Linger
É uma pena que você, mais uma vez, tenha malogrado (não reciprocidade, desencanto, "choque de realidade"...). Porém, antes isso do que prolongar indefinidamente a ilusão de que poderia dar certo, não acha?
Só torço para que, de fato, você não guarde mágoas ou coisas do gênero. Algo certo você já fez: não caiu no pedestaltismo. Tanto buscou evitar lamentos platônicos, que soube desistir na hora certa. De fato, viver é muito mais do que circular pelo universo paralelo e normativo que você moldou para si mesmo. Fazendo uma citação piegas, "esse mundo é muito mais do que este campo de sonhos no qual dançamos - e eu quero ver esse mundo".
Agora, é focar-se em outros assuntos. Desafios acadêmicos, amizades enriquecedoras, festas promissoras e, é claro, o bom e velho auto-conhecimento. A tal da "extro-introspecção" - que, se não me engano, Giovana apontou em você - talvez faça sentido. Você realmente é muito voltado para si, para a sua mente, pensamentos e angústias; mas, ao mesmo tempo, gosta de externalizar essas impressões particulares, de dialogar com o mundo de pessoas e possibilidades que o cerca. Quereria eu saber lidar assim com a solidão inevitável a pessoas idiossincráticas como nós.
Rio-me de um tolo fato que agora me ocorreu: você deve ter estranhado o caráter tranquilo que prevaleceu nesse texto, muito diferente do meu tom predominantemente ácido. César, não se iluda: continuo sendo a mesma pessoa fria e sarcástica de sempre. Só não acho pertinente destilar meu veneno retórico em você antes de se completar sua "rehab emocional". Porém, não se preocupe; em breve voltarei a ironizar seu estilo de vida adoravelmente patético. Ceteris paribus, permaneço como uma influência conservadora e cética para você e suas falácias anfisistas. Até mais, e boa sorte na reta final de sua recuperação.
Júlia.