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Kaio

 

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27 fevereiro 2011

Sunday night

Amanhã Ainda nessa semana faço um post contando como foram meus 9 dias em São Paulo. Hoje foi um dia para relaxar; meu único "stress" foi conseguir carona para Goiânia. Felizmente, assim que voltei do McDonald's - almocei em torno das 16h -, achei uma no orkut e já confirmei: terça-feira de manhã terei meu 2nd Round de 10 dias na minha cidade natal durante essas férias.

Resolvida esta pendência, até me dei ao luxo de cochilar enquanto o Flamengo ganhava a Taça Guanabara (tsc) e o São Paulo vencia o Palmeiras... mas acordei a tempo de ver o tenso 2º tempo do Choque-Rei (alguém pode me explicar por que diabo o clássico SPO x PAL tem esse apelido?), no qual Adriano marcou o gol de empate aos 39 minutos.

Tentei ver um pouco de Skins UK, mas passei a maior parte dessa noite ouvindo música. Estou ouvindo os CDs que comprei em São Paulo (next post, remember!), e um deles é The Singles Collection (The Kinks), cobrindo a fase áurea da banda (1964-71) por meio dos compactos que eles lançaram na época. Simplesmente irresistível! Melodias deliciosas, letras sardônicas. Boa noite!

17 fevereiro 2011

Lever Kühn

Há um bom motivo pelo qual não escrevi no blog nos últimos dias: estava terminando de ler "Doutor Fausto", de Thomas Mann. Claro que houve motivos secundários (por exemplo, baixei e vi vários episódios de South Park e Seinfeld), mas o principal foi tal leitura.

Pois bem, terminei o livro hoje, e posso dizer que é excelente!

Como viajo para São Paulo amanhã (yay! Finalmente conhecerei a Débora e reencontrarei o Filipe!), estou meio sem tempo de fazer uma resenha sobre o livro. Para que este post não fique tão simplório, ao menos colocarei o fichamento que fiz dos primeiros 28 capítulos ("Doutor Fausto" tem 47 mais um epílogo):

- p. 14-15: Zeitblom fala sobre o lado humanista do estudo das línguas.

- p. 30: a Natureza é um campo de estudos mais místico que as Humanidades.

- p. 37-38: Adrian, quando mais velho, reproduz universo bucólico de sua infância na sua casa.

- p. 42: a biografia é voltada para um tempo futuro, em que haja atmosfera menos asfixiante.

- p. 51-52: povo, bruxaria e a cura pelas letras e ciências humanísticas.

- p. 61-62: escola, relação com professores e relativismo da verdade.

- p. 64-65: ócio e autodidatismo no piano.

- p. 69: cabe ao orador despertar o interesse.

- p. 77-78: a aprendizagem antecipadora pode ser benéfica.

- p. 81-94: digressões de Kretzschmar – Cultura e barbárie, Música e ascetismo, o reencontro com o Elementar, a história do anabatista Beissel (teoria musical heterodoxa – senso de ordem válido?).

- p. 96-98: formação cultural de Adrian por Kretzschmar – Shakespeare, Beethoven etc.

- p. 106-107: Adrian e sua mescla de autocontrole intelectual e ânsia levemente febril

- p. 109-110: a Filosofia como rainha das ciências; sacrificium intellectus?

- p. 111: Adrian havia se libertado de Kaisersaschern? Livre = neutro, característico = ligado.

- p. 113: alemães, um povo confuso.

- p. 117-121: Halle, entre humanistas e fanáticos religiosos; o problema das tentativas de racionalizar a fé; o risco de demonologia na Teologia.

- p. 126: o curso de Teologia e a enteléquia de Aristóteles.

- p. 128-130: o professor Kumpf – anti-dogmático, dúvida religioso quanto à confiabilidade de nosso pensamento, relação pessoal com “o opositor de Deus”.

- p. 133-138: o professor Schleppfuss – psicologia da religião, Mal como conseqüência necessária da existência de Deus, liberdade e pecado, exemplo da mulher adúltera.

- p. 141-146: o sexo como domínio demoníaco, exemplo do “impotente” (mulher faz bruxaria para garantir fidelidade), crítica de Serenus.

- p. 154-158: debate dos jovens da Winfried sobre a juventude; Adrian é mais cético que os demais.

- p. 160-167: a Igreja, o nacionalismo (von Teuteblen) e o socialismo (Matthäus Arzt), a crítica nominalista (Hubmeyer), a síntese de Deutschlin, a questão do homem moderno (Dungersheim).

- p. 170: França e Literatura, Alemanha e Música.

- p. 174-179: carta de Adrian a Kretszchmar; a Teologia como tentativa malograda de autodisciplina; a música como “Homo fuge”; a Arte como paródia.

- p. 180-182: comentário de Serenus; a resposta de Kretzchma (“chega de celibato teológico”; “cumpre procriar”) .

- p. 189-192: trecho da carta de Adrian sobre visita ao prostíbulo; súbita mudança de tom (e vocabulário) depois que a confissão foi feita.

- p. 193-199: análise da carta por Serenus; “inferno da volúpia” e pureza corrompida.

- p. 205-208: o encontro de Adrian com a “Hetaera esmeralda”; “acautelou-o contra seu próprio corpo”; digressão sobre o amor.

- p. 209-211: o misterioso destino dos médicos de Adrian – um morre, o outro é preso.

- p. 216-217: adaptação da Divina Comédia; Serenus critica renegação humana em prol de uma predeterminação absoluta.

- p. 225-230: sobre Schildknapp – falta de impulso criativo, “gentlemanlike”, aproveitador, compensação no egocentrismo racial, não ajuda amigos, humorista, os olhos da indiferença.

- p. 231-235: reflexão sobre a II Guerra – Alemanha européia e Europa alemã, barbárie em nome da Cultura, colapso alemão, guerra perdida.

- p. 242: o professor como personificada consciência do aluno; em um mundo desarmônico, a bela aparência se transformou em mentira.

- p. 243-244: a obra de arte como fraude; aparência x conhecimento; a máscara de banalidade, ingenunidade.

- p. 248: o sono leve da Música nas poesias românticas.

- p. 252: “uma só carne” – amor e sensualidade são sinônimos; a domesticação do desejo pelo casamento.

- p. 255-256: a necessidade de um mestre-escola; liberdade e esterilidade; a subjetividade como uma forma de organização.

- p. 259-260: a composição rigorosa; a dialética da liberdade; os fenômenos mais interessantes da vida têm a ambigüidade de passado e futuro.

- p. 267-269: amigos de Munique – o cômico Leo Zink, o cético e “dissimulado” Baptist Spengler e o bem-apessoado e extrovertido Rudolf Swerdtfeger.

- p.273: a vida cultural da Munique pré-I Guerra.

- p. 276: Adrian descobre a bucólica aldeia de Pfeiffering.

- p. 281-282: a senhorita que engravidou do chofer do pai e teve o filho na casa da sra. Schweigestill.

- p. 287: os irmãos Manardi: o advogado conservador Ercolano e o livre-pensador Alfonso.

- p. 291-292: Shakespeare traído pela amante como influência para Byron e Rosaline.

- p. 293: Cultura (erudição arrogante) x Barbárie (atitude natural); Serenus e o papel humanista da Música.

- p. 300-338: o relato da conversa de Adrian com o Diabo.


• 302-304: “Ele” se parece com um rufião, “falando alemão e espalhando frio”; Leverkühn não gosta de tutear.
• 307-309: ampulheta do tempo; Sammael, o “anjo do veneno”; sobre disfarces; alemão é talentoso, mas lerdo.
• 311-312: Diabo oferta tempo grandioso; as dores da Pequena Sereia; Dr. Martinus = Lutero?
• 313-314: alusão à doença venérea de Adrian; “Ele” não se interessa pelos medíocres.
• 318-320: reflexões sobre o que é mórbido e sadio; a loucura e a doença; “o artista é irmão do criminoso e do demente”; o diabólico como triunfante superação da crítica.
• 322-324: Diabo muda de aparência, tornando-se mais elegante; Adrian começa a se sentir à vontade; a composição tornou-se mais difícil na arte emancipada; a submissão à técnica.
• 325-326: obra = tempo = aparência; expressar a dor em seu momento real; a aparência auto-suficiente da Música tornou-se impossível; caráter ilusório da obra de arte burguesa.
• 327-329: a paródia como niilismo aristocrático; Música é tão matéria teológica quanto o pecado; “doença criativa, propiciadora de gênio”; Diabo diz que Adrian se tornará o líder de uma geração, emanando loucura inspiradora; burguesia abandonou a Religião e cultuou a Cultura em si mesma, e agora está farta desta.
• 330: Diabo deixa de se parecer com um intelectual musicólogo (Kretzschmar?) e ganha a aparência de um professor de Teologia (Schleppfuss?).
• 332-335: a “volúpia infernal” e os insultos; Inferno não oferecerá novidades a Adrian (peculiaridade dos extremos); reflexão sobre a desesperança do arrependimento diante de pecado imperdoável (Caim), um desafio à infinita Bondade.
• 336-338: “Ele” oferece 24 anos de genialidade criativa em troca de Adrian renunciar a amar (“esfriamento total de tua existência”); deboche à Psicologia; Leverkühn volta ao normal, e percebe que estava lendo o livro do Cristão (Kierkegaard).

- p. 339: Serenus reflete sobre a elaboração da biografia do amigo em meio à guerra (1944).

- p. 341: um fim funesto para nós, depois que uma política de inspiração funesta nos pôs em conflito.

- p. 349: embora sob isolamento na casa da Sra. Schweigestill, Adrian ainda recebia visita de pessoas da cidade.

- p. 350: sobre Spengler, “no seu Espírito, o sexo e o intelecto andavam estreitamente ligados”.

- p. 357: Adrian era muito crítico para pensar a Arte como uma luz que iluminasse as trevas.

- p. 359: composições de Adrian têm um quê de “especular os elementa” (pai).

- p. 360-365: relato sobre viagem submarina. “Adrian fazia seu relato exatamente como se de fato tivesse descido ali”.

- p. 368-370: discussão sobre a natureza e a espiritualidade, ciência vs. religião. “Meu Homo Dei humanista (...) não passaria então (...) de um produto da fertilidade de gases dos pântanos de um dos planetas mais próximos...”

- p. 376: Barão de von Riedesel, “conservantismo esse de caráter pós e anti-revolucionário, espírito frondista contra os valores estabelecidos pela burguesia liberal”

- p. 377: Breisacher, “um filósofo da cultura cuja mentalidade se dirigia, contudo, (...)contra a própria Cultura”. Via na história da mesma um processo de decadência. Desprezava o “progresso”.

- p. 381: segundo Breisacher, o rei Salomão abandonou as tradições de um deus nacional, “quinta-essência da força metafísica do povo”, e iniciou o culto a um Deus abstrato.

- p. 382: “expectorações altamente conservadoras de Breisacher, tão divertidas quanto nojentas”.

- p. 383: em uma religião autêntica, não existe pecado. “Tudo o que é moral é deformação ‘puramente espirtual’ do rito”.

12 fevereiro 2011

Control Freak

"A sua adolescência passou sem nenhuma loucura e trangressão, nada mais espontâneo que decidir fazer uma maratona de Dawson's Creek com coca-cola e bolacha recheada durante a madrugada, e tudo indica que a sua vida adulta vai ser da mesma forma, o que indica que vc não é normal."

Uma amiga minha disse-me isso dia desses, enquanto argumentava que eu não era uma pessoa tão bem-resolvida quanto achava que era. Well, what can I say? Ela tem razão. A minha vida é a saga de um rapaz excessivamente sistemático e metódico, desprovido de espontaneidade e "senso de aventura". O único período em que tive alguma emoção foi durante meu único namoro até hoje (meados de 2009), e ainda assim porque minha ex era meio maluca, rs.

Porém, ainda assim, não posso dizer que não gosto de como minha vida é. Pelo contrário: acho até que sou bem feliz com essa "estabilidade entediante". A ausência de vida amorosa e sexual em 99% de minha existência terráquea não chega a ser um grande incômodo. Talvez só virá a ser daqui a 10, 12 anos, caso eu não consiga arranjar esposa e filhos(as). Porém, por pelo menos por mais uma década, estou bem contente por estar devotado a um mundo repleto de livros, CDs, internet e festinhas indie. Por enquanto, tudo o que planejei para o meu futuro está correndo como esperado. A próxima meta, aliás, é o mestrado. Let's see if I can get it...

Será, no entanto que devo me contentar com isso? Oferecerá a vida mais do que simplesmente se focar em uma carreira de professor universitário e escritor? Deveria eu me importar mais em fazer coisas "fora do plano"? Afinal, mesmo as festas e baladas nas quais vou seguem sempre o mesmo script, quase nada sai do esperado: chego cedo, danço, encontro os amigos(as) e converso com eles(as), danço, bebo Coca-Cola, danço mais um pouco e vou embora às 5 da manhã.

Creio que minha personalidade e caráter já estão muito consolidados para que eu "descubra" novas facetas para Kaio F. Mesmo no meu único relacionamento, havia uma rotina (e eu mesmo me empenhei para mantê-la); não mudei quem eu era por causa de uma garota. Se isso é intransigência e egocentrismo, não sei ao certo. Não sou alguém muito "chato" (várias pessoas já me disseram que superei as expectativas que elas tinham em relação a mim, considerando a má 1ª impressão que passo), não tenho inimigos ou rivais, tampouco guardo ressentimentos de algo ou alguém. Então, o que há de errado em ser como eu sou?

Eu mesmo admito que os momentos mais divertidos de minha vida foram aqueles que não planejei. Aquele fim de semana em São Paulo, 3 meses atrás, p.ex. Ou o 'sabadomingo' depois do último simulado da 8ª série, em que fiquei perambulando pelo Setor Bueno com meus colegas. E por aí vai. O que fazer, então? Como ser mais espontâneo, "aberto" ao que a vida tem a me oferecer? Por que temo tanto a imprevisibilidade?

Por enquanto, resta-me rir dessas besteiras com que me atormento. Nisso Michel de Montaigne foi especialmente útil enquanto "conselheiro": não vale a pena ficar deprimido ou chateado com as próprias limitações. "Aceite quem você é, tenha auto-estima". Afinal, eu lido tão bem com a solidão (embora não deixe de ter uma vida social), sou uma pessoa até alegre, sei bem o que quero (inclusive o que quero "ser")... logo, não há motivo para fazer drama.

Nevertheless, espero que, na semana que vem, durante minha estadia de 9 dias em São Paulo, eu tenha novas experiências e insights. Porém, só encontrarei tais respostas no final deste mês. Enquanto isso, resta-me aproveitar este Fevereiro!

P.S.: Musa inspiradora: Marina & the Diamonds.

"I know exactly what I want and who I want to be. (...) I'm now becoming my own self-fulfilled prophecy."


10 fevereiro 2011

BildungsroMann

Eu sei que é estranho o fato de eu nunca ler meu escritor favorito "numa só sentada". Com a exceção de "Carlota em Weimar", cujas 250 páginas finais li em apenas dois dias, nunca li obras de Thomas Mann com grande velocidade. Mesmo "A Montanha Mágica" demorei 1 ano e meio para concluir (longa história, mas, para simplificar, digamos que li as 500 primeiras páginas por uma edição emprestada por uma colega minha e as 500 finais numa que ganhei de aniversário, meses depois).
Com "Doutor Fausto", a escrita (quer dizer, leitura) se repete. Em Dezembro do ano passado, até que comecei bem: li as 330 primeiras páginas em 1 semana, até ser interrompido pelas aulas da UnB e novas prioridades para minha cabeceira (Erasmo, Montaigne...). Agora que voltei para Goiânia, resolvi retomá-lo. A leitura vem sendo bem lenta, até porque estou no famigerado "ritmo de férias", e fiquei vislumbrado com os downloads bem mais rápidos da internet daqui de casa em relação à da minha kit-net brasiliense. Ontem mesmo relatei no Facebook que baixei 3 filmes de quase 400 MB cada em menos de 20 minutos! Estou fazendo estoque para os tempos difíceis, haha!
Porém, sinto que já está na hora de me "forçar" a ler mais detidamente este romance.
Como álibi, afirmo que, desde ontem já estou em ritmo de monografia: coletei dezenas de páginas de artigos e ensaios sobre Thomas Mann, alguns especificamente sobre "A Montanha Mágica". Além disso, estou pedindo dicas de bons historiadores culturais para meus colegas de História, e em breve começarei a coletar teóricos políticos que "legitimam" minha área de estudo (Política & Literatura). O que mais gosto no meu tema é que ele me permite coletar bibliografia de várias áreas: Crítica Literária, Filosofia, Teoria Política, História etc. Para alguém como eu, um humanista que abomina a especialização acadêmica, nada mais gratificante.
Espero que dê tudo certo com a minha "mono", porque penso em fazer uma tese de mestrado ambiciosa: Identidade e Liberdade em "A Montanha Mágica" e "Os Irmãos Karamázov". Seria o máximo estudar comparativamente as ideologias políticas e visões de mundo dos 3 personagens principais (Castorp, Settembrini, Naphta x Alieksiêi, Ivan, Dmitri) de cada um destes dois clássicos!
Porém, voltando para o presente... preciso terminar logo de ler "Doutor Fausto" para ter ainda mais temáticas para pensar. Ou vocês acham que não vou querer relacionar Settembrini com Serenus Zeitblom e Naphta com Adrian Leverkühn e os professores de idéias radicais que ele teve? Mann pode ser por vezes maçante (e até irritante para quem não domine os assuntos sobre os quais ele adora falar - imaginem quão perdido fiquei quando ele fazia digressões sobre teoria musical!), mas seu estilo claro e realista e a riqueza de idéias presentes em seus personagens me fascinam profundamente.

08 fevereiro 2011

Back to hometown

Acordar.
Arrumar as malas.
Ouvir X e Elvis Costello.
Baixar o jogo "100 Classic Books" para o DS.
Terminar de ler "Críton" (Platão).
Tomar um copo de café.
Pegar carona.
Voltar a ler "Doutor Fausto".
Desjejuar no Sabor Goiano.
Chegar em Goiânia um pouco mais cedo do que o esperado.
Perambular pelo Flamboyant carregando uma bolsa/pasta, uma mochila muito pesada e uma mala de rodinhas.
Passar horas pelas prateleiras da Saraiva.
Comprar o interessante "A cultura do Renascimento na Itália" (Jacob Bruckhardt).
Lanchar Double Cheddar e milk shake Ovomaltine no Bob's.
Rever a mãe.
Fazer compras no Pão de Açúcar.
Reencontrar irmãos.
Rir de boa piada "politicamente incorreta" sobre judeus e negros.
Caçar ensaios e resenhas sobre Thomas Mann e "A Montanha Mágica" pela internet afora.
Postar este texto.

06 fevereiro 2011

Letras dos Objectivists

Eu e dois amigos resolvemos montar uma banda, chamada The Objectivists ("homenagem" à corrente filosófica de Ayn Rand). Já escrevi 4 letras, sendo as 2 últimas foram compostas hoje (já tinha ensaiado "The Freedom Anthem" e "Communist Party" com o Luti em Dezembro).


THE FREEDOM ANTHEM

I don't care for the "social"
It's an excuse for "dictatorial"
I don't wanna pay more taxes
They never use it for the masses

I love my freedom
And I really hate the State
They only want to control us
It’s a road to slavery

The freer the market is,
the freer the people, yes
It's how we want to live
That's what we believe

Free market
Free trade
Free speech
Freedom from state


COMMUNIST PARTY

Hey communist, what you’re thinking of?
“Change the world”
What you celebrate?
“Social justice”

What do you hate?
“All the riches”
What about Mao and Lenin?
“The red vanguard”

Hey communist, you’re gauche caviar!
“I disagree”
We won't forgive you!
“I’m so cool and arty
Oh yeah”

Cocaine and socialism
Cuba Libre and marxism
Mon Chandon and trotskism, now!

You say I don’t mind
You say I don’t mind at all


FASHIONABLE NONSENSE

Less than an attraction
I've got an objection
All is relative
No meta-narrative

Forget the values
What matters is amuse
Objective truth, illusion
The whole thing, confusion!

I’m fashion, I’m nonsense
I don't believe in reality
I’m fashion, I’m nonsense
It's all fake, even gravity

The docile bodies
The chaos parties
Boy, he's reversing
Always deconstructing

It's all liquid
Our senses are fluid
Told me that for testing
I should jump from a building

(Oh-oh, this concrete exists! Am I dead...)


GET OUT OF MY WAY

You say you are feminist
You put men on the blacklist
You defend inclusive language
You hate family and marriage

You say dykes have the beat
You even refuse to eat meat
But I think you're frustrated
Cos’ nobody wanna see you naked

Hey, girl, get out of my way
Hey, girl, get out of my way
Hey, girl, get out of my way
I'm tired of what you say

You talk about the falocracy
You always see the mysoginy
You find all the reasons to complain
You're quoting Beauvoir again

You say dykes have the beat
You even refuse to eat meat
But I think you're just frustrated
'Cause nobody wanna see you naked

Hey, girl, get out of my way
Hey, girl, get out of my way
Hey, girl, get out of my way
You're just a cunt, go away

05 fevereiro 2011

Less than Attraction

Este post consistirá em uma resenha dupla: "Abaixo de Zero" e "Os Jogos da Atração", dois primeiros romances de Bret Easton Ellis. Terminei este em Dezembro, e aquele há alguns minutos.

Por enquanto, limitar-me-ei a citar as passagens mais importantes da ambos os livros. Mais tarde edito este post.

OS JOGOS DA ATRAÇÃO

- Fluxo de consciência
- Niilismo e vazio existencial
- Perspectivismo (tanto narrativo quanto epistemológico)
- Diferenças em relação ao filme: Paul aparece menos na película que no romance; Sean é mais sombrio neste e mais inseguro naquela; Lauren, no original de Ellis, é mais cínica e fria; inversão do “ele gosta de você” deixa final do filme mais “hetero” que o do livro; o relacionamento entre Sean e Paul, que já era ambíguo, fica duvidoso na versão cinematográfica; garota suicida aparece sutilmente em várias cenas; Mitchell é mais “straight” na telona que no papel; a perda da virgindade de Lauren fica em aberto no final do filme (apesar da sequência inicial, enquanto que no livro ela teve vários parceiros sexuais e até ficou grávida; Lara incorpora as personagens femininas ninfomaníacas (como Judy); no filme, Sean sequer chega a beijar Lauren.

- p. 21-24 (Victor na Europa)
- 32-35 (Paul e lista negra)
- 56 (conversa de Lauren e Judy)
- 62-69 (tentativa de suicídio de Harry; indiferença de Paul)
- 79-81 (duas versões sobre a noite de Sean e Paul)
- 82 (a vida como erro tipográfico)
- 90-92 (Sean e a hippie)
- 98-99 (Lauren ouvindo conversa aleatória)
- 112-113 (Lauren sobre relacionamento com Franklin)
- 135-137 (Paul e Sean; Lauren pré-festa)
- 146-147 (piada de Dick)
- 150 (Joy Division na festa)
- 153-154 (divórcio dos pais de Sean)
- 166-168 (Dick & Paul)
- 169 (suicídio da stalker)
- 176-178 (Clay)
- 182 (o que se faz na faculdade)
- 188-192 (pseudo-intelectuais)
- 205 (Sean tenta se enforcar)
- 210 (Dostoievsky e Kafka)
- 222 (triângulo amoroso)
- 233-234 (os irmãos Patrick e Sean)
- 247-248 (Sean pede Lauren, grávida, em casamento)
- 256-258 (tédio e aborto)
- 259-260 (Sean extrai uma lição)
- 263-264 (correndo dos traficantes)
- 266 (Victor refletindo no show do REM)
- 272 (Paul conversa com Lauren)
- 275 e 11 (elo, história se completa)


ABAIXO DE ZERO

- Moralismo enrustido; personagem, por mais que disfarce, não é indiferente à perversão e absurdo que estão à sua volta.
- Diferenças em relação ao filme: Clay é bissexual; Blair e Julian aparecem bem menos; Trent, Kim e outros coadjuvantes foram suprimidos da adaptação; livro é muito mais sombrio que o filme; Rip é gay; poucas cenas do romance são aproveitadas na versão cinematográfica (ex.: atropelamento dos coiotes).

- p. 7-8 (pessoas têm medo de mudança)
- 15 (New Hampshire te deixou esquisito)
- 17 (“nunca telefonei para ela. Digo que sinto muito.”)
- 19 (o analista esnobe e indiferente)
- 20 (medo de mudar; “ele está disponível?”; anorexia)
- 20-22 (cinismo e promiscuidade; bissexualidade)
- 25 (sobre Rip transar com Alana - “por que não?”)
- 28 (Clay na casa de Griffin)
- 29 (slogan - “Desapareça aqui”)
- 32 (“São as drogas – resmungo”)
- 33 (choro, memórias, “coisas do jeito que foram”; Muriel no hospital)
- 38 (“É bem provável que eu não me interesse por nada”)
- 46-47 (banca de revista; Vanden; ímpeto em convencer Daniel surpreende o próprio Clay)
- 48 (“Eu sou este rapaz de dezoito anos...”)

"... e percebo que, no fundo, tudo se enquadra: eu sou este rapaz de dezoito anos com cabelos louros e mãos trêmulas e meio bronzeado e um pouco embriagado, sentado no Chasen's na esquina de Donehy com Beverly, esperando meu pai perguntar o que quero de Natal." (p. 48)

- 52 (Blair no telefone, fotos dela que Clay guardava)
- 55-56 (Toyota capotado na estrada, Clay não pára; recortes de jornal de situações violentas)
-62-63 (Muriel trancada; o fotógrafo)
- 64 (discos do Led Zeppelin, segundo pastor da TV, são demoníacos)
- 77 (indiferença à velhinha)
- 78 (DJ com visual entre o gay e a new wave; “O desalento predomina”)
- 79 (a gorda do bar)
- 83 (sonho estranho, afundando na lama)
- 87-89 (na boate com a garota bêbada; no analista)
- 90-91 (com família em Palm Springs)
- 96 (personagens do filme eliminados sem motivo – “isso acontece na vida real”)
- 102 (programa religioso; “que esta seja uma noite de Libertação)
- 105-106 (diretor não lembra nome do dublê morto)
- 106-108 (conversa com Kim – “Você faz o quê?”)
- 114 (Alana - “perdemos toda espécie de sentimentos”)
- 116 (história de estupro daria um bom roteiro)
- 118-119 (lembranças da avó; Clay visita a escola em que estudava)
- 125 (Clay sobre programa de Julian – “Só me interessa ver o pior”)
- 127 (Julian prostituindo-se para homem no hotel)
- 133 (frase que ecoa – “Você é bonitinho e isso é tudo que interessa”)
- 136-137 (estupro da menina de 12 anos; Rip – “Se você quer fazer uma coisa, tem o direito de fazer”)

"- É que... - minha voz some.
- É o quê? - Rip quer saber.
- É que... não acho isso certo.
- O que é certo? Se você quer uma coisa, tem o direito de tomar. Se quer fazer uma coisa, tem o direito de fazer.
Apóio-me na parede. Posso ouvir Spin gemendo no quarto e o som de uma mão dando um tapa, talvez num rosto.
- Mas você não precisa de nada. Tem tudo - digo.
Rip olha para mim: - Não. Não tenho não.
(...) Depois de uma pausa, pergunto: - Que merda, não tem o quê, Rip, o que você não tem?
- Não tenho nada a perder." (p. 137)

- 145-148 (lembranças e última conversa com Blair)

"- Clay, você já me amou?
Estou examinando um outdoor e digo que não ouvi o que ela disse.
- Perguntei se já me amou alguma vez.
No terraço, o sol explode em meus olhos e, por um instante, ofuscado, posso me ver nitidamente. Lembro-me da primeira vez que fizemos amor na casa de Palm Springs, seu corpo molhado e moreno, deitado em lençóis brancos e frescos.
- Não faça isso, Blair.
- É só responder.
Não digo nada.
- É uma pergunta tão difícil de ser respondida?
Olho diretamente para ela.
- Sim ou não?
- Por quê?
- Porra, Clay - ela suspira.
- É, claro, creio que sim.
- Não minta para mim.
- Que merda você quer ouvir?
- É só dizer - ela fala, aumentando a voz.
- Não - quase grito. - Nunca - respondo e quase começo a rir.
Ela inspira e diz: - Obrigada. É tudo que eu queria saber. - Toma o vinho.
- Você já me amou? - pergunto de volta, embora a essa altura nem esteja ligando.
Ela hesita: - Pensei nisso e sim, o amei numa determinada época. (...) Você era gentil. (...) Mas era como se você não estivesse ali
." (p. 147)

- 150 (reflexão sobre imagens de LA)

04 fevereiro 2011

2 paragraphs

Reunião dos Estudos Humanistas pela manhã. Decidimos tudo em cerca de uma hora, e agora posso tirar férias tranqüilo, com a divisão de tarefas já realizada. Agora, só me resta a ansiedade pelas notas de EVIES, Técnicas e ITL.
Depois de um almoço na Subway com o pessoal, fui para casa e passei o dia em letargia. Já que não irei à Play hoje (ninguém animou...), contentar-me-ei em passar minha 6ª à noite ouvindo of Montreal, lendo "Abaixo de Zero" e assistindo ao episódio 2 da 5ª temporada de Skins UK. Bye!

03 fevereiro 2011

Fim do semestre, hallelujah

Acabou o meu 6º semestre na UnB. Em razão da greve, as aulas começaram no fim de Setembro e acabaram só agora, no início de Fevereiro. Em vários aspectos, foi um bom período: fiz matérias interessantes (destaque para Introdução à Teoria da Literatura), dei 3 aulas, escrevi meus 2 primeiros artigos (sendo que o primeiro deles será publicado em uma revista em Março), consolidei meu círculo de amizades, fui em boas festas, voltei a escrever meu romance, li ótimos livros... enfim, não tenho do que reclamar. De fato, 2010 (e essas 4 primeiras semanas de 2011) foram o melhor ano de minha vida.

Espero voltar a atualizar o blog com maior freqüência. Desde 2009, graças ao Twitter (que estimula o laconismo) e à UnB (tanto em vida acadêmica quanto social), não fui um postador tão assíduo quanto costumava ser. Talvez eu devesse tentar, já neste mês de Fevereiro, escrever mais em Racio Símio, nem que seja para falar qualquer bobagem.

Hoje o post será bem curto; só passei para dizer que comecei a ler "Abaixo de Zero" (Bret Easton Ellis). Antes de terminar os ensaios de Montaigne e "Doutor Fausto" (Thomas Mann), decidi ler algo mais contemporâneo, junkie, staccato. Afinal, ninguém consegue ser sério o tempo todo; confesso que, embora despreze o pensamento pós-moderno, tenho uma queda por literatura desta tendência - mas só os bem escritos, com linguagem ágil e dinâmica. Passo longe dos mais "experimentais" e pretensiosos. Easton Ellis já me proporcionou o ótimo "Jogos da Atração", agora lerei seu debut como romancista. Já vi o filme, mas como vivem dizendo que ele é pouquíssimo fiel ao livro (embora, mesmo assim, seja bom), resolvi pegá-lo emprestado na BCE.

Smell you later!

01 fevereiro 2011

Serenidade, Ceticismo e Auto-Consciência nos Ensaios de Montaigne - parte 1

1ª parte do meu fichamento dos três volumes - cobri o primeiro e metade do segundo. Faltaram capítulos importantíssimos, como "A propósito de Virgílio", "Da experiência" e três quartos de "Apologia de Raymond Sebond". Em breve postarei estas e outras digressões e passagens importantes da obra de Montaigne.


Volume 1

I – “Por diversos meios chega-se ao mesmo fim”

Amolecer o coração daqueles nos têm à sua mercê é possível pela submissão e piedade (corações bondosos e pouco enérgicos), mas também por meios inteiramente opostos, como a bravura e a coragem (almas bem temperadas que honram a tenacidade). “Em verdade, o homem é de natureza muito pouco definida, (...) dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme” (p. 35). Ex.: Alexandre – falta de piedade ou inveja?

V – “Deve o comandante de uma praça sitiada sair para parlamentar?”

Anedota sobre comandante que saiu para parlamentar. Ardil (astúcia, raposa) x coragem (“leal e justa”, leão). Romanos colocam a coragem acima do ardil, mas Virgílio é da opinião de que isso depende. “Confio nos outros, mas só se isso for julgado como lealdade e não covardia” (p. 49).

VIII – “Da ociosidade”

Quando ocioso, o espírito se dispersa em 1000 pensamentos dispersos (p. 53-54). Precisa o espírito de disciplina, para não cair na imaginação.

XIV – “O bem e o mal só o são, as mais das vezes, pela idéia que deles temos”

“Os homens (...) atormentam-se com a idéia que têm das coisas e não com as coisas em si” (p. 66). As coisas que tememos não têm caráter próprio, quando na verdade há uma diversidade de opiniões. “Encaramos a morte, a pobreza e a dor como nossos piores inimigos” (p. 67), mas a 1ª já foi recebida com alegria ou indiferença por muitos. Quanto à dor, se excessiva, logo parará; quando prolongada, é leve. Além disso, precisamos contar mais com a nossa alma e não só com o corpo. “A opinião que temos das coisas é que as valoriza” (p. 77). A riqueza só atrai e traz prazer se combinada com a prudência. Não vale a pena, p. ex, ficar economizando se com isso nos privamos de uma vida agradável.

XX – “De como filosofar é aprender a morrer”

A sabedoria e a inteligência nos ensinam a não ter receio de morrer. Na própria prática da virtude o fim visado é a volúpia (p. 93), e um dos principais benefícios da virtude é justamente o desprezo que nos inspira pela morte. Esta, aliás, é a meta/fim de nossa existência. Não existe hora certa ou errada para morrer, pois é uma obra do destino (uma vez perdida, não podemos lamentar); muitas pessoas de destaque morreram jovens. “Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir” (p. 97). A própria religião cristã ensina o desprezo à vida. Qualquer que seja a duração de sua vida, ela é completa (p. 103). Feliz é a morte que nos surpreende sem que haja tempo para preparativos! (p. 105)

XXIII – “Dos costumes e da inconveniência de mudar sem maiores cuidados as leis em vigor”

Pérfido e tirânico professor, que às escondidas ganha autoridade sobre nós, o costume é o guia mais seguro em todas as coisas (p. 115). Enumeração de costumes dos mais pitorescos (p. 118-121). Em suma, não há nada que o costume não faça ou não possa fazer. O hábito tem o poder de se apoderar de nós de tal maneira que temos dificuldade em refletir sobre os atos a que nos impele (p. 122). É de bom senso obedecer às leis de seu país, pois muitas vezes a mudança pode gerar mal maior ainda. Exemplo da Reforma: “Essa que nos atormenta há tantos anos, não produziu ainda todas as suas conseqüências e, no entanto, podemos dizer que (...) tudo atingiu e foi a causa primeira de muitas desgraças” (p. 126). Por melhor que seja, o pretexto da novidade é muito perigoso. “... me parece sinal de excessivo amor-próprio e grande presunção valorizar alguém a sua opinião a ponto de tentar, a fim de vê-la triunfante, subverter a paz pública em seu próprio país...” (p. 127).

XXV – “Do pedantismo”

O saber doutoral era visto com desprezo por homens esclarecidos como Plutarco (p. 137). Crítica aos “homens incapazes de agir e cuja filosofia consiste unicamente em palavras”. Os filósofos, grandes pelo saber, foram maiores ainda quando passaram à ação (p. 139). “Cuidamos das opiniões e do saber alheios (...); é preciso torná-los nossos. (...) Que adianta ter a barriga cheia de comida se não a digerimos? Se não a assimilamos, se não nos fortalece e faz crescer!” (p. 141).

“A filosofia é inacessível às almas bastardas e vulgares”. Isso traz um problema: na maioria das vezes, quem procura o saber são exatamente aqueles que não possuem aptidão, pois vêem no estudo apenas uma possibilidade de exercer uma profissão e enriquecer-se, e não uma forma de aprimoramento do espírito. Para pio, são justamente estes homens, sedentos por lucro e desvirtuados, “que vêem o bem mas não o fazem, e vêem o saber e não sabem servir-se dele”, que se tornam mestres (p. 144).

Exemplos virtuosos dos espartanos e persas: “na escola um aluno que possuía um capote curto demais deu-o a seu camarada menor e tomou o deste que era mais comprido. (...) Eu achei que se devia deixar as coisas como estavam, porquanto parecia que cada qual se via possuidor de um capote a seu feitio. Meu mestre mostrou entaõ que assim julgando eu não consultara senão a conveniência e que fora preciso atentar antes para a justiça, a qual estabelece que ninguém seja despojado à força daquilo que lhe pertence”. É preciso colocar as crianças desde cedo em contato com a realidade, instruindo-a não por palavras, mas pela ação (p. 145).

XXVI – “Da educação das crianças”

“Censurar nos outros os meus próprios erros não me parece mais inconseqüente do que revelar, como faço amiúde, os dos outros em mim. É preciso apontá-los onde quer que estejam e não lhes dar asilo” (p. 148).

“Não cessam de nos gritar aos ouvidos (...) o que nos querem ensinar, e o nosso trabalho consiste em repetir”. Isso é um erro; melhor seria indicar o caminho à criança mas deixá-la discernir por si própria. É sábio tentar tornar suas idéias infantis, para melhor guiar a criança. “Anda-se com mais segurança e firmeza nas subidas do que nas descidas”. É preciso fazê-la expor o de mil maneira o que aprendeu, a fim de verificar se o assimilou bem. (p. 151)“Nosso espírito, no sistema que condena, não procede senão por crença (...), servo e cativo de ensinamentos estranhos. (...) Vigor e liberdade extinguiram-se em nós” Apresente às crianças todos os princípios em sua diversidade e que ela escolha se puder. “E se não o puder fique na dúvida, pois só os loucos têm certeza absoluta em sua opinião (...) Não se trata de aptrnder os preceitos desses filósofos, e sim de lhes entender o espírito”. (p. 152)

“Do que sabemos efetivamente, dispomos sem olhar para o modelo, sem voltar os olhos para o livro. Triste ciência a ciência puramente livresca!” A firmeza, a boa-fé e a sinceridade são a verdadeira filosofia, como diria Platão. “Para exercitar a inteligente, tudo o que se oferece aos nossos olhos serve suficientemente de livro: a malícia de um pajem, a estupidez de um criado, uma conversa à mesa, são, como outros tantos, novos assuntos”. (p. 153)

A criança não deve ser educada junto aos pais, pois, além de sua presença ser nociva à autoridade do preceptor, eles não são capazes de lhes punir as maldades e ser severos para prepará-la para as aventuras da vida. “Não basta fortalecer-lhe a alma, é preciso também desenvolver-lhe os músculos”. (p. 154)

“Este mundo tão grande (...) é o espelho em que nos devemos mirar para nos conhecermos de maneira exata. Em suma, quero que seja esse o livro do nosso aluno”. “Entre as artes liberais, comecemos pela que nos faz livres”: a filosofia, “em cujas regras devem inspirar-se as ações humanas” (p. 158).

Em seguida, devem ser ensinadas a Lógica, a Física, a Geometria e a Retórica; como já terá a inteligência formada, o jovem poderá aprender a ciência que escolher. “O ensino deverá ser ministrado ora por conversas, ora por leituras.” (p. 159)

“É estranho que em nosso tempo a filosofia não seja, até para gente inteligente, mais do que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor, na teoria como na prática. Creio que isso se deve aos raciocínios capciosos e embrulhados com que lhe atopetaram o caminho. (...) O mais visível sinal de sabedoria é uma alegria constante. O sábio é sempre sereno” (p. 160).

Nosso jovem “em toda parte estudará, pois, a filosofia, que será sua principal matéria de estudo; como formadora da inteligência e dos costumes, tem o privilégio de se misturar a tudo” (p. 163).

Citação de Cícero: “Foi muito mais nos costumes do que nos escritos que os filósofos aprenderam a maior de todas as artes: a de bem viver”. O jovem traduzirá estas lições nos atos de sua vida. “Ao fim de quinze a dezesseis anos compare-se o nosso jovem a um desses latinistas de colégio que terá levado o mesmo tempo a aprender a falar! O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia” (p. 166).

É preferível amoldar a frase ao pensamento a modificar a idéia para embelezá-la. “Quero que o pensamento a ser comunicado domine e penetre a imaginação de quem ouve, a ponto de que não mais se lembre das palavras”. É preferível uma linguagem soldadesca do que uma pedante (p. 169).

Filólogos (aprender as coisas por si) x logófilos (não se importam senão com as palavras). Anedota sobre como aprendeu latim: até os 6 anos, todos na casa, inclusive os criados, só se comunicavam em minha presença em tal língua. (p. 170)

XXVIII – “Da amizade”

La Boétie foi meu melhor amigo. Conheci-o graças a seu ensaio, “A Servidão Voluntária”. “É verdade que a amizade assinala o mais alto ponto de perfeição na sociedade”. Ela nutre-se de comunicação, e não se verifica entre pessoas ligadas por parentesco (pai e filho, irmãos), porque tais relações nos são “impostas” pela natureza (p. 178).

A amizade, ao contrário do amor, cresce na medida do desejo que dela temos. Sua prática apura a alma. Crítica à “licenciosidade contra a natureza que era permitida entre os gregos” (alusão ao homossexualismo – homens que eram amigos e amantes). (p. 180-181)

Entre amigos, serviços e favores “não entram na linha de conta e isso porque as vontades intimamente fundidas são uma só vontade”. Entre amigos, tudo é comum, compartilhado. Talvez isso explique porque os legisladores inventaram, para o casamento, a comunhão de bens. (p. 184)

XXXI – “Dos canibais”

“Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra” (p. 195).

Segundo Platão, todas as coisas são produzidas pela natureza, pelo acaso (destino, Fortuna) ou pela arte; as belas e grandiosas são frutos das duas primeiras causas, enquanto as menores e mais imperfeitas, da última. “Esses povos não me parecem (...) merecer o qualificativo de selvagens somente por não terem sido senão muito pouco modificados pela ingerência do espírito humano e não haverem quase nada perdido de sua simplicidade primitiva” (p. 196),

Podemos julgar o canibalismo e outros atos de crueldade como bárbaros, mas que não sejamos cegos quanto às nossas próprias barbaridades (p. 199, 201 “Tudo isso é, em verdade, interessante, mas, que diabo, essa gente não usa calças!” (p. 203)

XXIX – “Da solidão”

A ambição faz fugir da sociedade, desejando a inteira liberdade. “Não há ser mais sociável nem menos sociável do que o homem; é ele uma coisa pela sua própria natureza e outra em conseqüência de seus vícios” (p. 219).

“O fim que visamos procurando a solidão é, creio, viver mais à vontade como nos agrada; mas nem sempre acertamos com o caminho. (...) O governo de uma família não causa menos aborrecimentos do que o de um Estado. Ao que quer que se entregue, o espírito entrega-se por inteiro... Diziam a Sócrates de alguém que de nenhum defeito se corrigira durante a viagem que realizara: ‘bem o creio’, retrucou o filósofo, ‘ele se levara a si mesmo em sua companhia’” (p. 220).

É preciso ter um recanto pessoal, independente, “em que sejamos livres em toda a acepção da palavra, que seja nosso principal retiro e onde estejamos absolutamente sozinhos” (p. 221)

“A solidão parece-me em particular indicada, e necessária, àqueles que consagraram à humanidade a mais bela parte da sua vida, a mais ativa e produtiva. (...) Com antecedência digamos adeus a todos; libertemo-nos desses compromissos que nos amarram a outrem e nos distraem de nós mesmos. (...) A coisa mais importante do mundo e sabermos pertencermo-nos” (p. 222).

Na solidão, deve-se renunciar a qualquer trabalho; evitar, por exemplo, a dedicação às letras, pois podem perturbar a tranqüilidade do corpo e do espírito. Ler livros agradáveis e fáceis. (p. 226)

XLVII – “Da incerteza de nossos juízos”

Criticaram Pompeu por ter aguardado firmemente o inimigo (César). Porém, se este houvesse perdido, não diriam, com igual sensatez, que uma posição é mais difícil de tomar quando nela nos mantemos firmemente? Estamos à mercê de uma força superior, o destino. (p. 254-256)

LI – “Vãs são as palavras”

“Dizia um retórico do passado que sua profissão consistia em ‘fazer com que as coisas pequenas parecessem grandes e como tal se aceitassem’. (...) Em Esparta tê-lo-iam fustigado por exercer ofício tão mentiroso e enganador. (...) As repúblicas bem organizadas e administradas não deram muita importância aos oradores”. Ex.: Lacedemônia. Mesmo em Atenas as artes mais importantes e que atuam mais sobre os sentimentos – o exórdio e a conclusão – foram suspensos. “Sócrates e Platão a definem como a arte de enganar e adular. E os que se erguem contra esta definição geral, comprovam-na em seus preceitos. (...) Trata-se de um instrumento muito adequado a excitar ou acalmar o populacho alvoroçado e que, como a medicina, só se aplica aos Estados enfermos” (p. 269).

LIV – “Das vãs sutilezas”

“Parece haver motivos para afirmar que existe uma ignorância inicial que precede a ciência e uma ignorância doutoral que a segue. (...) É entre as pessoas de espírito e capacidade médios que nascem as opiniões errôneas”. Um exemplo é a interpretação primária das Escrituras. “Venceram a primeira etapa no estudo das Letras, mas não puderam alcançar o grau superior que completa a nossa instrução. Assim como o traseiro entre duas selas, são perigosos, absurdos e incômodos. São pessoas, como eu e tantas outras, que perturbam o mundo”. Por exemplo, na poesia, as mais belas são aquelas que eclodem do seio do povo e as que, por efeito da arte, atingem a perfeição. (pp. 274-275)

LVI – “Das orações”

É um erro recorrer a Deus a propósito de todos os nossos projetos; “em vão apelaremos para Ele se nossa causa é má. (...) A conduta de um homem que associa à devoção uma vida execrável parece-me até certo ponto mais condenável que a de quem, coerente consigo mesmo, se mostra dissoluto sob todos os aspectos” (pp. 278-279)

“Os que misturam a devoção à má conduta são iguais aos outros, os que vivem na devassidão; mas é menos fácil ainda reconduzi-los ao bom caminho”. Crítica à leitura dos textos sagrados em qualquer ocasião, por qualquer pessoa, como se não passassem “de pretexto para debates e divertimentos. (...) Um tal estudo não é da alçada de qualquer um; (...) maus, os ignorantes tornam-se piores do que antes. (...) a liberdade dada a todos de propagar (...) a palavra sagrada (...) é muito mais perigosa do que útil” (pp. 280-281).

“Uma verdadeira oração e uma reconciliação com Deus não pode provir de uma alma impura, e portanto sob o domínio do demônio. (...) Poucos homens ousariam repetir publicamente as súplicas que em segredo endereçam a Deus” (p. 284).

Volume 2

I – “Da incoerência de nossas ações”

Instabilidade natural de nossos costumes (p. 291); “vento dos acontecimentos” e a volubilidade (p. 294); linha de conduta: “quem não orientou sua vida, de um modo geral, em determinado sentido, não pode tampouco dirigir suas ações. (...) De que serve fazer provisão de tintas se não se sabe que pintar?” (p. 295).

II – “Da embriaguez”

Embriaguez é vício grosseiro e brutal (p. 297-298); os filósofos e a bebida (p. 301-302); sabedoria x loucura (p. 303).

VI – “Do exercício”

Ser objeto de estudo para si mesmo; falar de si; “meu ofício, minha arte, é viver”; desprezo por si próprio é pior do que a auto-estima excessiva. (p. 325-327)

X – “Dos livros”

“Não me inspiro nas citações; valho-me delas para corroborar o que digo e que não sei tão bem expressar (...) omiti, muitas vezes voluntariamente, o nome dos autores, a fim de pôr um freio nas ousadias desses críticos apressados (...); e quero que dêem um piparote nas ventas de Plutarco pensando dar nas minhas; e que insultem Sêneca de passagem” (p. 349)

“Não busco nos livros senão o prazer de um honesto passatempo; e nesse estudo não me prendo senão ao que possa desenvolver em mim o conhecimento de mim mesmo e me auxilie a viver e morrer bem. (...) Se um livro me entedia, pego outro e só me dedico à leitura quando não sei que fazer; e o enfado me domina. Quase não leio livros novos; prefiro os antigos que me parecem mais sérios e bem-feitos” (p. 350)

Elogio a Sêneca e Plutarco, que apresentam a vantagem de oferecer ensinamentos de um modo fragmentário e não exigente de leituras muito demoradas. “Plutarco é em geral mais igual, Sêneca mais variado. (...) O primeiro comove mais e entusiasma; o segundo dá mais satisfação e compensa melhor o tempo que lhe consagramos; este nos guia, o outro nos empurra” (p. 353)

“Os historiadores perfeito têm a inteligência necessária para discernir o que merece passar à eternidade. São capazes de distinguir, entre dois relatos, o mais verossímil”. Prefiro os simples e os excelentes, pois “os que ocupam um lugar intermediário – a maioria – estragam tudo. Querem mastigar os fatos para nós; (...) eliminam, por incrível que pareça, o que não compreendem (...). Escolhem-se, geralmente, para historiógrafos – sobretudo em nossa época – indivíduos medíocres, somente porque sabem falar bonito como se fosse para aprender gramática que precisássemos de suas obras” (p. 356)

XII – “Apologia de Raymond Sebond”

Reforma de Lutero, abalando antigas crenças, degeneraria logo em ateísmo. Temeridade em incitar o vulgo (que, incapaz de julgar por si, se atém às aparências) a desprezar e controlar as opiniões que antes respeitosamente se inclinava. Incerteza surgida a partir da dúvida colocada em certos pontos da religião (p. 371).

Na guerra religiosa, ambos os partidos tratam a religião como um meio, quando deveria ser um fim. Somente nos conformamos com os deveres que se coadunam com nossas paixões. Ao invés de extirpar o vício, incentiva-se a dissimulá-lo, alimentá-lo e incentivá-lo. Seguimos uma religião por costume. “Somos cristãos como somos perigordinos ou alemães” (p. 374-375)

“Para o ateu tudo o que se escreve tem alguma relação com o ateísmo e ele envenena com o seu próprio veneno o mais inocente pensamento”. Cabe humilhar o orgulho e a arrogância do homem, fazendo-lhe sentir sua vaidade e vazio. Só à divindade pertence a ciência e a sabedoria. (p. 378)

“É preciso limitar o homem e colocá-lo entre as barreiras dessa ordem universal. (...) Por que imaginar que neles [os animais] a ação é maquinal e em nós mesmos não?” (p. 387)

“Se, em prol de nossa superioridade, quisermos argumentar com o fato de os aprisionarmos” e empregá-los à vontade a nosso serviço, “direi que o mesmo podemos fazer com outros homens”. (p. 388)

“Idêntica é a natureza e inalterável o seu curso; e quem haja penetrado suficientemente o presente poderá com segurança conhecer as leis do passado e do futuro. (...) Condenamos toudo o que nos parece estranho e também o que não compreendemos” (p. 393) – alusão a índios brasileiros que vieram à Europa, mas depois se refere aos animais, temática que vinha sendo desenvolvida.

A guerra, maior e mais pomposa das ações humanas, demonstra nossa imperfeição, inépcia e vaidade. Ex.: adultério de Páris levou à funesta guerra de Tróia (p. 398).