2010 is over. Let's remember how was the year!
- As melhores férias de verão de Kaio Felipe: quando decidi passar Janeiro e Fevereiro deste ano em Brasília, parecia ser uma decisão arriscada. Ledo engano; raras vezes me diverti tanto! Eu tinha uma rotina perfeita: aula de Crítica Literária às 8 da manhã, ler um bom livro, almoçar, cochilar, Francês à tarde e, dependendo do dia da semana, corujão internético, colóquio ou festa. Em vários "sabadomingos", eu também ia para o Park Shopping e o Casa Park, para passear pela Cultura, ver um filme e depois ir à Drops; nas vezes em que fui sozinho, quando acabava a festa eu ia lanchar no Extra para depois pegar o metrô.
Para melhorar, a greve da UnB, apesar de seus prejuízos acadêmicos, ampliou para quatro meses o meu período de recesso. Era tanto tempo livre que, no início de Maio, quando voltaram as aulas, eu fiquei aliviado, haha.
Fui em cerca de 20 festas; não houve uma semana sequer em que eu não tenha saído! O repertório de boates foi diversificado: Drops, Landscape, Galleria, Play, Velvet, Blue Space... (às vezes, também ia com o pessoal para o Balaio Café)
Dancei tanto que devo ter emagrecido alguns quilos - ou, pelo menos, estabilizado minha massa corpórea (atualmente estou com 73 kg). Relembrei clássicos e conheci músicas novas no 'dancefloor', diverti-me dançando com meus amigos(as) ou com garotas aleatórias e engraçadas (que ficavam tentando imitar meu estilo de dançar, rs)...
- DJ Walrus: neste ano, até discotequei em 4 ocasiões! A primeira foi no aniversário do Giuliano (27/3); depois, no Velvet Pub (13/5); CAHIS (22/7) e, por último, numa festa dos CAs do Corredor da Morte (12/11). Quem sabe se, no futuro, não posso arranjar um "bico" de DJ para ganhar um dinheiro extra para além da bolsa do DEX?
- Amadurecimento acadêmico, parte 1 - PET: entrei no Programação de Educação Tutorial em Julho do ano passado. Os primeiros meses foram bem legais, inclusive nos momentos de lazer - ainda tenho guardada em minha memória as vezes em fiquei jogando Magic com os meninos. Porém, em 2010 não foi bem assim; no início até foi muito bom, pois as reuniões acadêmicas sempre tinham debates instigantes.
A partir do fim de Abril, entretanto, minhas relações com eles começaram a se desgastar. Eu não tinha paciência para lidar com tanta burocracia (vide reuniões administrativas), mas o principal problema que encontrei foi a desmotivação e desinteresse pela extensão que o grupo realizava (o projeto E Eu Com Isso?). Os acampamentos em que fui tiveram seus bons momentos, mas o planejamento era cansativo e a vibe era muito "consciência social" para o meu gosto. Nada contra (aliás, quanto ao que se propõe a fazer, o EECI é um sucesso), mas tenho outras prioridades acadêmicas.
Quando percebi que, a partir de certo momento, eu só estava no PET por causa da bolsa, resolvi ser sincero quanto a isso para os demais, afinal não existe nada pior do que continuar em algo que não te motiva mais. No início de Setembro, eu já estava fora do Programa. Desde então, sou bolsista de umas iniciativas acadêmicas de que mais gostei em 2010...
- Amadurecimento acadêmico, parte 2 - Estudos Humanistas: já contei tantas vezes essa história, mas não me canso de repetir: "Começou com colóquios semanais, em Janeiro ;depois criamos um grupo de estudos em Março; tornamo-nos projeto de extensão e fomos aprovados pelo PIBEX; ao longo do ano, também promovemos ciclos temáticos, palestras, eventos culturais, e extensão em escola pública; atualmente, temos seis membros e um professor orientador".
Além disso, os propósitos do EH continuam os mesmos: cultivar a formação humanística de seus membros, fomentar o autodidatismo, difundir uma cultura de excelência acadêmica na comunidade/sociedade.
Não exagero quando afirmo que foi o melhor projeto do qual já participei em minha vida. Seu impacto positivo em minha vida foi tanto teórico (entrei em contato com várias reflexões políticas, literárias e filosóficas dos mais diversos autores e épocas, o que me trouxe enriquecimento e aprofundamento intelectuais) quanto prático (adquiri o hábito de fichar tudo o que leio, melhorei minha capacidade pedagógica de expor conteúdos). Além disso, fiz amigos (vide "Novas amizades") mais do que valiosos!
Nossos planos para 2011 são bem ambiciosos. Estudaremos, pelo GEH, autores clássicos como Homero, Goethe e Cervantes, faremos colóquios sobre temas que vão desde as Escolas Helênicas até a Ficção Científica do Séc. XIX, promoveremos 6 palestras/eventos ao longo do ano etc. Confesso que estou bastante entusiasmado com que os Estudos Humanistas desempenherão nos próximos meses!
- As viagens acadêmicas:
ECONPET (4 a 7/6): em Junho fui para Belém para participar do oitavo Encontro Regional de grupos PET. Ô, cidade quente e úmida! Juro que derreteria se a universidade em que foi realizado o evento não tivesse ar condicionado, rs. As festas foram legais, muito embora com muito techno-brega e pouca música de que gosto; de qualquer maneira, o pessoal ficou fã do meu jeito de dançar, haha. A parte mais séria também foi proveitosa, com as articulações políticas (fiquei do lado dos professores e contra os alunos radicais, as always) e os grupos de trabalho (participei daquele sobre as relações do PET com a Graduação).
ABCP (4 a 7/8): Recife foi o destino da vez. Ao invés do clima, o "destaque" da cidade foi a própria população recifense - nunca vi povo tão estourado e briguento! Segundo meus colegas, certa noite na lanchonete eles presenciaram três brigas no intervalo de alguns minutos: em uma, o sujeito bateu na esposa do outro; em outra, o motivo da discussão foi o estacionamento; e ainda teve uma em que o 'elemento' jogou o cardápio na cara da atendente!
Tirando isso, adorei a estadia. Acompanhei ótimas palestras sobre Teoria Política e outros temas. Diverti-me muito com o pessoal, inclusive na noite de abertura, com os coquetéis. Para fechar, a boate em que fomos no último dia era muito boa.
ANPOCS (26 a 30/10): Caxambú, pelo terceiro ano consecutivo! Desta vez, no entanto, aproveitei muito mais as mesas-redondas e seminários. Acordei cedo em todos os dias, e meu bloquinho de anotações ficou com 19 páginas. O ST de Teoria Política foi especialmente útil para a minha pesquisa, especialmente no dia em que discutiram a questão da Liberdade. Um momento divertido foi quando uma professora carioca, em uma MR na qual falava de Gilberto Freyre, deu várias cutucadas no reducionismo marxista da "Escola de Sociologia" da USP, explicitando a rivalidade RJ x SP nas ciências sociais tupiniquins.
Antes que perguntem: sim, também aproveitei as festas! Saí em todas as noites, e dancei muito, embora eles toquem as mesmas músicas em todos os anos. Ano que vem vou me lembrar de anotar essa setlist e gravar uma coletânea "Hits eternos da ANPOCS", haha.
- Política estudantil: a já mencionada greve foi responsável por um gigantesco atraso no calendário acadêmico; não por acaso, minhas aulas deste semestre só acabam dia 8 de Fevereiro. Lembro-me que, em várias assembléias estudantis, eu era o único (ou, pelo menos, um dos raros) que se posicionou contra a continuidade da greve estudantil - não só porque ela é vazia de sentido ("greve do pijama") mas também porque, a partir de 11 de Maio, a permanência dela depois de já encerrada a greve "de verdade" (a dos professores) era insensata. Felizmente, no dia 18/5, em uma reviravolta, a assembléia finalmente aprovou o fim da paralisação discente. Sinto-me contente por ter participado dessa mobilização, já que eu e outros 2 amigos pregamos vários cartazes na UnB inteira pedindo para que os estudantes fossem à assembléia votar pelo seu "direito de estudar", ao contrário do que queriam os militantes disfarçados de universitários. Dois dias depois, outra vitória: o CEPE aprovou o calendário acadêmico, e as aulas voltam para valer. Novamente a esquerda se irritou, e inclusive espalhou a farsa do "calendário retroativo", esquecendo-se de propósito que foi aprovado o abono de faltas ocorridas entre 11 e 19/5 e várias medidas de assistência estudantil.
Continuo a fazer parte da Aliança pela Liberdade. Crescemos bastante em 2010, mas tivemos nossos altos e baixos. Nosso ápice foi em Maio, quando quase decidimos concorrer ao DCE. Porém, perdemos fôlego nos meses seguintes, mas nos recuperamos a tempo das eleições de Agosto. Nossa modesta campanha (que, no entanto, foi bem forte na internet) conseguiu um resultado surpreendente: quase 20% dos votos para a Representação Discente, o que nos garantiu 5 vagas nos conselhos universitários. Eu, por exemplo, sou titular no CEPE.
Falando sobre "pautas do movimento estudantil", confesso que, além da minha eterna "bête noire" (a esquerda festiva, cheia de pompa revolucionária e protestos sem civilização mas, acima de tudo, cultivando um estilo de vida de playboys) um dos meus principais incômodos em 2010 foi com a militância LGBT. Foi um caso lamentável de como distorcer uma boa causa com métodos questionáveis e um fanatismo digno de neopentecostais. O fato de terem pichado os murais do ICC foi o exemplo mais claro dos excessos dos movimentos sociais coloridos.
"These are gay times", em que uma minoria discrimina qualquer um que não colabore ou coopere com seus caprichos. Não chega a ser a "heterofobia" (termo muito em voga na época do BBB 10, que aliás foi um exemplo lamentável de como machistas e LGBTs militantes podem ser igualmente irritantes), mas é simplesmente selvageria de quem acha que deve "politizar o cotidiano" a todo custo, calando todos aqueles que discordam. Confesso, aliás, que não sou exatamente a favor do PL-122 e do "kit gay" que irão distribuir nas escolas públicas.
- Política nacional: uma ex-terrorista foi eleita Presidente do Brasil. So what? Em uma eleição na qual o principal candidato da oposição era o apático e centralizador José Serra, fica difícil evitar uma 3ª vitória consecutiva dos petistas. Votei em Marina Silva no 1º turno, mas não me deixei enganar pela "onda verde"; aliás, o ambientalismo esteve longe de ser minha motivação para votar nela (preferi a promessa de manter a política econômica e a aproximação com o empresariado).
O PSDB é um partido oposicionista muito fraco e vacilante. Recusam-se até mesmo a defender seus feitos em 8 anos de FHC. Tal timidez e insegurança para exaltar, dentre outras medidas, as privatizações, facilitou a construção da hegemonia do PT (e seu pilar, o PMDB). Embora Aécio Neves seja uma boa liderança, não nutro tantas esperanças de que ele possa ser o responsável por tirar Dilma e cia. do Palácio do Planalto.
O colapso do DEM também não é muito animador; só espero que, depois da queda brusca de suas bancadas no Senado e na Câmara, o partido abandone de vez os resquícios jurássicos do coronelismo pefelista e se assuma como uma moderna oposição conservadora (ou, se possível, liberal).
- Novas amizades: 2010 foi um ano ótimo para a minha vida social. Fiz novos amigos, graças às matérias que peguei, ao PET e o ao EH e pelos círculos sociais que passei a freqüentar. Não que eu me importe muito em ser uma pessoa "sociável"; ainda valorizo muito passar meu tempo sozinho, com meus livros, notebook e CDs. Porém, é inegável que ter mais (e melhores) pessoas com quem conversar, rir e compartilhar experiências é excelente para meu aprimoramento enquanto ser humano. Nesse sentido, a UnB vem sendo uma ótima oportunidade de sair da minha "bolha".
- E a vida amorosa? E a sexual? Em ambos os casos, fiquei "na seca", if you know what I mean. Em compensação, fiquei com duas garotas, uma em Março e outra em Setembro. Ambas eram morenas e um pouco mais velhas do que eu, o que corrobora com o meu "padrão", rs. Em 2011, uma das minhas metas é arranjar uma "fuck friend". Ou, sendo mais ambicioso, uma namorada nerd. [Leitor(a) pensa: "Aham, e eu quero ganhar na Mega Sena."]
- Os cinco melhores livros que li em 2010 (não valendo os que reli):
Menções honrosas: A Democracia na América (Alexis de Tocqueville) - na verdade, deveria ser "desclassificado", pois reli umas 100 páginas que eu já tinha lido em 2009 (para corrigir fichamento de Teoria Política Moderna), e faltaram também em torno de 100 pág. para que eu o lesse inteiro. Porém, julguei indispensável citá-lo. Nem preciso dizer que Tocqueville é brilhante, certo? Escreve bem; é lúcido na sua análise sociológica/política; produziu capítulos maravilhosos sobre, p.ex., o "espírito de sistema" dos historiadores, a cultura literária nos EUA e a diferença entre valores aristocráticos e democráticos; trabalha com categorias interessantes ("sociedade aristocrática" e "sociedade democrática", "individualismo" e "egoísmo", "tirania da maioria" e "despotismo democrático"...) etc.
Em um ano no qual li 39 livros (sendo 9 deles releituras), também vale citar os dois do Eric Voegelin que li (A Nova Ciência da Política e Reflexões Autobiográficas - a propósito, terminei de lê-lo hoje!), o brilhante diálogo A República (Platão) e a empolgante epopéia Os Lusíadas (Luis de Camões).
5º Os Jogos da Atração (Bret Easton Ellis): este está na lista menos por seu valor intrínseco (por mais que ele seja bom, certamente não tem mérito para ficar na frente de gênios como Platão, Tocqueville e Camões - que isso fique claro!), mas por ter servido de munição para uma reflexão que foi central para mim em 2010: o "niilismo juvenil", o "relativismo moral da minha geração" ou seja lá que nome dêem para isso. Sempre quis entender melhor a psiquê daqueles que têm uma atitude tão hedonista e existencialmente vazia diante da vida. Material para isso não falta, mas gostaria de analisar o fenômeno por meio de um romance de mais de 20 anos atrás. Confesso que me senti aterrorizado com o que li - como é possível alguém guiar sua existência se importando apenas com sexo, drogas ou qualquer outro prazer momentâneo? O filme, que ao longo dos anos ganhou reputação de cult e junkie, é fiel ao livro, mas ainda sim não capta a faceta sombria do romance de Ellis. Personagens como Sean e Lauren revelam uma indiferença em relação ao mundo que, infelizmente, é recorrente entre os jovens de hoje.
4º O Declínio da Cultura Ocidental (Allan Bloom) - outra obra oitentista, e que também trabalha com o tema de "Os Jogos da Atração", só que sob a perspectiva de um professor universitário. Bloom é um humanista ferrenho, claramente frustrado com a queda livre do nível intelectual e moral da universidade - e, por tabela, da sociedade americana (aliás, o nome original do livro é "The Closing of the American Mind"). Um dos melhores momentos da obra é quando ele afirma, a partir de uma análise filosófica dos filmes de Woody Allen, que predomina na classe média americana uma mentalidade de "niilismo com happy ending".
3º Os Limites da Ação do Estado (Wilhelm von Humboldt) - "bildung", eis uma palavrinha que marcou meu ano. O autor seminal do Liberalismo Alemão expressa uma concepção de liberdade que, tanto em política quanto na própria formação cultural do indivíduo, é baseada em uma interdependência: educar para a liberdade, libertar para educar. Alguns capítulos, como os dois primeiros ("Introdução" e "Do indivíduo e das mais elevadas finalidades de sua existência") e o 8º ("Aprimoramento da moral"), foram bem edificantes, e me permitiram um conceito de liberdade menos "economicista" e "atomista" do que aquele que os economistas austríacos e os filósofos britânicos me forneceram.
2º Radicals for Capitalism (Brian Doherty) - descobri-o graças a um top 10 de livros liberais postado no Ordem Livre. Foi uma leitura deliciosa, pois é uma obra que conta a história do movimento libertário americano a partir do cruzamento da biografia de intelectuais como Mises, Hayek, Ayn Rand, Rothbard e Leonard Read. Descobri muitas contas interessantes e surpreendentes sobre estes "radicais pelo capitalismo". Além disso, li-o em uma das melhores épocas de minha vida - os 2 primeiros meses de 2010; o fato de ser uma de minhas primeiras leituras integrais em inglês (aliás, é um livro de 700 páginas!) também pesam para este 2º lugar.
1º O Liberalismo - Antigo e Moderno (José Guilherme Merquior) - sem dúvidas, um livro decisivo para os meus interesses intelectuais e filosóficos. Deu o norte para a minha pesquisa sobre a questão da Liberdade no romance de Thomas Mann, e apresentou-me autores da tradição liberal que muito me influenciam desde então - um deles é o próprio Humboldt. Devorei esta obra do Merquior; gastei apenas 2 dias para lê-la na íntegra! É sintomático que os meus dois livros favoritos em 2010 sejam históricos/biográficos e também "revisões bibliográficas", afinal eu me enveredarei por estas trilhas em minha carreira acadêmica. Merquior é um pensador exemplar em sua erudição e clareza.
A seguir, um breve adendo ao post anterior, ainda na vibe musical:
- A "diva pop" mais superestimada: Lady GaGa. Um caso extremo de como fazer sucesso copiando Michael Jackson e Madonna (vide o clipe 'mamãe, sou feminista e wannabe de Anticristo' de "Alejandro"), sempre com uma artificialidade assustadora. Ok, ela tem boas músicas ("Dance in the Dark", "Beautiful, Dirty, Rich" e até a overplayed "Bad Romance", p.ex.), mas não é tão brilhante quanto mídia e fãs querem crer. Sinal dos "gay times", como já disse acima?
- A "diva pop" mais subestimada: Ke$ha. Embora tenha feito grande sucesso comercial, ela foi deveras espinafrada: pelos efeitos que usa na voz, por cantar mal e por ser muito "trash". Whatever, acho ela muito divertida! Leiam as letras de "Grow a Pear", "Your Love Is My Drug", "Tik Tok" e "Cannibal", e vocês descobrirão que, além de dançantes e grudentas, estas são faixas com versos adoravelmente debochados! Além do mais, curto essa estética porra-louca e "I love money" dela. O toque de humor faz com que ela não soe tão forçada quanto por exemplo, a Christina Aguilera de 2002.
- A banda que se consolidou no meu gosto musical: Suede. Ok, eles já estavam no top 30 do meu Last.FM há quatro anos, mas foi só em 2010 que passaram a ganhar ares de "cânone" na minha vida. Dia desses, disse no meu twitter que tenho um "bissexualismo cultural": adoro humor machista e arte (literatura e música) andrógina/queer, rs. A banda de Brett Anderson é uma aplicação dessa tese. A ambigüidade e a luxúria do 1º álbum, o romantismo trágico de "Dog Man Star" e o glam empolgante de "Coming Up" oferecem três facetas de um dos conjuntos mais geniais da Inglaterra nos anos 90. Uma boa demonstração disso é o fato de que até os B-sides deles são bons (em especial, "My Insatiable One", "My Dark Star" e "Killing of a Flash Boy"). Por último, vale citar a sensibilidade artística que trespassa desde as letras de Anderson e os riffs de Butler até as próprias capas dos singles e álbuns - ênfase na fase 1992-97.
- As bandas que mais ouvi neste ano, segundo o Last.FM: 5º of Montreal (125), 4º Franz Ferdinand (126), 3º Suede (126) 2º Joy Division (138), 1º The Beatles (166).
- Os melhores shows que fui em 2010:
5. Marky Ramone (5/11) - fui com o Luti e a irmã dele, Marina. Foi bem divertido! Ele e o Michael Greaves (ex-vocalista do Misfits) fizeram um baita show; tocaram todos os clássicos dos Ramones - inclusive a minha predileta, "Now I Wanna Sniff Some Glue".
4. of Montreal (19/11) - uma festa colorida e empolgante, em que a música encontrou o teatro. E Kevin Barnes vestido de garotinha foi impagável! Vide Um fim de semana em São Paulo - O Sábado Sociável
3. Pavement (19/11) - o impossível aconteceu, em dose tripla: O "Pavê" voltou a tocar junto, eles vieram ao Brasil e eu fui ao show. Inesquecível! Vide Um fim de semana em São Paulo - O Sábado Sociável
2. Franz Ferdinand (21/3) - a noite em que tudo aconteceu: adrenalina, emoção, suor, desmaio, recuperação, êxtase, descontração. 5 anos de espera que valeram a pena! Vide Auf Achse, Karamazov - parte 2
1 Paul McCartney (20/11) - escolha óbvia, mas inevitável. Para coroar meu melhor weekend em 2010, o "cute Beatle" faz uma apresentação lendária, com três horas de show e quase quarenta faixas. A melhor injeção de serotonina ever! Vide Um fim de semana em São Paulo - O Domingo Solitário
29 dezembro 2010
Top Top 20 d.M.
Seguindo uma tradição iniciada no ano passado, vamos falar um pouco sobre a música em "2K10" - no mundo e na minha vida. AS 5 MELHORES BANDAS/ARTISTAS QUE DESCOBRI EM 2010 Menções honrosas: Vampire Weekend (banda americana que encarna o espírito do "college rock" - literalmente, como demonstram "Campus" e "Oxford Comma"), Ke$ha (a única "diva pop" contemporânea de que realmente gosto, rs!) e Gang of Four (injetaram funk no post-punk e influenciaram meio mundo). 5º Phoenix: é possível chegar ao ápice artístico (e comercial) no quarto disco, após quase uma década na obscuridão? Esta banda francesa provou-me que sim. Com a exceção de um ou outro single, como "If I Ever Feel Better" e "Long Distance Call", eles não tinham feito nada estonteante até 2009, ano em que lançaram "Wolfgang Amadeus Phoenix", um álbum estupendo. Entre muitas canções boas, destacam-se a delicada "Girlfriend", a urgente "Lasso", a nostálgica "1901" e a criativa "Lisztomania". Só fui descobrir tudo isso, no entanto, graças ao Planeta Terra. Faltando um mês para o festival, baixei músicas do Phoenix, e fiquei surpreso quando percebi que, sem saber qual era a banda, já tinha ouvido e dançado as duas últimas músicas que citei! Depois do festival, passei a ouvi-los mais ainda. 4º Wire: falando em surpresas, imaginem como me senti quando percebi que o riff de "Connection" (Elastica) era claramente inspirado no de "Three Girl Rhumba"? Esta é uma das bandas centrais do post-punk, mas foi só em 2010 que comecei a escutá-los com mais atenção. Não me arrependi, pois tive contato com canções brilhantes como "12XU", "Outdoor Miner", "Ex Lion Tamer" e "Kidney Bingos". Wire é art rock de primeira categoria! 3º Violent Femmes: outra que ouvi numa boate sem saber de quem era. Foram meses cantarolando "Let me go oooon..." esperando que uma alma iluminada me dissesse de quem era esta faixa. Porém, no fim de Novembro, bastou-me uma breve googleada com as palavras do refrão para que eu tivesse a resposta: "Blister in the Sun", da banda de folk-punk Violent Femmes. Eles, contudo, tinham muito mais a oferecer. As letras, muitas vezes sobre sexo, combinam perfeitamente com os vocais raivosos de Gordon Gano e as melodias grudentas. Destaque para "Kiss Off", "Add It Up", "Jesus Walking on the Water", "American Music" e "Country Death Song". 2º Art Brut: já sabia da fama deles há anos: "a banda que falou mal de Velvet Underground e do 'sexo, drogas & rock 'n' roll". Porém, foi preciso ir à fonte para saber o que diabos era o Art Brut. E não me decepcionei! Uma banda de rock com letras inteligentes, hallelujah! Eddie Argos e seu sotaque britanicamente debochado já soltou pérolas como "Cool your warm jets, Brian Eno", "Why would you want to sound like U2?" (ambas são citações de "Slap Dash For No Cash") e "I want to be the boy, the man who writes the song that makes Israel and Palestine get along" ("Formed a Band"). Eles também sabem fazer boas músicas sobre relacionamentos: as hilárias "Good Weekend", "Direct Hit" e "Emily Kane" não me deixam negar. P.S.: A canção que zoa o Velvet é "Bang Bang Rock And Roll". 1º of Montreal: se existisse um troféu para "banda mais gay/queer/emboiolada dos últimos vinte anos", eu já teria o meu palpite. A colorida trupe de Kevin Barnes, além de figurar entre os fundadores do lendário coletivo Elephant 6, notabiliza-se também pela prolificidade: lançou seus 10 álbuns de estúdio nos últimos 13 anos! Também os conheci por intermédio do Planeta Terra; dois meses antes do evento, uma colega minha que iria ao show do of Montreal deu a dica. Foi tiro e queda: não demorou para que eu me viciasse nesta banda. Mal dá para dizer qual a minha favorita. "Heimdalsgate Like a Promethean Curse"? "The Party's Crashing Us"? "Gronlandic Edit"? "Requiem For O.M.M.2"? "Sex Karma"? "Chrissy Kiss the Corpse"? ""Coquet Coquette"? Felizmente, eles tocaram várias destas no show em São Paulo - que, diga-se de passagem, foi muito divertido, cheio de performances cênicas. AS 5 MELHORES CANÇÕES DE 2010 Menção honrosa: "Grow a Pear" (Ke$ha) - é sério! O refrão não sai do meu cérebro, e a letra de fato é divertida. "I signed up for man but you are just a bitch. (...) When you grow a pear, you can call me back". 5º "I Can Talk" (Two Door Cinema Club): os backing vocals sampleados dos primeiros segundos já me deixaram curioso. O que vem a seguir é ainda melhor: pouco menos de 3 minutos de uma faixa dançante, com guitarras furiosas e baixo e bateria ditando bem o ritmo. Para coroar, os vocais franzinos (no bom sentido) de Alex Trimble. Perfeita para dançar, ou mesmo imitar a voz eletrônica do refrão ("I know that you'd like to!"). Um autêntico "indie anthem", o tipo de música que ouvimos em Skins, rs. "Loose tongue and arrogance it's not appropriate. Don't think that this is it?" 4º "Suburban War" (Arcade Fire): sabe aquela música que "resume a ópera" de um disco inteiro? Eis uma boa definição para "Suburban War", que, embora não tenha virado single, é um dos carros-chefe do 3º CD dos canadenses do Arcade Fire. O riff é melancólico e convidativo, e a letra é uma boa reflexão sobre a desilusão com a vida nos subúrbios: "You know the music divides us into tribes. You grew your hair, so I grew mine. (...) All my old friends, they don't know me now". 3º "Andalucia" (Doves): esta é deliciosamente pop. O Doves lançou uma coletânea, e soube se aproveitar bem da tradição de colocar uma ou duas músicas novas em um 'best of'. "Andalucia" está entre as melhores que eles já gravaram. O trio de Manchester nos trouxe uma canção realmente bem construída. "I can't rest, cannot sleep. I'm feeling numb most days. Can you be the same?" 2º "Coquet Coquette" (of Montreal): riff perfeito, refrão feito para cantar junto, boa linha de baixo e, durante o minuto final, a invasão psicodélica dos teclados. A sexy "Coquet Coquette" conquista o ouvinte de primeira, para nunca mais sair da sua playlist. Ah, e recomendo o clipe, que tem um quê de bárbaro (nos dois sentidos). "Something must be wrong, you give me emotional artifacts that can find no purchase". 1º "Fool's Day" (Blur): bela composição da melhor banda inglesa dos anos 90, que voltou a se reunir no ano passado (vide o belo documentário "No Distance Left to Run"). Esta música me soa como uma síntese nostálgica: combina a melancolia de "13" (álbum de 1999) o experimentalismo do disco homônimo de 97 e o "melodismo" da trilogia britânica ("Modern Life is Rubbish", "Parklife" e "The Great Escape", 1993-95). Trechos como o seguinte demonstram um intimismo bem sensível: "A studio and a love of all sweet music; we just can't let go. So meditate on what we've all become on a cold day in springtime". Menção honrosa: "False Priest" (of Montreal). Além das já citadas "Sex Karma" e "Coquet Coquette", vale a pena ouvir a empolgante "I Feel Ya Strutter" e a strokeana "Famine Affair". 5º "This Is Happening" (LCD Soundsystem): não nego que me incomodo com o fato de o LCD ser superestimado. Porém, a música deles é realmente boa, então o puxa-saquismo da crítica é perdoável. Basta ouvir a tribal "Dance Yrself Clean" para entender os elogios. E tem mais: "Drunk Girls" é um single bastante irreverente, "I Can Change" é um retrô dos mais simpáticos e "Home" tem uma melodia bem, hã, doce. 4º "Olympia" (Bryan Ferry): finalmente, um disco do Ferry que remete aos tempos gloriosos de Roxy Music! A capa já cria expectativas: Kate Moss! Isso não nos lembra das lindas mulheres que o Roxy ostentava em seus álbuns da fase áurea (1972-75)? Sobre "Olympia", o que se pode dizer é que Bryan escolheu bem suas parcerias, que foram de Jonny Greenwood a David Gilmour. O cover de "Song to a Siren" (de Tim Buckley) ficou impecável. Outras três que se sobressaem são "You Can Dance", "Alphaville" e "Heartache by Numbers". 3º "Plastic Beach" (Gorillaz): cinco anos depois, o projeto simiesco de Damon Albarn volta a lançar um CD. É o trabalho mais experimental e menos comercial do Gorillaz até agora, mas o resultado foi tão eclético - e interessante - quanto o dos álbuns anteriores. A soturna "Stylo", por exemplo, tem um ótimo videoclipe, com a participação de um truculento Bruce Willis. "Some Kind of Nature" conta com os vocais do genial Lou Reed. Também gostei da africana "White Flag", da oitentista "On Melancholy Hill" e da gangsta "Superfast Jellyfish". 2º "Contra" (Vampire Weekend): um disco que demorei para realmente apreciar. As únicas que adorei logo de cara foram "Cousins" e "Holiday". Com o tempo, passei a gostar também de "Diplomat's Son", "Horchata", "White Sky" (com direito a gritinhos afeminados de Ezra Koenig, rs) e "Giving Up The Gun" (aliás, não sei se vocês notaram, mas nos primeiros segundos dela há uma 'cameo appearance' de "Let Down", do Radiohead!). Com isso, concordo com a opinião geral de que o Vampire Weekend conseguiu fazer um trabalho à altura de sua promissora estréia. 1º "The Suburbs" (Arcade Fire): já virou tradição - desde 2004, a cada 3 anos, este sexteto canadense traz à tona discos adoravelmente melancólicos. O que muda é o pano de fundo: "Funeral" romantiza a vida urbana, "Neon Bible" é apocalíptico e "The Suburbs" revela um incômodo com o vazio existencial da vida nos subúrbios. Além do spotlight "Suburban War", temos "Sprawls II: Mountains Beyond Mountains" (que lembra "Heart of Glass", da Blondie!), a sombria "The Suburbs", a poderosa "Ready to Start", a envolvente "Rococo" e os teclados de "We Used to Wait". Eis outro álbum que melhora a cada audição.
OS 5 MELHORES ÁLBUNS DE 2010
26 dezembro 2010
Sobre livros e posts
24 dezembro 2010
25/12, O Dia Mundial do Capitalismo!
19 dezembro 2010
1ª night-out do recesso = Rolê!
Sexta à noite, uma amiga me avisa no MSN que no dia seguinte haveria uma festa no El Club que, dentre outras atrações, teria o Bonde do Rolê. Topei imediatamente, mesmo não conhecendo tanto esta banda (mas já sabia da fama deles, rs). Ontem, dentre as várias faixas que baixei pelo Torrent ou vi no YouTube, aproveitei para "descobrir" o Bonde. E não é que gostei? Funk carioca combinado com electro-rock, com letras hilárias e sarcásticas (destaque para "Office-Boy", "Solta o Frango" e "Dança do Zumbi") e uma atitude bem despojada, despretensiosa e porra-louca. Enfim, indies que não são blasé e resolveram enfiar o pé na jaca. Não é à toa que fazem mais sucesso fora do Brasil, assim como o CSS... Cheguei cedo na balada, às 23h - e sob chuva. Ainda bem que minha mãe improvisou uma capa de plástico para mim... Dancei durante várias horas seguidas, em uma noite em que predominou a eletrônica. Destaques para "The Reeling" (Passion Pit), "Where's Your Head At" (Basement Jaxx) e versões dub - ou algo parecido - de "One More Time" (Daft Punk), "Standing in the Way of Control" (The Gossip) e "No You Girls" (Franz Ferdinand). Encontrei várias pessoas da época do Classe; tinha gente que eu não via há quase 3 anos! Em torno das 2 da matina, no início do show da Banda Uó (boa, diga-se de passagem; muita zoação e baixaria), conheci um grupo de 4 amigas, sendo que uma delas estava fazendo aniversário. Como elas tomaram tequila, estavam bem, hã, frenéticas. Conversei e ri bastante com elas. Em seguida... Bonde do Rolê! Tirando "Marina Gasolina", tocaram todas as músicas boas que eu havia descoberto - e até algumas que conheci e gostei graças ao show, como "James Bonde". A pista estava lotada, e portanto com muito calor e suor. Nada disso diminuiu a diversão. E mais: depois do show, a banda pulou na piscina que havia no clube, com roupa e tudo! Mais pessoas entraram (inclusive a Banda Uó), e foi uma cena engraçadíssima. Continuei conversando com as quatro meninas até as 4h, quando elas tiveram que ir embora, mas felizmente pouco depois (finalmente!) encontrei a amiga que havia me indicado a festa. Batemos um bom papo durante quase uma hora. Depois, fui para o dancefloor para meu "último round", e não me arrependi - "Your Love is My Drug" (Ke$ha), "Red Alert" (também do B. Jaxx, que aliás também apareceu na discotecagem com "Raindrops", algumas horas antes), "Girls & Boys" (Blur - uma das minhas canções preferidas para dançar!)... e no final rolaram até bagaceiras como "Ragatanga" (Rouge), "Baby" (Justin Bieber) e "Dança da Vassoura" (Molejo). Minha mãe chegou para me buscar em torno das 5h50. Dormi assim que cheguei em casa, e acordei às 12h. E que venham mais nights-out nesse mês de Dezembro!
18 dezembro 2010
Micro-holidays
16 dezembro 2010
Just passing by...
Besides, I'll bring lots of books to read - and, maybe, I will also return to write mine!
Now I just hope to be able to wake up at 3.30 PM and study a lot for the test of "Evolution of Economical and Social Ideas". Physiocrats, Adam Smith, Ricardo, Say etc. Bye!
12 dezembro 2010
Última semana de provas... mas o semestre não acabou!
Depois dessa, passarei duas semanas em Goiânia descansando. Afinal, esse foi um dos anos mais atribulados de minha vida; estou exausto! E olha que nem "trabalho"!
Neste fim de semana, mesmo sendo véspera de provas, houve um clima de férias antecipadas. Reencontrei minha mãe, que veio me visitar aqui em Brasília. Além disso, ganhei 2 insígnias em Pokémon White (cheguei a 4 - e, praticamente sem consultar detonados ou Bulbapedia! "Me virei", rs!), gravei 2 cds (Legião Urbana e Mika + Phoenix + Passion Pit, pois ainda estou numa vibe Planeta Terra), li 2 livros (um para a prova de ITL, o divertido "A Comédia dos Erros", de Shakespeare, e outro mais por lazer, o sintomático "A Nova Era e a Revolução Cultural", de Olavo de Carvalho) e tive 2 refeições repletas de deliciosas junk foods (ontem, dentre outras, comi pizza pega-fogo na Pizzaria Valentina, e hoje almocei Cheddar McMelt + french fries + milk shake + McFlurry Alpino no McDonald's).
Tomorrow: wake up at 4.30 AM and study a lot! See ya.
09 dezembro 2010
A Guinada Neoliberal do Peronismo
(Trabalho que fiz para MPAS; não sei se ficou bom. Postei apenas por desencargo de consciência) A GUINADA NEOLIBERAL DO PERONISMO: A ARGENTINA NA DÉCADA DE MENEM (1989-99) 1. Introdução – O Contexto em que emergiu o Neoliberalismo Se o século XIX foi, como afirmam pensadores como Friedrich Hayek, o “século liberal”, o século XX foi, especialmente entre as décadas de 30 e 70, o “século intervencionista” – ou mesmo “keynesiano”, em se tratando de macroeconomia. As razões para isso são diversas (políticas, econômicas, sociológicas...), mas certamente podem ser analisadas pela perspectiva cultural e ideológica: referimo-nos à ascensão das doutrinas socialistas e social-democratas em detrimento do liberalismo clássico. Definimos intervencionismo como “economia de mercado obstruída”, ou seja, “o governo não limita suas atividades à preservação da propriedade privada dos meios de produção e à proteção contra as tentativas de violência ou fraude; (...) interfere na atividade econômica através de ordens e proibições” (Mises, 1995, p. 723). Ou seja, esta doutrina prega um papel mais ativo do Estado na gestão da economia, por meio de estímulos, subsídios, taxações, restrições, redistribuição de renda etc. A idéia de um papel maior do Estado na economia, inicialmente associada a um viés autoritário e nacionalista (mais especificamente, na década de 30, com os regimes nazi-fascistas), após a II Guerra Mundial começou a se compatibilizar com os sistemas democráticos do Ocidente. Na Europa, houve a chamada “Era de Ouro” (1945-1973), na qual o crescimento econômico se associava a um amplo programa de bem-estar social (previdência, seguro-desemprego, assistência social, educação e saúde públicas etc.). A América Latina não fugiu dessa lógica. Líderes como Juan Perón (Argentina), Getúlio Vargas (Brasil) e Lázaro Cárdenas (México), sob um viés populista[1], também adotaram políticas com este viés intervencionista. Tanto nos períodos democráticos quanto nas ditaduras militares, a tônica foi a mesma: caberia ao Estado, inclusive por meio de empresas estatais (às vezes, não só em “setores estratégicos”), o poder para gerir as atividades econômicas. É o chamado Estado-empreendedor, associado ao nacional-desenvolvimentismo (ênfase no mercado interno e na industrialização) pregado por “think tanks” como a CEPAL. Porém, as duas Crises do Petróleo (1973 e 1979) expuseram as fraturas desse modelo de desenvolvimento mais autárquico. A excessiva participação do governo na economia revelou-se ineficiente, gerando obsolência industrial, recessão e inflação. A presença de um Estado-empreendedor não necessariamente vinha acompanhada de instituições fortes e estáveis para determinar as “regras do jogo” na economia. Além disso, a crença de que o aumento generalizado dos preços e o desemprego eram inversamente proporcionais (como Keynes e a Curva de Philips afirmavam) foi abalada quando surgiu o fenômeno da “estagflação”. Também não havia claros benefícios sociais, pois os favorecidos pelas políticas redistributivas já eram parte do “status quo”, e tiveram seus privilégios mantidos com os subsídios e isenções cedidas pelo Estado. Com isso, a desigualdade social disparou em países como o Brasil. Depois de uma primeira e bem-sucedida experiência no Chile de Pinochet a partir de 1975, na década de 80 o neoliberalismo[2] popularizou-se como orientação para as políticas econômicas. Margaret Thatcher (Reino Unido), Ronald Reagan (EUA) e Helmut Kohl (Alemanha Ocidental) foram alguns dos que aplicaram reformas liberalizantes. A queda da URSS e dos regimes comunistas do Leste Europeu só reforçou a idéia de que a economia de mercado revelava-se uma alternativa mais eficaz para o crescimento e desenvolvimento econômicos. Em 1989, no auge do ideário neoliberal[3], surgiu o chamado Consenso de Washington, que foi utilizado como diretriz para as reformas econômicas na América Latina. Em que consiste esse receituário? Como foi aplicado na América Latina – mais especificamente, na Argentina? Quais as conseqüências das medidas adotadas? Estas são três perguntas que buscaremos responder ao longo deste trabalho. Antes de partimos para a exposição propriamente dita, cabe fazer uma ressalva. Concordamos com Paulo Roberto de Almeida quando este afirma que o Consenso de Washington “deve ser entendido exatamente pelo que ele foi, ou é: (...) uma contribuição ao esclarecimento de políticas que ‘deram certo’, não um ‘pacote’ imposto desde o alto” (Almeida, 2008). Em outras palavras, estamos céticos quanto à tese de que ele foi uma imposição do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial aos países latino-americanos. Sendo assim, procuraremos analisar o CW menos como “ingerência” e mais como “recomendações”. 2. O que é o Consenso de Washington Como já dissemos, em Novembro de 1989 foi proposto o intitulado Consenso de Washington. O responsável pelo termo é John Williamson, que, após um seminário de economistas realizado na capital dos Estados Unidos, divulgou no artigo “O que Washington entende por reforma da política [econômica]” uma lista de reformas específicas que julgava necessárias para a América Latina. As 10 medidas propagadas são: 1) Disciplina fiscal; 2) Mudança nas prioridades para despesas públicas; 3) Reforma tributária; 4) Taxa de juros de mercado; 5) Taxa de câmbio competitiva; 6) Liberalização comercial; 7) Abertura ao investimento direto estrangeiro; 8) Privatização de estatais ineficientes; 9) Desregulação de setores controlados ou cartelizados; 10) Direitos de propriedade. Várias dessas medidas já vinham sendo aplicadas em países como o Chile e México, e os êxitos obtidos justificavam a recomendação delas como forma de solucionar os problemas pelos quais grande parte da América Latina passava. Portanto, o que ocorreu, ao contrário do que boa parte da imprensa da época alegou, não foi uma decisão dos órgãos oficiais de Washington, mas “um consenso puramente acadêmico” (Almeida, 2008). Com isso, questionamos o mito de que o FMI e os demais organismos econômicos internacionais utilizaram esse receituário para interferir nas políticas econômicas dos países latino-americanos. Como veremos no caso argentino, nem todas foram aplicadas, e algumas foram feitas de forma inadequada. Encarar as dez medidas como “ortodoxia” foi um erro que tanto seus defensores quanto seus detratores cometeram. É preciso lembrar que o neoliberalismo não é uma “ciência exata”, tampouco uma “estratégia imperialista”, mas apenas uma visão de mundo que, a partir de certos pressupostos (o individualismo metodológico, p.ex.), recomenda certas atitudes e políticas como forma de gerar crescimento e desenvolvimento sustentáveis. O próprio ideário neoliberal é conseqüencialista, ou seja, tem como critério de avaliação de sua eficiência (ou não) os resultados concretos das políticas aplicadas. Em muitos casos, como no Chile, o saldo foi positivo; em outros, como a Bolívia, nem tanto. Falaremos agora da Argentina, que teve uma das mais polêmicas aplicações das medidas sugeridas por Williamson. 3. A aplicação do CW na Argentina de Menem No final dos anos 80, a Argentina atravessava uma das piores crises de sua história. A hiperinflação e o caos socioeconômico marcaram os últimos anos da presidência de Raúl Alfonsín. A expansão descontrolada dos preços “paralisou a produção, reduziu drasticamente os salários reais e aumentou a miséria e o descontentamento social” (Teubal, 2001, p. 46). Em meio a esse cenário dramático, a União Cívica Radical (UCR), partido do qual Alfonsín fazia parte, tinha grandes chances de perder as eleições presidenciais para os peronistas (Partido Justicialista). De fato, foi o que aconteceu: o justicialista Carlos Menem, com 49% dos votos, vence o pleito de Maio de 89. Embora já tivesse uma experiência política prévia (havia sido governador da província de La Rioja por três mandatos), Menem era considerado um “newcomer” político; surpreendeu a muitos que ele tenha superado políticos como o justicialista Antonio Cafiero e o candidato radical Eduardo Angeloz para chegar à Presidência. Sua eleição, no entanto, não foi um fenômeno isolado: os “outsiders” também estavam chegando ao poder em outros países da América do Sul. No Brasil, por exemplo, Fernando Collor de Mello, lançado por um partido de aluguel, em menos de um ano saltou de 3% nas pesquisas eleitorais para uma vitória com o apoio de 53% do eleitorado, no 2º turno das eleições presidenciais de 1989. No Peru, um ano depois, o até então desconhecido Alberto Fujimori derrotou o famoso escritor (a atual Nobel de Literatura) Mário Vargas Llosa por 56 a 35% dos votos. Aliás, outra coincidência que Carlos Menem nutre com Fujimori era a ausência de um programa completo de governo: “o discurso político de Menem era vago e emocional” (Casas, 1993, p. 117), prometendo um “salariazo” (aumento considerável dos salários) e uma “revolução produtiva”. O ex-presidente argentino justifica-se dizendo que “sabia perfeitamente que política devia pôr em prática. Mas se dissesse não conseguiria quatro votos” (Idem, p. 118). Que política é essa a que ele se refere? Justamente o diâmetro oposto de tudo que o peronismo até então pregava: as reformas liberalizantes. Declarando-se a favor de uma economia “popular” de mercado, Menem, já nos primeiros meses de governo, aprovou no Congresso as leis da reforma do Estado e da emergência econômica, o que lhe permitiria, dentre outras medidas, fazer privatizações, abrir a economia argentina para o capital estrangeiro, eliminar restrições e cancelar subsídios. Após algumas dificuldades iniciais, ele conseguiu inflação baixa e dólar estabilizado; como conseqüência, o austral (moeda vigente) teve uma altíssima valorização – o que, por um lado, aumentou as reservas líquidas e, por outro, prejudicou as exportações. Um fator que favoreceu Menem foi a desarticulação daqueles que poderiam ser seus dois maiores focos de oposição: os sindicatos e os partidos. Aqueles estavam divididos quanto às políticas adotadas pelo presidente; a Central Geral dos Trabalhadores (CGT) não apenas foi incapaz de organizar greves, como também perdeu boa parte de sua influência sobre o Partido Justicialista. Este, por sua vez, estava “com pouca ou nenhuma coesão e freqüentemente com interesses conflitantes” (Casas, 1993, p. 126). Já a UCR estava polarizada entre os social-democratas (como Alfonsín) e os neoconservadores (p.ex., Angeloz). Por último, o partido liberal, a União do Centro Democrático, vivia o dilema entre apoiar Menem (afinal, eles eram defensores da economia de mercado) e ter uma posição mais independente. Porém, no final de 1990 os problemas voltaram a aparecer; a inflação só foi controlada quando Domingo Cavallo assumiu o Ministério da Economia, no início de 1991, e estabeleceu o Plano de Conversibilidade: 1 dólar valeria 10.000 austrais – e, com a reintrodução do peso, houve a paridade 1:1. Além de um acordo com o FMI (com as famigeradas metas de superávit e financiamento da dívida), foram implementadas a desindexação e a redução das cargas tributárias e das taxas sobre importações. No mesmo ano, a Argentina, junto ao Brasil, o Uruguai e o Paraguai, criou uma zona de livre comércio (e união aduaneira, a partir de 95): o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Os custos sociais, no entanto, foram enormes. A desigualdade de renda aumentou; o desemprego disparou, alcançando, em 1995, a marca dos 18,6% (Teubal, 2001); os cortes nos gastos públicos em educação e saúde prejudicaram a qualidade dos serviços. Para piorar, o “efeito tequila” (crise econômica no México) desestabilizou a economia argentina. Mesmo assim, Menem foi reeleito, novamente na faixa dos 50% dos votos, usando um argumento que Fernando Henrique Cardoso repetiria três anos depois, em 1998: a estabilidade econômica alcançada. Porém, seu destino foi semelhante ao do presidente argentino, pois o segundo mandato de ambos foi marcado pela impopularidade. A diferença – e que se revelaria crucial – foi que FHC, assim que iniciou o seu 2º mandato, acabou com a paridade cambial. Menem, não. As conseqüências serão mais bem explicitadas abaixo, mas podemos antecipar que a Argentina atravessou um período delicado no final dos anos 90. Seu sucessor, Fernando de La Rúa (UCR), pecou por ter mantido o regime de câmbio fixo[4], enquanto a economia entrava em colapso. Sua renúncia, em meio às manifestações populares de 2001, foi sintomática. Agora, para completar a nossa análise, vejamos o que foi feito na Argentina, durante a década de 90, no que diz respeito às 10 medidas presentes no Consenso de Washington: 1) Disciplina fiscal: foi mal-sucedida, pois os déficits das províncias não foram devidamente combatidos. Além disso, o crescimento da dívida pública não foi contido, o que mais tarde, no final do governo de Fernando de la Rúa, levaria ao calote. 2) Prioridades nas despesas públicas: não foi dado enfoque à infra-estrutura e a outros setores estratégicos. Assim como FHC faria depois no Brasil, Carlos Menem gastou maiores esforços políticos em conseguir aprovar a emenda da reeleição. 3) Reforma tributária: foi feita parcialmente, mas a capacidade de “captação” da Receita argentina continuou não sendo suficientemente eficaz. 4) Taxa de juros de mercado: houve a liberalização dos juros, porém vários fatores (desquilíbrios fiscais e a inflação gerando falta de competitividade dos produtos argentinos) levaram a um progressivo aumento da taxa de juros, o que prejudicou os investimentos. 5) Taxa de câmbio competitiva: “trata-se, provavelmente, da mais eloqüente negação de uma regra tida como essencial pelo autor do CW” (Almeida, 2008), pois o que ocorreu foi justamente o contrário: um regime de câmbio fixo. Em 1991, o ministro Domingo Cavallo aplicou uma medida que só viria a ser revogada dez anos depois. Por corroer as reservas internacionais, dentre outras conseqüências, este foi um dos fatores decisivos para a crise argentina. 6) Liberalização comercial: ocorreu, mas os desequilíbrios cambiais e inflacionários acumulados prejudicaram a competitividade externa, levando ao retorno do protecionismo alfandegário. O MERCOSUL foi um dos mais afetados por esse revés. 7) Abertura ao investimento direto estrangeiro: também foi aplicada, mas a sobrevalorização do peso e a perda de competitividade em função da “âncora cambial” tornaram esta medida inviável. 8) Privatização de estatais ineficientes: de fato foram realizadas as privatizações; na área de telefonia, p.ex. Assim como no Brasil, entretanto, o processo foi feito de forma pouco transparente, com abertura insuficiente à concorrência pública (“jogo de cartas marcadas”) e não foram gerados recursos o bastante para “abater” a crescente dívida pública. 9) Desregulação de setores controlados ou cartelizados: realizada sem o planejamento adequado, de tal forma que surgiram novos monopólios privados em setores sem agências reguladoras; 10) Direitos de propriedade: outro malogro, segundo Paulo Roberto de Almeida: “o ‘capitalismo de compadrio’, a transformação dos sindicatos em negócios rendosos para as máfias nele encasteladas e diversas outras práticas arbitrárias dos agentes públicos continuaram a alimentar um ambiente de negócios pouco propício a um crescimento sustentável” (Idem). 4. Conclusão Verificamos, ao longo desse trabalho, que a crise argentina não foi causada tanto pelas medidas sugeridas pelo Consenso de Washington, mas por questões políticas – tanto estruturais (grupos estabelecidos) quanto conjunturais (êxitos eleitorais e continuidade no poder). A “ortodoxia” econômica foi usada como “testa-de-ferro” para justificar erros e imprudências administrativas do governo Menem. Não seria exagero afirmar que a paridade cambial não foi mantida por tanto tempo por razões macroeconômicas (afinal, a crise e o endividamento que assolavam países como o Brasil e a Rússia eram visíveis), mas por interesses políticos e até mesmo “medo” da impopularidade que medidas recessivas e austeras causariam. Além disso, a corrupção que assolava a máquina pública foi decisiva para que o neoliberalismo não conseguisse sanar a economia argentina dos problemas cultivados desde os tempos de Perón (1946-55). “O que os arquitetos do modelo menemista não entenderam é que a condição essencial para que uma abertura econômica funcione bem é que as instituições incumbidas de aplicar as regras e distribuir justiça mantenham uma nítida neutralidade e ajama de modo ético”, pois do contrário, “a política termina por dominar tudo mesmo que o governo não detenha a propriedade direta das empresas” (Llosa, Mendoza e Montaner, 2007, pp. 102-103). Ou seja, a lição que nos fica é que os problemas argentinos têm maiores raízes na política do que propriamente na economia. Enquanto não se reformarem as estruturas de poder vigentes, acabando com o ranço populista e clientelista que acompanham a Argentina há tantas décadas, será difícil para qualquer tentativa de reforma, seja ela liberal ou social-democrata, alcançar os êxitos desejados. Referências bibliográficas ALMEIDA, Paulo Roberto de. “Falácias acadêmicas, 2: o mito do Consenso de Washington”. Revista Eletrônica Espaço Acadêmico, v. 88, p. 19-32, 2008. CASAS, Juan Carlos. “Um novo caminho para a América Latina”. Rio de Janeiro: Record, 1993. LLOSA; Álvaro Vargas; MENDOZA, Plínio Apuleyo; MONTANER, Carlos Alberto. “A Volta do Idiota”. Rio de Janeiro: Lexicon, 2007. MISES, Ludwig von. “Ação Humana”. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1995. TEUBAL, Miguel. “From Import Substitution Industrialization to the ‘Open’ Economy in Argentina: The Role of Peronism”. IN: DEMMERS, Jolle; HOGENBOOM, Barbara; JILBERTO, Alex E. Fernández. “Miraculous metamorphoses: the neoliberalization of Latin American populism”. London: Zed Books, 2001. WILLIAMSON, John. "Depois do Consenso de Washington: Uma Agenda para Reforma Econômica na América Latina". São Paulo, 2003. [1] Definimos Populismo como um sistema cuja estrutura institucional é de tipo autoritário e semi-corporativista (sindicatos atrelados ao Estado), com uma orientação política e econômica de tendência nacionalista. O Populismo é favorável a políticas de industrialização. Busca ter como base de apoio as massas populares, de forma a apaziguar a luta de classes. Além disso, ele é contrário ao liberalismo, ao socialismo e às oligarquias. [2] Com raízes no Liberalismo Clássico, o Neoliberalismo defende o livre mercado, o Estado-mínimo (minarquia) e a liberdade econômica (comercial, empresarial, financeira...). Os economistas da Escola Austríaca (Ludwig von Mises e F. A. Hayek) e da Escola de Chicago (Milton Friedman) são seus principais expoentes acadêmicos. [3] Foi inclusive neste ano que, além do fim do regime comunista na maior parte do Leste Europeu e do valor simbólico da queda do Muro de Berlim, o cientista político Francis Fukuyama publicou a polêmica tese do “Fim da História”, alegando que não haveria mais alternativas políticas e econômicas à democracia liberal. [4] Um fato irônico é que Eduardo Duhalde, candidato justicialista nas eleições de 1999, defendia o câmbio flexível. Ou seja, foi a oposição quem foi “continuísta” no que diz respeito à política econômica.