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Kaio

 

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09 abril 2007

Wessenchaft und Politik (!)

Max Weber (1864-1920), destacado sociólogo alemão, discorreu, em uma das últimas palestras de sua vida (provavelmente em 1919), sobre dois dos campos mais importantes nos quais os seres humanos podem atuar - a ciência e a política. O objetivo do pensador era analisar sobre qual o tipo de indivíduo que estaria apto a atuar em tais áreas; em outras palavras, qual a vocação imprescindível para os futuros cientistas e políticos.
Talvez pelo fato de ter sido escrita baseando-se em palestras, "Ciência e Política: Duas Vocações" tem uma linguagem bem vibrante, unindo oralidade com raciocínios coerentes e análises pluralistas. A leitura flui facilmente, até porque Weber não visa a ser incompreendido como certos sociólogos, que parecem mais interessados em falar para o espelho do que se comunicarem com outros Homo sapiens. Além disso, identifiquei no pensamento dele muitas semelhanças ao meu. Sempre tenho uma boa impressão de um escritor quando, mesmo já tendo a minha opinião formada antes de ler o livro dele, noto várias linhas de raciocínio e idéias análogas. Foi provavelmente por esse motivo que eu gostei tanto de ler Nietzsche, Thoreau e Maquiavel, por exemplo.
Inevitavelmente o escrito teria importância na minha formação intelectual, já que eu pretendo cursar Ciência Política na faculdade, decisão esta tomada há mais de três anos. Logo, assim que comprei o livro, comecei a lê-lo.

Na primeira metade do livro, Weber trata sobre a ciência. Ele refuta a idéia de que apenas a técnica seria suficiente para distinguir um autêntico cientista, refutando assim o ideário tecnocrático dos positivistas, os quais parecem considerar que basta operar bem certos cálculos matemáticos e ser empírico para chegar-se aos objetivos científicos visados. Max relembra que o 'amor à camisa' é absolutamente necessário aos profissionais de tal área; nas palavras dele, "tão-somente aquele que se coloca pura e simplesmente a serviço de sua causa possui 'personalidade', no mundo da ciência".
O autor também ressalta que essa dedicação engloba até operações trivais, desaconselhando assim que os mais "pretensiosos" sigam a carreira, pois estes não se interessariam por esmiuçar cada detalhe, especializar-se totalmente em certa área de interesse para produzir teses e teorias a partir da mesma. Isso também implica que sim, a ciência tem seus pressupostos, independentemente da situação. Ou seja, uma absoluta neutralidade e imparcialidade científica é algo impossível. Também não há espaço para divagar ad eternum sobre o que levaria alguém a se dedicar a uma pesquisa que possa parecer sem motivo. Eis os "sacrifícios do intelecto". Weber alerta que eles são indispensáveis, e que a própria consolidação da ciência exigiu que eles existissem. É como se se procurasse por algo sem lógica e sentido, embora os resultados que poderão ser encontrados indiquem justamente o contrário.
Também se discute o papel do professor, sendo pouco recomendável a ele que fique emitindo excessivamente suas opiniões pessoais sobre os assuntos tratados em suas aulas, pois isso pode, ao invés de ajudar, deturpar o aprendizado de seus alunos. Cabe ao membro do corpo docente dissertar sobre os fatos, e não influenciar o aluno a escolher o que o professor, quer. É como se tivesse o papel de 'guia' - ele mostra o caminho, cabendo ao estudante escolher como seguir pelo 'trajeto do conhecimento'. Quando Weber fala disso, eu me lembro da quantidade de professores esquerdistas de História e Geografia que eu já tive desde a quinta série, sendo que muitos deles faziam verdadeiras lavagens cerebrais nos alunos, com o pretexto de que estavam desenvolvendo 'senso crítico'. Não que o professor deva negar sua subjetividade, mas sim distinguir a hora em que ele expõe o tema 'em si', e a hora em que abre espaço para a discussão, o debate. Infelizmente, esse é um valor pouco visto no sistema educacional brasileiro...

Quando a política passa a ser a temática da discussão, Max Weber assume a sua faceta mais realista, diria até ácida. Ele não trata do mecanismo do Estado como ele deveria ser, mas sim como ele é. A política necessita da coerção, da violência, do uso da força física para sustentar a ordem. Partindo dessa idéia, ele consegue desmascarar os teóricos cheios de boas intenções (eu me lembrei de Rousseau quando li essa parte, hehe), que tentam ver uma ética que não existe na política - por exemplo, a do Sermão da Montanha. Maquiavel não estava incorreto quando propôs que a política tem uma moral própria a ela.
Por outro lado, Weber discorda do maquiavelismo quando entra em cena a máxima "Os fins justificam os meios". É aí que ele estabelece uma diferença entre a "ética da convicção" (que visa mais aos fins) e a "ética da responsabilidade" (que preza pelos meios adequados e justos). Há um mutualismo entre elas, embora a convicção tenda a se sobrepor em determinados contextos. É aí que abre-se espaço para uma crítica à esquerda radical, que teima em afirmar que, por lutarem por uma 'causa justa', até a violência é justificável para alcançá-la. Agindo assim, ela se iguala aos seus adversários, os “conservadores/reacionários/totalitários/fascistas", que também adoram empregar a violência para sustentarem o status quo. Portanto, é fundamental que o político tenha total consciência dos meios pelos quais alcançará seus objetivos.

O autor faz um paralelo bem interessante sobre o processo de burocratização na Inglaterra, nos EUA e na Alemanha, e até busca nele uma relação com a corrupção e a distribuição de empregos ligados à política. Aliás, gostei bastante da parte em que ele demonstra que viver "da" política e viver "para" a política são propriedades que, apesar de serem aparentemente contraditórias, acabam se relacionando também.
Max também estabelece que existem três razões que venham a justificar uma dominação (e que se entrelaçam nas mais diversas situações): I - O poder tradicional, o qual é baseado na tradição cultural e na autoridade do 'passado eterno'; II - O poder carismático, centrado na figura de um líder de massas, o demagogo que guiaria seus seguidores apoiando-se nas crenças românticas dos mesmos na necessidade de um, hã, "super-homem" (Nietzsche e Brasil?!); III - O poder baseado na legitimidade, na "competência" positiva, e o mais racional dos 3 tipos.
É nesse ponto que eu vejo uma indireta premonição de Max Weber sobre o futuro de sua Alemanha. É possível ver que a necessidade de um chefe supremo é mais provável em regiões que passam por forte instabilidade política, possuem um histórico de guias das massas e, de quebra, condições para um progresso acelerado (ou seja, vemos aqui uma relação entre as tais três razões citadas no parágrafo anterior). Pois é, a Alemanha era a região que estava em tal contexto após o fim da 1ª Guerra. Em outras palavras, acredito que o sociólogo previa que era bem provável que ascenderia um Hitler da vida para reconstruir e consolidar a nação germânica como potência.
Finalizando o escrito, ele é categórico nas considerações sobre os que pretendem seguir a carreira da política: "Quem tenha certeza absoluta de que não se abaterá nem mesmo que o mundo, julgado de seu ponto de vista, se revele extremamente estúpido ou (...) mesquinho para merecer o que ele pretende oferecer-lhe, o que permanecer capaz de dizer 'A despeito de tudo!', esse e tão-somente esse tem vocação política".

 

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