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Kaio

 

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24 maio 2009

What ever happened

(Conversa entre Mário e Giovana)

- Sei lá, o César e a Júlia estão bem estranhos desde a manhã de 2ª feira passada... Alegres e tristes "do nada", sempre andando juntos, muito misteriosos... que será que aconteceu com eles?
- Acho que a pergunta deveria ser "o aconteceu entre eles". Parece que houve alguma coisa no domingo à noite passado que mudou o comportamento deles. Algum palpite?
- Não me arrisco, pode ter acontecido aquilo que se imaginava, ou mesmo o contrário. E o pior é que já surgem boatos dos mais variados para explicar certas transformações na conduta dos dois.
- Pois é, as pessoas andam estranhando o fato de o César ter começado a usar lápis de olho e agido 'picaretamente' durante a maior parte daquela simulação de Congresso da qual ele participou.
- E, a Júlia parece estar bem desencanada (no bom e no mau sentido) em relação aos estudos. Será que... ? Não, isso é impossível.
- Tem certeza? Mistééério...

18 maio 2009

Bloom

Wow.

"I know you've deceived me, now here's a surprise 
I know that you have 'cause there's magic in my eyes 

I can see for miles and miles and miles and miles and miles 
Oh yeah 

If you think that I don't know about the little tricks you play 
And never see you when deliberately you put things in my way 

Well, here's a poke at you 
You're gonna choke on it too 
You're gonna lose that smile 
Because all the while 

I can see for miles and miles 
I can see for miles and miles 
I can see for miles and miles and miles and miles and miles 
Oh yeah 

You took advantage of my trust in you when I was so far away 
I saw you holding lots of other guys and now you've got the 
nerve to say 

That you still want me 
Well, that's as may be 
But you gotta stand trial 
Because all the while 

I can see for miles and miles 
I can see for miles and miles 
I can see for miles and miles and miles and miles and miles 
Oh yeah 

I know you've deceived me, now here's a surprise 
I know that you have 'cause there's magic in my eyes 

I can see for miles and miles and miles and miles and miles 
Oh yeah 

The Eiffel Tower and the Taj Mahal are mine to see on clear days 
You thought that I would need a crystal ball to see right 
through the haze 

Well, here's a poke at you 
You're gonna choke on it too 
You're gonna lose that smile 
Because all the while 

I can see for miles and miles 
I can see for miles and miles 
I can see for miles and miles and miles and miles  
and miles and miles and miles and miles  

I can see for miles and miles"

17 maio 2009

Gloom

M: Anteontem foi o aniversário de uma amiga minha. Fomos comer em um restaurante medieval, mas, como estava lotado, fizemos o jantar-festa em um mais "carnívoro", quase flintstoniano.
O César deu de presente para ela um livro do David Hume, pois, certa vez, enquanto conversava com ela, constatou que este era o filósofo mais parecido com a forma de pensar dela. Logo, nada como testar essa hipótese, certo? A Júlia resolveu gravar um CD com as 19 faixas que julgava mais sintonizadas com o gosto musical de nossa amiga (embora tenha colocado três canções que não tinha certeza se ela gostava, mas com grandes chances de êxito). Não me lembro o que o Henrique deu, mas deve ter sido alguma 'inside joke'. E eu? Uma camiseta do Charlie Brown (a HQ, não a banda!).
A noite foi divertida. Conversei bastante com um monte de pessoas que eu ainda não conhecia, ri demais, a comida estava boa...
A propósito, a Giovana viajou ontem para Pastória, mas ainda não me deu notícias.

G: Tive um pesadelo horrível nesta penúltima noite. Sonhei que minha mãe e um dos meus tios haviam morrido, por uma explicação pseudocientífica superestranha. Lembro-me que eu não parava de chorar, mesmo após tanto tempo sem conseguir derramar lágrimas.
De repente, em meio a todo aquele sofrimento (ah, sim: uma amiga minha, não-identicada, me acompanhava na hora em que eu evitava ver o cadáver), pensei que tudo aquilo só poderia ser um mau sonho - e "acordei".
Estava eu, em um quarto vermelho-vinho, e encontrei minha mãe, viva, e meus irmãos. Até me olhei no espelho, e vi que meus olhos estavam relativamente secos; não parecia que eu tinha chorado. Eles estavam comendo bolacha (uma coisa parecida com a Negresco Eclipse), e dividiram comigo.
Depois de algum tempo, acordei de verdade. Estava no quarto do apê que divido com a Alice; ela ainda estava dormindo. Peguei o celular para ver as horas: eram 10h20. Ainda fiquei alguns minutos atordoada. Então, fui ao banheiro, "novamente" me olhei no espelho, e fui para a sala. Liguei o notebook, naveguei um pouco na internet, joguei algumas palavras-chave sobre o pesadelo no Bloco de notas e "twittei" sobre o assunto.
Felizmente, está dando tudo certo na viagem. Saí às 11h30 do apartamento; às 12h, fui ao shopping e comprei o presente do André (meu irmão caçula, que faz aniversário semana que vem, mas não poderei estar em Pastória no dia); peguei o ônibus que partia para a "rodô-ferrô" às 12h30; cheguei lá às 12h45, a tempo de comprar a passagem, e ficar na poltrona 1. E, às 13h, o ônibus partiu.

C: Enquanto tomava banho de manhã, comecei a fazer algumas ligações. Acabei chegando à conclusão de que a maneira como eu penso e ajo no que diz respeito às garotas reflete o quanto sou uma pessoa extremamente carente. Sim, do tipo que cultiva a ilusão de querer um relacionamento despojado, com idas a restaurante chinês e tudo mais, mas com afeto, carinho e atenção mútuos.
Além disso, o fato de que eu não busco me prender a uma rede de amigos só reforça o fato de que só me sentirei realizado (e "agarrado") quando encontrar minha soul mate. É o que, aliás, também espero da garota, para sermos paradoxalmente mais livres e unidos.
Enfim, toda essa construção utópica - inclusive o valor que atribuo ao beijo e ao sexo, a ponto de vê-los necessariamente como um ato de amor - só me complica ainda mais. Afinal, isso só me distancia da realidade, aumentando a incidência de desilusões e decepções. Continuo angustiado por ainda não ter encontrado alguém que, simultaneamente, fosse especial por mim e que retribuísse meu "cativar".
Quem diria que alguém que, até recentemente, finjia ser egocêntrico e arrogante para afastar as pessoas e se isolar do mundo, agora consegue fazer uma revelação tão constrangedora quanto esta.

J: Às vezes, começo a achar que eu sou a síntese de todas as garotas que César já gostou ou amou em sua curta existência: paixões (inclusive as relâmpago), musas inspiradoras, amizades à beira do "to feel something else", ou mesmo aquelas por quem sentiu uma forte atração física e psicológica. Ao mesmo tempo, possivelmente possuo todas as características que ele procura (e ainda não encontrou) em uma mulher. Enfim, sou aquilo que o orkut chamaria de "perfect match" dele.
Porém, minha relação com ele tem um sério impedimento: não podemos concretizar o que sentimos um pelo outro, seja por palavras ou por gestos. Afinal, às vezes parece que estamos em um livro (como sou atéia, não fiquem imaginando que isso é uma crendice do tipo "Deus escreveu minha vida..."), e o autor dele (que provavelmente é alterego tanto meu quanto de César) também nunca passou por experiências físicas e amorosas maiores. Logo, ele simplesmente não sabe como lidar com o que eu e o César sentimos um pelo outro.
É vísivel, portanto, o risco que corremos de passar a vida inteira em uma indefinição; uma amizade enorme, porém assexuada. Enfim, incapazes de concretizar nossos desejos e vontades.
Agora vocês entendem por que sou tão descrente, fria, cética, isolada e calculista - em contraposição a um César extro-introspectivo, dramático, prolixo, carente e confuso.
Nossa relação, muitas vezes, parece com uma androginia, à la "Sheila take a Bow" (Smiths): em nossa heterossexualidade, não há uma bipolaridade, ambos têm características masculinas e femininas que se completam. E isso é adoravelmente patético!

H: Ontem à noite, a Giovana me contou como estava sua estadia em Pastória. As coisas parecem estar tranquilas. Ela e a mãe dela já resolveram aquele mal-estar, pois a Giovana explicou da maneira mais detalhada possível o tanto que ela está cheia de atividades, tarefas e assuntos para resolver em Cosmopólia - mais especificamente, na UNICOS. Portanto, a mãe dela pôde compreender que ela não visitou a família nos últimos tempos por escassez de disponibilidade mesmo, e não por ingratidão ou coisa do gênero.
Ela gostou de reencontrar seu irmão caçula, e ele ficou feliz de poder voltar a ouvir músicas boas no carro; a Giovana alegou que seus pais têm um péssimo gosto musical. Saíram para jantar à noite, e depois ela passou a madrugada na internet.

A: Não estou com paciência para escrever; estou cansada (fui a uma festa ontem, rá). Só queria avisar que hoje, 17 de Maio de 19 d.M., é aniversário da Júlia. Se eu acordar antes da hora do almoço, vou dar uma passada na kit dela. Tchau.

13 maio 2009

Gates of Dawn

(Henrique)

... estava bastante ansioso em relação à festa da Bio. Inicialmente, ele nem pensava em ir, mas de repente viu que o convite de Alice não era de se descartar. Afinal, a semana havia sido exaustiva, com toda a campanha política e, é claro, as matérias e aulas. Portanto, aproveitar a noite de sexta era não só uma opção agradável, como também indispensável para que ele se desestressasse um pouco.

Combinou de pegar carona com um colega. Enquanto o mesmo não chegava, ficou pensando nos projetos políticos que tinha para a universidade. A responsabilidade que teria agora que fazia parte do diretório era imensa. Como deve ser "estar no poder, na situação"? Será que ele iria fazer diferente mesmo?
Porém, resolveu entrar na internet para chegar na festa com a mente mais fresca. A noite prometia.

(Giovana)

O ínicio da festa foi agradável. Encontrei alguns colegas, e conversamos enquanto os portões não abriam.
Os primeiros minutos foram especialmente cômicos. Estava tocando disco/70s, e os meus amigos alopravam na pista. Eu mesma não me contive, e fiz uns passos bem escrachados. Outro bom momento foi quando tocou "Unbelievable", do EMF. Olha, nem sou tão aficionada por música que nem o César, a Alice ou a Júlia, mas há certas canções de bandas 'one-hit wonders' que realmente são obrigatórias em uma festa que se preze, né?
Havia passado a semana bem confusa, como sempre. Dúvidas, inquietações, incertezas... Céus, quase fico com dor de cabeça só de relembrar o tanto que minha mente ficou atolada nos últimos dias.
E a pressão vinha de todos os lados, sabe? Trabalhos da faculdade, briguinhas bobas com colegas por motivos ainda mais bobos, desilusões contínuas no campo dos sentimentos, falta de tempo para dormir e me alimentar bem, minha mãe me enchendo o saco porque não pude ir para Pastória no Dias das Mães... Aliás, sobre esse último probleminha: juro que é porque eu tinha que terminar uma prova a ser entregue na 2ª de manhã, mas ela pensa que é porque eu sou uma filha desnaturada, mal agradecida.

Nem quero ficar pensando nisso, chega! Oba, estão tocando "Olhar 43"!

(Júlia e/ou César)


O que fazer? 1h30 da manhã, e eu pareço devorada(o) por um "eterno retorno": diversão durante algumas horas, seguida de súbita melancolia nas seguintes. Afastei-me do meu grupo, e fui sentar em um lugar qualquer, bem afastado, entregando-me à consternação. Não queria mais nada: nem amigos, nem música, nem festa, nem prazer... Enfim, é como se eu caísse no vazio, desistisse de viver.
Não conseguia sequer chorar, pois minha alma já estava tão congelada por esse desprezo por mim mesma(o) e a tudo que me cerca, que expressar qualquer tipo de emoção era simplesmente impossível.

Porém, foi nesse ponto que eu resolvi reagir. Precisei chegar à fossa mais profunda para despertar da letargia. Veio-me em mente a seguinte frase, tão banal e tão efetiva: "O que você tem a perder?"

Passei os últimos 18 - quase 19 - anos recusando-me a ser espontânea(o). Evitei toda e qualquer oportunidade que tive para desfrutar de uma existência menos sistemática. Sei que isso é um pedantismo desnecessário, mas não custa nada constatar que, durante todos esses anos, defendi a liberdade, o laissez-faire e a autonomia individual, mas comportei-me como uma autarquia obsoleta e regida implacavelmente.
Detesto falar em contradições, então usarei outros termos para dizer praticamente a mesma coisa: minhas multiplicidades estão em uma coexistência tão conflituosa, que, uma hora ou outra, eu terei que fazer escolhas, e me decidir por uma delas em detrimento das demais. E, sinceramente, pela 1ª vez visualizo meu "eu mundano" próximo de prevalecer.

Foi nessa hora que eu e o César (a Júlia) começamos a andar e dançar juntos. A música estava animada (algum techno da vida, bem ao gosto da Alice), mas isso era o que menos importava naquele momento.
Passamos algum tempo sentados na grama, usando a jaqueta dele (a minha jaqueta) como "tapete" - de mãos dadas, calados. Nem tinha certeza - ou preocupação - se gostávamos um do outro (qualquer dia falo sobre o que é ter uma amizade assexuada em estágio avançado), ou mesmo se avançaríamos para o "próximo passo". Mas, nada disso me interessa agora. Durante aquela hora e meia, eu queria ficar perto dele (dela), e vice-versa. Aquelas paixões malogradas pelas quais havíamos passado já eram pretérito perfeito. Voltar a ser livre é maravilhoso. "I'm taking a ride with my best friend".

(Alice)

Depois que ele foi embora (tinha que dormir cedo para estudar para uma prova), fiquei sozinha, mas não solitária. Já eram 3 da matina, mas a noite ainda estava longe de acabar. Voltei para a pista de dança e fritei.
O César me disse que na tenda mais vazia estavam discotecando anos 80 (Dire Straits, New Order, Joy Division, Siouxsie), e que ele e a Júlia estavam fazendo suas dancinhas 'góticas'. O Mário e o Henrique foram curtir o cover de Mamonas Assassinas, que estavam tocando no palco principal. Eu e a Giovana resolvemos ficar na tenda electro mesmo. Pessoas descoladas, muita androginia (nada no nível Party Monster, mas o suficiente para uma festa com reputação queer), música poderosa... enfim, coisas que eu sempre curti na festa da Bio.
Se fiquei com alguém? Nem lembro. A Giô disse que peguei 2 ou 3 caras aleatórios, mas o simples fato de eu nem ter me recordado deles (e olha que nem bebi tanto, foram só algumas vodkas e drinks) demonstra o quão irrelevantes eram os garotos que eu peguei.

Porém, foi só no fim da noite que fiquei sabendo que uma amiga minha tinha passado mal.

(Mário)

"Usando aquela gíria bobinha", disse, "ela deu P.T." Foi a primeira vez, pelo que lhe disseram. "Eu e o Henrique até demos uma passada lá para cuidar dela, mas o Edgar e o Fábio já estavam lá de plantão".
Mário disse que se preocupou com dela, mas no dia seguinte, pelo Messenger, ficou mais tranquilo. "Foi um susto, mas ela mesma me disse que serviu de lição para não se repetir mais. Se com ela acontecer o mesmo que eu (um 'problema etílico', e a noção dos próprios limites), beleza, já me despreocupo. Enfim, a festa da Bio foi uma degradação, mas deu para curtir um pouco. O cover de Mamonas foi hilário!"
Embora tenha achado que a banda estava mais 'wasted' que o próprio público, ele não mudou sua opinião de que o show havia sido bom. Porém, já eram quase 5 da manhã e ele queria ir logo para casa, pois daqui a algumas horas haveria treino de Fórmula 1. Ele sentia pena de César, que teria que acordar mais cedo por causa de uma reunião de um projeto no qual havia se inscrito.
No final das contas, só Mário e Henrique foram a Pastória no Dia das Mães. Os pais de Alice foram visitá-la (afinal, alguns parentes dela moram em Cosmopólia), e outros três agiram como "filhos insensíveis", e colocaram suas obrigações acadêmicas como mais importantes para aquele domingo do que fazer um agrado às mães.
Ok, trivialidades à parte, era hora de dormir, "pois a F1 não vai me esperar".

11 maio 2009

Pit Stop

E então, o que acharam dos últimos 4 posts?
Resolvi dar vazão ao meu lado "escritor frustrado" nos últimos dias, e fiz aquela sequência de textos, utilizando os personagens do meu livro. Começou como uma tática do pós-fossa, mas acabei me empolgando e tornando tal estilo de postagem algo mais recorrente.

Estive cheio de atividades nos últimos dias (e ainda estou), então só passei aqui para dar um olá.

Coisas sobre as quais falarei nos próximos posts: BioVinil, Politeia, prova de TPC, aplicar prova de TPM, Fórmula 1, Palmeiras, dia das Mães, upgrades musicais, "my personal life" e outras trivialidades.
Além, é claro de mais "historinhas".

Agora, se me dão licença, vou assistir a "Party Monster" (afinal, estar atolado de tarefas não significa abdicar de um cineminha no notebook). Estou enrolando para ver esse filme desde, sei lá, 2005. De hoje à noite não passa. Bye.

07 maio 2009

Th(r)e(e) party(ies)

Mário Estávamos os três reunidos: eu, Alice e Júlia. Discutíamos os últimos detalhes sobre a festa em que iremos amanhã. A mesma é organizada pelo pessoal da Biologia, e terá discotecagens e performances que mesclarão rock e eletrônica. Nada que me deixe ultra-empolgado, mas meus amigos se amarram nessa combinação sonora.
Sinceramente, irei à festa para experimentar teorias e paquerar garotas. Como? Oras, testarei cantadas e flertes que aprendi nas últimas semanas, mas também tratarei de ficar observando as pessoas e calculando possibilidades. Adoro combinar racionalidade com desejos e sensações. O César diz que me pareço com o Hans Castorp: um engenheiro com coração.
Ando tão cheio de planos e tarefas que não perderia a primeira oportunidade de descarregar essas tensões e preocupações. Logo, uma balada é a ocasião perfeita para ter uma 'diversão planejada'.
Durante a conversa, nós meio que fizemos uma divisão - cada um de nós deveria tentar convencer outra pessoa a ir à festa. Incubi-me de persuadir a Giovana. Porém, ela anda meio estranha nos últimos dias - sei lá, mais relativista do que nunca. Para ela, ninguém está certo ou errado: "é tudo uma questão de ponto de vista". A Giovana jura que isso é reflexo de uma atitude mais relaxada da parte dela em relação à realidade, mas algo me diz que, no fundo, ela fez ou fará algo que procurará justificar com esse discurso perspectivista.

Alice O Mário puxou conversa sobre a festa, e o assunto veio bem a calhar. Estou animada em relação a esse evento da Bio; eles têm tradição no ramo. Não tanto quanto nós, seres gloriosos da Comunicação Social, mas o suficiente para gerar uma boa festinha. A lista de DJs e shows parece bem promissora.
Minha mentalidade festiva é bem simples: aproveitar cada uma como se fosse meu último dia na face da Terra. Adoro perder o controle durante algumas horas, toda vez que tenho "a date with the night". Eu deixo as coisas rolarem, só me preocupando com arrependimentos (ou, quando possível, a ausência deles) no dia seguinte. Há quem chame essa postura de hedonismo, epicurismo ou sejá lá o que for. Eu prefiro considerar isso uma atitude válida de uma jovem que quer apenas curtir, sem frescuras ou maiores pretensões. Vou dançar bastante, e, se der na telha de ficar com alguém, por que não?
Tive uma semana bem complicadinha, cheia de provas e campanhas políticas. Minha chapa, de esquerda moderada, perdeu para a do Henrique, que é um "socialista mainstream", coisa de petistas mais tradicionais (e não esses vendidos de hoje em dia). Ficamos em um clima meio que de rivalidade; ainda mais ele, que leva política muito mais a sério que eu - que tenho mais com o que me preocupar, né?
Então, agora que a chapa dele venceu a eleição para o diretório estudantil, o Henrique ficou todo exibido. Nem sei se ele vai querer ir na festa da Bio. Porém, vou propor uma trégua partidária para tentar convencê-lo. Ia ser legal tê-lo por lá. Já que o levei pro mau caminho há alguns anos, nada como continuar curtindo junto com ele, até hoje, a nightlife de Cosmopólia. Além do mais, fiquei responsável, depois de um acordo com o Mário e a Ju, de "cuidar" dele; então, façamo-lo.

Júlia Que tédio. Ainda bem que teve o show do Oasis na TV, hoje à noite, para salvar o meu dia.
Tocaram várias das minhas prediletas, tais como "The Importance of Being Idle" e "Supersonic". E, de quebra, ainda apresentaram um cover daquela que César considera a melhor música de todos os tempos: "I Am The Walrus", dos Beatles.
Sobre minha quinta-feira: à primeira vista, horas de palestras, filmes e conversas podem parecer uma maneira agradável de aproveitar o dia. Infelizmente, só parecem. Palestras enfadonhas, filmes caricatos, conversas improdutivas. Nada muito relevante, percebe-se. E olha que eu gosto de cinema, seminários e (um pouco, bem pouco mesmo de) socialização. Cheguei em casa (se você considerar uma kitnet como tal) esgotada fisicamente.
Porém, nada disso me desanima em relação à festa de amanhã. Gradualmente, venho acostumando-me ao ritmo da vida noturna universitária. Ao contrário do Ensino Médio, em que a opção pelas noites misantrópicas era mais do que natural (e sensata), agora eu não tenho mais desculpas para passar a sexta e/ou o sábado sem ter nada para fazer. Continuo a me sentir deslocada quando me arrisco a tentar conviver em sociedade, mas, se a música for boa, tudo vale a pena - até mesmo aguentar "as pessoas".
É nesse intuito que pretendo ir - para saber o que estou perdendo ou não fora da solidão. Só resolverei minha desconfiança me arriscando, e não preciso de horas de reflexões existenciais (como meu amigo com nome de imperador romano) para chegar a uma conclusão tão óbvia. Além do mais, é uma perfeita ocasião para constatar a decadência alheia. Os antropólogos chamariam isso de "pesquisa de campo", mas eu, como internacionalista arrogante que sou, nem me dou ao luxo de criar jargões para isso. Oras, é apenas uma distração do tédio rotineiro.
Eu, o Mário e a Alice estávamos a conversar hoje, e, em meio a assuntos bestialmente aleatórios, decidiu-se que cada um de nós iria abordar algum de nossos(as) amigos(as) para convencê-los a ir na festa. Esperta que sou, escolhi o César, sabendo que ele já comprou o ingresso há umas duas semanas, ainda no 1º lote. Ele parece muito empolgado em relação ao evento da Bio, ainda mais levando em conta que ele acabou de sair de um infortúnio sentimental. Acho que ele já esqueceu a Flor, ou pelo menos parece tê-lo feito; portanto, aproveitará a festa sem maiores dramalhões. Não o vejo tão ansioso em relação a uma "going out" desde o show do New Order, há mais de 2 anos. Isso é ótimo, mas algo continua a me preocupar; não sei ao certo, talvez ele esteja escondendo ou remoendo algo... Hei de perguntá-lo a respeito disso.
Bem, acho que era isso que eu tinha a dizer.

06 maio 2009

Opinião Externa

(Giovana e Henrique, em uma conversa durante o almoço)

- Você viu? O César escreveu um texto, contando para todo mundo, mesmo que sob forma fictícia, sobre o 'episódio' que ele teve na semana passada!

- Pois é. Sei lá, achei desnecessário. Às vezes ele exagera; sente-se tão legitimado por aquilo que você chamou nele de "extro-introspecção", que começa a ficar fofocando sobre a própria vida (e a daqueles que convivem com ele), como se se sentisse no direito de julgar tudo e todos.
- Não é bem assim; até duvido que ele tenha tamanha malícia. No final das contas, é a maneira que ele encontra para resolver seus problemas. Colocar no 'papel' e expô-los para que quem quiser leia. Acho que, no fundo, essa é a idéia dos blogs intimistas, da 'old-school': um diário aberto, em que você compartilha seus segredos, pouco se importando se ninguém, poucas ou várias pessoas irão ler.
- Eu sei, Giovana, mas reprovo essa conduta. Ele pode magoar quem teve sua vida exposta, mesmo que indiretamente, em suas historinhas. Há certas coisas que podemos (e deveríamos) guardar para nós mesmos - e nisso incluo desde a fé até detalhes sórdidos de nossas vidas.
- Não seja tão dogmático, Henrique. Você mesmo gosta de fazer pregações político-ideológicas (essa última eleição acabou de provar isso), ou mesmo contar para todo mundo o quanto a sua vida mudou depois que você fez 15 anos, e toda aquela ladainha...
- Sim, mas eu não tomo a iniciativa de ficar contando isso para as pessoas, ao contrário dele. Só o faço quando elas me dão abertura para fazê-lo. Acho que você mesma é assim; raramente a vejo revelando para todo mundo sua intimidade.
- Óbvio, afinal quase ninguém entenderia sequer um milésimo dos meus, por assim dizer, traumas foucaultianos. Então, é melhor ficar calada. Porém, agir diferente do César (com seu auto-conhecimento externalizado) ou mesmo da Júlia (que satiriza e despreza as pessoas como válvula de escape para seus próprios problemas) não significa que eu deva reprovar a conduta deles.
- Entendo, mas você não acha que ele, mesmo que não deliberadamente, fez um texto meio 'vingativo'?
- Não. Poxa, Henrique, pare com esse maniqueísmo. Não há apenas uma ou duas interpretações possíveis para as atitudes humanas. Há toda uma teia de detalhes que devem ser analisados antes de um veredicto - e mesmo essa decisão deve ser relativizada. Não quero parecer advogada do diabo, mas há mais na psiquê do César (ou da Júlia, Alice, Mário...) do que seu dogmatismo quer ver.
- Então, mostre-me. O que há para ser compreendido, além de um típico "já que ela não me quer, vou contar pra todo mundo o que aconteceu"?
- Antes de tudo, uma inspiração literária. O César, que sempre reclamou que nunca tinha histórias dignas de serem contadas em um livro, passou por uma situação razoavelmente válida, tanto para o aprendizado dele (que, espero, aprendeu a ser menos iludido no campo do amor) como para exercício estilístico. Concordo que o texto poderia ter sido melhor elaborado, para não ficar tão "óbvio", mas talvez ele mesmo não quisesse formalizar demais algo que não o precisava. Em segundo lugar, preste atenção no desenrolar da trama: depois do fato em si (enfatizado por sublinhados em vermelho), ele pára e reflete, e constata que não existem culpados e vítimas na história; no máximo, uma pessoa que precisou de uma situação extrema para abandonar idéias pré-concebidas; aliás, algo que você mesmo deveria aprender.
- Tudo bem, mas e o ressentimento? Ele fala que quer evitá-lo, mas escrever tão explicitamente sobre o assunto já não denota uma vontade de despejar amarguras?
- Acho que não. A própria filosofia dele, o Anfisismo, já explica isso - discursos aparentemente contraditórios, na verdade, representam multiplicidades. Em outras palavras, e usando um esquema 'tripartite': enquanto a parte mais "ética" dele quer tirar alguma lição daquela experiência, a parte mais "ansiosa" não quer perder a chance de encerrar 'a angústia do silêncio', já a parte mais "tecnocrática" vai jogando informações até encaixá-las de uma maneira que a esclareça melhor, e assim por diante. Conclusão: não é ressentimento, mas talvez a insegurança em lidar com as próprias emoções, a imaturidade de um rapaz com uma trajetória tão previsível como a dele.
- Hum, faz sentido. Eu já sentia essa falta de discrição - e mesmo de tato - do César desde que nos conhecemos, há uns seis anos. Esse jeito "nada a esconder" dele, por um lado, é preocupante e lamentável, mas por outro - e nisso concordo com você - pode também ser visto como uma maneira que pessoas como ele utilizam para, sei lá, encontrarem a si mesmas. É uma opção arriscada (e que pode causar estragos), mas, se ele aprender algo de bom fazendo desse jeito, não é tão reprovável assim.
- Que bom que você entendeu, Henrique. E, melhor ainda, não me acusou de ser "uma realista cínica" (algo que a Júlia adoraria ser chamada, ao contrário de mim). Já estava meio cansada de ficar tentando lhe convencer que o César não é um monstrinho normativo e tragicômico. Mesmo que isso soe sádico, fico feliz por ele ter tido essa situação com a Flor, pois, agora, ele poderá ter um caminhar menos pesado e aproveitar a vida mais tranquilamente - como ele mesmo parece, enfim, querer.
- Tomara, Giovana. Tomara. Mudando de assunto, vai votar na minha chapa?
- Céus, vai começar tudo de novo...

05 maio 2009

Linger

César, você está conseguindo. A absorção do impacto está quase completa. Em breve, você já terá esquecido, abandonado a paixão que sentiu pela Flor durante as 5 semanas passadas. Preferi manter-me em silêncio durante os dias mais críticos, para intervir só no momento mais adequado. Espero que eu tenha entrado em cena já depois do (anti-)clímax de seu pequeno drama.
É uma pena que você, mais uma vez, tenha malogrado (não reciprocidade, desencanto, "choque de realidade"...). Porém, antes isso do que prolongar indefinidamente a ilusão de que poderia dar certo, não acha?
Só torço para que, de fato, você não guarde mágoas ou coisas do gênero. Algo certo você já fez: não caiu no pedestaltismo. Tanto buscou evitar lamentos platônicos, que soube desistir na hora certa. De fato, viver é muito mais do que circular pelo universo paralelo e normativo que você moldou para si mesmo. Fazendo uma citação piegas, "esse mundo é muito mais do que este campo de sonhos no qual dançamos - e eu quero ver esse mundo".
Agora, é focar-se em outros assuntos. Desafios acadêmicos, amizades enriquecedoras, festas promissoras e, é claro, o bom e velho auto-conhecimento. A tal da "extro-introspecção" - que, se não me engano, Giovana apontou em você - talvez faça sentido. Você realmente é muito voltado para si, para a sua mente, pensamentos e angústias; mas, ao mesmo tempo, gosta de externalizar essas impressões particulares, de dialogar com o mundo de pessoas e possibilidades que o cerca. Quereria eu saber lidar assim com a solidão inevitável a pessoas idiossincráticas como nós.
Rio-me de um tolo fato que agora me ocorreu: você deve ter estranhado o caráter tranquilo que prevaleceu nesse texto, muito diferente do meu tom predominantemente ácido. César, não se iluda: continuo sendo a mesma pessoa fria e sarcástica de sempre. Só não acho pertinente destilar meu veneno retórico em você antes de se completar sua "rehab emocional". Porém, não se preocupe; em breve voltarei a ironizar seu estilo de vida adoravelmente patético. Ceteris paribus, permaneço como uma influência conservadora e cética para você e suas falácias anfisistas. Até mais, e boa sorte na reta final de sua recuperação.

Atenciosamente,
Júlia.

03 maio 2009

Tender

Já antecipei ontem, pelo Twitter, através de 4 postagens, o que eu irei falar mais detalhadamente aqui em Racio Símio: como o dia de anteontem foi histórico.
É claro que os motivos pelos quais eu o classifico assim não são todos bons, mas unanimente corroboram para a minha tese de que 1º/5/2009 foi marcante. Além disso, vou aproveitar para falar um pouco de ontem, também.
Vamos aos fatos, portanto - e em forma de historinha, com personagens fictícios representando fatos reais e tudo mais (tirando o nome dos times do COPOL, que serão mantidos). É um post longo, portanto tenham paciência.

6h50. César acorda e começa a se arrumar para o COPOL. Ele navega um pouco na internet antes do colega que ia lhe dar carona chegar, uma hora depois. Seu 1º jogo era o terceiro do dia, mas conseguiu chegar a tempo para ver a partida de abertura do torneio.
Houve momentos engraçados, mas César estava mesmo era ansioso para duas coisas em particular: I - A partida de estréia, II - Quando Flor, a garota do "código", iria chegar. A primeira problemática logo se resolveu, e infelizmente seu time perdeu - de virada - o jogo, por 4 a 2, para os Campesinos Maquiavélicos, time formado majoritariamente pelo pessoal de seu semestre (ele está no Weber Brahma, onde é pelo menos 3 e até 6 semestres mais novo que o resto da equipe). Ele só jogou uns 3 minutos, nem dando para tocar direito na bola.
Sua mãe ligou, dizendo que tinha chegado a Brasília (uma surpresa, pois ela ainda não havia lhe dado certeza que iria), e disse que precisava buscar as chaves do apartamento. César falou para ela que seria muito longe (afinal, o COPOL foi no "ParkAway"), mas ela insistiu, e ele e o dono da casa passaram o endereço. Ela chegou durante o intervalo do 2º jogo do Weber (derrota de 2 a 1 para o Finado Chicó, em uma partida mais equilibrada do que o esperado), e o problema foi resolvido.
Pouco depois, o "código" chegou. Porém, seguiram-se horas em que César tentava falar com ela, mas não conseguia sair do bloqueio, trava. Até andava perto e/ou ficava a observando, mas não conseguia puxar assunto. Em uma das poucas ocasiões em que o fez, perguntou rapidamente se ela tinha ouvido o CD que ele lhe gravara, e, como ela disse "não", achou melhor não insistir. Comportou-se, contudo, como uma espécie de "garoto tímido com trejeitos de stalker", algo que não é novidade para ele.
O terceiro jogo foi uma pequena alegria no meio desse turbilhão de emoções. Empate em 2 a 2 com um dos favoritos (e decepções) do torneio, o AI-5, e um dos gols do WB foi... de César! Em meio à confusão dentro da área em um escanteio, conseguiu livrar-se da marcação, chutar, e a bola ainda desviar de leve em um zagueiro. Ele consideraria gol contra, mas todo mundo achou que foi um 'goal' dele mesmo, então, prevaleceu essa opinião, inclusive nos 'papéis oficiais' do jogo.
Depois disso, ele dividiu seu tempo entre acompanhar os jogos das demais equipes e ficar conversando com o pessoal na área principal, que tinha cozinha, cama elástica, cadeiras e tudo o mais.


Quanto ao futebol: no grupo A, o Finado Chicó (time do pessoal do 4º semestre), a despeito de algumas polêmicas (como escalar 1 jogador de fora do curso a mais que o permitido, algo que lhes custou 3 pontos), ficou em primeiro lugar, com 6 pts. Os Campesinos fizeram a mesma pontuação, mas perderam no confronto direto. AI-5 em 3º, e Weber em último, ambos com 1 ponto, mas estes tiveram saldo de gols pior.
N'outro grupo, tivemos a ausência do time dos neófitos (Go Go Boys do Presidente), levando a um triangular: Butina de Ferro (5º e 6º semestres) venceu Medida Provisória (pessoal do 7º), que derrotou Os 8 de Brumário (9º semestre), que também perdeu para o Butina.
Nas semifinais, que foram sob forte chuva, os Campesinos Maquiavélicos perderam por 4 a 1 do Butina de Ferro, enquanto que o Finado Chicó superou o Medida por 2x1. Na finalíssima, o F.C. sagrou-se campeão, ao vencer de virada o Butina: 3 a 2. Foi um jogo tenso e emocionante. Porém, César acha que acabou sendo vencedora uma equipe que não tem tanto o espírito do COPOL. Algo lhe diz que eles levaram o torneio a sério demais, treinaram táticas, discutiram com a arbitragem, tinham torcida organizada... Faltou o caráter amador que tanto permeia o campeonato futebolístico da Ciência Política.

Agora, o assunto principal dessa pequena saga de César. Pois bem, ele continuou bancando o estranho quando via (ou tentava conversar) com a Flor, e a coisa não melhorou muito depois que ela começou a beber. Se ele já se sentia meio deslocado na hora de conversar com certas pessoas quando ambas estão sóbrias, a situação piora quando elas entram em "estado etílico" e ele continua clean. Não que ele as recrimine por isso, mas é inegável que surge certa, sei lá, desigualdade de condições mentais (e até físicas).
Pois bem, conversa vai, conversa vem, e César descobriu que um amigo dele, Edgar, poderia ser a pessoa de quem o "código" gosta. O rapaz não sabia que nosso protagonista estava apaixonado pela Flor, mas o descobrira, através de alguém, durante o COPOL. Só que, como ele estava bêbado, acabou contando mais do que o esperado (e até mais do que César gostaria de saber), sobre o passado e o presente dele e da Flor, levando César a ficar com uma dúvida cruel na cabeça: "Será que é ele mesmo o pretendido dela?"
Cerca de 15 minutos depois, ele teve a resposta. Edgar estava esticado em uma cadeira perto dele. Flor foi lá, conversou rapidamente com o rapaz, depois o puxou e saíram. César continuou assistindo ao jogo, embora preocupado. Pouco depois, ele não resistiu à curiosidade, e virou seus olhos para a esquerda. Eis a cena: a cerca de 30, 40 metros de distância, Flor e Edgar estavam... ficando.
César confessa que quase chorou na hora, mas estava tão perplexo com aquela situação que não conseguia se expressar com lágrimas. Foi ao banheiro, e ficou alguns minutos se olhando no espelho e conversando consigo mesmo, tentando entender tudo aquilo que havia ocorrido. Depois disso, seguiram-se duas horas e meia em que ele ficou andando a esmo (mesmo durante momentos em que estava chovendo), completamente desnorteado.
Pois é, a vida deu um baita tapa na cara de César. Ele teve sua 1ª experiência concreta no que diz respeito ao esquema "gostar de uma garota, ela saber disso, o 'pretê' dela também, e isso não impedi-los de ficarem em público". Foi um desencanto dos mais chocantes se deparar com uma situação daquelas. Nos casos de 10 e 15 d.M., o "não" das garotas foi mais simbólico e sutil, e não tão explícito.
Além disso, ele se depara com alguns outros problemas. Por exemplo, assumir uma postura ética de não querer se envolver com uma garota (por mais que goste dela) que tem algo com um amigo seu. Além disso, fica em profunda dúvida: será que vale a pena continuar sofrendo e insistindo em alguém que, muito dificilmente, será recíproca em relação ao seu 'gostar'?


Porém, César está certo de que deve analisar a situação por outras variáveis, afinal uma coisa é essencial: ele, em hipótese alguma, deve se fazer de vítima. Nosso protagonista está vendo claramente que é tolice culpar a Flor ou qualquer outra pessoa pelo que aconteceu anteontem. O problema é exclusivamente em relação a ele e suas atitudes (ou a falta delas).
César continua sendo muito inocente e sistemático na hora de lidar com as pessoas, especialmente aquelas por quem ele sente algo diferente. Continua a superestimá-las, a encarar os fatos através de teorias comprovadamente falhas e, principalmente, a cair na auto-piedade. Se persistir com esse jeito deprê auto-indulgente de pensar e agir, continuará apanhando da vida.

E agora, o que fazer? A escolha mais sábia e sensata de todas seria esquecer a Flor, e tocar a vida para frente – sem ressentimentos e neuras, sem remoer nada. Além disso, ser mais laissez-faire a respeito de relacionamentos, evitando dogmas tais como “esperar a garota certa”. Porém, César sabe muito bem que uma coisa é ter um discurso reformista, outra é transformá-lo em prática. E é este justamente o maior desafio dele: reagir bem a esse “choque de realidade”, sem cair nos extremos.
Trilhas sonoras para seu novo momento não faltam. Além do “dark side” dos Pixies (“Hey”, “Where Is My Mind?”, “Is She Weird”, “Gouge Away”…), ele selecionou a sua música oficial do pós-fossa: “Tender”, do Blur. Consciente de que “tender is the day the demons go away”, ele faz coro à dor de cotovelo de Damon Albarn: “Come on, get through it. Love is the greatest thing that we have. I’m waiting for that feeling to come.”

Antes de encerrar a descrição de suas aventuras, César tentou relembrar-se rapidamente de como foi a noite de 1º de Maio. Tão intensa em eventos quanto o resto do dia, ela será injustamente minimizada e ofuscada por aqueles poucos minutos em que nosso protagonista teve a tal “revelação”.
Pois bem, ainda no COPOL, depois de horas de “caminhada deprê”, ele resolveu extravasar um pouco seu turbilhão de emoções reprimidas, e pulou na cama elástica durante alguns minutos, cantando alto algumas de suas músicas favoritas (é claro, aquelas adequadas para o que sentia naquele momento). Foi uma maneira de, simultaneamente, libertar-se um pouco de sua dor e fazer um contraponto à música ruim que estava tocando no som (forró e adjacências), e que as demais pessoas dançavam.
Mais tarde, ele pegou carona, em um carro lotado: sete pessoas. Após algum tempo na casa de um colega, ele saiu com alguns amigos (inclusive o próprio Edgar) para ver um show (gratuito, o que é melhor) de uma banda cover de Beatles. Foi um ótimo concerto, e apesar de ter chegado na parte final da apresentação, César ainda pôde conferir (e cantar junto) 8 ou 9 canções do quarteto fantástico de Liverpool.
Depois, eles foram fazer um happy hour dos mais gaiatos, que só foi acabar às 4 da manhã. Mesmo estando sóbrio durante todo o tempo, César não ficou deslocado durante àquelas horas. Pelo contrário, ele compartilhou das risadas de seus colegas, e por alguns momentos chegou até a esvaziar sua cabeça sobre os eventos problemáticos da tarde daquela sexta-feira.


Além disso, ele fez um esforço para contar para si mesmo “o dia seguinte” – o sábado, dia 2. Sua mãe veio lhe fazer uma visita, eles conversaram, foram fazer compras, almoçar, e em torno das 4 da tarde, ela iniciou a viagem de volta para casa, e ele foi até a biblioteca de sua universidade. Objetivo? Pegar o ônibus de graça que iria até o CCBB, onde ele tinha marcado de encontrar dois amigos para verem uma exposição sobre a Virada Russa, movimento de vanguarda do início do século passado. A noite foi ótima, e, após a exposição, eles foram comer crepes, enquanto tinham conversas divertidas e produtivas.
César, às onze da noite, chegou a seu recinto, ficou na internet até 2h30, pensando em coisas que escreveria em um texto-resumo de seus últimos dois dias. Acordou rapidamente às 5h30 e às 7h30, mas voltou para a cama e repousou até meio-dia. “E o resto é silêncio”.