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Kaio

 

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06 janeiro 2007

Duas distopias, duas visões diferentes

"1984" e "Admirável Mundo Novo" são dois livros tão fascinantes que apresentam dois pontos de vista que partem da mesma premissa (um futuro sombrio e desumanizado), mas com direcionamentos diferentes.

Winston Smith, protagonista da 0bra-prima de Orwell, é o típico direitista: sexualmente ambíguo, contra-revolucionário, entediado e odeia profundamente o Estado, apesar de trabalhar para ele.
Já Bernard Marx, um dos personagens principais do livro de Aldous Huxley, representa um 'padrão' de esquerdista: rebelde, perseguido político, paranóico, se sente deslocado e tem medo do 'diferente' (no caso, o selvagem), apesar do discurso "Eu quero mudar o mundo".

A organização política apresentada em ambos os livros também aponta dois caminhos que a humanidade poderia alcançar caso as previsões mais pessimistas dos anos 30 e 40 se confirmassem.
O aparelho estatal do "Admirável Mundo Novo" parece mais com um capitalismo tecnocrático e que usa a ciência e a tecnologia como mecanismos de dominação, por meios até questionáveis (eugenia e desigualdade social e étnica), mas nem por isso menos eficientes. Também se utiliza a idéia da 'liberdade aparente' - sexo e drogas são liberados e até estimulados, pois diminuem o questionamento político e a mobilização.
Já o Estado de "1984" é descaradamente autoritário (mas é tudo "em nome da Revolução"), manipula o passado (tipo o que o Stálin fez na URSS), cria uma igualdade social que nivela por baixo (inclusive com aquele conceito de ração) e utiliza o terror como forma de despolitizar as massas. "Você será vigiado 24 horas por dia; uma pisada na bola e você não viverá para dar uma segunda". Seria o socialismo se ele tivesse 'vencido' a Guerra Fria.

Claro que os dois futuros criados nessas obras, em parte, se concretizaram. Os meios de comunicação se voltaram contra nós, restringindo nossa liberdade. Os Estados se burocratizaram, e a democracia não é mais do que uma fachada para a inércia política, não passando de uma mentira agradável que nos conforta.
As drogas também são uma alienação voluntária, apesar de aparentemente muitas delas serem ilegais, mas, ei, o cigarro e o álcool também são drogas, e apesar dos efeitos danosos que causam à saúde mental e física, são consumidos vorazmente pela grande maioria das pessoas.
A liberdade sexual foi uma grande conquista, embora, em contrapartida, a situação tenha saído do controle e o que vemos são várias DSTs se espalhando e jovens e adultos niilistas e sem expectativas de um futuro melhor se entregando totalmente à luxúria. Morrissey já falava disso em "Pretty Girls Make Graves" ("Give in to lust, give up to lust, oh Heaven knows we'll soon be dust").
Aliás, vou me resumir a isso, se eu fosse apresentar todos os problemas que a humanidade 'adquiriu' nas últimas 6 décadas, faria um ensaio gigantesco.

Óbvio que nem tudo é motivo para pessimismo. O individualismo nunca esteve tão em alta (cada vez mais o ser humano tem a capacidade de moldar a sua vida sem ser atrapalhado por 'forças externas'); o acesso às artes aumentou consideravelmente (música e literatura deixaram de ser uma coisa elitista e se popularizaram); a conscientização de boa parte das pessoas vai, paulatinamente, combatendo os problemas sociais do mundo (ONGs, protestos pacíficos, 'private charity' e pequenas atitudes, mas que fazem a diferença); acabaram as dicotomias e maniqueísmos ideológicos (felizmente se deu um espaço para o relativismo, fomos para além do Bem e do Mal); somos politicamente menos conformistas (no Brasil, a passos menos largos, mas já com algum progresso em relação a épocas passadas)... são coisas aparentemente tolas, mas importantes. Eu não pensaria duas vezes e preferiria o mundo de 2007 do que o de, por exemplo, 1957.

Devo fazer agora uma conclusão? Talvez. O tema que eu abordei nesse texto é assaz clichê, mas eu creio que é relevante. Agora seria uma hora perfeita para eu fazer uma comparação musical ou com videogames, mas, sei lá, seria muito óbvio usar chavões como "já passamos pelos tempos da Joy Division, agora devemos encarar a New Order" ou "o mundo espera por uma Fantasia Final, e serão indivíduos que o mudarão". Ah, eu também poderia ser anfisista e dizer "Não são idéias ou pessoas que poderão melhorar as coisas, mas sim idéias e pessoas para executá-las".
Quer saber? Tirem vocês as suas próprias conclusões. Eu fiz a minha exposição argumentativa, prolixa como sempre, mas espero ter conseguido fugir do niilismo e do trágico. "There IS other way".

 

Comentários:

 

 

Voce ja assistiu ao filme "1984" do Michael Radford?


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