31 julho 2015
Hoje completa-se uma década desde que comecei este blog.
Embora eu não esteja atualizando-o tanto nos últimos três anos quanto na "era de ouro" (2005-2008) ou mesmo na "renascença" dele (2010-2012), ele ainda é uma parte muito importante da minha vida. Sempre que quero escrever um texto muito longo para ser um tweet ou muito pessoal para ser postado no Facebook, o Racio Símio sempre aparece como uma válvula de escape. Para homenageá-lo, então, nada melhor do que escrever sobre ele!
Passei por várias transformações entre Julho de 2005 e Janeiro de 2006: ampliei consideravelmente meu gosto musical (comecei a ouvir The Smiths, Joy Division, Sonic Youth, My Bloody Valentine etc.) e literário (descobri Dostoiévski, Kerouac, Nietzsche...); mudei de posição ideológica (de um "socialista democrático" me tornei um libertário que, após certa hesitação, se assumiu "de direita"); tive uma paixão-relâmpago (durou apenas três semanas e não foi correspondida, mas para quem já se considerava quase um assexuado, foi um progresso); fiz vários novos amigos na escola, após um 1º semestre em que fiquei meio isolado; passei a me interessar mais por cinema e filosofia.
2006, contudo, veio a ser um ano psicologicamente bem difícil; minhas angústias adolescentes chegaram ao paroxismo, patenteado em textos como Meia-idade na adolescência, Violently happy?, Deslocado, O Kaio é um idiota e Desordem. Em Maio criei Sofisma Burlesco, um blog secundário que seria sobre música; mas, ele acabou adotando um tom bem intimista e com isso virando uma extensão de Racio Símio, então abandonei-o e voltei para a matriz. A Copa do Mundo foi um intervalo na melancolia que dominou meu humor aquele ano (um dos sintomas desse mal-estar é que as bandas que mais ouvi naquele ano provavelmente foram Joy Division e The Cure); aliás, o título da Itália, seleção que admiro desde criança, não poderia ter vindo em melhor hora. Pouco depois, contudo, uma nova paixão - desta vez por uma garota que eu nem conhecia pessoalmente, mas só pela internet - em meados de Outubro combinou-se com uma transição ideológica mal resolvida (é como aquele crente que, após uma empolgação inicial, entra em crise de fé e começa a ter que provar para si mesmo que está no rumo certo) para gerar textos como Problemas ideológicos (em duas partes) e Sartre, ó Sartre... o mundo não é mais o mesmo. Tive alguns delírios megalomaníacos, como quando criei minha corrente filosófica, o Anfisismo. Nos últimos dois meses daquele ano, meu humor melhorou (além de muita "auto-análise", minha viagem para São Paulo para ver o New Order provavelmente ajudou nisso), e uma transição para uma etapa melhor da minha vida se iniciava.
2007 foi um ano excelente, algo que percebi já naquela época - vide textos como Six Different Ways, Uma carta na garrafa e Dois anos de Racio Símio. Comecei a escrever um romance (ainda possuo um blog no qual coloco rascunhos dele), mas até hoje não o terminei. No mais, li muitos livros (os melhores foram: Política, Aristóteles; A Ciência como Vocação e A Política como Vocação, Max Weber; O Idiota, Dostoiévski; Uma Casa no Fim do Mundo, Michael Cunningham; e O Caminho da Servidão, Hayek), passei no vestibular, minha escrita se aprimorou (as redações semanais no colégio acabaram sendo um bom treino para isso) e nos últimos meses, em meio às específicas para o vestibular da UnB, comecei a me preparar psicologicamente para o me aguardava a partir do decisivo ano seguinte (vide O ano que (ainda) não acabou).
Em 2008, já morando em Brasília, comecei minha graduação em Ciência Política. Pela segunda vez em três anos (afinal mudei de escola do ensino fundamental para o médio), tive que renovar meu círculo social, e a tarefa foi mais fácil do que eu esperava: consegui me enturmar bem com os veteranos do meu curso e os colegas de outros departamentos que conheci nas disciplinas externas; a propósito, eis um resumo dos meus primeiros meses de UnB. Minha adesão ideológica ao libertarianismo chegou ao ápice; li muito Hayek, Mises, Friedman, Ayn Rand etc. Um momento decisivo para minha "formação" naquele ano foi a viagem para a ANPOCS - mas, só fui fazer um relato sobre ela meses depois, em Fevereiro de 2009. Em mais um ano de muitas leituras, finalmente terminei A Montanha Mágica (meu romance favorito até hoje) e fiz um trabalho para a inesquecível disciplina Escrita e Sociedade na América Latina comparando dois dos melhores livros que li naquela época: Ulisses e Grande Sertão: Veredas.
O ano seguinte, entretanto, foi uma espécie de ressaca dos ótimos dois anos anteriores - ou, olhando por outra perspectiva, foi o início turbulento de uma nova fase. Tive uma nova paixão unilateral de curta duração e, apenas poucas semanas depois, houve meu primeiro beijo e começou meu primeiro relacionamento amoroso. Com uma vida afetiva tão movimentada e pouco tempo para refletir sobre tantos acontecimentos, inevitavelmente atualizei bem menos o blog em 2009. Quando o namoro acabou, no fim de Outubro, voltei a escrever bastante em Racio Símio; do final daquele ano os melhores textos são o conto Insatisfação Crônica (dividido em três posts), a retrospectiva Down By The Water e o musical Listen Up!.
Bom, por hoje é só. Amanhã farei um balanço do blog (e de seu autor) de 2010 a 2015.
05 julho 2015
Assistir a este compacto dos 18 gols que o Brasil fez na Copa de 2002 me fez ter uma baita saudade do que já foi um dia a Seleção Brasileira. A seleção jogou muito naquela Copa: o Felipão montou um 3-5-2 surpreendentemente ofensivo; o trio Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo teve atuações brilhantes e marcou muitos gols; São Marcos foi um goleiro confiável; havia figuras carismáticas como Vampeta; a vibração no banco de reservas a cada gol era palpável; e, pasmem, até o zagueiro Edmílson fazia golaço! Enfim, era um time tão bom que Romário foi esnobado na convocação - e não fez falta.
Eu torcia com gosto para a Seleção até 2005, ano em que comemorei meu aniversário com uma goleada de 4x1 do Brasil sobre a Argentina na final da Copa das Confederações.
Na Copa do Mundo de 2006, contudo, senti que algo estava errado: aquele "oba-oba" todo no pré-Copa, somado às atuações fracas na 1ª fase (mesmo vencendo todos os jogos), me deixaram desanimado, e impatrioticamente torci pra França nos eliminar e a Itália ganhar aquela Copa. Fui pé-quente, mas mal sabia que naquele 1º de Julho de 2006 começava um período sombrio para a seleção brasileira.
Dunga virou técnico, e contava com um único tipo de jogada (o contra-ataque) para vencer seleções ofensivas como Argentina e Chile - mas penava para equipes retranqueiras como Bolívia e Venezuela. Em 2010 não titubeei e novamente torci contra a Seleção; aliás, quase apanhei dos meus amigos quando a Holanda nos eliminou naquela Copa, rs.
As coisas pioraram mais ainda com o mediano Mano Menezes no comando da seleção brasileira, e perdemos uma Olímpiada em que éramos favoritos absolutos quase que por culpa exclusiva deste técnico.
Luiz Felipe Scolari voltou, e durante a Copa das Confederações de 2013 a seleção até me empolgou (principalmente na final contra a Espanha), mas infelizmente o torneio em que ele e o time fizeram tudo certo não era Copa "pra valer"... um ano se passou, e assim como em 2006, talvez o excesso de confiança tenha impedido que a equipe se preparasse direito. Resultado: a Copa de 2014 viu uma seleção brasileira marcada por desequilíbrio tático, descontrole emocional e más atuações de vários jogadores. Um dia antes do jogo contra a Alemanha tive uma epifania sobre isso e resolvi que apoiaria os germânicos; óbvio que não esperava uma goleada, mas talvez aquele 7x1 tenha sido necessário para expor de forma visceral o estadio calamitoso em que dirigentes, técnicos e jogadores deixaram a nossa Seleção.
Dunga strikes back, para desgosto meu e de todos que desprezam o "pragmatismo", o "futebol de resultados". Felizmente desta vez ele não ganhou uma Copa América, o que talvez aumente a chance de não continuar como técnico até a Copa de 2018. Torço para que até lá seja contratado algum técnico com perfil mais ofensivo, que faça escalações melhores e que tente resgatar pelo menos metade da magia da seleção nessa época áurea, mas não tão distante. Diante da crise da CBF (e do futebol brasileiro em geral, que vive uma entressafra), talvez isso seja pedir demais.