Carências de comida fisiológica e psicológica: o que fazer?
Poder-se-ia definir que a fome é o estado de angústia ocasiado por uma alimentação precária e/ou insuficiente. Angústia tal que os danos psicológicos gerados são tão terríveis quanto os fisiológicos ou mesmo sócio-econômicos. Sentir fome conduz o indivíduo ao desespero e dor intensos, o que leva a efeitos que variam entre a apatia e até possíveis pretextos para a violência.
Seria até interessante apresentar dados e estatísticas, mas creio que já é consensual que bilhões de terráqueos e dezenas de milhões de brasileiros têm subnutrição em maior ou menor grau. Também seria desnecessário gastar linhas e mais linhas falando-se das raízes do problema, como a má distribuição de renda, uma atuação negligente e equivocada dos Estados subdesenvolvidos, o desemprego, o desperdício e a carência de políticas sociais mais consistentes. É evidente que a maior parte da população tem noção das causas citadas.
Apontar as consequências também é fácil, por mais cínico que pareça. A diminuição da expectativa de vida, o "voto de escambo" (eleitores esfomeados que votam em troca de algum alimento), o aumento (direto ou indireto) da violência urbana e/ou rural e uma elevação da incidência de doenças são quatro delas.
O que, no entanto, torna tal temática tão complicada é o "como resolver", quais são as possíveis soluções. Pobres e ricos, esquerdistas e direitistas, alunos e professores podem até ter boas idéias, mas a maior parte delas (especialmente as que envolvem um gigantesco intervencionismo estatal) são impraticáveis ou de difícil execução. Afinal, por se tratar de uma questão profundamente estrutural, não bastariam apenas as ideologias com boas intenções, mas também uma conjuntura econômica, uma vontade política e uma mobilização popular intensas para que um projeto mais ambicioso pudesse ser executado.
Se os três fatores citados no parágrafo anterior puderem ser combinados, algumas medidas pertinentes para combater a fome seriam: I - Programa de renda mímima (o qual exigiria menos despesas do que toneladas de assistencialismos, e seria capaz de gerar autonomia financeira e maior poder de consumo para as camadas mais carentes); II - Cortes consistentes nos (abusivos) impostos sobre os alimentos; III - Plano de diminuição progressiva do desperdício de comida; IV - Incentivos fiscais para empresas que demonstrem responsabilidade social quanto à questão da fome. Obviamente, muito mais deve ser feito para minimizar ou mesmo erradicar a subnutrição, mas que fique claro que não será nada fácil.