[Meu Facebook] [Meu Last.FM] [Meu Twitter]


 

 

Kaio

 

Veja meu perfil completo

 

 

 

 

01 fevereiro 2011

Serenidade, Ceticismo e Auto-Consciência nos Ensaios de Montaigne - parte 1

1ª parte do meu fichamento dos três volumes - cobri o primeiro e metade do segundo. Faltaram capítulos importantíssimos, como "A propósito de Virgílio", "Da experiência" e três quartos de "Apologia de Raymond Sebond". Em breve postarei estas e outras digressões e passagens importantes da obra de Montaigne.


Volume 1

I – “Por diversos meios chega-se ao mesmo fim”

Amolecer o coração daqueles nos têm à sua mercê é possível pela submissão e piedade (corações bondosos e pouco enérgicos), mas também por meios inteiramente opostos, como a bravura e a coragem (almas bem temperadas que honram a tenacidade). “Em verdade, o homem é de natureza muito pouco definida, (...) dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme” (p. 35). Ex.: Alexandre – falta de piedade ou inveja?

V – “Deve o comandante de uma praça sitiada sair para parlamentar?”

Anedota sobre comandante que saiu para parlamentar. Ardil (astúcia, raposa) x coragem (“leal e justa”, leão). Romanos colocam a coragem acima do ardil, mas Virgílio é da opinião de que isso depende. “Confio nos outros, mas só se isso for julgado como lealdade e não covardia” (p. 49).

VIII – “Da ociosidade”

Quando ocioso, o espírito se dispersa em 1000 pensamentos dispersos (p. 53-54). Precisa o espírito de disciplina, para não cair na imaginação.

XIV – “O bem e o mal só o são, as mais das vezes, pela idéia que deles temos”

“Os homens (...) atormentam-se com a idéia que têm das coisas e não com as coisas em si” (p. 66). As coisas que tememos não têm caráter próprio, quando na verdade há uma diversidade de opiniões. “Encaramos a morte, a pobreza e a dor como nossos piores inimigos” (p. 67), mas a 1ª já foi recebida com alegria ou indiferença por muitos. Quanto à dor, se excessiva, logo parará; quando prolongada, é leve. Além disso, precisamos contar mais com a nossa alma e não só com o corpo. “A opinião que temos das coisas é que as valoriza” (p. 77). A riqueza só atrai e traz prazer se combinada com a prudência. Não vale a pena, p. ex, ficar economizando se com isso nos privamos de uma vida agradável.

XX – “De como filosofar é aprender a morrer”

A sabedoria e a inteligência nos ensinam a não ter receio de morrer. Na própria prática da virtude o fim visado é a volúpia (p. 93), e um dos principais benefícios da virtude é justamente o desprezo que nos inspira pela morte. Esta, aliás, é a meta/fim de nossa existência. Não existe hora certa ou errada para morrer, pois é uma obra do destino (uma vez perdida, não podemos lamentar); muitas pessoas de destaque morreram jovens. “Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir” (p. 97). A própria religião cristã ensina o desprezo à vida. Qualquer que seja a duração de sua vida, ela é completa (p. 103). Feliz é a morte que nos surpreende sem que haja tempo para preparativos! (p. 105)

XXIII – “Dos costumes e da inconveniência de mudar sem maiores cuidados as leis em vigor”

Pérfido e tirânico professor, que às escondidas ganha autoridade sobre nós, o costume é o guia mais seguro em todas as coisas (p. 115). Enumeração de costumes dos mais pitorescos (p. 118-121). Em suma, não há nada que o costume não faça ou não possa fazer. O hábito tem o poder de se apoderar de nós de tal maneira que temos dificuldade em refletir sobre os atos a que nos impele (p. 122). É de bom senso obedecer às leis de seu país, pois muitas vezes a mudança pode gerar mal maior ainda. Exemplo da Reforma: “Essa que nos atormenta há tantos anos, não produziu ainda todas as suas conseqüências e, no entanto, podemos dizer que (...) tudo atingiu e foi a causa primeira de muitas desgraças” (p. 126). Por melhor que seja, o pretexto da novidade é muito perigoso. “... me parece sinal de excessivo amor-próprio e grande presunção valorizar alguém a sua opinião a ponto de tentar, a fim de vê-la triunfante, subverter a paz pública em seu próprio país...” (p. 127).

XXV – “Do pedantismo”

O saber doutoral era visto com desprezo por homens esclarecidos como Plutarco (p. 137). Crítica aos “homens incapazes de agir e cuja filosofia consiste unicamente em palavras”. Os filósofos, grandes pelo saber, foram maiores ainda quando passaram à ação (p. 139). “Cuidamos das opiniões e do saber alheios (...); é preciso torná-los nossos. (...) Que adianta ter a barriga cheia de comida se não a digerimos? Se não a assimilamos, se não nos fortalece e faz crescer!” (p. 141).

“A filosofia é inacessível às almas bastardas e vulgares”. Isso traz um problema: na maioria das vezes, quem procura o saber são exatamente aqueles que não possuem aptidão, pois vêem no estudo apenas uma possibilidade de exercer uma profissão e enriquecer-se, e não uma forma de aprimoramento do espírito. Para pio, são justamente estes homens, sedentos por lucro e desvirtuados, “que vêem o bem mas não o fazem, e vêem o saber e não sabem servir-se dele”, que se tornam mestres (p. 144).

Exemplos virtuosos dos espartanos e persas: “na escola um aluno que possuía um capote curto demais deu-o a seu camarada menor e tomou o deste que era mais comprido. (...) Eu achei que se devia deixar as coisas como estavam, porquanto parecia que cada qual se via possuidor de um capote a seu feitio. Meu mestre mostrou entaõ que assim julgando eu não consultara senão a conveniência e que fora preciso atentar antes para a justiça, a qual estabelece que ninguém seja despojado à força daquilo que lhe pertence”. É preciso colocar as crianças desde cedo em contato com a realidade, instruindo-a não por palavras, mas pela ação (p. 145).

XXVI – “Da educação das crianças”

“Censurar nos outros os meus próprios erros não me parece mais inconseqüente do que revelar, como faço amiúde, os dos outros em mim. É preciso apontá-los onde quer que estejam e não lhes dar asilo” (p. 148).

“Não cessam de nos gritar aos ouvidos (...) o que nos querem ensinar, e o nosso trabalho consiste em repetir”. Isso é um erro; melhor seria indicar o caminho à criança mas deixá-la discernir por si própria. É sábio tentar tornar suas idéias infantis, para melhor guiar a criança. “Anda-se com mais segurança e firmeza nas subidas do que nas descidas”. É preciso fazê-la expor o de mil maneira o que aprendeu, a fim de verificar se o assimilou bem. (p. 151)“Nosso espírito, no sistema que condena, não procede senão por crença (...), servo e cativo de ensinamentos estranhos. (...) Vigor e liberdade extinguiram-se em nós” Apresente às crianças todos os princípios em sua diversidade e que ela escolha se puder. “E se não o puder fique na dúvida, pois só os loucos têm certeza absoluta em sua opinião (...) Não se trata de aptrnder os preceitos desses filósofos, e sim de lhes entender o espírito”. (p. 152)

“Do que sabemos efetivamente, dispomos sem olhar para o modelo, sem voltar os olhos para o livro. Triste ciência a ciência puramente livresca!” A firmeza, a boa-fé e a sinceridade são a verdadeira filosofia, como diria Platão. “Para exercitar a inteligente, tudo o que se oferece aos nossos olhos serve suficientemente de livro: a malícia de um pajem, a estupidez de um criado, uma conversa à mesa, são, como outros tantos, novos assuntos”. (p. 153)

A criança não deve ser educada junto aos pais, pois, além de sua presença ser nociva à autoridade do preceptor, eles não são capazes de lhes punir as maldades e ser severos para prepará-la para as aventuras da vida. “Não basta fortalecer-lhe a alma, é preciso também desenvolver-lhe os músculos”. (p. 154)

“Este mundo tão grande (...) é o espelho em que nos devemos mirar para nos conhecermos de maneira exata. Em suma, quero que seja esse o livro do nosso aluno”. “Entre as artes liberais, comecemos pela que nos faz livres”: a filosofia, “em cujas regras devem inspirar-se as ações humanas” (p. 158).

Em seguida, devem ser ensinadas a Lógica, a Física, a Geometria e a Retórica; como já terá a inteligência formada, o jovem poderá aprender a ciência que escolher. “O ensino deverá ser ministrado ora por conversas, ora por leituras.” (p. 159)

“É estranho que em nosso tempo a filosofia não seja, até para gente inteligente, mais do que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor, na teoria como na prática. Creio que isso se deve aos raciocínios capciosos e embrulhados com que lhe atopetaram o caminho. (...) O mais visível sinal de sabedoria é uma alegria constante. O sábio é sempre sereno” (p. 160).

Nosso jovem “em toda parte estudará, pois, a filosofia, que será sua principal matéria de estudo; como formadora da inteligência e dos costumes, tem o privilégio de se misturar a tudo” (p. 163).

Citação de Cícero: “Foi muito mais nos costumes do que nos escritos que os filósofos aprenderam a maior de todas as artes: a de bem viver”. O jovem traduzirá estas lições nos atos de sua vida. “Ao fim de quinze a dezesseis anos compare-se o nosso jovem a um desses latinistas de colégio que terá levado o mesmo tempo a aprender a falar! O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia” (p. 166).

É preferível amoldar a frase ao pensamento a modificar a idéia para embelezá-la. “Quero que o pensamento a ser comunicado domine e penetre a imaginação de quem ouve, a ponto de que não mais se lembre das palavras”. É preferível uma linguagem soldadesca do que uma pedante (p. 169).

Filólogos (aprender as coisas por si) x logófilos (não se importam senão com as palavras). Anedota sobre como aprendeu latim: até os 6 anos, todos na casa, inclusive os criados, só se comunicavam em minha presença em tal língua. (p. 170)

XXVIII – “Da amizade”

La Boétie foi meu melhor amigo. Conheci-o graças a seu ensaio, “A Servidão Voluntária”. “É verdade que a amizade assinala o mais alto ponto de perfeição na sociedade”. Ela nutre-se de comunicação, e não se verifica entre pessoas ligadas por parentesco (pai e filho, irmãos), porque tais relações nos são “impostas” pela natureza (p. 178).

A amizade, ao contrário do amor, cresce na medida do desejo que dela temos. Sua prática apura a alma. Crítica à “licenciosidade contra a natureza que era permitida entre os gregos” (alusão ao homossexualismo – homens que eram amigos e amantes). (p. 180-181)

Entre amigos, serviços e favores “não entram na linha de conta e isso porque as vontades intimamente fundidas são uma só vontade”. Entre amigos, tudo é comum, compartilhado. Talvez isso explique porque os legisladores inventaram, para o casamento, a comunhão de bens. (p. 184)

XXXI – “Dos canibais”

“Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra” (p. 195).

Segundo Platão, todas as coisas são produzidas pela natureza, pelo acaso (destino, Fortuna) ou pela arte; as belas e grandiosas são frutos das duas primeiras causas, enquanto as menores e mais imperfeitas, da última. “Esses povos não me parecem (...) merecer o qualificativo de selvagens somente por não terem sido senão muito pouco modificados pela ingerência do espírito humano e não haverem quase nada perdido de sua simplicidade primitiva” (p. 196),

Podemos julgar o canibalismo e outros atos de crueldade como bárbaros, mas que não sejamos cegos quanto às nossas próprias barbaridades (p. 199, 201 “Tudo isso é, em verdade, interessante, mas, que diabo, essa gente não usa calças!” (p. 203)

XXIX – “Da solidão”

A ambição faz fugir da sociedade, desejando a inteira liberdade. “Não há ser mais sociável nem menos sociável do que o homem; é ele uma coisa pela sua própria natureza e outra em conseqüência de seus vícios” (p. 219).

“O fim que visamos procurando a solidão é, creio, viver mais à vontade como nos agrada; mas nem sempre acertamos com o caminho. (...) O governo de uma família não causa menos aborrecimentos do que o de um Estado. Ao que quer que se entregue, o espírito entrega-se por inteiro... Diziam a Sócrates de alguém que de nenhum defeito se corrigira durante a viagem que realizara: ‘bem o creio’, retrucou o filósofo, ‘ele se levara a si mesmo em sua companhia’” (p. 220).

É preciso ter um recanto pessoal, independente, “em que sejamos livres em toda a acepção da palavra, que seja nosso principal retiro e onde estejamos absolutamente sozinhos” (p. 221)

“A solidão parece-me em particular indicada, e necessária, àqueles que consagraram à humanidade a mais bela parte da sua vida, a mais ativa e produtiva. (...) Com antecedência digamos adeus a todos; libertemo-nos desses compromissos que nos amarram a outrem e nos distraem de nós mesmos. (...) A coisa mais importante do mundo e sabermos pertencermo-nos” (p. 222).

Na solidão, deve-se renunciar a qualquer trabalho; evitar, por exemplo, a dedicação às letras, pois podem perturbar a tranqüilidade do corpo e do espírito. Ler livros agradáveis e fáceis. (p. 226)

XLVII – “Da incerteza de nossos juízos”

Criticaram Pompeu por ter aguardado firmemente o inimigo (César). Porém, se este houvesse perdido, não diriam, com igual sensatez, que uma posição é mais difícil de tomar quando nela nos mantemos firmemente? Estamos à mercê de uma força superior, o destino. (p. 254-256)

LI – “Vãs são as palavras”

“Dizia um retórico do passado que sua profissão consistia em ‘fazer com que as coisas pequenas parecessem grandes e como tal se aceitassem’. (...) Em Esparta tê-lo-iam fustigado por exercer ofício tão mentiroso e enganador. (...) As repúblicas bem organizadas e administradas não deram muita importância aos oradores”. Ex.: Lacedemônia. Mesmo em Atenas as artes mais importantes e que atuam mais sobre os sentimentos – o exórdio e a conclusão – foram suspensos. “Sócrates e Platão a definem como a arte de enganar e adular. E os que se erguem contra esta definição geral, comprovam-na em seus preceitos. (...) Trata-se de um instrumento muito adequado a excitar ou acalmar o populacho alvoroçado e que, como a medicina, só se aplica aos Estados enfermos” (p. 269).

LIV – “Das vãs sutilezas”

“Parece haver motivos para afirmar que existe uma ignorância inicial que precede a ciência e uma ignorância doutoral que a segue. (...) É entre as pessoas de espírito e capacidade médios que nascem as opiniões errôneas”. Um exemplo é a interpretação primária das Escrituras. “Venceram a primeira etapa no estudo das Letras, mas não puderam alcançar o grau superior que completa a nossa instrução. Assim como o traseiro entre duas selas, são perigosos, absurdos e incômodos. São pessoas, como eu e tantas outras, que perturbam o mundo”. Por exemplo, na poesia, as mais belas são aquelas que eclodem do seio do povo e as que, por efeito da arte, atingem a perfeição. (pp. 274-275)

LVI – “Das orações”

É um erro recorrer a Deus a propósito de todos os nossos projetos; “em vão apelaremos para Ele se nossa causa é má. (...) A conduta de um homem que associa à devoção uma vida execrável parece-me até certo ponto mais condenável que a de quem, coerente consigo mesmo, se mostra dissoluto sob todos os aspectos” (pp. 278-279)

“Os que misturam a devoção à má conduta são iguais aos outros, os que vivem na devassidão; mas é menos fácil ainda reconduzi-los ao bom caminho”. Crítica à leitura dos textos sagrados em qualquer ocasião, por qualquer pessoa, como se não passassem “de pretexto para debates e divertimentos. (...) Um tal estudo não é da alçada de qualquer um; (...) maus, os ignorantes tornam-se piores do que antes. (...) a liberdade dada a todos de propagar (...) a palavra sagrada (...) é muito mais perigosa do que útil” (pp. 280-281).

“Uma verdadeira oração e uma reconciliação com Deus não pode provir de uma alma impura, e portanto sob o domínio do demônio. (...) Poucos homens ousariam repetir publicamente as súplicas que em segredo endereçam a Deus” (p. 284).

Volume 2

I – “Da incoerência de nossas ações”

Instabilidade natural de nossos costumes (p. 291); “vento dos acontecimentos” e a volubilidade (p. 294); linha de conduta: “quem não orientou sua vida, de um modo geral, em determinado sentido, não pode tampouco dirigir suas ações. (...) De que serve fazer provisão de tintas se não se sabe que pintar?” (p. 295).

II – “Da embriaguez”

Embriaguez é vício grosseiro e brutal (p. 297-298); os filósofos e a bebida (p. 301-302); sabedoria x loucura (p. 303).

VI – “Do exercício”

Ser objeto de estudo para si mesmo; falar de si; “meu ofício, minha arte, é viver”; desprezo por si próprio é pior do que a auto-estima excessiva. (p. 325-327)

X – “Dos livros”

“Não me inspiro nas citações; valho-me delas para corroborar o que digo e que não sei tão bem expressar (...) omiti, muitas vezes voluntariamente, o nome dos autores, a fim de pôr um freio nas ousadias desses críticos apressados (...); e quero que dêem um piparote nas ventas de Plutarco pensando dar nas minhas; e que insultem Sêneca de passagem” (p. 349)

“Não busco nos livros senão o prazer de um honesto passatempo; e nesse estudo não me prendo senão ao que possa desenvolver em mim o conhecimento de mim mesmo e me auxilie a viver e morrer bem. (...) Se um livro me entedia, pego outro e só me dedico à leitura quando não sei que fazer; e o enfado me domina. Quase não leio livros novos; prefiro os antigos que me parecem mais sérios e bem-feitos” (p. 350)

Elogio a Sêneca e Plutarco, que apresentam a vantagem de oferecer ensinamentos de um modo fragmentário e não exigente de leituras muito demoradas. “Plutarco é em geral mais igual, Sêneca mais variado. (...) O primeiro comove mais e entusiasma; o segundo dá mais satisfação e compensa melhor o tempo que lhe consagramos; este nos guia, o outro nos empurra” (p. 353)

“Os historiadores perfeito têm a inteligência necessária para discernir o que merece passar à eternidade. São capazes de distinguir, entre dois relatos, o mais verossímil”. Prefiro os simples e os excelentes, pois “os que ocupam um lugar intermediário – a maioria – estragam tudo. Querem mastigar os fatos para nós; (...) eliminam, por incrível que pareça, o que não compreendem (...). Escolhem-se, geralmente, para historiógrafos – sobretudo em nossa época – indivíduos medíocres, somente porque sabem falar bonito como se fosse para aprender gramática que precisássemos de suas obras” (p. 356)

XII – “Apologia de Raymond Sebond”

Reforma de Lutero, abalando antigas crenças, degeneraria logo em ateísmo. Temeridade em incitar o vulgo (que, incapaz de julgar por si, se atém às aparências) a desprezar e controlar as opiniões que antes respeitosamente se inclinava. Incerteza surgida a partir da dúvida colocada em certos pontos da religião (p. 371).

Na guerra religiosa, ambos os partidos tratam a religião como um meio, quando deveria ser um fim. Somente nos conformamos com os deveres que se coadunam com nossas paixões. Ao invés de extirpar o vício, incentiva-se a dissimulá-lo, alimentá-lo e incentivá-lo. Seguimos uma religião por costume. “Somos cristãos como somos perigordinos ou alemães” (p. 374-375)

“Para o ateu tudo o que se escreve tem alguma relação com o ateísmo e ele envenena com o seu próprio veneno o mais inocente pensamento”. Cabe humilhar o orgulho e a arrogância do homem, fazendo-lhe sentir sua vaidade e vazio. Só à divindade pertence a ciência e a sabedoria. (p. 378)

“É preciso limitar o homem e colocá-lo entre as barreiras dessa ordem universal. (...) Por que imaginar que neles [os animais] a ação é maquinal e em nós mesmos não?” (p. 387)

“Se, em prol de nossa superioridade, quisermos argumentar com o fato de os aprisionarmos” e empregá-los à vontade a nosso serviço, “direi que o mesmo podemos fazer com outros homens”. (p. 388)

“Idêntica é a natureza e inalterável o seu curso; e quem haja penetrado suficientemente o presente poderá com segurança conhecer as leis do passado e do futuro. (...) Condenamos toudo o que nos parece estranho e também o que não compreendemos” (p. 393) – alusão a índios brasileiros que vieram à Europa, mas depois se refere aos animais, temática que vinha sendo desenvolvida.

A guerra, maior e mais pomposa das ações humanas, demonstra nossa imperfeição, inépcia e vaidade. Ex.: adultério de Páris levou à funesta guerra de Tróia (p. 398).

 

Comentários:

 

 

[ << Home]