo)?
Muito simples - resolvi tirar umas férias da máquina. Uma semana de liberdade era o que eu precisava.
Claro que eu tive que preencher bastante o meu tempo livre, afinal, eu passava 13 ou 14 horas diárias na internet nessas férias. Fiz algumas atividades banais, como assistir à TV (deu pra ver várias séries que eu adoro, como The O.C. - que, infelizmente, vai acabar após a 4ª temporada - , Friends, Seinfeld, That '70s Show e Dawson's Creek), jogar videogame (aproveitando-me do fato de que meu irmão ganhou um PS2 de Natal... se bem que eu continuo medíocre nos games, sou um fiasco no DBZ Budokai 3, nos Need for Speed, no CDZ e em qualquer outro jogo que não seja Pokémon, hehe), dar voltas no quintal e falar sozinho (deu pra 'discursar' sobre várias coisas, como bandas de rock imaginárias e seriados televisivos imaginários), comer muito chocolate, dormir (nossa, há tempos que eu não dormia 10 horas diárias! Imploro pela volta às aulas, quero manter a média de 6 horas!) e descobrir que eu tenho um pouco de miopia e é recomendado que eu use óculos (o que, obviamente, eu não vou fazer, já que acho minha visão muito boa; provavelmente só usarei os óculos daqui a 1 ano, quando for tirar carteira de motorista, e eles voltarão para o fundo da gaveta).
Há outras duas coisas que eu fiz que, pelo menos na minha concepção, são duas expressões simples e eficientes da liberdade - ler e filosofar.
Adotei a "filosofia de meia-noite": reflito sobre a vida e tudo que tange a ela por pelo menos 30 minutos antes de dormir. O silêncio e a escuridão foram dois fatores que facilitaram bastante isso. Se eu estivesse usando o PC, não teria tempo para isso, até porque, nesse horário, eu estaria batendo papo com alguém no MSN ou lendo algum blog ou site. Essa prática foi bem útil, já que me sinto mais tranqüilo e pronto para o ano letivo que terei em breve. Até senti vontade de estudar um pouco de Física e Biologia!
Quanto às leituras, já concluí duas - Pornopolítica (Jabor) e Uivo (Ginsberg). Adorei ambas as obras, mas acho que, por enquanto não vou comentar sobre elas, estou meio sem vontade de fazer minhas costumeiras 'resenhas'. Em breve, quem sabe. Já estou lendo o terceiro - Vagabundos Iluminados, do Jack Kerouac. Comprei esse livro há 8 meses, mas fui lendo ele de maneira, digamos, cadenciada. Ontem, no entanto, finalmente me empolguei com o livro. Deve ser aquela coisa de "a leitura certa na hora certa"... pelo menos com os outros 3 escritos dele que eu li foi assim.
Bem, após mais um post bem egocêntrico, acho que é hora de eu me despedir dos meus leitores (alguém?). Estou escrevendo justamente do PC do meu padrasto, aproveitando-me do fato de que ele me perguntou se eu não queria usar. Percebi que estou com menos saudades da máquina do que eu esperava, o que é excelente. Antes de escrever pro blog, aproveitei pra fazer algumas coisas, como checar relatórios de vendas de games (Wii x Xbox 360, a guerra já começou! A Sony ainda vai comer poeira por algum tempo pela excentricidade que é o PS3), orkut, e-mail e Last.FM.
Não prometo posts para os próximos 3 dias, mas quem sabe eu mude de idéia. Achei alguns textos meus enquanto arrumava meu armário, talvez eu passe algum a limpo aqui no blog. See ya.
06 janeiro 2007
Duas distopias, duas visões diferentes
Winston Smith, protagonista da 0bra-prima de Orwell, é o típico direitista: sexualmente ambíguo, contra-revolucionário, entediado e odeia profundamente o Estado, apesar de trabalhar para ele.
Já Bernard Marx, um dos personagens principais do livro de Aldous Huxley, representa um 'padrão' de esquerdista: rebelde, perseguido político, paranóico, se sente deslocado e tem medo do 'diferente' (no caso, o selvagem), apesar do discurso "Eu quero mudar o mundo".
A organização política apresentada em ambos os livros também aponta dois caminhos que a humanidade poderia alcançar caso as previsões mais pessimistas dos anos 30 e 40 se confirmassem.
O aparelho estatal do "Admirável Mundo Novo" parece mais com um capitalismo tecnocrático e que usa a ciência e a tecnologia como mecanismos de dominação, por meios até questionáveis (eugenia e desigualdade social e étnica), mas nem por isso menos eficientes. Também se utiliza a idéia da 'liberdade aparente' - sexo e drogas são liberados e até estimulados, pois diminuem o questionamento político e a mobilização.
Já o Estado de "1984" é descaradamente autoritário (mas é tudo "em nome da Revolução"), manipula o passado (tipo o que o Stálin fez na URSS), cria uma igualdade social que nivela por baixo (inclusive com aquele conceito de ração) e utiliza o terror como forma de despolitizar as massas. "Você será vigiado 24 horas por dia; uma pisada na bola e você não viverá para dar uma segunda". Seria o socialismo se ele tivesse 'vencido' a Guerra Fria.
Claro que os dois futuros criados nessas obras, em parte, se concretizaram. Os meios de comunicação se voltaram contra nós, restringindo nossa liberdade. Os Estados se burocratizaram, e a democracia não é mais do que uma fachada para a inércia política, não passando de uma mentira agradável que nos conforta.
As drogas também são uma alienação voluntária, apesar de aparentemente muitas delas serem ilegais, mas, ei, o cigarro e o álcool também são drogas, e apesar dos efeitos danosos que causam à saúde mental e física, são consumidos vorazmente pela grande maioria das pessoas.
A liberdade sexual foi uma grande conquista, embora, em contrapartida, a situação tenha saído do controle e o que vemos são várias DSTs se espalhando e jovens e adultos niilistas e sem expectativas de um futuro melhor se entregando totalmente à luxúria. Morrissey já falava disso em "Pretty Girls Make Graves" ("Give in to lust, give up to lust, oh Heaven knows we'll soon be dust").
Aliás, vou me resumir a isso, se eu fosse apresentar todos os problemas que a humanidade 'adquiriu' nas últimas 6 décadas, faria um ensaio gigantesco.
Óbvio que nem tudo é motivo para pessimismo. O individualismo nunca esteve tão em alta (cada vez mais o ser humano tem a capacidade de moldar a sua vida sem ser atrapalhado por 'forças externas'); o acesso às artes aumentou consideravelmente (música e literatura deixaram de ser uma coisa elitista e se popularizaram); a conscientização de boa parte das pessoas vai, paulatinamente, combatendo os problemas sociais do mundo (ONGs, protestos pacíficos, 'private charity' e pequenas atitudes, mas que fazem a diferença); acabaram as dicotomias e maniqueísmos ideológicos (felizmente se deu um espaço para o relativismo, fomos para além do Bem e do Mal); somos politicamente menos conformistas (no Brasil, a passos menos largos, mas já com algum progresso em relação a épocas passadas)... são coisas aparentemente tolas, mas importantes. Eu não pensaria duas vezes e preferiria o mundo de 2007 do que o de, por exemplo, 1957.
Devo fazer agora uma conclusão? Talvez. O tema que eu abordei nesse texto é assaz clichê, mas eu creio que é relevante. Agora seria uma hora perfeita para eu fazer uma comparação musical ou com videogames, mas, sei lá, seria muito óbvio usar chavões como "já passamos pelos tempos da Joy Division, agora devemos encarar a New Order" ou "o mundo espera por uma Fantasia Final, e serão indivíduos que o mudarão". Ah, eu também poderia ser anfisista e dizer "Não são idéias ou pessoas que poderão melhorar as coisas, mas sim idéias e pessoas para executá-las".
Quer saber? Tirem vocês as suas próprias conclusões. Eu fiz a minha exposição argumentativa, prolixa como sempre, mas espero ter conseguido fugir do niilismo e do trágico. "There IS other way".
05 janeiro 2007
Boring stuff
- Uivo (Allen Ginsberg)
- Nove Noites (Bernardo Carvalho)
- Pornopolítica (Arnaldo Jabor)
Coisa mais ociosa que ando fazendo:
- Teclar no bate-papo do UOL. Achar garotas legais por lá é difícil, mas não impossível. E eu trabalho essa possibilidade, hehe.
Segunda coisa mais ociosa que ando fazendo:
- Lendo sites de videogames diariamente atrás de novos relatórios de vendas dos consoles da nova geração, especialmente dois especializados nisso - o Nexgenwars e o Videogame Charts. Eu sempre fui mais parcial à Nintendo, portanto, GO, WII, GO!
03 janeiro 2007
I hope, I think, I know
Wake up. 14h30. Sala de cinema. O filme "Cassino Royale" vai começar em alguns instantes. Será que é realmente bom? A sessão está bem vazia, não há mais de 15 pessoas por aqui. Oba, posso sentar na fila central e ocupar três cadeiras, uma pros meus pés, outra pra minha bolsa/mochila e pra pipoca e outra para mim e a Coca-Cola (em copo de 1L! Uau, adorei essa 'novidade').
Wake up. 17h10. Acabou o filme. Eu adorei. Inteligente, vibrante, divertido. Tudo que se poderia esperar de uma película da franquia 007, mas que já não se via há um bom tempo. "Cassino Royale" é o melhor desde o genial "Goldeneye 007". Daniel Craig, o novo Bond, se encaixou perfeitamente com o papel, livrando o filme daquele excesso de, digamos, 'cafonice' que havia no papel nos tempos de Pierce Brosnan. Vários motivos me levaram a considerar o filme muito bom - o bom enredo do livro no qual foi baseado (o homônimo de Ian Fleming), as boas atuações, as ótimas cenas de ação, os diálogos sensacionais (é até difícil escolher o melhor, mas voto no entre Bond e Vesper no avião) e também porque quem assiste a um filme d0 007 não espera enredos verossímeis (e se espera, é no mínimo um idiota).
Wake up. 17h30. Comprei um CD do Oasis, "Be Here Now". É o melhor disco do conjunto, sem dúvidas. O mais egocêntrico, longo, psicodélico e pretensioso dos álbuns da banda, recheado de ótimas canções como "D'You Know What I Mean", "Stand By Me", "Fade In-Out", "All Around The World" e "It's Gettin' Better (Man!!)".
Também comprei o livro "Uivo", do Allen Ginsberg, um dos mais importantes dos beatniks. Só de ler as primeiras páginas já notei que é uma obra fantástica, com todos aqueles pensamentos torrenciais, espontaneidade e frases longas e contagiantes que são típicas dessa cena literária.
Música e literatura são duas das minhas maiores paixões; ah, nada como comprar um CD e um livro dos quais eu tenho plena consciência de que eu vou adorar. E escrever a respeito deles, hehe.
Wake up. 18h30. Vou até o quintal e vejo a chuva torrencial (adoro repetir um adjetivo usando-o para outro substantivo, hehe). De alguma maneira, sinto-me livre. Depois vou até o banheiro e olho-me no espelho e começo a falar com meu reflexo. Sim, eu me adoro. Me adoro tanto que preciso tentar ser um pouco triste para continuar me amando. Fazer posts como o passado são sempre necessários. Preciso dar toques de existencialismo na minha vida para me reencontrar.
Quando se está feliz, tenta-se usufruir de alguns momentos da tristeza para voltar à felicidade, só que com ela mais aguçada ainda. Lênin, ao se referir à NEP, disse que daria um passo para trás para dar dois para a frente (acabou nem dando esses passos, pois, depois de sua morte, Stálin quebrou as pernas da URSS). Eu fiz mais ou menos a mesma coisa nos últimos 3 dias. Abalei minha auto-estima para fortalecê-la.
Claro que eu continuo o mesmo - não me acho nem um pouco atraente para as fêmeas (não duvido que elas me acham meio afeminado e estranho, e com toda a razão, hehe), mas paciência. Enquanto ninguém me ama, eu me encarrego de fazer isso. E eu sei me amar como nenhuma garota até hoje o soube. E torço para que, qualquer dia desses, alguma o saiba.
Wake up. 19h30. Estou escrevendo o post que iniciei há pouco mais de meia hora. E continuo com essa alma libertária que readquiri em 3 de Janeiro de 2007. Agora quero saber o que fazer com essa liberdade que está em minhas mãos. Já fiz a primeira coisa que poderia fazer para aproveitá-la: escrever.
Claro que isso é apenas o início. Ainda há todo um caminho que eu poderei trilhar com essa liberdade reconquistada, e vou ir pensando nos próximos dias sobre como fazê-lo. Matéria e alma se uniram nesse processo. Eu precisei assistir a um bom filme, (começar a) ler um bom livro, ouvir boa música, tomar um bom milk shake (ah, não tinha falado antes, mas o chocolate também foi útil, hehe) e olhar para uma boa chuva para voltar a me encontrar. I feel fine.
01 janeiro 2007
The only mistake
Minha discotecagem foi um sucesso, obviamente. A print screen fala por mim (ah, ignorem a falta de espaço entre alright e don't stop, tropeço que eu corriji no nick quando notei pela foto).
Eu dancei sem parar por uma hora inteira. Tive até que abaixar o som após ordem da minha mãe, de tão barulhento que estava. Fiquei suado e completamente moído após a discotheque, mas ainda sem sono.
Depois fiquei usando o PC por mais três horas, mas comecei a ter alguns devaneios como os citados no primeiro parágrafo.
Ah, estou meio que com trava pra exprimir em palavras. Vou tentar ao decorrer desse post.
É ruim quando você chega ao ponto de não ter conversas produtivas com nenhum dos seus contatos do MSN, e não é por culpa deles, mas por sua mesmo - você se entedia com tudo. Se algum (a) amigo (a) meu me dissesse algo teoricamente chocante nos últimos dias, minha provável reação seria um "Ah" ou um "Ok", ou mesmo um "Ah, ok". A vida de todos eles é bem mais complexa com a minha, e isso me deixa desinteressado por eles.
Ter uma vida pouco intensa tem a vantagem de poder se aproveitar todas as 'nuances e texturas'. Só que isso se converte em desvantagem quando eu noto que estar lúcido a cada instante me faz ter uma sensação de isolamento, porque ninguém mais está fazendo isso. Todo mundo que eu conheço está passando o Reveillon com seus amigos, ou com seus familiares. E eu estou no meu quarto.
Não que eu esteja magoado com esse contexto, mas sim apenas menos satisfeito do que poderia estar. A sensação de 'eu sou diferente, e as pessoas não gostam quando eu digo isso porque não gostam dos diferentes' é inevitável. Não estou querendo posar de rebeldinho, até porque eu não sou um nem um pouco, mas é fato: é muito raro achar outro (s) Kaio (s) por aí. Tanto que eu nunca encontrei até hoje uma garota que fosse compatível comigo. E provavelmente ainda vai demorar muito pra encontrar uma, porque a palavra 'reciprocidade' não existe na minha vida. Eu posso amar com todas as minhas forças alguém (já fiz isso 3 vezes), mas isso nunca vai sensibilizar ninguém. No máximo, a pessoa vai achar que é apenas uma forma nova de eu expressar um ideal de amor que não dá certo com a realidade.
É, talvez seja esse o meu problema-mór. Eu sou idealista demais. Eu sou estúpido o suficiente para achar que existem garotas realmente cool. Não perfeitas, até porque eu não estou falando em perfeição, mas sim 'reciprocidade'.
Algo do tipo:
- Oh, I think that you are very cool. I really like you.
- I like you too! You're awesome!
Póim. Se toca, Kaio. Faça um bullying consigo mesmo (até porque você nunca foi vítima de bullying, infelizmente, pois se você sofresse preconceito ou fosse humilhado por alguém você talvez fosse um pouco menos sonso) e encare o mundo - quem se interessaria por você? A maioria das meninas prefere cafajestes vulgares. Algumas gostam daqueles que gostam de magoá-las e traí-las. Existem até as pseudo-Cinderelas, que caem de amores pelos bad boys. E as 'descoladas', que curtem os indiezinhos (ou mesmo eminhos) estilosos. Ou mesmo as porra-loucas, que gostam dos caras hedonistas. Não poderíamos nos esquecer das que preferem garotos mais velhos. Ah, já falei de uma grande parcela delas que só leva em conta aparência e $?
E as que gostam de um sujeito (segundo o profile dele) "Assumidamente pseudointelectual, prolixo, arrogante, chato e metido a cult, denso e vanguardista" e "um pouco cínico, paranóico, esquisito e irritante, mas com quem goste de conversar, é até sociável"? Alguém?
Não.
A "girl of your dreams" é a definição perfeita. Só existe nos seus sonhos, ela jamais existirá no mundo real.
Eu tenho algumas opções daqui pra frente:
1. Ser normal e namorar com uma qualquer, com a qual eu teria um relacionamento curto e inexpressivo.
2. Ser normal e começar a sair mais, e beijar e ficar com alguma descartável em alguma balada.
3. Ser normal e usar drogas para ter prazer pela dor, e fugir da realidade.
4. Ser normal e começar a tomar bebidas alcoólicas, visando a ser uma pessoa sociável que encontre nos amigos a 'verdadeira felicidade', e também pra ser um "cara legal".
5. Ser Kaio e continuar insistindo no seu idealismo bobo.
What's your choice?
Escolho, sem dúvidas, a quinta opção. Quero perder essa batalha de cabeça erguida. Vou chegar aos 90 anos sozinho e dizer "Você não abandonou seus ideais pra se adequar à pretensa 'sociedade', e isso é motivo de orgulho. Você não lutou a luta dos outros, mas sim a sua".
Parafraseando e mudando uma palavrinha da letra de "Married with children", do Oasis - "And it will be nice to be alone for a LIFE or two..."