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30 novembro 2009

Insatisfação Crônica - partes II e III

(Hoje foi a última aula de Oficina. Entreguei a versão final para a professora, e continuarei a reproduzí-la por aqui:)

II

Espelho meu, hoje vi um pianista que me fez lembrar Steven. Não, ele não tinha nem um décimo do talento de meu velho amigo – muito embora as pessoas do restaurante em que ele tocou jurassem que aquela performance foi boa. Porém, de qualquer maneira, recordei-me de uma das poucas amizades que fiz na época em que morei na França.
Nós nos conhecemos durante meu terceiro mês como habitante de Nice. Nos dois primeiros, eu ainda não sabia bem o que fazer e como viver na nova cidade. Cheguei até a ir a algumas daquelas palestras abertas ao público, dadas por sociólogos, escritores e tudo mais. Eles falavam sobre análise do discurso, narrativa polifônica, microfísica do poder, capital simbólico, e tudo aquilo que o mundo acadêmico francês adora. Mas, aquilo já não me interessava mais. Comecei a procurar um emprego; não tanto pela vontade de trabalhar e ganhar dinheiro, mas porque precisava de um mínimo para sobreviver. Só por isso; nunca tive grandes ambições profissionais.
Decidi-me, então, por ser músico de rua, pois eu sabia tocar violão bem, e seria um trabalho que também funcionava como distração. Além disso, esses europeus do Oeste são mais generosos que os do Leste, no sentido de darem mais gorjetas. Espelho, não vá achando que levei uma vida de mendigo, por favor! Meus pais, durante os dois primeiros anos, ainda me enviavam algum dinheiro. Não tanto por generosidade, mas por acharem que pais devem financiar os filhos até uma certa idade. Depois que pararam de me dar essa “mesada”, eu já tinha me organizado de maneira que nunca passei fome ou fiquei sem roupas e moradia. Um padrão de vida modesto, mas o bastante para me contentar.
Foi aí que conheci um rapaz calado na Place Massena, local em que eu mais costumava tocar. Após alguns minutos observando aquela figura frágil e pálida, puxei conversa com ele. Acho que o fiz porque fiquei perplexo ao notar que ele tocava... um piano! Oras, era um instrumento atípico para músicos de rua. Porém, fazia-o com tamanho talento que aquilo parecia um concerto de piano, mas sem ingressos que custavam centenas de francos.
Steven Von Meek tinha aproximadamente a mesma idade que eu; era dois anos mais novo, talvez. Inicialmente, não quis falar comigo; continuou tocando, como se não houvesse ninguém por perto. Quando terminou a música que estava executando (que parecia misturar “Jealous Guy”, de John Lennon, com trechos de Tchaikovsky – acredite se quiser!), ele começou a me olhar, como se quisesse demonstrar atenção pelo que eu viesse a falar em seguida. Comecei perguntando por seu nome; minutos depois, já estávamos discutindo nossas preferências musicais.
Nasceu ali, quando eu menos esperava, uma singela amizade.

Nossos diálogos sempre foram curiosos. Sempre que possível, ele respondia minhas perguntas e colocações balançando a cabeça em sinal de “sim” ou “não”. E, quando falava, era o mais lacônico possível. Foi só com o passar dos meses que ele começou a ser menos tímido, e houve até raras ocasiões em que ele puxou assunto para a conversa. Eu sei, caro espelho, que parece uma empolgação tola da minha parte, mas só conhecendo Steven para saber o quanto os pequenos gestos dele podiam ser, ao mesmo tempo, imprevisíveis e gratificantes.
Durante um bom tempo, foi divertida a nossa parceria musical: o violonista Dedalus e o pianista Steven! O público gostava quando ele tocava sinfonias em ritmo de jazz e eu fazia um folk acelerado no violão. Às vezes tocávamos em lugares separados; eu gostava de dar uma passada pelas redondezas do aeroporto, enquanto Steven era fiel à Place Massena. Mesmo assim, nos víamos quase todos os dias, ainda que fosse só na hora do almoço ou no fim da tarde.
Ele era incansável; quando eu parava para descansar um pouco, ele continuava tocando seu piano, como se parar fosse uma traição à música que executava. Não era raro que algum espectador se emocione com as músicas dele. Eu nem ligava de ser um coadjuvante naquela parceria musical; tocar violão por si só era prazeroso, ainda mais em companhia de um bom colega e de um público que, embora geralmente demonstrasse indiferença, vez ou outra se deixava encantar por melodias que não fossem aquelas do trânsito ou do escritório.
Porém, no fim de meu terceiro ano em Nice, nós já tínhamos nos saturado da música. Eu já tinha perdido minha inspiração; além do mais, o piano de Steven estava meio defeituoso. Foi então que ele surgiu com a idéia de sermos mímicos, pois sua própria forma de se comunicar com nosso público envolvia muitas gesticulações e poucas palavras. Muitos chegaram até a pensar que ele fosse mudo, ou mesmo também surdo.
Arranjamos camisas listradas: a minha era de mangas curtas, acompanhada de uma calça preta na altura da cintura; a blusa dele tinha mangas compridas, além de um suspensório que, combinado com os jeans, assemelhava-se a um macacão. A irmã dele, Julie Von Meek (falo mais sobre ela daqui a pouco, reflexo de vidro), sem saber bem o que achava de nossa “mudança de setor artístico”, emprestou-nos maquiagem para o rosto, e até ajudou-nos na pintura. A minha e a de Steven eram parecidas, embora a dele tivesse um semblante mais soturno, enquanto o meu visual ganhou um aspecto blasé.
Nossa primeira apresentação foi em uma praça bem no centro da cidade. Não me lembro se era a Massena, mas imagino que pelo menos era perto de lá. O inverno já estava acabando, portanto não escolhemos um dia sombrio demais para estrearmos nossa mímica. O pavimento era de cor cinza claro, com poucos desníveis. Parte do público que andava por lá não demorou em perceber a novidade. Havia crianças, idosos, executivos, vendedoras e até universitários. Houve momentos em que mais de 30 pessoas paravam para nos ver, mas também havia dias em que no máximo uma ou duas tiravam um tempo para nos observar. E, assim como nos tempos de músicos de rua, trabalhávamos umas dez horas diárias, com pequenos intervalos.
Posso ser honesto? Às vezes, eu até gostava dessa vida despretensiosa. Era bom não precisar ficar dezenas de horas semanais num escritório ou numa sala de aula, fingindo que está tudo bem em ser um “quadrado” estressado. Ainda mais em um país como a França, em que as pessoas já são inclinadas a não gostar de trabalhar de um jeito “workaholic”, excessivo.

Certa vez, conheci a já mencionada irmã dele, Julie Von Meek. Ela é um pouco mais nova que ele, e não foram poucas vezes em que ela viu nossas apresentações de rua, tanto na “fase musical” quanto na nossa, digamos, guinada profissional para a mímica. Um dia, estávamos tomando um café enquanto Steven estava se arrumando. Resolvi lhe perguntar por que o seu irmão agir daquele jeito tão estranho e misterioso. Ela me contou que nem sempre ele é assim, e que, aliás, quando está com ela, Steven chega a ser meio extrovertido e até maldoso; quando eram crianças, vivia aprontando com ela, aproveitando-se do estereótipo de garoto quieto que todos lhe atribuíam.
Olhe, espelho, não nego que fiquei surpreso. Tudo bem que eu já o vi agir de maneira mais irreverente (no bom e no mau sentido), mas ao saber por Julie que ele tende a agir de maneiras diferentes, dependendo da pessoa com quem está, fiquei em dúvida se Steven era realmente quem se fazia parecer para mim. Fui além nessa paranóia: será que ele de fato valorizava a amizade que tínhamos? A hipótese otimista seria a de que ele não precisa fingir ser uma pessoa estridente e agitada quando está perto de mim. Só que, desde então, instalou-se em mim a desconfiança: talvez ele não apreciasse a minha companhia...
Em meados de 2002, nossa relação começou a se desgastar. Ele andava irritadiço e desanimado. Tudo piorou quando, após algumas noites em claro e indisposições com a irmã, Steven teve uma espécie de colapso nervoso. Era uma mistura de catatonia com depressão, e ele chegou até a pensar em suicídio. Isso me deixou profundamente angustiado, e ajudei-o na medida do possível a melhorar. Mas, depois desse episódio, sem dar explicações, ele começou a se recusar a se apresentar comigo. Inicialmente alegou cansaço, mas depois começou a responder de maneira debochada quando eu lhe perguntava o porquê da súbita mudança de comportamento. Se fosse só por alguns dias, tudo bem, mas aquilo virou rotina.
Ele também teve sérios desentendimentos com Julie, demonstrando pouca consideração pela atenção que ela lhe dava. Acho, contudo, que a reação dela, embora um pouco justificável, foi exagerada: ela resolveu desistir do irmão. Espelho, houve pelo menos duas ocasiões naquele período em que ele passou muito mal, e eu tive que levá-lo ao hospital. Enquanto isso, ela alegava que nunca mais voltaria a se esforçar pelo bem-estar de seu irmão, visto que este nunca dera o mínimo de atenção à ajuda que ela sempre oferecia. Acho que faltou a Julie a capacidade de perdoar, por mais que seu irmão muitas vezes lhe fosse ingrato. Até mesmo porque, conhecendo Steven, eu sei que ele também amava sua irmã, embora agisse daquela maneira displicente.
Steven se comportava de maneira cada vez mais estranha; chegava mesmo a ser hostil comigo. Não se empenhava em sincronizar comigo na mímica, e chegou a importunar alguns dos pedestres quando estes o olhavam com desprezo. Não era incomum que ele começasse a, repentinamente, chorar e gritar comigo. Foi-se criando um mal-estar sobre o qual eu não tinha mais controle - e nem queria ter. Era o estopim para a decisão que eu já estava pensando há algum tempo: abandonar Nice. Já estava farto daquela cidade e aquele ar de hipocrisia francesa (você sabe, fingir que está tudo bem enquanto lamenta e resmunga às escuras), e os desentendimentos com um de meus poucos amigos por lá era o motivo que me faltava.
Mas, continuo essa história amanhã. Até que estou gostando desse desabafo, dessas recordações. Espelho querido!


III

Reflexo de vidro, eu ando em uma fase de reencontros. Hoje, acredito ter visto Paola em um restaurante. Sabe quem foi ela? Minha segunda namorada. A primeira foi Katanyna, na minha adolescência, mas não foi uma relação tão marcante e densa (ou seria tensa?) como aquela que tive com esta jovem romana.
Aliás, sobre essa mudança de cidade, farei um breve prólogo. A capital da Itália é uma cidade realmente linda, e dispensa maiores apresentações. Não me decidi por ela movido por princípios aristotélicos ou coisas do gênero. Para falar a verdade, foi por um acaso que fui para Roma: no dia em que estava na estação, havia uma boa promoção para quem viajasse para tal cidade durante aquela semana. Comprei imediatamente.
Lembra-se, espelho, quando falei dos solavancos, anteontem? Pois é, este foi um dos poucos de minha vida recente. Fiz uma escolha sem maiores reflexões ou planejamentos. Arrisquei-me, sem pensar tanto nas conseqüências (eu seria imigrante irregular, por exemplo), e os resultados foram até bons. Como eu tinha algumas economias, logo consegui alugar um pequeno apartamento, nos subúrbios. Com o dinheiro da mímica, e um ou outro bico (você sabe, aqueles trabalhos temporários, geralmente de fim de ano), daria para eu me sustentar. Foi com base nesse encanto da chegada que agüentei Roma no meu primeiro ano por aqui. Como sempre, não durou muito, e o feitiço estava se quebrando, e uma nova crise existencial se anunciando. Foi quando Paola apareceu na minha vida.

Paola Rossi também levava uma, por assim dizer, vida alternativa; trabalhava como vendedora ambulante de livros, nos mesmos bairros da cidade em que eu circulava. Começamos a conversar porque estávamos igualmente curiosos sobre as profissões “heterodoxas” um do outro. Ela queria entender melhor a minha mímica, e eu, o que a levara a ser uma comerciante autônoma de obras literárias – muitas delas raras e interessantíssimas.
Ela, assim como eu, também chegou a ser universitária. Fazia a Escola de Humanidades, Artes e Ciências Sociais na Universidade de Roma Tor Vergata. Paola era de uma família de classe média alta, e levava uma vida bem confortável, com direito a viagens para o exterior, roupas caras, um apartamento confortável e todos os livros e discos que queria ter. Porém, começou a se cansar da vida rica e pacata que levava; sua juventude ansiava por mais aventuras e incertezas. Até chegou a entrar em depressão, e recusou a terapia e os remédios que seus pais pretendiam lhe pagar. Aos 21 anos, ela decidiu largar a universidade. Arrumou as malas e foi morar sozinha, também nos subúrbios romanos.
Espelho, lembro que Paola tem a mesma idade que eu, mas às vezes parece ser dez anos mais velha, mas também dez anos mais nova. Tinha atitudes maduras, contundentes e dignas de uma mulher independente e que sabe exatamente o que faz. Mas, também costumava se comportar como uma criança mimada, geniosa e constantemente à beira de choramingar para os pais, pedindo socorro. Eu não percebi isso durante as semanas em que fomos apenas amigos; apaixonei-me sem saber desse “lado B” dela. Reparava apenas em seus cabelos castanhos, na sua voz rouca e na sua sensibilidade artística. Porém, quando começamos a namorar, passei a conviver diariamente com seu temperamento instável e inconstante.
Ela brigava por qualquer motivo, desde os mais justos - meu egoísmo, por exemplo - até os mais fúteis, como a sua preocupação excessiva com a opinião alheia, a arrogância não-assumida, o fato de detestar meu gosto musical e até divergências políticas (Paola era comunista, e eu, conservador). Eu, que julgava mais cômodo manter um relacionamento medíocre do que voltar ao vazio conjugal, pacientemente suportava todas as neuras dela.
Porém, chegou um dia em que eu não agüentei aquelas oscilações, com sorrisos coexistindo com lágrimas. Não que fosse uma turbulência insuportável, mas aquela repetição de pequenas alegrias e pequenas tristezas tinha me desgastado. Quando ela falou, pela 18ª vez desde o início do namoro (nas outras dezessete, ela sempre voltava atrás), que queria terminar comigo, eu finalmente disse “sim”. Acho até que ela ficou surpresa.
Quando acabou tudo, após seis meses de relacionamento, eu pensei ter acordado de um pesadelo. Espelho, preste atenção: não é que o namoro foi extremamente ruim, mas era justamente essa alternância entre bons e maus momentos, mas nunca pendendo absolutamente para um dos lados, que me irritou. Se, por um lado, Paola rompeu com a morosidade que reinava em minha vida, por outro só corroborou com as dúvidas e dilemas que tanto me marcaram até hoje.
Nós tivemos bons momentos, é claro. Saíamos bastante, nossa convivência doméstica (ela morou no meu apartamento durante alguns meses) costumava ser agradável, tínhamos altos debates filosóficos e literários... Porém, nossas personalidades eram muito diferentes, e a minha dificuldade em lidar com um relacionamento que demandava tanta paciência e sacrifício emocional, somada à inconstância do humor dela, destruiu aos poucos a paixão que sentíamos um pelo outro. O rompimento, felizmente, foi amigável. De vez em quando, até nos encontramos por acaso na cidade e conversamos.

Como estava dizendo, acho que a vi hoje. Não posso te dar certeza absoluta porque só pude enxergar as costas da garota, muito embora estivesse no mesmo restaurante e na mesma mesa que costumávamos freqüentar. Imagino que era Paola mesmo. Por que não puxei conversa? Estava sem vontade. Mesmo com o clima ameno que se seguiu à nossa separação, algumas daquelas memórias me atormentaram durante o último ano e meio. Ainda me pego olhando para você, espelho meu, à noite, pensando em como minha vida poderia ter sido mais satisfatória. Eu sei perfeitamente que deveria me arriscar mais, e não ficar esperando que as coisas caíssem do céu para mim. Mas sei lá, a letargia contaminou toda a minha alma, e não consigo reagir diante disso...
Acho que, tanto hoje quanto sempre, estava diante de uma miragem. Não sei ao certo. A vontade de encontrar um oásis é tão grande que, mesmo que inconscientemente, acredito em imagens, em impressões. A dúvida que alivia é menos dolorosa que a certeza que desconcerta. Enfim. Mas, veja bem: pressinto um novo reencontro, vidro de reflexo.

29 novembro 2009

Insatisfação Crônica - parte I

(Texto que produzi para Oficina Literária, em 5 partes. Publicarei as outras quatro no decorrer da semana)

DEDALUS SLOWACKI
13 a 17 de maio de 2005.

I

Espelho, espelho meu! É hora de (mais) uma conversa séria! Sim, é sobre a mesma ladainha de sempre: minha insatisfação crônica.
Fui inocente de acreditar que esse nomadismo todo me traria alguma realização. Vinte e dois anos morando na Polônia, outros cinco na França e os últimos três na Itália... Mas continuo me sentindo incompleto! Sendo piegas, mudei meu exterior, mas não meu interior.
Não que minha vida seja repleta de tragédia e tristeza. Pelo contrário, acho até que falta. Porém, pouca coisa até hoje realmente me fez plenamente feliz. Não faltou variedade; já tentei de tudo, desde a universidade até a mímica. Infelizmente, nada disso foi o bastante para me deixar mais contente em viver.
Espelho, como já lhe disse várias vezes, converso contigo porque não tenho ninguém mais com quem dividir a minha vida. Passo boa parte do dia calado – afinal, sou mímico! -, e, quando chego a casa à noite, despejo tudo o que eu queria falar a você, meu reflexo de vidro.
Em parte, é por escolha minha que sou solitário. Sou um individualista incorrigível; construí minha rotina de maneira à sempre estar voltado para meu próprio bem-estar. Até meu trabalho, por envolver muito a arte, me exige pouca dedicação à vida alheia; é quase auto-suficiente, como se nem fosse necessário que os transeuntes contemplem minha mímica.
Porém, não nego que gostaria de dividir minha vida com alguém, seja com um amigo ou com uma companheira. Já tentei das duas possibilidades, mas nenhuma delas durou o bastante para se consolidar e alterar minha rotina. Steven, em Nice, e Paola, aqui em Roma, que o digam.

Minha infância foi tranqüila, sem grandes traumas, tampouco momentos de extrema felicidade. Meus pais me proporcionaram um padrão de vida razoável, embora nunca fossem muito afetuosos. Na adolescência, fiz algumas amizades, e até mantive uma ou outra com o passar dos anos. Porém, com o tempo fui perdendo o interesse por aquelas pessoas; não sei se por achá-las entediantes, ou se era eu a encarnação do tédio.
Depois disso, entrei na universidade e fiz um curso de Literatura Polonesa por três anos. Vários dos livros e autores com que tive contato naquela época até hoje me marcam. “Solaris”, de Stanislaw Lem, é até hoje meu romance sci-fi predileto, com seu tom perturbador e tão desolador. Tem uma passagem que me marcou profundamente. É mais ou menos assim: “O homem saiu para explorar outros mundos e outras civilizações sem ter explorado seu próprio labirinto de passagens escuras e câmaras secretas, e sem haver descoberto o que jaz atrás das portas que ele mesmo lacrou”. Seria muita pretensão da minha parte dizer que isso é praticamente um resumo da minha vida?
Há também aquele que leio nos momentos em que estou um pouquinho esperançoso. Adam Mickiewicz é o maior dos românticos de minha terra natal, numa época em que a Polônia sequer era independente. Sempre recorro à poesia crua de Czeslaw Milosz quando estou desiludido e às vésperas de desistir de tudo, precisando desesperadamente de uma razão para manter a fé na “realidade”.
Fui, no entanto, me chateando com a universidade. Acho que não nasci para levar uma vida erudita, formal e com um futuro, tanto profissional quanto acadêmico, tão linear. Perdoe-me pela jocosidade, espelho meu, mas considerava a maioria daqueles professores e colegas como pessoas “quadradas”! Você sabe: sem paixão, sem alma, sem carisma, sem capacidade de fugir de um caminho fácil e conhecido.
Foi aí que me decidi por fugir daquele mundo, mas não só dele; também queria dar adeus à minha família, a meus parcos e desinteressantes amigos, à minha ex-namorada Katanyna... Enfim, à Polônia e a pouca atração que ela me exercia. Após algumas semanas de burocracia (na época, eu ainda tinha paciência para isso), arranjei um passaporte e fui para o Oeste. Europeu, é claro.

Mudei-me para Nice, na França. Escolhi-a porque ela tinha um ar de “meio-termo”: era populosa (uns 300 mil habitantes), mas não tão grande quanto Paris ou Marselha; tinha clima mediterrâneo, um equilíbrio entre chuvas e calor; é visada pelos turistas, mas de difícil acesso por ficar perto dos Alpes; é uma cidade histórica, mas que não chega a ser exageradamente nostálgica como uma Veneza da vida. Além disso, não me esqueci de que, certa vez, meu professor de Literatura Positivista – Século XIX mencionou que já havia morado lá, e cobrira a cidade de elogios. Mal sabia ele que alguém ouviria seu conselho...
Sendo sucinto, fui músico de rua durante uns três anos, mas cansei e resolvi virar mímico. É dessa época que conheci Steven Von Meek, um dos poucos colegas que fiz por lá. Com o tempo, no entanto, fiquei farto daquela cidade – e dos franceses em geral -, e resolvi partir para a Itália, onde moro desde 2002. Continuo na mesma: um mímico com Ensino Superior incompleto.
Ah, ainda sobre o tal do “meio-termo”... No fundo, tudo que eu faço é pautado por uma busca da “justa medida”. Só que, muitas vezes, isso é frustrante e infrutífero; ao evitar os extremos, eu permaneço em uma espécie de zona cinza, em que nada é especialmente interessante. É como se eu fugisse da possibilidade de, experimentando a euforia e a melancolia, encontrar-me. Será, espelho meu, que meu erro é justamente esse – não ser “selvagemente ambicioso”?
Não tenho a resposta, portanto contentar-me-ei em continuar falando da minha rotina, certo? Pois bem. As ruas de Roma continuam pouco interessantes. Como sempre, algumas pessoas param para ver minha mímica, poucas delas se divertem, a maioria ignora ou não acha graça... Enfim, o de praxe. Sinto falta de alguma novidade, de algo inesperado. Afinal, seria por meio de um desses solavancos que minha patética existência passaria a ter algum sentido, sabe?
Não quero mais saber, meu caro, de hoje.

21 novembro 2009

Sobre E. Burke

Essa foi a semana mais docente da minha vida, rs. Dei duas aulas. A primeira foi na quarta-feira passada, em Teoria Política Moderna; sou monitor da matéria, e o professor deixou que eu lecionasse na 2ª aula sobre Edmund Burke. A outra foi ontem, em Teoria Sociológica 1, pois foi o seminário de meu grupo, sobre "Economia e Sociedade", de Max Weber.
A seguir, o roteiro que segui para a aula burkeana:

1. Burke, um conservador?

1.1. Conservadorismo é a filosofia ou postura política que afirma a importância social e política da estabilidade e da continuidade. O crescimento orgânico é mais seguro e bem-sucedido que ambições racionalistas e revolucionárias, cujos resultados são mais incertos e constantemente desagregam a comunidade. Com isso, a melhor ordem social é aquela que, apoiada nas tradições, modera e limita o egoísmo natural do ser humano.
Os conservadores acreditam que os governantes devem levar em conta a opinião pública e os preconceitos, que expressam o bom senso, a sabedoria popular. Além disso, há um sentido moral na liberdade defendida pelo conservadorismo; ela não deve ser vazia de sentido.
Existem vários tipos de conservadorismo: a) Liberal, que combina a defesa do livre mercado e da responsabilidade individual com valores tradicionais; b) Fiscal, que defende a austeridade do governo nos gastos públicos; c) Social, que se preocupa com a ordem e a estabilidade da sociedade; d) Cultural, no caso de povos ou nações que preservam as suas tradições e valores; e) Religioso, quando se procura utilizar ensinamentos de uma religião como base para a argumentação política.
O conservadorismo americano é o que mais assimila idéias liberais, muito embora enfatizando mais a meritocracia e a cultura do esforço do que a defesa dos direitos individuais, tão cara ao liberalismo. Tal tendência foi seguida pelos britânicos a partir do fim dos anos 70, com a ascensão de Margareth Thatcher e seu discurso privatizante. O conservadorismo da Europa Continental – e, de certa maneira, aquele adotado no Brasil e na América Latina – tem um caráter mais paternalista, antiliberal (pois acreditam que o individualismo enfraqueceu os laços sociais), forte influência de valores cristãos e a defesa do intervencionismo visando à promoção da ordem e da união nacional.
1.2. Os conservadores avaliam uma instituição pelo seu passado e tradição; em outras palavras, ela ganha legitimidade na medida em que mantém, por meio de uma evolução gradual, aquilo a que se propôs a garantir. Sendo assim, a conservação dos costumes, a harmonização dos conflitos e seu peso histórico seriam suas maiores virtudes.
Já os liberais falam em eficiência, pois preferem as instituições que alcançam os objetivos para os quais foram criadas, independentemente de serem novas ou antigas. O importante é que ajam de acordo com as forças espontâneas do mercado (a livre concorrência, por exemplo) e voltados para objetivos socialmente benéficos, através de externalidades positivas.
Os libertários enfatizam a importância de que as leis e os costumes não firam as liberdades civis e os direitos individuais. Eles acreditam na primazia do respeito à autonomia do indivíduo de fazer suas próprias escolhas, pois é dono de seu corpo e responsável por suas ações. Há, porém, a condição de que não prejudique o direito dos outros de também gozar dessa autodeterminação.
1.3. Edmund Burke se distingue do liberalismo de John Locke, o principal ideólogo do partido Whig. Enquanto o pensamento lockeano dá um caráter filosófico/metafísico aos direitos do homem, Burke entende-os como sagrados (viés teológico), e também como resultado da experiência acumulada dos séculos. Há aproximação de ambos, no entanto, quanto à idéia de proteção da propriedade privada como origem do governo.
Burke defende que o tempo e a experiência formam uma aristocracia capaz de fazer políticas que gerem o bem-estar para a coletividade. A justiça, a paz e a ordem são tão importantes quanto a liberdade; portanto, deve-se objetivar não uma sociedade perfeita, mas aquela que for praticável.
Do ponto de vista epistemológico, ele aproxima-se ligeiramente dos empiristas, como David Hume, por acreditar no hábito e na experiência como fontes de conhecimento. É também cético quanto às capacidades criadoras da razão humana. Para ele, há uma realidade, que não depende de nós; apreendemos a natureza com referência na tradição lentamente forjada por nossos ancestrais. Burke é, portanto, crítico dos utilitaristas, dos democratas radicais que seguiam Rousseau e do racionalismo dos filósofos iluministas. As três tendências criticadas por ele compartilham a crença na especulação metafísica, pois acreditam nos poderes da razão no sentido de ordenar e reorganizar a sociedade.
Ideologicamente, Burke considera-se um Whig da velha guarda, pois apóia reformas orgânicas e não simpatiza com o viés iluminista e pró-Revolução Francesa dos “novos” Whigs. Aproxima-se das idéias do partido Tory nos momentos reacionários de sua retórica, mas não se compactua com eles quanto à intolerância que demonstram com os católicos e sua posição pró-imperialismo britânico na Índia e na Irlanda.
1.4. Há vários motivos para considerar Edmund Burke um liberal-conservador. Existe um aspecto moderado e anti-revolucionário em seu pensamento, como a defesa dos costumes, convenções e as tradições do direito consuetudinário, assim como a a limitação dos poderes do governo, a ética da política pautada pela religião e o anti-racionalismo.
Porém, Burke também afirmou a proeminência da propriedade privada como um dos fundamentos de uma sociedade livre e vigorosa. Simpatizante da causa dos colonos da América, ele alegou que eles eram dedicados à causa da liberdade segundo a concepção inglesa e baseada nos mesmos princípios da revolução Whig de 1688. Também foi crítico da administração inglesa na Índia, e defendia os direitos dos católicos e a liberdade comercial de sua terra natal, a Irlanda, que sofria imensa opressão religiosa e política da Inglaterra. Aliás, essa defesa dos interesses irlandeses lhe custou uma derrota eleitoral em seu distrito, em 1780.

2. Os legados da Revolução Inglesa e os erros da Revolução Francesa

2.1. Legados: ao invés de eleições e autogoverno, consolidou-se o respeito à hereditariedade e a limitação dos poderes da Coroa. Houve a conservação das leis e liberdades tradicionais. O respeito à herança de nossos antepassados permitiu conservar a unidade na diversidade, evitando desordens e excessos. Forneceu, também, meios seguros de conservar, transmitir e também de melhorar esses hábitos.
2.2. Erros da Revolução em França: em primeiro lugar, a corrupção da moralidade e dos costumes. A luta pela abolição de certos vícios levou a excessos em outros, ainda mais danosos. As instituições já existentes na França, como a religião e a monarquia hereditária, só precisavam de algumas reformas para voltar a ser fortes e saudáveis. Porém, a Revolução Francesa, desde o início, desprezou-as, ao procurar destruir o edifício já existente para criar um novo, sem se preocupar com as gerações anteriores e posteriores. Para o autor, os revolucionários podem ter subvertido a monarquia, mas não recuperaram a liberdade.
2.3. A usurpação e o abuso de poder foram outro aspecto criticável da França revolucionária. O pensamento burkeano considera o poder o maior dos males, pois pode corromper e não gerar resultados mais satisfatórios do que teria se fosse limitado. Os arbítrios são especialmente perigosos quando há ingerência nos meios de subsistência do povo (p. ex., a agricultura), o que leva à sua defesa veemente dos direitos de propriedade privada.
2.4. Outro erro dos franceses foi superestimar a Razão humana. Burke é contrário a um sistema moral sintético e planejado, algo muito comum entre os racionalistas do século XVIII. Para ele, um governo que se guia por idéias abstratas tende a ser mais arbitrário e tirânico. O espírito de inovação tende a ter uma perspectiva restrita e ser egoísta. O autor possuía, portanto, uma postura anti-racionalista: a razão humana é limitada, e não é capaz de organizar a sociedade com especulações filosóficas.

3. A importância dos costumes

3.1. Os costumes são a bússola que nos guia. A cultura moderna deve mais do que gostaria a eles. A prosperidade depende de princípios protetores naturais. Devemos nos guiar por preconceitos, ou seja, pelo que há de bom e sábio no senso comum. Uma revolução nos sentimentos e opiniões é desnecessária, e poderia ser catastrófica.
3.2. A religião impõe aos cidadãos a responsabilidade por seus atos perante Deus, o fundador da Sociedade. Ela aproxima o homem da perfeição, dando-lhe o sentido moral para sua existência. Garantem-se, assim, os sentimentos e valores primitivos e contínuos da humanidade.
3.3. Para Burke a jurisprudência é a razão acumulada dos séculos. Baseada na tradição do direito consuetudinário, ela garante a estabilidade e um terreno sólido para a justiça, assim como conserva a propriedade.
3.4. O Estado é uma associação não só entre vivos, mas também entre os mortos e os que irão nascer. Portanto, mesmo estando no reino universal (dos homens), os homens do Estado não estão moralmente livres para seguir suas vontades, quebrar os laços da comunidade e dissolvê-la em um caos anti-social.

4. A Democracia segundo Burke

4.1. A democracia pode ser necessária e desejável, mas esse não foi o caso da França, nem de nenhum governo democrático já existente. Pode-se dizer que a democracia absoluta leva à opressão da minoria (que, com o tempo, poderá se tornar uma maioria submissa), grandes divisões (fracionamento da coisa pública) e a uma severidade ainda maior que a da monarquia absoluta.
4.2. O povo não pode exercer, de baixo para cima, uma dominação contra a natureza, pois não é a medida do bem e do mal. Precisa, aliás, se livrar de suas ambições egoístas e arbitrárias. A autoridade popular, se absoluta e ilimitada, pode levar a abusos de poder. Uma perfeita democracia seria vergonhosa e temível.
4.3. “É mais fácil imprimir valores republicanos em uma monarquia do que qualquer coisa monárquica em formas republicanas” (Boligbroke). A monarquia francesa poderia se corrigir por meio da religião, das leis e da opinião pública; não havia a necessidade de experimentação política, destruindo o que havia de bom e útil.

5. Falhas do poder Legislativo e do Executivo na França revolucionária

5.1. O verdadeiro legislador é sensível e desconfia de si mesmo, e não é arrogante, precipitado e exaltado. Deve-se evitar a ótica do exagero, que mostra vícios e defeitos sem olhar para as qualidades; pois, assim, acirram-se as tensões políticas.
5.2. Como conciliar a obediência e a ordem com a liberdade, para formar um governo livre? Criticar é fácil, resolver as dificuldades demanda habilidade, coragem e vigor. As instituições velhas são julgadas pelos seus efeitos, se atingem suas finalidades. Já as novas precisam responder perfeitamente aos fins buscados. Tal tarefa ambiciosa não foi alcançada pelos legisladores franceses.
5.3. A monarquia francesa não era tão despótica quanto dizem; a ação dos legisladores O rei francês está em uma situação desonrosa: sem autoridade, pois carente de qualquer faculdade deliberativa, e não tem controle sobre as atividades da Assembléia Nacional; sem direito de se opor a nada, já que não pode votar contra os projetos da Assembléia Nacional; e, sem prerrogativas, porque é impedido de, por exemplo, declarar guerra e paz. O único papel que lhe foi dado foi o de carrasco; ou seja, quem manda executar as leis, e sem poder recompensar quem cumpre suas ordens.
5.4. O espírito do medo não faz a glória de uma nação. Trocando em miúdos, o temor em dar prerrogativas de guerra e paz ao rei levará a uma situação indesejável: uma força executiva enfraquecida e ineficiente. Os franceses, ao não constituírem uma forma de autoridade, estão expostos à anarquia e às invasões externas.

6. Conselho aos Ingleses

6.1. Não seguir o exemplo desastroso dos franceses, em que há liberdade para alguns e servidão opressiva para outros. Na verdade, é a França que deveria se espelhar na Grã-Bretanha. Afinal, a Constituição Britânica é privilegiada: possui um espírito patriótico, independente e livre.
6.2. As mudanças devem ser feitas com o intuito de conservar, no mesmo estilo que a construção já existente. Ou seja, fazer a opção por reformas orgânicas, que preservam o que há de bom e ajustam o que pode ser melhorado.
6.3. Como lidar com os valores que herdamos de nossos antepassados? Devemos conservá-los, e imitar a prudência que lhes foi característica. A liberdade não se basta por si só; precisa de sabedoria e virtude. Esta moderação não pode ser vista como covardia e traição, como estão fazendo os revolucionários franceses.
6.4. A tirania, a opressão e a opulência são indesejáveis. Acima de tudo, deve-se manter a ordem, mas variando seus meios de ação para garantir unidade, estabilidade e equilíbrio na sociedade e na política.

7. A influência de Burke sobre o pensamento conservador (e liberal)

7.1. Michael Oakeshott foi um dos principais intelectuais do conservadorismo no século XX. Porém, ele não segue a linha tradicional dessa corrente, pois não fundamenta sua tese em crenças religiosas, uma visão orgânica da sociedade ou um egoísmo inato. Oakeshott acreditava em um temperamento conservador; ou seja, não o considera como teoria ou ideologia, mas sim uma disposição, um comportamento. Conservador seria aquele que tem preferência por costumes e instituições que existem por longos períodos; ou seja, aquilo que já é conhecido e experimentado é mais desejável. Nem toda inovação é um melhoramento, e a mudança é uma ameaça à identidade. Cabe ao governo administrar as regras do jogo, conhecidas e consentidas, e não impor crenças e/ou coordenar, educar seus súditos.
7.2. Para o economista Joseph Schumpeter, no processo político, prevalecem os interesses individuais; portanto, não se pode falar em vontade geral, do povo. Muitas decisões são feitas por motivações irracionais ou extra-racionais. A democracia deve consistir basicamente em um método, em que eleições são disputadas pelas lideranças políticas. Seus temores quanto a uma participação popular ampliada lembram o receio de Burke quanto à autoridade popular.
7.3. José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, importou as idéias burkeanas para o pensamento político português – e, conseqüentemente, o brasileiro. Anglófilo, defendia doutrinas econômicas liberais, mas politicamente era reacionário e “situacionista”. Defendeu a união de Brasil a Portugal, e acreditava na manutenção dessa unidade por meio de reformas e concessões de ambos os lados, visando às necessidades e opiniões de portugueses e brasileiros.
7.4. Friedrich Hayek se considera ideologicamente um Whig burkeano. Porém, no posfácio de “Os Fundamentos da Liberdade”, ele afirma que não é conservador, pois, segundo ele, tal ideologia é incapaz de elaborar um conceito geral sobre a maneira pela qual a ordem social consegue sustentar-se, tem tendências totalitárias e freqüentemente apela para a base teórica dos liberais ou socialistas. Porém, Hayek apresenta idéias típicas de tal corrente política, como seu tom crítico à democracia e a afirmação de que a razão humana não pode ser utilizada para gerar poderes coercitivos e exclusivos para o governo.
7.5. No Reino Unido, Burke foi um grande referencial para dois dos maiores estadistas do Partido Conservador: Benjamin Disraeli e Winston Churchill. Disraeli foi um dos parlamentares britânicos mais destacados do fim do século XIX. Dotado de uma retórica feroz, defendia os interesses da aristocracia rural e tinha posições protecionistas e imperialistas. Churchill, por sua vez, destacou-se pela sua postura patriótica – e, muitas vezes, belicista. Liderou a resistência do Reino Unido à ofensiva nazista durante a II Guerra Mundial, e como primeiro-ministro era anticomunista e defendia a aproximação com os Estados Unidos e a manutenção do Império britânico.
7.6. Nos Estados Unidos, a influência burkeana se fez sentir na Guerra Fria, quando vários presidentes americanos, especialmente os Republicanos, justificavam sua “doutrina de contenção” a partir de teses de Burke. O comunismo era visto como uma “doutrina armada”, e a URSS, como a nova França jacobina – a potência subversiva do século XX. A política externa americana, em governos como o de Eisenhower, adotou mecanismos de segurança externa e mútua contra as forças comunistas, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Clamou-se pela defesa da civilização contra os inimigos da ordem e da justiça.

Referências bibliográficas:

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1982.
CHÂTELET, François. História das Idéias Políticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
HAYEK, Friedrich. Os Fundamentos da Liberdade. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1983.
OAKESHOTT, Michael. “Sobre o fato de ser conservador”. IN: CRESPIGNY, Anthony de (ed.). Ideologias Políticas. 2ª edição. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1999.

Sites consultados:

http://causaliberal.com.br/causaliberal/index.php?option=com_content&task=view&id=45&Itemid=25
http://educacao.uol.com.br/biografias/edmund-burke.jhtm
http://en.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Disraeli
http://en.wikipedia.org/wiki/Conservatism
http://en.wikipedia.org/wiki/Churchill
http://en.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke
http://partidoconservador.blogspot.com/2007/08/mas-afinal-o-que-isto-de-ser.html
http://partidoconservador.blogspot.com/2007/08/os-inimigos-do-conservadorismo-segundo.html
http://www.arqnet.pt/portal/teoria/burke.html
http://www.arqnet.pt/portal/teoria/burke_lisboa.html

13 novembro 2009

Eterno Retorno ou Uma Segunda Chance?

"Não existem coincidências, apenas simetrias." Eis o lema que César retirou de uma aula inocente sobre probabilidade e estatística. Pois bem, a sua vida parecia seguir este esquema. A mais recente prova disso é que ele iniciou o namoro com Cristine duas semanas depois do último COPOL (a grande confraternização futebolística de seu curso, Ciência Política), e terminou-o também 2 semanas antes da nova edição do torneio.
Muita coisa ocorreu nos seis meses que separaram os, digamos, Copóis. Além, é claro, das turbulências do namoro, César teve várias boas e más novidades. Entrou no programa de educação tutorial, melhorou a relação com a família e com seu room-mate Mário, permaneceu mais algum tempo em 'ressaca literária', afastou-se um pouco de seus amigos de curso (mas, em Outubro reaproximou-se deles) etc.

Está começando um novo ciclo? Ou a vida é mesmo linear, e eu estou tendo uma nova oportunidade de acertar os eixos e progredir?
Se eu aceitar a 1ª alternativa, faz todo o sentido: eu estava em um impasse no COPOL passado, à beira do fim de uma paixão e do início de outra, incerto sobre os êxitos acadêmicos a curto prazo e menos tranquilo e contente comigo mesmo do que o normal.
Pois bem, Novembro chegou, e estou em um momento parecido. Não tão angustiado quanto estava em Maio, é verdade; mas, ainda assim necessitado de reencontrar as forças para encerrar o ano bem. Estou praticamente livre da paixão que sentia por Cristine, porém esse restinho que ainda não extirpei ainda dói um pouco. Não sei o que fazer para eliminá-lo. Um novo relacionamento? Metas intelectuais e acadêmicas bem definidas (um jeito mais saudável de ser workaholic)? Sair mais com meus amigos(as)? Ou, sei lá, libertinagem e boemia, rs?

Vamos pensar sobre a outra opção. Os últimos seis meses inegavelmente trouxeram vários progressos para a minha vida. Com as devidas proporções, fiquei mais maduro e auto-consciente dos meus limites, além de menos misantrópico e pedestáltico. Mas, ainda assim poderiam ter sido semanas melhores. Fui omisso quando deveria ter tido iniciativa, agi precipitadamente quando deveria ter ficado quieto.
Pode-se dizer que ganhei uma segunda chance. Reconquistei minha liberdade, e agora posso utilizá-la para fazer escolhas melhores do que as que fiz anteriormente. Não necessariamente as coisas acontecerão rápida e intensamente, como em Maio; podem seguir um curso mais lento e cadenciado. O que, no entanto, não será algo ruim. Tudo depende de como eu vou lidar com as responsabilidade dos meus atos e decisões.
Ei. Prefiro pensar as coisas dessa 2ª maneira. Um eterno retorno significaria um eterno fracasso, e eu não acho essa uma perspectiva de vida muito animadora... Mesmo que a concepção linear seja uma ilusão, eu prefiro trabalhar com um cenário em que há alguma chance de "happy ending" do que me resignar à impossibilidade de ser feliz e satisfeito - seja lá o que essas duas palavrinhas signifiquem!
Estou até parecendo um existencialista de direita, hehe. E, amanhã já está chegando. Boa noite!

04 novembro 2009

Now she's on purple, now he's the turtle

César começou a sentir dentro de si uma mistura de culpa, vergonha e serenidade. Aquela, porque tratou mal Cristine no fim do namoro; por exemplo, demorou 4 dias para voltar a falar com ela, e poderia ter passado mais tranquilidade em sua "1ª conversa como ex". Vergonha, porque agiu de maneira imatura até nos momentos finais de sua relação, como se fosse uma criancinha mimada que, quando contrariada, fere inadvertidamente aqueles que se importam com ela. E serenidade pois, apesar de tudo isso, o clima entre ele e Cristine aos poucos vinha adquirindo paz e estabilidade.
Quanto a Júlia, ele sabe bem o que fazer: nada. No máximo, manter as conversas triviais, afinal ambos adoram dialogar sobre coisas inúteis e aleatórias, embora travestidas de cult. Os livros de Teoria Política (ele) e História Econômica (ela) que haviam comprado na semana passada, o novo álbum do Muse, as novidades sobre a turnê do Franz Ferdinand em Cosmopólia, qual filme assistir no cinema, o que escrever para a próxima aula de Oficina Literária etc.
Tocar no assunto "strawberry girl", no entanto, estava fora de questão. Não que Júlia se sentisse mal em falar dela, mas porque havia um clima sutilmente tenso entre os regressos da viagem. Embora tenha parado de brigar com Henrique, Cristine ainda não tinha obtido uma reconciliação completa com ele e outras pessoas: Manuela, Ingrid, Fábio... Aliás, a própria possibilidade de falar sobre 20 pessoas diferentes na mesma conversa desencorajava César de sequer mencionar essa temática! É claro, no entanto, que não via a hora de essa situação estranha se encerrar.

Ok, evito falar sobre ela com o César, mas me sinto na necessidade de entender o enigma que é Cristine. Temos tantas semelhanças e diferenças que não custa nada enumerar, com um top 5 para cada (juro que a pessoa viciada em listas dessa história não sou eu! É apenas para demonstrar uma teoria, tudo bem?).

S5 - Não nos damos tão bem assim com nossas respectivas famílias, emboras os motivos - e a maneira como lidamos com isso - sejam bem diferentes.
S4 - Achamos que o César, embora tenha idéias bacanas, possui uma retórica fraca, e precisa desenvolver melhor sua capacidade de filosofar se quiser ganhar alguma discussão mais profunda e/ou não parecer prolixo e raso.
S3 - Ela, assim como eu, é alta, magra, de pele branca e cabelos escuros. De quebra, também vive com a neura de que está gorda.
S2 - The Smiths foi a banda que salvou nossas vidas, embora eu também dê crédito para os Pixies nessa redenção.
S1 - Fazemos Relações Internacionais, e ambas somos REL frustradas às avessas. Porém, eu amo Economia e Literatura, e ela quer fazer Sociologia.

D5 - Ela tem os colhões (?) para mudar de curso, enquanto eu me conformarei em tirar o melancólico diploma de, hã, internacionalista.
D4 - Sem querer parecer imodesta, mas sou emocionalmente mais estável que ela. Essa constância não necessariamente é algo maravilhoso, mas vocês não entenderiam por que.
D3 - Eu não acho que Blur é uma mera boy band sem graça (que heresia!), e ela não pensa que a MPB é um inferno repleto de gente chata, pedante e pretensiosa.
D2 - Ela é de esquerda e eu, de direita. Sendo mais detalhista, a Cristine faz a linha desconstrutivista/feminista/socialista utópica, enquanto eu sou uma liberal-democrata à moda antiga, e "Chicago girl". Como o César é libertário e simpatizante do individualismo de Hayek, Ayn Rand e Thoreau, nem preciso falar que havia divergências ideológicas sérias entre eles...
D1 - Por último, Cristine tem menos receio de demonstrar sentimentos por alguém, o que é uma faca do dois gumes, pois não é fria e introspectiva como eu, mas se expõe mais facilmente a decepções e hostilidades.

O César ia adorar uma lista desse tipo, como vocês podem imaginar. Foi de propósito, afinal eu sei que ele vai ler isso e se segurar para não falar - pelo menos explicitamente - sobre esse duplo top 5 comigo amanhã.
Cansei. Vou tomar um chocolate quente e ir para cama.

03 novembro 2009

A Loucura Sentimental

É uma história meio confusa, mas vou tentar explicá-la.

Antes de mais nada, uma breve introdução. Meu nome é Júlia, tenho 19 anos e estudo Relações Internacionais na UNICOS (na verdade, majoritariamente faço matérias de Letras e Economia, mas isso não vem ao caso).
5 meses e meio atrás, César, meu melhor amigo, começou a namorar uma garota chamada Cristine, a quem apelidamos de "strawberry girl" em razão da música homônima do Siouxsie and the Banshees.
O problema é que, de certa maneira, ele refletiu o platonismo que sentia por mim em sua namorada. Em outras palavras, embora sempre a tratasse por Cristine, inclusive quando entre amigos(as), ele escrevia textos chamando-a de Júlia. É algo do tipo "minha amada se equipara ao meu ideal romântico, a algo que antes eu considerava intangível". Estranho, não?
Não foi a primeira vez que ele fez isso; o mesmo tinha acontecido com as pobres coitadas da Melissa e da Flor, que tiveram que aguentar esse Werther ambulante projetando suas utopias femininas nelas.
Eis a complicação: ele gostava muito dela, mas amava a idéia que fazia dela. Porém, não foi uma paixão tão contemplativa quanto as outras quatro ou cinco que já teve, pois ele tomou a iniciativa quando precisou - ou pelo menos se deixou levar quando usualmente não deixaria. A despeito de todas as brigas e complicações, o namoro César-Cristine foi repleto de momentos genuinamente felizes, e de fato houve atração não apenas psicológica, mas também física. Enfim, existiram reciprocidade, cumplicidade e companheirismo na relação dos dois, e não um, digamos, "unilateralismo platônico".

A trama se complicou quando eu também comecei a delirar. Talvez porque também estava absurdamente apaixonada pelo César, eu comecei a achar que ele estava namorando a mim (sic), que eu estava no lugar de Cristine. O fato de que ela é colega minha; e, por sermos confidentes, ela vivia me contando detalhes de seu relacionamento, afinal jamais imaginaria que sua interlocutora gostava de seu namorado. Isso me fez enlouquecer mais ainda, pois eu me imaginava em situações que ela passara com ele. O Post-silence foi a expressão literária de como ele e eu, de uma maneira intermediária, nos amamos nesses últimos meses. Ele, idealizando Cristine como se fosse eu; quanto a mim, colocando-me no lugar dela.
As coisas começaram a ir longe demais quando tanto eu quanto ele começamos a adulterar os diálogos que nossos 4 melhores amigos escreviam sobre nós. César colocava "Júlia" onde estava "Cristine", e eu fazia o mesmo quando envolvia conversas nas quais estive presente. Leiam, por exemplo, o menos-ambíguo-do-que-parece What ever happened.
O mais bizarro de tudo é que eu e ele quase não nos falamos nesses 5 meses e meio! Foi um distanciamento estranho, para dois amigos que não se desgrudaram nos últimos 3 anos.

Enfim, tudo acabou na semana passada, quando ele e a Cristine brigaram em uma viagem acadêmica na qual eles, eu e o Henrique fomos. Em meio às palestras e festas, as diferenças de personalidade e os problemas mal resolvidos dos dois alcançaram patamares que não podiam mais ser superados. Para piorar, houve um lance meio "bizarre love triangle", sobre o qual até não me sinto à vontade de comentar.

Eu e César voltamos a nos falar nesse fim de semana, e aos poucos ele vem se recuperando da separação - e eu, da correspondência mental e silenciosa (pois também reservei-a à minha produção textual) a esse delírio romântico. Deixei claro para ele o quanto essa amizade é importante para mim, mas também que não estamos em condição de ter um relacionamento mais avançado. Ainda não somos maduros e equilibrados o bastante. Só no momento em que ele deixar de me tratar como um pedestal, e eu parar de ter medo de amar alguém, nós poderemos pôr um final (feliz) a essa tensão melodramática.
Enquanto isso, empresto-lhe meu recém-adquirido "Alta Fidelidade", enquanto ouço uma coletânea dos Smiths que ele gravou para mim meses atrás. Stop me if you think you've heard this one before.

02 novembro 2009

Selvagemente ambicioso?

Num primeiro momento, César retirou um trecho de um conto vingativo que estava preparando, chamado "A Grande Ilusão":

Achei que tinha acordado de um longo pesadelo. Porém, sabia muito bem que tudo que ocorrera naqueles últimos 5 meses e meio era realidade, por mais terrível que fosse. Meu primeiro relacionamento amoroso acabou, e estou até aliviado com isso.
Ainda não entendo por que insisti na ilusão de achar que era Cristine a garota de minha vida. Pior ainda: cheguei a confundi-la com Júlia, minha melhor amiga e, sendo amargamente sincero, meu eterno ideal romântico.
Hipóteses não faltam: imaturidade, ingenuidade, passividade, pedestaltismo, empolgação de 1º namoro... quem sabe, até um certo prazer em ser enganado.
Desta vez, tive uma desilusão bem diferente das anteriores; ao invés do padrão platonista, cheguei a namorar a garota. Precisei das mais diversas e amargas experiências para chegar ao inevitável desfecho.

Porém, mudou de idéia, e resolver parafrasear um trecho do 1º capítulo do livro que encabeçaria seu top 5 de "melhores leituras pós-breakup" - Alta Fidelidade, de Nick Hornby.

Em ordem cronológica, minhas desilusões amorosas mais memoráveis, as favoritas, as cinco que eu levaria para uma ilha deserta:

1) Tatiana de Souza, 1999-2000
2) Mônica Almeida, 2002
3) Lyla Lima, 2005
4) Melissa Pereira, 2006
5) Flor de Lis, 2009

Estas foram as que doeram de verdade. Se bem que, sendo sincero, nem me apaixonei de verdade pela Mônica; no máximo, a escalei como mocinha do teatrinho de "Escaravelho do Diabo" que fiz na 6ª série. Só coloquei ela na lista para demonstrar o quanto a separação da Cristine não doeu em mim. Está vendo o seu nome na lista, "strawberry girl"? Se você quiser entrar à força na lista, vai ter que se esforçar mais do que isso. Já não sou tão vulnerável quanto era na época em que gostei de Tatiana e Lyla.

Tatiana foi a 1ª paixão, e talvez a que doeu mais. Passei dois anos obcecado por ela. Humilhei-me por ela várias vezes, como na festa de 10 anos dela. Entrei em um longo período do nerdismo depois que me desapaixonei. Felizmente, hoje em dia já não sofro mais por essa desilusão quanto costumava (até 3 anos atrás, eu chegava a colocá-la como "paradigma", momento no qual minha vida entrou em declínio. Sou um Drama King, não?). Atualmente, considero-a apenas um ponto de largada para minha trilha de fiascos platônicos.
Lyla foi a mais curta das paixões (durou só 3 semanas), mas foi aquela que teve influência mais decisiva no meu gosto cultural. Não que eu já não ouvisse indie rock e lesse autores blasé antes de conhecê-la, mas ela me apresentou alguns dos meus prediletos: The Killers e Placebo, Santiago Nazarian e Michael Cunningham, New Order e Muse etc. Curiosamente, usei essas referências cult para me ajudar a esquecê-la.
Melissa foi um caso sui generis. Ela tinha uma personalidade instável, provavelmente mais que a de Cristine. Nossa primeira conversa foi extremamente longa e interessante, o tipo de 'mito fundador' que me deixa inevitavelmente apaixonado por uma garota. Porém, a distância geográfica e o humor inconstante dela atrapalharam tudo, e só me restou o fato de me lembrar dela quando ouço algumas músicas do Jeff Buckley ou do Portishead.
Finalmente, a Flor é aquela mesma que, ressentidamente, falei sobre em Tender. Arrependo-me de ter lidado tão mal com aquilo. Das quatro, é a única de quem continuo amigo (não vejo Tati há cinco anos, Lyla mora em outro país e perdi contato com Melissa). Talvez devesse ter sido sempre assim. Ainda não consigo entender por que, repentinamente, comecei a gostar dela de uma maneira diferente. Talvez seja o jeito espontâneo e alegre dela... enfim.

Ainda insatisfeito, ele tentava entender o que Júlia, anteontem, quisera dizer quando falou que a "loucura sentimental" que o contaminara desde Maio não havia sido exclusividade dele. Ela também havia falado algo sobre "um breve transtorno", e que entendia perfeitamente por que ele se apaixonara por Cristine idealizando-a como ela mesma, Júlia, a ponto de escrever textos trocando o nome de sua namorada pelo de seu eterno pedestal. César ficou ainda mais confuso por, mesmo conscientes do fato de que um gosta do outro, ele e Júlia nunca terem se relacionado além da amizade.
Porém, ele sempre se lembraria das palavras que ela lhe disse alguns dias antes de ele iniciar seu namoro com Cristine:
Não podemos concretizar, ou mesmo lidar, com o que sentimos um pelo outro - seja por palavras ou por gestos. Sinto muito, mas corremos o sério risco de termos uma amizade eternamente assexuada.


E, afinal de contas, o que será que Alice queria dizer quando sentenciara o seguinte:
Meu amigo, você é um Ross Geller da vida. Seu namoro, no início, se parece com o 2º casamento de Ross, e no término, com o 1º. Reflita...


César largou a escrivaninha, e foi dormir. Amanhã decidiria o que fazer, pelo menos literariamente, a respeito de sua recente separação.