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Kaio

 

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31 agosto 2007

A falência (e a falácia) da UNE

O movimento estudantil é um gigante adormecido, e não há exagero em tal afirmação. As últimas quatro décadas provaram que, sempre que os jovens resolveram realmente lutar por uma causa, os resultados das manifestações foram geralmente positivos. É claro que nem sempre eles conseguiram alcançar seus objetivos (por exemplo, Massacre da Praça da Paz Celestial, em 89), mas, de qualquer maneira, marcaram a História com tais mobilizações.
Tal fato se explica pelo espírito mais libertário que a juventude possui. Este pode até ser reprimido, mas jamais eliminado da essência destes "maiores de 13 e menores de 30 anos", como diria certa expressão dos anos 60. O problema é quando a supostamente mais politizada das organizações estudantis brasileiras tem uma atuação reprovável. Obviamente, estou falando da UNE (União Nacional dos Estudantes), que, após gerações de comodistas e pelegos, parece ter como sua única importância para o Brasil a confecção de carteirinhas. A meia-entrada deve ser mais importante que o ativismo político, certo?
A priori, o papel da UNE seria unificar as tendências político-ideológicas das diversas facções de jovens politizados em torno de objetivos em comum, os quais seriam benéficos para a classe dos estudantes e para a sociedade como um todo. Em outras palavras, caberia a ela e seus membros organizarem os fins e meios do movimento estudantil. O problema é que ela vem fazendo justamente o contrário: nunca os militantes universitários estiveram tão desarticulados, tão desunidos. Na prática, isso é uma situação em que os adolescentes levam uma lavada em coesão para os seus ditos "inimigos" (adultos, Estado, grandes corporações).

Um dos principais motivos para tal ineficiência da UNE é a chamada patrulha ideológica. Anos se passaram e muros caíram, mas a esquerda continua hegemônica entre os estudantes que gostam de política. Não bastassem as tentações autoritárias de tal corrente de pensamento, há outra ainda pior: a imensa heterogeneidade. Tendências como os marxistas, os trotskistas, os "verdes", os stalinistas, os nacionalistas de esquerda, os anarco-socialistas etc. passam mais tempo brigando entre si do que tentando chegar a um consenso. De quebra, há uma grande intolerância aos direitistas, por mais liberais que estes venham a ser. Se um militante da UNE dissesse que era a favor das privatizações e do corte de programas de bem-estar social, provavelmente ele seria isolado e ignorado pelos outros, e ainda tachado de termos tão cafonas como "entreguista", "pequeno-burguês" e "porco capitalista".
Poderíamos gastar outras trinta linhas falando de causas equivocadas que a classe estudantil defendeu nos últimos anos, provavelmente pela necessidade de dizer que protestava em relação a alguma coisa. A picaretagem dos "caras pintadas" de 92; a oposição à desestatização da Vale do Rio Doce em 97 pelos motivos mais anacrônicos; a estúpida luta pelo passe livre (que só prova o quanto alguns universitários gostam de ser parasitas do Estado) e as mobilizações anti-Bush são bons exemplos. Houve apenas uma que parecia defender uma boa causa (a que ocorreu na USP este ano, contra a “transparência forçada” que o governo local queria impor à universidade), mas os métodos utilizados foram abomináveis. A ocupação foi mais longa do que deveria ter sido, e as atitudes de muitos dos estudantes que participaram foram patéticas e risíveis.
Não vou me estender na conclusão; apenas me limito à expectativa de que os próprios universitários que forem ingressar na UNE, nos próximos anos, tentem trazer novidades (entenda-se: mudanças) para a mesma, para quem sabe reconstruir o movimento estudantil nacional. O sonho não acabou. Por enquanto.


[Novamente, obtive um 10 na redação. Adorei o tema, embora tenha detestado o fato de só ter 40 linhas para dissertar sobre ele. Isso sem falar que eu me incluo nos futuros membros da UNE. Quem sabe até, se eu tiver condições para tal empreitada, ser presidente dela. Heh, eu seria o primeiro "não-vermelho" a liderar tal organização estudantil, tão entupida de membros da esquerda festiva, especialmente os ligados ao símbolo máximo desta: o PC do B.

Sim, é um plano muito pretensioso de minha parte, mas farei tudo que estiver em meu alcance para agarrar as oportunidades que a atmosfera universitária me oferecerá, e isso inclui fazer política, e não apenas analisá-la, como pressupõe o curso ao qual eu aspiro.]

 

Comentários:

 

 

Quebrar a hegemonia dessa estúpida "esquerda festiva" na UNE vai ser complicado. A não ser que você faça como o velho Vasconcelos, que passou de liberal a conservador na medida em que ascendeu politicamente. E não existe algo de necessariamente hipócrita nisso.

Um ponto do texto me chamou a atenção:

"e isso inclui fazer política, e não apenas analisá-la, como pressupõe o curso ao qual eu aspiro"

Certas pessoas têm o miolo muito mole. Como você certamente sabe, o "fazer política, e não apenas analisá-la" tem uma incrível semelhança com a última das teses sobre Feuerbach, de Marx. Um direitista de miolo mole diria: ah, seu comunista! Um esquerdista de miolo mole diria: ah, seu hipócrita! Uma pessoa sensata simplesmente encorajaria o livre-espírito e o congratularia por não se restringir às mesquinharias ideólogicas.


A propósito, a que curso aspiras?


Ciência Política, obviamente, rs. =D


Pois é, sou de direita, mas isso não me impede de apreciar certos aspectos de outras ideologias. Gosto muito, por exemplo, do fato de Marx afirmar que não basta aos filosófos/pensadores idealizar o mundo, mas também partir pra prática, para a tentativa de fazer alguma coisa por ele.
Do que adiantaria eu passar anos escrevendo livros, dando palestras e coisas afins se eu não fizesse algum esforço para botar em prática o que eu penso?


Está certo. Mas, se eu fosse fazer uma sugestão, diria pra não se restringir à ciência política. Faça CP em uma universidade e outro curso em outra, de preferência em História ou Filosofia.

Os cientistas políticos, em geral, tem um péssimo cacoete que é não historicizar seu pensamento. Estruturante demais, eu diria. Talvez fosse bom não se restringir a ela.


Realmente eu já tenho a pretensão de estudar por autodidatismo várias matérias além das relativas à CP. Se eu conseguir organizar bem meu tempo na faculdade, estudarei até Psicologia, Física Moderna e Sociologia, rs.


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