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Kaio

 

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17 maio 2009

Gloom

M: Anteontem foi o aniversário de uma amiga minha. Fomos comer em um restaurante medieval, mas, como estava lotado, fizemos o jantar-festa em um mais "carnívoro", quase flintstoniano.
O César deu de presente para ela um livro do David Hume, pois, certa vez, enquanto conversava com ela, constatou que este era o filósofo mais parecido com a forma de pensar dela. Logo, nada como testar essa hipótese, certo? A Júlia resolveu gravar um CD com as 19 faixas que julgava mais sintonizadas com o gosto musical de nossa amiga (embora tenha colocado três canções que não tinha certeza se ela gostava, mas com grandes chances de êxito). Não me lembro o que o Henrique deu, mas deve ter sido alguma 'inside joke'. E eu? Uma camiseta do Charlie Brown (a HQ, não a banda!).
A noite foi divertida. Conversei bastante com um monte de pessoas que eu ainda não conhecia, ri demais, a comida estava boa...
A propósito, a Giovana viajou ontem para Pastória, mas ainda não me deu notícias.

G: Tive um pesadelo horrível nesta penúltima noite. Sonhei que minha mãe e um dos meus tios haviam morrido, por uma explicação pseudocientífica superestranha. Lembro-me que eu não parava de chorar, mesmo após tanto tempo sem conseguir derramar lágrimas.
De repente, em meio a todo aquele sofrimento (ah, sim: uma amiga minha, não-identicada, me acompanhava na hora em que eu evitava ver o cadáver), pensei que tudo aquilo só poderia ser um mau sonho - e "acordei".
Estava eu, em um quarto vermelho-vinho, e encontrei minha mãe, viva, e meus irmãos. Até me olhei no espelho, e vi que meus olhos estavam relativamente secos; não parecia que eu tinha chorado. Eles estavam comendo bolacha (uma coisa parecida com a Negresco Eclipse), e dividiram comigo.
Depois de algum tempo, acordei de verdade. Estava no quarto do apê que divido com a Alice; ela ainda estava dormindo. Peguei o celular para ver as horas: eram 10h20. Ainda fiquei alguns minutos atordoada. Então, fui ao banheiro, "novamente" me olhei no espelho, e fui para a sala. Liguei o notebook, naveguei um pouco na internet, joguei algumas palavras-chave sobre o pesadelo no Bloco de notas e "twittei" sobre o assunto.
Felizmente, está dando tudo certo na viagem. Saí às 11h30 do apartamento; às 12h, fui ao shopping e comprei o presente do André (meu irmão caçula, que faz aniversário semana que vem, mas não poderei estar em Pastória no dia); peguei o ônibus que partia para a "rodô-ferrô" às 12h30; cheguei lá às 12h45, a tempo de comprar a passagem, e ficar na poltrona 1. E, às 13h, o ônibus partiu.

C: Enquanto tomava banho de manhã, comecei a fazer algumas ligações. Acabei chegando à conclusão de que a maneira como eu penso e ajo no que diz respeito às garotas reflete o quanto sou uma pessoa extremamente carente. Sim, do tipo que cultiva a ilusão de querer um relacionamento despojado, com idas a restaurante chinês e tudo mais, mas com afeto, carinho e atenção mútuos.
Além disso, o fato de que eu não busco me prender a uma rede de amigos só reforça o fato de que só me sentirei realizado (e "agarrado") quando encontrar minha soul mate. É o que, aliás, também espero da garota, para sermos paradoxalmente mais livres e unidos.
Enfim, toda essa construção utópica - inclusive o valor que atribuo ao beijo e ao sexo, a ponto de vê-los necessariamente como um ato de amor - só me complica ainda mais. Afinal, isso só me distancia da realidade, aumentando a incidência de desilusões e decepções. Continuo angustiado por ainda não ter encontrado alguém que, simultaneamente, fosse especial por mim e que retribuísse meu "cativar".
Quem diria que alguém que, até recentemente, finjia ser egocêntrico e arrogante para afastar as pessoas e se isolar do mundo, agora consegue fazer uma revelação tão constrangedora quanto esta.

J: Às vezes, começo a achar que eu sou a síntese de todas as garotas que César já gostou ou amou em sua curta existência: paixões (inclusive as relâmpago), musas inspiradoras, amizades à beira do "to feel something else", ou mesmo aquelas por quem sentiu uma forte atração física e psicológica. Ao mesmo tempo, possivelmente possuo todas as características que ele procura (e ainda não encontrou) em uma mulher. Enfim, sou aquilo que o orkut chamaria de "perfect match" dele.
Porém, minha relação com ele tem um sério impedimento: não podemos concretizar o que sentimos um pelo outro, seja por palavras ou por gestos. Afinal, às vezes parece que estamos em um livro (como sou atéia, não fiquem imaginando que isso é uma crendice do tipo "Deus escreveu minha vida..."), e o autor dele (que provavelmente é alterego tanto meu quanto de César) também nunca passou por experiências físicas e amorosas maiores. Logo, ele simplesmente não sabe como lidar com o que eu e o César sentimos um pelo outro.
É vísivel, portanto, o risco que corremos de passar a vida inteira em uma indefinição; uma amizade enorme, porém assexuada. Enfim, incapazes de concretizar nossos desejos e vontades.
Agora vocês entendem por que sou tão descrente, fria, cética, isolada e calculista - em contraposição a um César extro-introspectivo, dramático, prolixo, carente e confuso.
Nossa relação, muitas vezes, parece com uma androginia, à la "Sheila take a Bow" (Smiths): em nossa heterossexualidade, não há uma bipolaridade, ambos têm características masculinas e femininas que se completam. E isso é adoravelmente patético!

H: Ontem à noite, a Giovana me contou como estava sua estadia em Pastória. As coisas parecem estar tranquilas. Ela e a mãe dela já resolveram aquele mal-estar, pois a Giovana explicou da maneira mais detalhada possível o tanto que ela está cheia de atividades, tarefas e assuntos para resolver em Cosmopólia - mais especificamente, na UNICOS. Portanto, a mãe dela pôde compreender que ela não visitou a família nos últimos tempos por escassez de disponibilidade mesmo, e não por ingratidão ou coisa do gênero.
Ela gostou de reencontrar seu irmão caçula, e ele ficou feliz de poder voltar a ouvir músicas boas no carro; a Giovana alegou que seus pais têm um péssimo gosto musical. Saíram para jantar à noite, e depois ela passou a madrugada na internet.

A: Não estou com paciência para escrever; estou cansada (fui a uma festa ontem, rá). Só queria avisar que hoje, 17 de Maio de 19 d.M., é aniversário da Júlia. Se eu acordar antes da hora do almoço, vou dar uma passada na kit dela. Tchau.

 

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