A falência (e a falácia) da UNE
O movimento estudantil é um gigante adormecido, e não há exagero em tal afirmação. As últimas quatro décadas provaram que, sempre que os jovens resolveram realmente lutar por uma causa, os resultados das manifestações foram geralmente positivos. É claro que nem sempre eles conseguiram alcançar seus objetivos (por exemplo, Massacre da Praça da Paz Celestial, em 89), mas, de qualquer maneira, marcaram a História com tais mobilizações.
Tal fato se explica pelo espírito mais libertário que a juventude possui. Este pode até ser reprimido, mas jamais eliminado da essência destes "maiores de 13 e menores de 30 anos", como diria certa expressão dos anos 60. O problema é quando a supostamente mais politizada das organizações estudantis brasileiras tem uma atuação reprovável. Obviamente, estou falando da UNE (União Nacional dos Estudantes), que, após gerações de comodistas e pelegos, parece ter como sua única importância para o Brasil a confecção de carteirinhas. A meia-entrada deve ser mais importante que o ativismo político, certo?
A priori, o papel da UNE seria unificar as tendências político-ideológicas das diversas facções de jovens politizados em torno de objetivos em comum, os quais seriam benéficos para a classe dos estudantes e para a sociedade como um todo. Em outras palavras, caberia a ela e seus membros organizarem os fins e meios do movimento estudantil. O problema é que ela vem fazendo justamente o contrário: nunca os militantes universitários estiveram tão desarticulados, tão desunidos. Na prática, isso é uma situação em que os adolescentes levam uma lavada em coesão para os seus ditos "inimigos" (adultos, Estado, grandes corporações).
Um dos principais motivos para tal ineficiência da UNE é a chamada patrulha ideológica. Anos se passaram e muros caíram, mas a esquerda continua hegemônica entre os estudantes que gostam de política. Não bastassem as tentações autoritárias de tal corrente de pensamento, há outra ainda pior: a imensa heterogeneidade. Tendências como os marxistas, os trotskistas, os "verdes", os stalinistas, os nacionalistas de esquerda, os anarco-socialistas etc. passam mais tempo brigando entre si do que tentando chegar a um consenso. De quebra, há uma grande intolerância aos direitistas, por mais liberais que estes venham a ser. Se um militante da UNE dissesse que era a favor das privatizações e do corte de programas de bem-estar social, provavelmente ele seria isolado e ignorado pelos outros, e ainda tachado de termos tão cafonas como "entreguista", "pequeno-burguês" e "porco capitalista".
Poderíamos gastar outras trinta linhas falando de causas equivocadas que a classe estudantil defendeu nos últimos anos, provavelmente pela necessidade de dizer que protestava em relação a alguma coisa. A picaretagem dos "caras pintadas" de 92; a oposição à desestatização da Vale do Rio Doce em 97 pelos motivos mais anacrônicos; a estúpida luta pelo passe livre (que só prova o quanto alguns universitários gostam de ser parasitas do Estado) e as mobilizações anti-Bush são bons exemplos. Houve apenas uma que parecia defender uma boa causa (a que ocorreu na USP este ano, contra a “transparência forçada” que o governo local queria impor à universidade), mas os métodos utilizados foram abomináveis. A ocupação foi mais longa do que deveria ter sido, e as atitudes de muitos dos estudantes que participaram foram patéticas e risíveis.
Não vou me estender na conclusão; apenas me limito à expectativa de que os próprios universitários que forem ingressar na UNE, nos próximos anos, tentem trazer novidades (entenda-se: mudanças) para a mesma, para quem sabe reconstruir o movimento estudantil nacional. O sonho não acabou. Por enquanto.
[Novamente, obtive um 10 na redação. Adorei o tema, embora tenha detestado o fato de só ter 40 linhas para dissertar sobre ele. Isso sem falar que eu me incluo nos futuros membros da UNE. Quem sabe até, se eu tiver condições para tal empreitada, ser presidente dela. Heh, eu seria o primeiro "não-vermelho" a liderar tal organização estudantil, tão entupida de membros da esquerda festiva, especialmente os ligados ao símbolo máximo desta: o PC do B.
Sim, é um plano muito pretensioso de minha parte, mas farei tudo que estiver em meu alcance para agarrar as oportunidades que a atmosfera universitária me oferecerá, e isso inclui fazer política, e não apenas analisá-la, como pressupõe o curso ao qual eu aspiro.]
26 agosto 2007
Carências de comida fisiológica e psicológica: o que fazer?
Poder-se-ia definir que a fome é o estado de angústia ocasiado por uma alimentação precária e/ou insuficiente. Angústia tal que os danos psicológicos gerados são tão terríveis quanto os fisiológicos ou mesmo sócio-econômicos. Sentir fome conduz o indivíduo ao desespero e dor intensos, o que leva a efeitos que variam entre a apatia e até possíveis pretextos para a violência.
Seria até interessante apresentar dados e estatísticas, mas creio que já é consensual que bilhões de terráqueos e dezenas de milhões de brasileiros têm subnutrição em maior ou menor grau. Também seria desnecessário gastar linhas e mais linhas falando-se das raízes do problema, como a má distribuição de renda, uma atuação negligente e equivocada dos Estados subdesenvolvidos, o desemprego, o desperdício e a carência de políticas sociais mais consistentes. É evidente que a maior parte da população tem noção das causas citadas.
Apontar as consequências também é fácil, por mais cínico que pareça. A diminuição da expectativa de vida, o "voto de escambo" (eleitores esfomeados que votam em troca de algum alimento), o aumento (direto ou indireto) da violência urbana e/ou rural e uma elevação da incidência de doenças são quatro delas.
O que, no entanto, torna tal temática tão complicada é o "como resolver", quais são as possíveis soluções. Pobres e ricos, esquerdistas e direitistas, alunos e professores podem até ter boas idéias, mas a maior parte delas (especialmente as que envolvem um gigantesco intervencionismo estatal) são impraticáveis ou de difícil execução. Afinal, por se tratar de uma questão profundamente estrutural, não bastariam apenas as ideologias com boas intenções, mas também uma conjuntura econômica, uma vontade política e uma mobilização popular intensas para que um projeto mais ambicioso pudesse ser executado.
Se os três fatores citados no parágrafo anterior puderem ser combinados, algumas medidas pertinentes para combater a fome seriam: I - Programa de renda mímima (o qual exigiria menos despesas do que toneladas de assistencialismos, e seria capaz de gerar autonomia financeira e maior poder de consumo para as camadas mais carentes); II - Cortes consistentes nos (abusivos) impostos sobre os alimentos; III - Plano de diminuição progressiva do desperdício de comida; IV - Incentivos fiscais para empresas que demonstrem responsabilidade social quanto à questão da fome. Obviamente, muito mais deve ser feito para minimizar ou mesmo erradicar a subnutrição, mas que fique claro que não será nada fácil.
25 agosto 2007
Jeitinho brasileiro: bonitinho, mas ordinário (?)
Não há dúvidas de que o povo brasileiro é o mais idiossincrático do planeta. Existem certas características e situações que são praticamente uma marca registrada dos tupiniquins, levando o país a ser, simultaneamente, um dos mais admirados e ridicularizados. Várias atitudes do cotidiano nacional, segundo alguns sociólogos e antropólogos, poderiam constituir o chamado “jeitinho brasileiro”. Será que ele tão elogiável ou execrável quanto se pensa?
O fator histórico é indispensável na análise de tal questão. O Brasil é, na prática, um “país vira-lata”, em razão da miscigenação étnica de seu povo; nesse caldeirão foram adicionados lusitanos, angolanos, nativos americanos, italianos, holandeses, espanhóis etc. Logo, se herdaram comportamentos bem diversificados, desde o jeito serelepe dos negros até os anseios por ócio dos ameríndios. É claro que nem tudo que foi trazido por tais etnias seria benéfico. Em um país tão oprimido e desorganizado durante o processo colonial, além de um Império fajuto e uma República que já foi oligárquica e até populista, era patente que a população teria de encontrar mecanismos e brechas para sobreviver.
Evidentemente, maniqueísmos não servem nesse assunto. Não se poder considerar o jeitinho como o que há de melhor ou pior no brasileiro. Nem a xenofilia ou o patriotismo são possíveis na análise. Se, por um lado, somos campeões de corrupção de pequeno, médio e grande porte (desde um suborno até uma “mesada” para deputados federais), também poderíamos ser vistos como criativíssimos e talentosos em tudo o que nos realmente propomos a fazer, mesmo que no futebol ou na ciência.
Há tempo e espaço de sobra para listarmos prós e contras da “malandragem” dos brasileiros. Comecemos pelos aspectos negativos: utilizar-se do “você sabe com quem está falando?” é não só uma falta de caráter e escrúpulos, mas também a expressão de uma ideologia coronelista e arcaica; o clientelismo e o nepotismo são totalmente reprováveis; a despolitização gerada pelo jeitinho brasileiro é preocupante, visto que a população se acomoda com as navegações sociais que realiza, negligenciando a verdadeira luta por reformas e mudanças; o desrespeito às leis é tão constante que soa mais fácil encontrar brechas nelas do que buscar cumpri-las.
Em contrapartida, o indivíduo é completamente esnobado pelo Estado no Brasil, ou pelo excessivo intervencionismo (carga tributária absurda, dificuldades para montar o próprio negócio) ou pela negligência e indiferença do mesmo quanto ao que realmente lhe cabe. De quebra, nossa economia, mesmo sendo uma das top-12 mundiais, é uma das mais desiguais do mundo. Poucos países estão tão aquém do liberalismo político e econômico como o nosso.
Creio que a pergunta feita no primeiro parágrafo não tem uma resposta definida, mas sim leva a uma amarga reflexão: os brasileiros estão muito distantes do ideal de nação justa. As instituições sociais são ineficazes, mas a própria população não parece disposta a contribuir para o progresso e êxito do Brasil. Falar em “mudanças pela educação” é até hipocrisia para um país que nunca valorizou a intelectualidade, tampouco se interessou pela construção da real cidadania. Fazer prognósticos é difícil, mas, como diria um certo músico, “Malandragem, dá um tempo!”
Mudando de assunto - terminei o livro do Bloom ontem. Ele superou as minhas expectativas, e os motivos para isso serão esclarecidos em uma futura resenha; entretanto, a obra já valeria a pena pelas boas dicas de leitura que me deu. Hoje retornei a leitura de "A Genealogia da Moral", do Nietzsche, que eu tinha começado há alguns meses, mas parei porque sentia que não era o momento para lê-lo. Já que estou em uma overdose literária, não custaria nada retomar algum escrito do bigodudo para dar sequência à minha dose cavalar.]
22 agosto 2007
É preciso ser absolutamente ímpar (?)
Assim que terminar "Onde encontrar a sabedoria?" (livro de ensaios do Bloom; já li mais da metade dele desde domingo), completarei 26 livros (totalmente) lidos em 2007. É uma quantia ainda distante dos 40 que eu comecei e terminei no ano passado, mas é um número razoável se levarmos em conta que estou passando pelo ano mais atribulado de minha vida. A cada obra lida, descubro novos e brilhantes autores; em contrapartida, também me deparo com idéias e estilos que já estão 'patenteados'. Se realmente viso a ter o MEU jeito de escrever, devo ser bem cauteloso quanto a possíveis influências.
Que fique claro - isto não é uma arrogante tentativa de originalidade, visto que tal feito é inconcebível sob uma perspectiva lavoisieriana da natureza. Por outro lado, não é impossível para o indivíduo ser bastante idiossincrático em sua arte de escrever. A criatividade e a inventividade, aliás, são o que definem os grandes escritores. Além do blog, das redações escolares e das filosofadas, uma de minhas armas para tentar alcançar uma imparidade é pelo exercício de escolher bem as minhas leituras, para saber quais as sacadas que alguém já teve antes de mim. Não cabe a mim lamentar o fato de ter nascido já no século XXI, mas sim tirar o máximo proveito da época em que vivo.
Sei muito bem quais são os pontos fortes dos meus textos (e dos fracos também, e não são poucos), como a intertextualidade; este, aliás, é um dos que mais pretendo aprimorar ao máximo. É através dela que posso encontrar exemplos na música, na literatura, no cinema e na política que possam enriquecer o meu texto da maneira mais interessante possível. Sempre espero pela oportunidade ideal para fazer citações certeiras em meus artigos/redações/ensaios.
Poderia eu até ir além nesta discussão, mas creio que já disse o que precisava dizer para mim mesmo neste post. Até logo.
19 agosto 2007
Nada no bolso e um punhado de sonhos na cabeça
Na noite em que escrevi o post passado, li umas vinte páginas de “Trópico de Câncer”; outras 20 e poucas antes de ir para a escola no dia seguinte; 15 antes da primeira aula (ironicamente, seria uma de Literatura); já as dez páginas finais, durante a mesma, quando eu me sentei em uma mesa que fica no fundo da minha sala, bem escondida (não sei se já disse isso no blog, mas a minha classe fica na biblioteca do colégio, um privilégio da 'meritocracia das notas boas', hehe). Cumpri meu prazo. Li a obra em exatamente uma semana. Já no sábado comecei e terminei “No Que Acredito”, do Russell (aliás, falarei sobre ele em breve), e hoje iniciei “Onde Encontrar a Sabedoria?”. Enfim, o assunto deste texto é o primeiro romance escrito pelo Henry Miller, então, vamos ao trabalho. Acima de tudo, “Trópico de Câncer” é um livro que transmite dois valores que eu aprecio muito (por mais que algumas pessoas achem isso uma mera utopia infantil): liberdade e individualidade. A Paris dos anos 1930 devia ser mágica, para bem e para mal, visto que não só “Câncer” foi escrito nela, mas outro clássico foi redigido por lá na mesma época: “A Náusea”, de Sartre. Ambos descrevem uma cidade cosmopolita e cheia de paradoxos e idiossincrasias, com o tédio e a decadência coexistindo com o início de uma efervescência cultural e social. A vida dos personagens, repleta de muito álcool, prostitutas, cafés e papos animados, moldam um hedonismo, um carpe diem que cativam completamente o leitor. O registro simultaneamente ficcional e autobiográfico de Henry Miller constitui-se em um dos melhores livros que eu li em 2007, e é inegavelmente um dos maiores destaques da literatura produzida no século passado. “Trópico de Câncer” evoca a vida intensa e bem vivida, e feliz será aquele que resolver optar por um lifestyle libertário e até mesmo libertino, mesmo que sob certos sacrifícios, ao invés de simplesmente atravessar o curso do rio de sua existência resumindo-se a nascer, crescer, reproduzir e morrer. “This river is wild”, já diria Flowers em certa faixa de The Killers.
O, digamos, narrador/personagem/autor parece pouco preocupado com sua medíocre situação financeira durante a época em que escreveu a obra. Vemos Henry passando boa parte do livro com os bolsos vazios ou bem próximos disso, e mesmo quando ele tem algum dinheiro, não deseja ser como um homem médio americano e “poupar para ganhar mais”. Prefere fazer bicos, desde revisar erros gramaticais em um jornal até ser professor de Inglês em um ateneu.
Além disso, a vida sexual do protagonista é bem agitada, embora ainda soe pouco perto de amigos dele, como Carl e Van Norden, que seriam considerados totalmente promíscuos e pervertidos pelos leitores mais moralistas. Alguns dos melhores momentos do livro estão relacionados a essa temática: as ‘filosofadas’ de Norden (aliás, o meu personagem predileto, pois adorei as tiradas dele sobre as virgens, as mulheres casadas, os “punhados de livros, sonhos e vulvas”...); as fêmeas malucas (aliás, o jovem Fillmore sofreu bastante nesse setor, pois teve de aturar duas mulheres bem geniosas: a russa Macha e a francesa Ginette); o caso que Carl teve com uma menor de idade etc. Publicar um livro assim em 1934 era pedir para ser censurado e tachado de pornográfico. Miller de fato o foi, e “Trópico de Câncer” - assim como outros romances do autor - só foi totalmente liberado nos países de língua inglesa na década de 60, em meio à revolução sexual.
Há até certos caracteres que soam como um prefácio do movimento beat, mesmo que indiretamente. Fillmore, por exemplo, demonstra em uma de suas falas finais que a nova geração de americanos estaria disposta a redescobrir sua terra natal, algo que se verificou intensamente em sujeitos como Kerouac e Ginsberg. “Jesus, temos nossos defeitos - mas tenho entusiasmo. É melhor cometer erros do que não fazer coisa alguma. Prefiro ser um vagabundo na América a ficar sentado aqui tranquilamente. Talvez porque sou ianque; (...) meu lugar é lá. Odeio aqueles patifes puritanos lá na pátria, (...) mas sou um deles.”
Vale também ressaltar outros elementos mais estilísticos, como o bom uso de ironia e sarcasmo e os densos fluxos de consciência nos capítulos mais ‘solitários’ contrastando com a fluidez dos diálogos nas passagens mais ‘sociáveis’ do romance. Outro bom destaque é a metalingüística, evidenciada pelas várias referências ao fato do personagem ser um escritor, as curiosas reflexões sobre literatura (adorei uma sobre o “excesso de capricho”) e, claro, frases matadoras como “Não há mais livros a escrever, graças a Deus”.
16 agosto 2007
Open your eyes
Consegui, finalmente, ficar em primeiro lugar em um simulado do meu colégio. Após tantos anos de bolas na trave (inclusive três #2 consecutivos no 1º ano), eu tirei a melhor nota (65 de 90, ou 72,2%) na prova feita no semestre passado, em 02/07. Só fui saber o resultado hoje, dia em que a classificação foi afixada no mural. Três razões me deixaram ainda mais orgulhoso do resultado: I - fiquei 6 pontos à frente do 2º colocado; II - era um simulado interdisciplinar, portanto mais desgastante e difícil; III - mesmo sendo a prova no último dia de aula do semestre passado, eu não relaxei nos estudos, provando que meus métodos heterodoxos de continuar me dedicando a livros, música, política etc. não foram equivocados, e alcançado foi o resultado tão sonhado. Outra coisa legal no dia de hoje foi o aniversário de uma amiga minha, com direito a festinha na sala durante o recreio. Até gravei um CD para dar de presente para ela, tendo escolhido a tracklist a partir de uma vasculhada no Last.fm dela. Os comes e bebes estavam deliciosos, a propósito; como sempre, bebi muita Coca-Cola e abusei no consumo de chocolate, rs. Eis o Garoto Cafeína! Não seria mentira se eu afirmasse que ando meio enrolado para terminar “Trópico de Câncer”. Não organizei bem meus horários nessa semana, e só li uma média de 23 páginas diárias – estou na pág. 219, aliás. De quebra, preciso terminar o livro até amanhã, tendo em vista que há outros três livros na lista de leituras que eu devo fazer até o fim do mês: “No Que Acredito”, de Bertrand Russell (emprestado por um dos meus professores de Matemática); “Onde Encontrar a Sabedoria?”, de Harold Bloom (último livro que adquiri); e “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro (como um aspirante a estudante da UnB nunca leu a obra-prima de um dos fundadores de tal universidade? Inadmissível!).
12 agosto 2007
Rehab? No, no, no!
Este post, trocadilhos à parte, será uma rapidinha. Vamos lá.
1. Em uma constante busca por diversificação do gosto musical, comecei a ouvir mais algumas bandas que antes eu ignorava (The Who, Ira!, Jimi Hendrix, Portishead e até música clássica, como Tchaikovsky) e a descobrir novas sonoridades. Uma novidade é que passei a curtir o som de duas garotas que fazem soul music: Amy Winehouse e Joss Stone. Como o próprio nome de tal estilo sugere, é uma música que agrada à alma, rs.
2. Aliás, um dos motivos para que eu começasse a gostar da Amy foi bem mórbido: depois que fiquei sabendo da overdose que quase a matou e de frases dela se comparando com Lord Byron ou dizendo que era suicida, fiquei curiosíssimo para começar a ouvir as canções dela. Já tinha visto o clipe de “Rehab” há alguns meses, mas nem dei tanta atenção. Agora que achei um bom pretexto, não pude evitar a audição. E não me arrependi, a propósito. Não sei gostei mais dela ou da Stone, mas isso é uma coisa que eu decidirei com o tempo.
10 agosto 2007
Books, books, books... and books!
Estou cada vez mais certo de que ando em uma fase excelente para ler. Desde a última semana das férias, na qual eu terminei o livro de "Ciência Política" do Itami Campos e li uns 40% de "A Náusea" (Sartre), o meu ritmo de leituras foi assaz acelerado. Nas próximas linhas, farei uma recapitulação de tal processo. 24 de Julho: comecei e terminei “As Seis Lições”. Gostei bastante dele; Ludwig von Mises era um economista brilhante, e as palestras transcritas demonstram que ele tinha um grande domínio e capacidade argumentativa sobre os assuntos que tratou. Destaque para as suas considerações sobre inflação e política partidária. 25 - 31 de Julho: Li “Capitalismo e Liberdade”. Apesar de alguns trechos muito técnicos, o livro em geral é fantástico. Friedman tinha um senso crítico afiadíssimo, e consegue apontar diversas falhas dos intervencionismos estatais, especialmente quanto a questões monetárias e programas sociais. Além disso, suas idéias sobre renda mínima são interessantes, e lembram um pouco as de Eduardo Suplicy. 1º - 6 de Agosto: Minha leitura da vez foi “O Caminho da Servidão”. Arriscar-me-ia até a dizer que este foi o segundo melhor livro que eu já li até hoje, só ‘perdendo’ para o imbatível “ 8 de Agosto: outra peça lida em apenas um dia. Desta vez, “Calabar”, de Chico Buarque e Ruy Guerra. Peguei este livro emprestado de um amigo meu há meses, mas ainda não tivera vontade de lê-lo. Não me arrependi – a trama é maravilhosa, e a bela reflexão feita sobre a invasão e ocupação dos holandeses do séc. XVII é digna de elogios. 9 de Agosto: li umas dez páginas de “O Contrato Social” (Rousseau), mas achei tão chato que parei. Tenho esta obra há mais de dois anos, mas até hoje não a li pra valer por dois motivos: 1 – A tradução da minha edição não é boa; 2 – Rousseau tem boas idéias, mas tem um estilo que torra a paciência de qualquer um. Tentarei novamente quando puder comprar outra edição do livro e estiver mais tolerante com o ‘puxa-saco dos bons selvagens’. 10 de Agosto: comecei a ler “Trópico de Câncer”, e, até minutos antes de redigir este post, já estava na pág. 57. Sim, o romance é muito bom. Henry Miller conseguiu fazer um texto que melhora a cada capítulo, e a narrativa sarcástica e crua do narrador-protagonista consegue envolver completamente o leitor.
23 de Julho: após meses aguardando por uma oportunidade, vou ao centro de minha cidade para comprar livros, junto de minha avó (fiquei impressionado com o tanto que ela conhece Goiânia, aliás). Munido de 100 reais, vendi um livro – uma edição desgastada que eu tinha do “Manifesto Comunista” – e comprei nove: "Trópico de Câncer” (Henry Miller), o volume sobre Schopenhauer da coleção “Os Pensadores”, os dois livros que compõem “A Riqueza das Nações” (Adam Smith), os dois primeiros volumes de "O Capital” (Marx), “Capitalismo e Liberdade” (Milton Friedman), “As Seis Lições” (Mises) e até um ‘tijolo de bolso’ contendo a Constituição, o Código de Processo Civil e o Código Civil atualizados até 2005 [Obs.: Só comprei este porque o preço promocional de cinco reais era de um custo-benefício enorme].
Neste mesmo dia, chegou uma correspondência que eu aguardava ansiosamente: dois livros que eu encomendei pelo site do Submarino, “O Caminho da Servidão” (Friedrich Hayek) e “O Rei da Vela” (Oswald de Andrade).
7 de Agosto: li em um só dia a peça teatral “O Rei da Vela”. Minhas expectativas foram superadas, visto que eu só esperava que fosse uma mera ‘obra indicada para o PAS’. Não era subestimação do talento de Oswald, apenas ceticismo. Felizmente, o texto era muito bom, e me rendeu boas e longas risadas – inclusive algumas na sala de aula, em plena aula de Matemática! Destaque para a maneira sutil e ácida com que assuntos como sexo e o contexto político-ideológico foram abordados.
06 agosto 2007
A entropia da liberdade
As três bandeiras ideológicas da Revolução Francesa - "Liberté, Egalíte, Fraternité" - ainda exercem influência substancial na sociedade ocidental pós-1789. Poderíamos até relacionar o espectro ideológico com a priorização de cada um dos componentes da famosa trinca. A liberdade, indubitavelmente, estabeleceu-se como o foco do pensamento da direita. Libertários, liberais e até os conservadores sempre a colocaram como a base, o fundamento de suas teorias e práticas. Jamais poderíamos imaginar a política de países como o Reino Unido ou os Estados Unidos da América sem nos lembrarmos de legados direitistas, como o federalismo e a autodeterminação dos povos. Chegou-se ao ponto de haver uma defesa tão exacerbada da economia de mercado e da livre concorrência que certas gestões "esqueceram" a democracia em algumas situações. Não por acaso, o neoliberalismo, nos seus primórdios, foi aplicado justamente por governos reacionários (Margareth Thatcher, Ronald Reagan) e até mesmo autoritários (Pinochet). Qualquer paralelo que se faça entre ciência e política pode ser equivocado, visto que é de conhecimento geral que nem sempre as ditas leis naturais servem para explicar os fenômenos sociológicos e psicológicos que abrangem o ser humano e sua existência. Somos complexos demais para sermos reduzidos a termos técnicos, e não será um darwinismo social que explicará problemas como a violência e a extrema pobreza. Como assim? Tentarei me explicar melhor. Oras, se é inegável que o próprio Universo não é estático, que ele é necessariamente mutável, estando em constante transformação, assim como todas as organizações sociais que a humanidade já empreendeu, então é visível que tanto a igualdade quanto a fraternidade absolutas vão contra a natureza humana. Em outras palavras, as tentativas de vários modelos de socialismo e nacionalismo de intervir excessivamente na economia e, consequentemente, frear a liberdade política, social e de pensamento do indivíduo revelam-se ultrajantes à condição que cada ser humano tem de ser livre, dono de si mesmo. Que fique claro que eu não quero afirmar que a igualdade e a fraternidade não sejam imprescindíveis; pelo contrário, são valores fascinantes e indispensáveis, mas que não podem ser excessivos, visto que se tornariam um risco para a própria sobrevivência da espécie. Quero afirmar que um regime que crie uma sociedade imutável e excessivamente organizada desestimula a criatividade e as novas idéias, pois não há perspectivas quando não se é mais do que um servidor de seu povo. É como se nossa individualidade fosse negada e reprimida, e não fôssemos mais do que ovelhas de um rebanho, tijolos em um muro. E sabe-se muito bem que qualquer grande império cai justamente pela desordem; quero dizer com isso que mesmo o Estado mais castrador é derrubado quando ele próprio já não consegue mais aniquilar o ímpeto e o anseio por mudanças dos populares insatisfeitos, e inevitavelmente seu destino será a queda.
Já a igualdade é o princípio mais evidente nas doutrinas esquerdistas. Enquanto os liberais defenderam o Estado de Direito e a igualdade jurídica, os socialistas, social-democratas e afins desejam algo mais abrangente: a igualdade social e econômica. Além disso, o espírito "robin-hoodiano" de seus ideais confiou ao Estado o papel de dirigir todas as reformas pretendidas. Infelizmente, tal política de planejamento estatal revelou-se extremamente pesada para as despesas orçamentárias. Elaborar uma rede de proteção social exigiria gastos elevadíssimos, que poderiam gerar problemas delicados como inflação, déficit público, impostos abusivos, desestímulo à livre iniciativa e até estagnação. De quebra, sabemos muito bem que controlar a economia é o primeiro passo para controlar a vida do indivíduo em grande parte ou mesmo em todos os demais aspectos; que o diga a União Soviética...
Enquanto isso, os nacionalistas, que são uma força de centro na minha concepção, vêem a fraternidade como um grande ideal a ser alcançado. Seus anseios por ordem, progresso, valorização da identidade nacional e superioridade cultural desencadearam em regimes e ideologias imperialistas e totalitários, especialmente o fascismo na Itália e o nacional-socialismo (vulgo nazismo) na Alemanha. Tal corrente surge como "terceira via" em diversas ocasiões, funcionando como um meio-termo que angaria votos dos setores mais manipuláveis das massas, que tendem a ser mais ludibriados a acreditar em sua nação do que no free-market ou em uma redistribuição de renda. O nacionalismo pode ser belo por um lado - é uma apaixonada defesa da tradição e da história de uma etnia, de uma cultura -, mas é também ameaçador e impiedoso quando levado às últimas conseqüências por ideólogos e estadistas fanáticos.
Mesmo assim, há novos ramos das Ciências da Natureza que chegaram a teorias tão fascinantes e libertárias que podem diminuir este abismo que separaria as Exatas e Biológicas das Humanas. É claro que estou falando da Física Moderna. A relatividade e a mecânica quântica são dois bons exemplos que poderíamos utilizar em uma relação com a temática política visada desde o início deste, digamos, ensaio.
A noção de que o Universo está em constante expansão, e que a entropia (a quantização da desordem em um sistema) é uma grandeza extensiva que tende a aumentar ad eternum poderia nos levar a um raciocínio interessante. Se há uma tendência para a espontaneidade, para a maior dispersão e disseminação das partículas e ondas, se qualquer tentativa de ditar e barrar tal expansão pode até mesmo acelerar o processo, mas jamais “reorganizá-lo”, voltá-lo à sua origem, então a conclusão poderia ser a seguinte: a liberdade é o maior entre os valores da "Trinca da Modernidade".
Não, não estou fazendo uma panfletagem direitista, apenas estou constatando que John Locke e outros liberais não se equivocaram ao falar em uma espécie de “direito natural” do homem de gerir a sua própria vida com o mínimo de interferência externa. Não caberia, portanto, às instituições sociais mais do que criar leis que funcionem como mediadoras, buscando garantir que não haja prejuízos de nenhuma parte quanto à execução da liberdade individual, ou seja, que só há a necessidade de intervenção quando a vida, a propriedade ou a própria expressão de idéias esteja ameaçada.
Não me surpreenderia se chegássemos ao fim do Século XXI regidos por um protótipo de anarquismo. Por mais que suportemos totalitarismos e limitações de nossas liberdades durante toda a História das Civilizações, a humanidade tem uma entropia em permanente crescimento, e a necessidade de “governos que governem menos” é visível e inabalável.
É óbvio que a educação ainda está longe de ser universal, e jamais chegaremos a um anarquismo se a grande maioria da sociedade não tiver a capacidade de desenvolver de maneira plena o seu intelecto, livre-pensamento e autonomia financeira. A miséria, a fome, as epidemias, os sérios problemas ambientais, o desemprego e as guerras continuam sendo motivos de constante preocupação. A globalização ainda promove uma exclusão aos setores menos desenvolvidos tecnologicamente, e a Internet erradicou boa parte de nossa privacidade. Ainda assim, resta-nos tempo de sobra para corrigir vários desses problemas e prosseguirmos na trajetória libertária. É certo também que será pela ação de indivíduos, e não de uma nação ou da mera coletividade que haverá tais mudanças. Atores sociais são imprescindíveis para melhorar o mundo. Tenho uma confiança inabalável que a liberdade tão sonhada por todos nós ainda será alcançada, mesmo que os mais diversos obstáculos devam ser superados.