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Kaio

 

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30 maio 2008

Sexta-feira muito louca

Como o título do post sugere, hoje foi um dia divertido. Além das últimas palestras da Semana Política, passei boa parte do dia conversando e “perambulando” com uns colegas meus, a maioria deles do 2º semestre.
Estou cada vez mais perto da conclusão de que o "culpado" por eu me considerar anti-social no Ensino Fundamental e, principalmente, no Médio, não era exatamente eu mesmo, mas também o meio social. Ou seja, minha socialização era dificultada pela cidade e as pessoas com quem eu tinha que conviver.
Não, isso não é determinismo e/ou encantamento exagerado com a faculdade. É um pouco difícil explicar, mas parece-me que os seres humanos da universidade criam menos obstáculos (entenda-se 'frescuras' e 'panelinhas') para que eu possa me interessar pela hipótese de tentar um diálogo com eles. É claro que conheci muitas pessoas legais em Goiânia, no Colégio Ávila, no Classe etc.; seria horrível de minha parte negar esse passado. A diferença é que, pelo menos por enquanto, estou tendo mais facilidade para me socializar do que antes, mesmo não tendo mudado em nada a minha personalidade e minha receptividade a novos contatos.
De qualquer maneira, torço para que isso continue nos próximos anos. Adoro a solidão resultante de morar sozinho, mas não nego que também é ótimo aproveitar a UnB não só nos estudos, mas também como oportunidade de fazer colegas - e, quem sabe, amigos(as).

Sobre as palestras:
- A primeira do dia, sobre Ditaduras na América Latina, foi de longe a melhor não só da sexta, como também da Semana Política. O fato de que nenhum dos três palestrantes era esquerdista (dois deles tinham algumas idéias social-democratas, mas nada realmente abominável ou inconciliável com uma visão que repudiasse o autoritarismo e a falta de autocrítica da esquerda tradicional) facilitou, mas eles realmente discutiram bem a temática proposta, abarcando idéias bem pertinentes; por exemplo, o papel das próprias elites locais na fomentação de uma tradição autoritária, a crescente e preocupante desconfiança da população latino-americana em relação à alternativa democrática e os riscos de um populismo não só político, como também econômico.
- A segunda (Populismo) e a terceira (Encerramento da Semana Política) não me agradaram tanto, por um motivo que, em parte, é culpa minha: os palestrantes falaram em portunhol ou simplesmente em castelhano! De quebra, a barreira lingüística não seria tão problemática se as próprias abordagens deles não fossem tão maçantes e cansativas, principalmente na palestra de Encerramento.
Esta última, aliás, notabilizou-se por uma insististente (e inconvincente) tentativa de desmerecer a importância do neoliberalismo na política e economia latino-americanas. Pouco me importa se o professor argentino de tal palestra seja genial, conceituado e convidado especial: assim como os direitistas devem admitir que realmente houve problemas e distorções sérias na implantação do programa neoliberal na América Latina, os seus opositores políticos não podem ignorar que tal agenda econômica ainda é extremamente influente e importante. Mesmo Lula e Bachelet, apesar de ligados a partidos de esquerda, não abandonaram as práticas de austeridade, políticas antiinflacionárias, cooperação e abertura econômica, acordos de livre comércio, redução do estatismo e do intervencionismo etc.
É claro que estas reformas poderiam ser mais profundas, mas é inegável que só o fato de, apesar de tudo, a esquerda que está no poder estar consciente de que, independentemente da ideologia defendida, o crescimento e o desenvolvimento econômico só são possíveis a partir de certas condições indispensáveis, já é um progresso imenso em relação à geração de antes da queda do Muro de Berlim. Países como o Brasil e o Chile, após décadas de ditaduras, parecem ter descoberto que o caminho da servidão e do autoritarismo jamais será o melhor para um país que vise a um futuro melhor.

Recebi hoje o livro do Keynes que encomendei pelo Submarino. Assim que eu terminar "Walden" (Thoreau), pretendo lê-lo.

Acho melhor parar por aqui. Boa noite.

28 maio 2008

"You need to find a way for what you want to say"

Encontrei uma maneira de conseguir fazer a apresentação ser mais focada e ter maiores chances de não extrapolar os 15 minutos: apesar de que ainda pretendo fazer o texto com todos os tópicos, acho que, na parte oral, só abordarei o tópico 2. Resultado: só falarei da teoria do Libertarianismo, tanto na parte política e filosófica quanto na econômica.
As obras que selecionei como minha bibliografia provisória* (obs.: as que estão em itálico eu ainda não comecei a ler ou não terminei de ler; portanto, no caso delas será uma breve consulta ao invés de uma curta releitura para lembrar-me dos pontos principais) são:
- Ação Humana (mas, já li o livro-capítulo O Mercado) e As Seis Lições (Mises)
- Os Fundamentos da Liberdade e O Caminho da Servidão (Hayek)
- A Desobediência Civil e Walden (Thoreau)
- Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo (Hans-Hermann Hoppe)
- Discurso da Servidão Voluntária (La Boétie)
- A Virtude do Egoísmo e Quem é John Galt? (Ayn Rand)
- A Lei (Bastiat)
- Segundo Tratado Sobre o Governo (Locke)
- Ensaio sobre a Liberdade (Stuart Mill)
- Anarquia, Estado e Utopia (Robert Nozick)
- Liberdade de Escolher e Capitalismo e Liberdade (Milton Friedman)

[Não citei, por exemplo, Burke e Tocqueville porque eu ainda não tenho livros deles. Logo, concentrar-me-ei nos autores que eu já li, ou que simplesmente possuo a obra citada.]

*Conseqüentemente, os leitores do blog podem dar sugestões, hehe.

27 maio 2008

Ceteris paribus

Será que eu - e o outro colega de meu grupo - conseguiremos resumir os tópicos a seguir em 15 minutos de apresentação?

Tema escolhido:

LIBERTARIANISMO: TEORIA E PRÁTICA

1. As origens das idéias libertárias

a) O pioneiro: La Boétie;
b) A contribuição do liberalismo britânico (Locke, Hume, Burke) e francês (Montesquieu, Tocqueville, Bastiat);
c) O individualismo americano: Thoreau e a desobediência civil;
d) A Escola Austríaca: ênfase em Mises e Hayek;
e) Os libertários dos EUA no século XX: Ayn Rand, Nozick e Rothbard.

2. Os princípios do libertarianismo

a) Filosofia Política: Estado-mínimo, individualismo e “governo de leis”;
b) Economia: propriedade privada, livre mercado e livre comércio.

3. Temas contemporâneos sob a ótica libertária

a) Alan Greenspan e o Fed;
b) O ‘lobby’ libertário nas Eleições dos EUA: Ron Paul e os republicanos;
c) As think tanks: CATO, Mises Institute, Instituto Liberal;
d) A globalização como processo de abertura econômica e política.

4. Críticas e desafios para o século XXI

a) Críticas de liberais, conservadores, socialistas e social-democratas;
b) Perspectivas para a liberdade.

De fato, tenho um grande desafio pela frente. É por isso que decidi dividir o trabalho em duas frentes:
I - Redigir um texto contendo comentários mais aprofundados sobre todos esses assuntos, a ser distribuído para o pessoal de minha sala no dia da apresentação.
II - Focar-me nos pontos mais fundamentais e importantes, principalmente o tópico 2.
Só sei de uma coisa: se este trabalho der certo, já tenho um esboço do que será minha monografia, a ser feita daqui a 3 ou 4 anos.

A seguir, um rápido resumo dos meus últimos seis dias:

- Assim como eu previa, terminei de ler "Análise das Relações Internacionais" (Deutsch) na quinta de manhã, minutos antes de pegar o ônibus para ir a Goiânia. No mesmo dia, comecei a ler "A Virtude do Egoísmo", de Ayn Rand, mas resolvi interrompê-lo para aproveitar uma obra que eu acreditava ser mais adequada para o fim de semana prolongado: "Uma Crítica ao Intervencionismo", de Ludwig von Mises.
Embora eu a tenha lido como um 'warm-up' para "Ação Humana", isso não me impediu de ter gostado bastante dos seis ensaios compilados no livro. Escrito em meio à instabilidade política da República de Weimar e meses antes do Outubro Negro da Crise de 1929, o autor analisa de maneira pertinente as falácias das políticas intervencionistas e sua desmedida pretensão de ser um meio termo em relação às economias de propriedade privada (capitalismo) e pública/estatal (socialismo). De quebra, desconstrói o raciocínio dos Socialistas de Cátedra, intelectuais estatistas que, embora fossem geralmente antimarxistas, tentavam adaptar as idéias socialistas para o plano de uma Alemanha com um Estado forte e centralizado, idéias que já eram influentes desde os tempos de Bismarck. As conseqüências da expansão dessa mentalidade foram nefastas, e nem precisamos coçar nossos bigodes para saber no que este nacional-socialismo resultaria.
Concluí tal leitura na segunda, pela manhã. Resolvi retomar o livro da Rand, e, tudo o mais constante, amanhã à noite eu já conseguirei terminá-lo. Ainda estou na metade de "A Virtude do Egoísmo", mas já posso adiantar que adorei a maneira como a autora desmistifica e justifica o egoísmo racional, a ética intrínseca no auto-interesse.

- O que posso falar sobre o feriado em minha cidade natal? Bem, gastei tanto tempo jogando Pokémon Emerald no GBA que nem tive tempo para julgar positiva ou negativamente tais dias, hehe. Insensibilidade à parte, foi legal, embora nada de excepcional.
Mesmo assim, aproveitei para ir junto com minha mãe a alguns sebos do centro da cidade, na sexta-feira. Comprei "Retrato de um Artista Quando Jovem" (James Joyce) e uma dobradinha do Blur: o DVD "The Best Of'", com os clipes dos singles de 1990 a 1999, e o álbum "The Great Escape", relativamente raro, pois nunca foi sido lançado no Brasil (o CD que comprei é da tiragem americana). Aproveitei para encomendar pelo Submarino a obra-prima do Keynes, a "Teoria Geral"; provavelmente a correspondência chegará amanhã para mim.

- Horas antes de pegar o ônibus da volta, vi o GP de Mônaco de F1. Foi uma corrida boa, em que a Ferrari cometeu erros de estratégia que atrapalharam o desempenho de seus pilotos, principalmente Felipe Massa. Lewis Hamilton surpreendeu, e venceu a corrida de maneira inquestionável. Além da vitória, ele assumiu a liderança do campeonato, com 3 pontos de vantagem sobre Kimi e 4 sobre Massa.

Espero que meu próximo post seja menos sobre o passado e mais sobre o futuro. Veremos se isso será possível.

21 maio 2008

Shellshock

Se considero o libertarianismo mais como uma filosofia de vida que uma proposta política e econômica concreta, por que me dou ao trabalho de utilizá-lo até como tema da minha apresentação daqui a alguns dias, na aula de Introdução à Ciência Política?
Porque acredito que ele é um adereço indispensável para o liberalismo contemporâneo. De fato, o termo 'libertário' não foi patenteado pela direita liberal, mas a sua aplicação não impede a esquerda de também ter alas que se enquadrem em tal denominação. Curiosamente, os mais ardorosos defensores e os mais ácidos opositores da globalização proclamam-se libertários! Algum dos dois lados está deturpando o termo? Não, e é justamente isso que torna tal corrente interessante: contanto que o indivíduo seja um, digamos, amigo da liberdade e que tema a arbitrariedade das restrições da sociedade (e do Estado) à conduta e ao pensamento de cada um, ele pode se encaixar em diversas bandeiras ideológicas, como o capitalismo, o socialismo ou o anarquismo.

É hora de rever certas atitudes. A despeito da boa nota (9,5) que tirei na prova de História, fui muito mal no teste de Direito (6,75). Não fui um completo desleixado nos estudos, mas é indubitável que eu preciso estar mais comprometido. É verdade que às vezes fico paranóico em relação a notas, mas elas já são um sinal mais do que evidente que eu posso me dedicar bem mais, de preferência também fora da sala de aula (ou seja, estudando em casa). Economia e Direito são as matérias mais pesadas desse semestre, e só me darei por satisfeito se garantir o MS e tirar a melhor nota possível dentro de tal menção.
Para agravar a minha 'consciência-bigorna', faltei à aula de História hoje para assistir à final da Liga dos Campeões da UEFA no CAPOL. Deve ter sido a primeira vez em muitos anos que eu deliberadamente 'matei' uma aula por motivos fúteis - ou seja, excluindo-se o pretexto de palestras, excursões escolares e show do New Order. Semana que vem tentarei pegar com algum colega as anotações relativas à aula de hoje, assim como já buscar ler o próximo texto.

Amanhã viajo para Goiânia, visando a passar o feriado prolongado com meus familiares. Como já disse aqui há alguns dias, provavelmente só voltarei para lá no fim de Junho, então, aproveitarei a ocasião.
Faltam só 49 páginas para que eu acabe de ler "Análise das Relações Internacionais", do Karl Deutsch. Gostaria de terminá-lo ainda hoje, mas, se não for possível, concluirei a leitura amanhã pela manhã, antes de ir à rodoviária.
Sendo sucinto, o livro é bom (a parte sobre Teoria dos Jogos é interessantíssima), embora contenha certas passagens um pouco maçantes.

Em menos de três dias, consegui
afundar a tecla 'play' de meu MP3 player e deixar meu mouse cair e pifar. Levarei os dois para serem consertados em Goiânia, hehe.

Hoje, depois do almoço, fui a uma palestra sobre as Eleições nos EUA, dada por Thomas Schaller, doutor em Ciência Política pela Universidade da Carolina do Norte e que atualmente leciona em Maryland. A conferência foi bem esclarecedora, e nem precisei usar o rádio que tinha a tradução simultânea para acompanhá-la. Só não concordei muito com a idéia de que McCain teria uma política externa unilateral, assim como Bush. Talvez eu esteja vendo mais moderação no candidato republicano do que ele realmente tenha, mas procurarei me informar melhor, até mesmo para tentar provar para os democratas de plantão da universidade que as posições dele quanto, por exemplo, à Guerra do Iraque tem lá alguma sensatez - e digo isso mesmo sendo um pacifista e um idealista no âmbito da Teoria das Relações Internacionais!

Ah, sim, quase esqueci de falar sobre a final da Liga dos Campeões. Então, foi uma final emocionante, com ótimas chances de gol para ambos os lados. O Manchester foi melhor no primeiro tempo, mas o Chelsea foi superior no decorrer do jogo. Mesmo assim, sempre houve um certo equilíbrio de forças entre as duas equipes britânicas. A decisão por pênaltis, após o 1x1 no tempo regulamentar, acabou sendo o último recurso para solucionar o impasse.
Cristiano Ronaldo, para a euforia e exaltação de muitos no CAPOL (inclusive eu), errou a sua cobrança. O Chelsea teria ganhado se John Terry não tivesse escorregado, chutando a bola para fora. Anelka pouco fez para redimir sua reputação de jogador medíocre, inclusive cobrando mal seu pênalti, defendido pelo eficiente goleiro holandês Van Der Sar (que, com tal defesa, compensou seu tropeço no gol de Lampard, no tempo normal). No final das contas, o Manchester United reafirmou a posição de sua cidade natal como a capital não só do rock (Joy Division, New Order, Smiths, Stone Roses, Oasis...), como também do futebol europeu, pelo menos até a Liga dos Campeões de 2009.

18 maio 2008

1968: o que restou dos escombros

30 de Maio de 1968. Os Beatles entram no estúdio para gravar a primeira versão de "Revolution". Este take, praticamente acústico, acabou integrando o celebrado White Album; já a segunda versão, mais famosa, e que virou B-side do single "Hey Jude", tinha uma pegada mais roqueira, e foi gravada em Julho daquele ano. A canção foi composta no fim de um dos meses mais intensos do Século XX, e John Lennon não negou que eventos como os que se desenvolveram na França influenciaram aquela que seria a primeira canção evidentemente política dos Beatles.
Apesar do título sugestivo e da conhecida ligação de Lennon com idéias anarquistas e pacifistas, a faixa não é revolucionária; pelo contrário, constitui-se em crítica contundente aos excessos e radicalismos da juventude engajada da época. Não por acaso, recentemente entrou em 7º lugar na lista das 50 canções mais 'conservadoras' do rock. Trechos de "Revolution" criticam a opção pela luta armada, a veneração de líderes totalitários como Mao Tsé-Tung e o idealismo megalomaníaco, até mesmo porque, afinal de contas, "it's gonna be alright". Menos comunista, impossível.

O fato é que, realmente, 'a imaginação no poder' não era tão poderosa quanto alguns vovôs remanescentes de 1968 continuam a pregar. Dominic Sandbrook, que já escreveu dois livros sobre a década de 60, é um dos que se encarregam de desconstruir os mitos erigidos sobre aquele ano. Segundo ele, até mesmo um dos maiores baluartes daquela geração é uma falácia: "os manifestantes pela paz não acabaram com a guerra no Vietnã, como costumam afirmar; de fato, a guerra continuou por mais sete anos e acabou só com a vitória militar do comunista Vietnã do Norte".
Outros exemplos corroboram com a idéia de que o Maio de 68 não foi bem-sucedido em vários aspectos. Não cabe a nós tirar o mérito da espontaneidade e da demonstração de forte engajamento político dos jovens. Realmente, os protestos chegaram a reunir centenas de milhares de pessoas nas ruas de Paris, e as bandeiras e slogans daquela vanguarda política e cultural, 40 anos depois, ainda não foram esquecidos por muitos.
Porém, a desunião e o conflito de interesses atrapalharam consideravelmente o movimento, levando a uma desintegração melancólica: os operários e sindicatos, assim que foram feitas concessões, pularam fora; o Partido Comunista Francês, stalinista de carteirinha, recusou-se a apoiar um movimento tão 'heterodoxo'; a 'maioria silenciosa' da população ficava cada vez mais temerosa com a radicalização do movimento, e desejava o retorno à normalidade. Conseqüentemente, nas eleições daquele ano, os conservadores, que apoiavam o grupo político do presidente De Gaulle, tiveram uma vitória esmagadora nas eleições legislativas.
Em Londres - e no Reino Unido como um todo -, a movimentação teve um caráter surpreendentemente pacífico, resumindo-se a algumas passeatas, sendo a única pancadaria entre jovens e policiais a que ocorreu em Março na frente da embaixada americana. A imprensa – e, quem sabe, as próprias autoridades - ficou claramente decepcionada com aquela revolução que, salvo um ou outro ato, mais falava que fazia.
Nos EUA, basta um exemplo para demonstrar a desilusão que tomava conta até do meio literário. Jack Kerouac, guru da Geração Beat com obras como "On The Road" e "Vagabundos Iluminados", foi um dos que votaram em Richard Nixon nas eleições presidenciais daquele ano. A heterogeneidade no Partido Democrata custou uma vitória certa a eles, algo que pode até mesmo se repetir no pleito de 2008. Com Nixon, iniciava-se um período de hegemonia dos republicanos na Presidência: nos últimos quarenta anos, os americanos passaram 28 sob o domínio de tal partido. Kerouac, aliás, morreria de cirrose no ano seguinte.

1968 foi o ano em que a "Nova Esquerda" tinha tudo para se consolidar. Apoios de peso não faltavam. Os intelectuais estavam eufóricos com aquela agitação. Exaltavam-se exponenciais do socialismo 'terceiro-mundista', como Fidel Castro, o falecido Che Guevara e o já citado Mao. A despeito dos dogmas do modelo soviético, os esquerdistas cada vez mais buscavam novas diretrizes e inspirações.
A música (foi o auge do rock psicodélico, mas algumas bandas estavam buscando uma sonoridade mais crua e pesada), a literatura (o 'new journalism' se unia à contracultura), o teatro (até o Brasil foi expoente de peças de caráter transgressor), o cinema (clássicos como "O Bebê de Rosemary" e "2001" são daquele ano) e até a sociologia (Marcuse e sua junção de Freud com Marx era quase leitura obrigatória entre os jovens militantes) iniciavam uma importante revolução comportamental, tanto no âmbito sexual – inclusive com a emancipação feminina de vários tabus – quanto em outros pilares daquela sociedade, como moral, religião, família e educação.

Até os libertários, defensores ferrenhos do livre mercado e da mínima interferência estatal na liberdade individual, estavam cheios de esperança em relação àquela geração. O economista Murray Rothbard chegou a escrever um livro, "Esquerda e Direita: Perspectivas para a Liberdade", no qual encarava de maneira otimista uma aproximação com aquela contracultura.
Anos depois, no entanto, ele fez a autocrítica, admitindo que superestimara a "Nova Esquerda". Rothbard, assim como outros dos defensores da idéia de que "o capitalismo era a mais completa expressão do anarquismo, e vice-versa", reconheceram que o libertarianismo estava muito mais próximo da direita, ao menos na defesa do individualismo e da liberdade econômica. Acabava-se o estereótipo da direita como necessariamente reacionária e da esquerda como o único reduto dos vanguardistas. Além disso, os hippies daquela década seriam os yuppies dos anos seguintes, algo que até filmes mais recentes, como "Edukators" (2004), alegaram.

No segundo semestre daquele ano, a outra grande banda da Inglaterra nos anos 60 também lançaria um single que resumiria toda a efervescência de 1968. Estamos falando de "Street Fighting Man", dos Rolling Stones. Com muita ambigüidade, já que seus versos podem ser considerados como apologia, repúdio ou mesmo indiferença aos violentos confrontos de rua que assolavam vários países, os Stones foram um dos que conseguiram sintetizar os contraditórios sentimentos que aquela geração sentia pelos seus próprios feitos. No refrão, a mensagem é mais do que curiosa: "What can a poor boy do, except to sing for a rock & roll band?"

(Texto originalmente publicado por mim em Outr'Análise. Falando nisso, dêem uma visitada no site, hoje entrou no ar a segunda edição de Maio.)

17 maio 2008

Juvenília

Logo pela manhã, três coisas ocorreram:
- Estudei para a prova de Economia, através dos gabaritos das listas de exercícios, que pareciam muito mais um guia teórico da matéria que qualquer outra coisa.
- Pelo jeito, o Classe não vai mandar delegações ao PoliOnu.
- Chegou uma correspondência que eu aguardava ansiosamente: "Ação Humana", opus magnum de Ludwig von Mises, que encomendei pelo site do Instituto Liberal.

Conseqüências:
- À tarde, tive a dita cuja prova. Não fui excepcional, mas meu desempenho deve ter sido razoável, o suficiente para uma menção MS (ou seja, entre 7 e 8,9).
- Combinei com minha mãe que, de qualquer maneira, aproveitarei o feriado prolongado para ir a Goiânia. É uma boa idéia, afinal, pela quantidade de coisas que terei em Junho, só voltarei a visitar minha cidade natal na última semana de tal mês, justamente no meu aniversário.
- Fiquei super empolgado com o livro. Será um dos próximos que lerei, e desde já candidato a 'segundo melhor livro que já li' (falando nisso, cadê a minha resenha de "A Montanha Mágica"? Será que algum dia eu a farei?). Porém, como "Ação Humana" é longo (900 páginas) e exige plena dedicação, provavelmente farei três leituras antes dele: "Análise das Relações Internacionais" (Karl Deutsch), "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda" (Keynes) e "A Virtude do Egoísmo" (Ayn Rand).

Ah, hoje também fui à Feijoada Política. Foi bem melhor do que eu esperava; conversei e diverti-me bastante, e até entrei na piscina - digo isso porque acho que a última vez em que tive contato com 'água com cloro' foi há mais de um ano, talvez dois. De fato, os veteranos de Ciência Política são legais, e provavelmente (bem) mais que os demais calouros de POL.

Enfim, preciso urgentemente terminar o texto sobre 1968, então acho que seria sensato dormir para acordar disposto amanhã. Além disso, 18 de Maio pode ser um bom dia para começar a ler o livro do Deutsch e a preparar a apresentação que farei na aula de ICP daqui a algumas semanas. Então, boa noite para vocês, hehe.

16 maio 2008

Saldos e balanços

Terminei de ler "Economia Internacional", do van Meerhaeghe. É um bom livro, e provavelmente ajudou-me a esclarecer algumas dúvidas que eu tinha sobre balanço de pagamentos, taxas de câmbio, sistema monetário e comércio internacional em geral.
Assim como aconteceu na primeira prova, que ocorreu bem na época em que eu estava a ler "Entre os Cupins e os Homens" (Og Francisco Leme), a segunda prova de Economia será exatamente um dia depois de eu concluir uma leitura que, quase sem querer, pode vir a ser bem útil para meu exame de amanhã. Mesmo assim, adoto o discurso da cautela, pois a matéria da prova não é fácil, haja vista que não faltam jargões e termos técnicos que certamente podem dificultar as coisas para mim. De qualquer maneira, espero que a revisão que farei na manhã de sábado seja de alguma valia.
Aliás, em 17 de Maio, após a prova de Economia, irei a um evento do pessoal de POL chamado Feijoada Política. Apesar do fato de que o estilo do evento é muito 'pagode' para o meu gosto, espero que eu não me frustre com ele. Além do mais, 17/05 é o aniversário de uma das personagens do meu 'futuro primeiro livro', "Megalomania Psíquica": Júlia, um dos meus alteregos na trama. Falando nisso, preciso urgentemente voltar a escrever tal obra, mas ainda faltam aquelas palavrinhas mágicas: inspiração e paciência...

Ainda sobre provas:
- Estou indo bem em Sociologia. Tirei nota máxima nos dois primeiros trabalhos no Moodle (o último será daqui a umas três semanas), e fui relativamente bem na avaliação: a nota máxima era 3, e tirei 2,7.
- Até que tirei uma nota boa na primeira prova de Antropologia: 9. Pelo visto, a infame analogia-trocadilho "o pacífico se tornou atlântico" que fiz em certo momento do texto não me prejudicou, hehe.
- A maior surpresa foi em Ciência Política. Eu estava preocupadíssimo, pois jurava que minha nota não seria boa. De quebra, antes de entregar o resultado, a professora fez um discurso que me deixou mais pessimista ainda. Porém, a aflição foi substituída pelo alívio quando eu li: "9,7. Excelente prova." Um sorriso brotou dos lábios de Kaio Felipe...

Para encerrar, três coisas que eu tenho que resolver nos próximos dias; as 'dead lines' estão entre parênteses:
a) Um texto para a próxima edição do Outr'Análise (sábado à noite). Acho que vou escrever algo sobre o Maio de 1968, com uma perspectiva fora do clichê exaltativo.
b) Descobrir se o pessoal lá do Classe deixará que eu seja o orientador dos alunos do colégio no PoliOnu (segunda ou, no mais tardar, terça). A viagem seria na quarta, e eu preciso saber logo para já começar a preparar as malas e ter a certeza de que não ficarei desocupado durante o feriado de semana que vem.
c) Apresentar um trabalho na aula de Ciência Política (definir o tema até dia 23, apresentação no dia 10 do mês que vem). É quase certo que será sobre Libertarianismo, tratando das origens do mesmo, assim como suas idéias nos âmbitos de filosofia política e economia, sua importância em temas contemporâneos, as críticas de seus adversários político-ideológicos e as perspectivas para o futuro.

14 maio 2008

Pra não dizer que não falei nos Bellsprouts

No último post, esqueci de dizer que, no sábado passado, ganhei o game "Pokémon Emerald" (usado, mas original) para o meu Game Boy Advance. Enfim tenho uma opção ao meu "Rojo Fuego" (meu "Fire Red" é tão paraguaio que o jogo é realmente em espanhol)!
Embora esteja levando o GBA todo dia para a faculdade, praticamente nem estou jogando, afinal, o estudo e outras opções de lazer ocupam todo o meu dia: aulas, filmes em eventos específicos ou no CAPOL mesmo, leituras ('on my own' ou para as aulas), palestras, conversas, refeições (mesmo assim, lembrem-se que eu sou pão-duro ao ponto de comer menos - e procurando opções alimentícias mais baratas - para economizar dinheiro)... Eu já imaginava que a universidade realmente fosse oferecer-me uma gama de possibilidades de conhecimento e entretenimento, mas isso não impediu minhas expectativas de serem superadas.

O que estou lendo: "Economia Internacional" (van Meerhaeghe). Estou gostando bastante, pois é uma introdução bem satisfatória para os temas fundamentais da economia internacional. Eis um livro de elevado custo-benefício, pois só custou 3 reais (aproveitei a promoção de um sebo) e está sendo muito útil para enriquecer meus conhecimentos sobre uma matéria que pretendo pegar no meu oitavo e último semestre de graduação.
O que estou ouvindo: nesse exato momento, o álbum "Abbey Road" (The Beatles). Porém, nos últimos dias, ouvi Jimi Hendrix, Soundgarden, Stone Roses, Massive Attack e, principalmente, Portishead.
Aliás, não sei se já falei sobre o disco novo deles, "Third", o qual já devo ter ouvido na íntegra umas cinco vezes desde o fim de Abril. Ele é simplesmente tão bom quanto os seus antecessores, contendo uma variedade de estilos surpreendente. O novo trabalho do Portishead mostra que o hiato de 11 anos não foi em vão: temos folk ("The Rip"), downtempo meio jazzístico ("Hunter"), batidas incessantes e viciantes ("Machine Gun"), experimentalismo meio macabro com um trecho em português ("Silence"), um eletrônico mais intimista ("Magic Doors") e outro em que não falta tensão ("We Carry On"), sendo inclusive esta última a minha favorita do álbum. Recomendo "Third" aos fãs de Portishead e trip-hop em geral, assim como todos aqueles que querem enriquecer seu gosto musical, hehe.

12 maio 2008

Depois dos Alpes

Demorei, admito, mas finalmente estou de volta à ativa aqui no blog.
Muita coisa ocorreu nos últimos dias, então tentarei (ou fingirei) ser conciso para citá-las:

6 e 7
Nada de muito interessante, tirando pequenos detalhes; por exemplo, o fato de que joguei truco pela segunda vez em minha vida (a primeira foi há um mês, com o pessoal de Ciência Política), com uns colegas de Economia. Como era de se esperar, ainda não aprendi a blefar, e perdi 2 das 3 partidas, sendo que naquela em que venci tive mais sorte do que astúcia.
Além disso, minha mãe disse que eu estava, digamos, convocado a passar o fim de semana em Goiânia. Uma amiga minha havia dito dias antes que seria muito estranho se eu não fosse passar o Dia das Mães com minha mãe, logo a oportunidade viria bem a calhar.

8

Terminei de ler "A Montanha Mágica". O autor reservou muitas surpresas para as páginas finais, levando-me a ficar perplexo com certas passagens. Prometo que em breve farei uma resenha sobre o melhor livro que já li nos últimos... 17 anos.
De quebra, fui pela primeira vez ao projeto de extensão do pessoal de Relações Internacionais, "Política e Pipoca". Passaram um filme, "Balseros", que era sobre imigrantes cubanos nos EUA. Gostei do documentário, pois quebra vários dos estereótipos sobre aqueles que saem da ilha do Fidel para morar na "land of opportunities". Nenhum deles(as) virou milionário, mas todos gozam de um padrão de vida razoável, certamente superior ao que tinham em Cuba. Seus empregos não são tão humilhantes quanto a mídia 'left-liberal' adora alegar, e só dois entre eles se envolveram com o submundo das drogas, sendo que um já conseguiu fugir do mesmo.

9
Arrumei as malas, e depois peguei dois ônibus até a rodoferrovária. A despeito do engarrafamento na saída de Brasília, o Executivo chegou em Goiânia às 13h, após três horas de viagem.
A sexta-feira foi bem tranqüila. Aproveitei para comer bastante, hehe.

10
Chamei o meu melhor amigo, o Gino, para ir a minha (antiga) casa. Conversamos bastante pela manhã, e à tarde fomos ao Flamboyant para assistir ao filme do "Speed Racer". Gostei bastante do mesmo, que tem cenas de corrida bem psicodélicas, alucinantes, vertiginosas, entre outros adjetivos que expressem idéias como "eu não conseguia piscar durante certas cenas". O enredo é bem simples, em certos momentos beirando o infantil, mas os Wachowski sabiam que isso não era o mais importante, pois as ações e perseguições são mais importantes no filme que diálogos e profundidade psicológica dos personagens. A eficiência nos aspectos em que se comprometeu em ser bom até me permitiram perdoar a trama de certas besteiras, como a mentalidade anti-capitalista expressada; por exemplo, os vilões de "Speed Racer" são estereotipados, e só pensam em dinheiro, menosprezam a família e recorrem constantemente a trapaças para alcançarem seus objetivos.
Além disso, encontrei outros(as) três colegas no shopping, inclusive na Saraiva. Digamos que foi uma oportuna lei de Murphy às avessas, hehe.

11
Dia de esportes na TV, tanto em Goiânia (vi F1 pela manhã, com vitória de Felipe Massa) quanto em Brasília (como cheguei às 19h, perdi os jogos do Brasileirão, mas ainda vi os gols e os debates na ESPN Brasil).
Só um detalhe: aproveitei para levar na minha mochila alguns livros e CDs que ainda estavam no meu velho quarto. Ou seja, as gavetas do meu armário na kitnet ficaram mais cheias...

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Tive prova de Sociologia, além de aulas de Economia e História. Aproveitei para tentar iniciar a leitura de "Anarquia, Estado e Utopia" (Robert Nozick), mas achei melhor ler agora "Economia Internacional" (van Meerhaeghe).
Fui a vários sebos à tarde atrás de algo interessante, e acabei achando um ótimo livro por um ótimo preço: "Quem é John Galt?" (Ayn Rand), por 20 reais (era 25, mas consegui desconto). Levando em conta que semana passada peguei na biblioteca outra obra dela - "A Virtude do Egoísmo" -, é sinal de que, em poucos dias, já tenho dois livros de uma das maiores pensadoras do libertarianismo, de quem eu já ouvia falar há anos.
Aqui se encerra o diário da última semana. Se possível, pretendo resenhar "A Montanha Mágica" em um dos posts que ainda farei nesta semana.

05 maio 2008

Misty Mountain Hop

Antes de mais nada, é pertinente mencionar o título de Campeão Paulista de 2008 obtido pelo Palmeiras, ontem à tarde, após vitória esmagadora sobre a Ponte Preta, por 5 a 0. Levando-se em conta que a Copa dos Campeões de 2000 e a Série B de 2003 não foram realmente títulos de peso, a última vez em que eu pude comemorar um caneco palmeirense foi há nove anos, quando a equipe venceu a Libertadores. Logo, motivos não me faltam para comemorar o fim deste jejum, hehe.

Agora sim, o tema do post: "A Montanha Mágica". Pois é, quinze meses depois, retomei a leitura do ponto onde parei: a pág. 470, logo após o ímpar diálogo em francês entre Hans Castorp e Mme. Chauchat. Desde que voltei a lê-lo, na quinta passada, já foram mais de trezentas páginas lidas*. Minutos antes de redigir este texto, eu estava na 804. Acredito que, como são 986 páginas no total, conseguirei terminá-lo daqui a três dias, caso mantenha o ritmo de leitura.
Há muito sobre o que eu poderia comentar neste esboço de resenha, mas creio que seria mais interessante guardar (até mesmo para aprimorar) certos tópicos para um post a ser escrito quando eu terminar de ler o livro.
Mesmo assim, posso adiantar que: I - Settembrini é o meu personagem predileto, e seus duelos intelectuais com Naphta são inesquecíveis; II - Fiquei bem chateado com a morte de um certo personagem, embora já temesse pelo destino dele; III - Hans Castorp é realmente um protagonista com toda a ingenuidade e o gradual amadurecimento que sua posição imprescinde; IV - É incrível a capacidade de Thomas Mann para alternar descrições, divagações, fluxos de consciência, diálogos (aparentemente) triviais e embates filosóficos; V - Assim como eu previa em meados de Janeiro do ano passado, são enormes a chance de "A Montanha Mágica" tomar de "1984" o posto de melhor livro que eu já li.

*Na verdade, foi na pág. 502 em que eu parei, mas como fiquei meio chateado pela iminência de devolver o livro à colega que havia me emprestado, haja visto que ela se mudaria para o RJ (como se sabe, felizmente ganhei a obra como presente de aniversário, da minha mãe, no ano passado), nem li tão atentamente as últimas 32 páginas, embora tenha me recordado de boa parte delas quando as reli na quinta-feira passada.

03 maio 2008

"This is what we believe" - parte 2

"Os Fundamentos da Liberdade" é dividido em três partes, além de um posfácio.

A primeira, "O Valor da Liberdade", tem um cunho mais filosófico. Há uma pertinente discussão sobre o significado da palavra 'liberdade', assim como o tipo dela que será empregado pelo autor. No caso, há um foco na liberdade individual, ou seja, ausência de coerção. Hayek insiste em diferenciá-la da liberdade como ausência de restrições, defendida pelos racionalistas franceses (e também por alguns ingleses utilitaristas), que poderia oferecer muitos riscos para o convívio em sociedade. É nisso que uma famosa frase de Lord Acton - aliás, um dos campeões de citações no livro - passa a fazer o maior sentido: "Liberty is not the power of doing what we like, but the right to do what we ought."
Além disso, F. A. Hayek enfatiza a necessidade de espaço para o desenvolvimento criativo, a importância das tradições e costumes na elaboração das leis (aliás, nesse ponto ele torna-se praticamente um seguidor dos ideais de grandes liberais da Grã-Bretanha, como Hume, Smith e Burke, assim como franceses de 'tendência britânica', como Tocqueville e Montesquieu) e na necessária relação entre liberdade e responsabilidade.
Destaque também para a discussão que ele faz sobre democracia como sustentáculo e obstáculo para o liberalismo; algumas leituras mais precipitadas de neomarxistas como Perry Anderson levaram ao mito de que Hayek e os neoliberais eram anti-democráticos, mas o capítulo "O Governo da Maioria" é a prova de que tal crítica é assaz simplista. Sinceramente, acredito que o pensador austríaco é muito mais democrata do que esquerdistas que se dizem democráticos ortodoxos.

A parte II, "A Liberdade e a Lei", tem discussões mais ligadas ao Direito. Há interessantes debates sobre lei e ordem, a importância das normas gerais, os riscos de conceder ao Estado poderes arbitrários para formular leis, as origens do Estado de Direito, o legado da Revolução Americana e sua Constituição com a limitação dos poderes e a ascensão e queda do Direito de caráter liberal na Europa do Séc. XIX.
Gostei muito da parte em que ele mostra como a Alemanha foi pioneira na fundamentação tanto do Estado de Direito quanto da reação ao mesmo, que encontrou no positivismo jurídico e no fortalecimento do nacionalismo e do socialismo as bases para décadas de totalitarismo e arbitrariedades.

A última parte, "A Liberdade no Estado Previdenciário", apóia-se na Ciência Política e na Economia para discutir atualidades. É o momento em que o ideário do liberalismo passa a ser aplicado a questões mais práticas, como o Welfare State, a agricultura, os impostos progressivos e a previdência social. Muitas das crenças típicas dos social-democratas são refutadas.
Os melhores momentos dessa parte são: I - a desconstrução e os desmascaramento do sindicalismo, apontando seu crescente poder de coerção (pelo menos no contexto da obra, ou seja, as décadas de 50 e 60) e de pressão política, que poderiam provocar conseqüências graves, inclusive o desemprego, a diminuição da produtividade econômica e o cerceamento da liberdade individual; II - o último capítulo, sobre "Educação e Pesquisa", em que Hayek encanta o leitor com a reafirmação da defesa da liberdade criativa, inclusive no âmbito acadêmico, assim como o papel da educação na construção da "evolução do ser humano em sua mais rica diversidade". Ele também aponta alguns problemas relativos à educação pública e às falácias das idéias dos 'progressistas', como forçar um tratamento igualitário a ponto de negar individualidades, objetivando uma (perniciosa) homogeneização dos estudantes.

O posfácio de "Os Fundamentos da Liberdade" foi escrito cerca de vinte anos após a primeira edição da obra (1960), como resposta à apropriação que muitos conservadores estavam fazendo das idéias (neo)liberais. Aliás, o caso do Thatcher, que citei na primeira parte dessa postagem, é sintomático, pois ela demonstrava grande apreço pelas idéias de Friedrich August von Hayek, sendo pioneira naquilo que se costuma chamar "A Nova Direita".
Para demonstrar as claras diferenças entre o pensamento liberal e o conservadorismo, o autor aponta inúmeras falhas do último, como o seu desprezo pelas idéias e sua eterna falta de alternativas ideológicas, ou seja, sempre se apropriando daquilo que lhe seja mais conveniente para chegar ao poder; a aliança dos conservadores com os socialistas na época do nazi-fascismo, para anos depois se ligarem aos libertários para criticar o New Deal, são bons exemplos disso.
Além disso, salienta-se a obsessão dos conservadores por frear mudanças e manter a "ordem", mesmo que ao preço de métodos autoritários e a ausência de princípios. As suas convicções morais, ao invés de moderá-los, levam seus partidários a um fanatismo que os aproxima justamente de seus supostos grandes adversários: "Como o socialista, o conservador preocupa-se menos com o problema de como deveriam ser limitados os poderes do governo do que com o de quem irá exercê-los; e, como o socialista, também se acha no direito de impor às outras pessoas os valores nos quais acredita. (...) E, em sua tentativa de desacreditar a livre iniciativa, muitos líderes conservadores rivalizaram com os socialistas".
Por último, Hayek tenta encontrar a melhor definição ideológica para si mesmo, lamentando a distorção do termo 'liberal' na Europa e, principalmente, na América (lembram-se do orkut e a visão política "esquerda-liberal"?). Ele lembra que, nos EUA, é muito comum o termo 'libertário' como substituto, mas, ao contrário de mim, ele não gosta dessa denominação. Sua opção é por "old Whig", à la Edmund Burke e os liberais clássicos. Nas palavras do próprio pensador, "sou um impenitente Whig da velha guarda."

Enfim, o livro é certamente um dos mais geniais tratados sobre a liberdade já escritos até hoje. Friedrich Hayek, ao mesmo tempo que resgata princípios construídos entre os séculos XVII e XIX, adapta o liberalismo a uma nova realidade e a novas perspectivas. Não por acaso, desde o fim dos anos 70 tal ideário está cada vez mais forte, por mais que seus adversários tentem desmerecê-lo. Por mais que alguns já falem em neokeynesianismo e em uma nova supremacia ideológica da esquerda e dos intervencionistas, Kaio Felipe é um dos que acredita que o século em que estamos ainda experimentará várias décadas de (re)afirmação da necessidade de liberdade, da supremacia do indivíduo e do poder das idéias.