17-27
Como foram os últimos dias? Quarta, 17: Pela manhã, as primeiras aulas "de conteúdo" de Filosofia da Arte (divertida e interessante) e Política e Sociologia (cujo professor é histriônico, mas a aula foi meio cansativa). À tarde, não tive aula de Leste Europeu, então aproveitei para ir ao Beijódromo. E não é que o monumento idealizado por Darcy Ribeiro, apesar do nome besta, é um lugar tranquilo para ler e estudar?
Quinta, 18: Tive uma boa conversa com o meu professor-orientador sobre a monografia. Ainda pela manhã, providenciei os documentos para seleção do mestrado. À tarde, recebi da Papelaria Asa a cópia em capa dura de um livro que um professor me emprestou: "Consideraciones de un Apolítico" (Thomas Mann), a obra mais política do escritor sobre o qual escreverei minha mono - e, possivelmente, também a minha tese de mestrado. Terminei de ler "A Montanha Mágica como Bildungsroman" (Marco Antônio Fontanella) e comecei "O Engenhoso Fidalgo D. Quixote da Mancha". Li só até a página 200 em 2005, mas desta vez quero ir até o fim. Felizmente, em menos de 20 páginas eu já me identifiquei com o protagonista, afinal Quixote é o mais célebre dos "bookworms" e um dos mais inspiradores idealistas da história da literatura. Sexta, 19: Em geral foi um dia entediante, ao contrário dos 4 anteriores. O fato mais relevante foi que me dei conta que, assim que eu resolver minha vida (i.e., terminar minha monografia e passar no mestrado), quero retomar a escrita de meu romance. Ando cheio de idéias para o enredo e os personagens. Sábado, 20: Um dia produtivo. Assisti a "Community" (aliás, estou adorando esta série de comédia, repleta de episódios antológicos! Paintball, Natal em stop-motion, Dungeons & Dragons, flashback...) e à adoravelmente tosca "Patty que te pariu". Li "D. Quixote" pela manhã, almocei no Brasília Shopping e comprei "Metafísica do Belo" (Schopenhauer). À noite, depois de ver o jogo do Brasil pelo Sub-20 até os 2o minutos do 2º tempo, pouco depois da virada portuguesa (só quando cheguei em casa fiquei sabendo que os brasileiros tinham vencido. 3x2 num jogo heróico, parabéns à equipe!), fui com um amigo à London Calling, como eu esperava, foi ótima. Bons shows de Cassino Supernova e Forgotten Boys, com muitos covers de clássicos do rock britânico - no caso do Forgotten, uma homenagem aos Rolling Stones. As discotecagens foram melhores ainda, tocando tudo o que eu gosto. Dancei até 4 da manhã, e me despedi da festa depois que tocaram "Hey Boy Hey Girl", dos Chemical Brothers. Domingo, 21: Dia curto, afinal acordei na hora do almoço e dormi cedo. Pelo menos atualizei o blog dos Estudos Humanistas... Segunda, 22: A apresentação dos Estudos Humanistas aos calouros de Ciência Política foi um sucesso! Mais de vinte deles vieram, e participaram bastante da dinâmica que propomos. Ao longo do dia reli "A Metamorfose" visando ao colóquio - que, as always, foi bacana. Terça, 23: Enviei documentos para a seleção do mestrado do IESP/UERJ pelo Sedex. A aula de História dos Conceitos (matéria da pós-graduação que estou fazendo como ouvinte) foi bacana; depois ainda fui lanchar com os professores e dois amigos doutorandos. A conversa foi bem divertida! Quarta, 24: Duas aulas (em Política e Sociologia e em Mudança Política no Leste Europeu) sobre Marx no mesmo dia, argh. Mais uma e eu cortava os pulsos, rs. O que salvou foi a simpática aula matutina de Filosofia da Arte, hehe. À noite participei de uma animada reunião dos Libertários aqui em Brasília. É o fim de minha apatia política nos últimos meses? Tomara, não sei ao certo. Quinta, 25: Ri horrores com as peripécias de D. Quixote. Um livro genial e hilário! À noite, lamentei pela não-classificação do Palmeiras na Sul-Americana, mas a vitória por 3x1 sobre o Vasco foi convincente e o lindo uniforme listrado está de volta! Sexta, 26: A reunião do grupo de estudos sobre o Dom Quixote rendeu muitas risadas. Já definimos os temas das pesquisas individuais. Eu, p.ex., estudarei a influência quixotesca sobre o "Wilhelm Meister" de Goethe e "A Montanha Mágica" de Mann. Ah, e tive a minha 1ª aula de Estética. Gostei muito! A professora tem muito domínio sobre o tema. E o melhor, o foco da disciplina será a questão da mímese no cinema. Acho que será a "matéria underground" desse semestre, mantendo uma tradição iniciada no 2º/2008 por Escrita e Sociedade na América Latina. Sábado, 27: Como amanhã haverá o almoço de aniversário da minha mãe, resolvi passar o fim de semana em Goiânia. Fui ao Flamboyant, comprei DVD do show dos Beatles no Shea Stadium (e um presente de aniversário para a minha mãe, é claro) e joguei Mario Kart Wii com meus irmãos e amigos.
16 agosto 2011
Início do meu último semestre de graduação
Meus dois primeiros dias de aula no 2/2011 foram ótimos. Filosofia da Arte e Teoria da História 2 parecem ser bem promissoras, Política e Sociologia e Mudança Política no Leste Europeu aparentam ser boas e serei ouvinte de uma matéria da pós-graduação, a qual será sobre os conceitos de Cidadania e Philia ao longo dos séculos (Aristóteles, Kant e Nietzsche, Sérgio Buarque...), além de algumas questões de História dos Conceitos e Identidade Nacional. Hoje tive que andar bastante, pois fui buscar um livro que um professor meu me emprestou e depois ainda passei na Papelaria Asa para mandar tirar cópia e encaderná-lo. Porém, ao som de Slint (uma espécie de banda pioneira do post-rock) e com direito a almoço na Pizzaria Dom Bosco (o melhor custo-benefício de pizza que eu já vi: barata e deliciosa), o percurso nem pareceu tão longo. Ando me sentindo feliz, diria até sereno. E isso mesmo após 2 dias (domingo e ontem) lendo duas obras do Camus ("O Mito de Sísifo" e "O Estrangeiro"), profundamente amargas em sua negação de qualquer sentido ou finalidade à vida e ao mundo, não me deixei abalar. Não que tenham sido leituras em vão - até porque Albert Camus é um dos pensadores mais instigantes do século passado. Porém, não consigo me identificar com a "filosofia do absurdo" proposta por ele. As reflexões são interessantíssimas, mas não tomaria isso como meu norte filosófico. (De qualquer maneira, provavelmente uma das personagens do meu romance vai ser inspirada no pensamento de Camus)
Queria começar logo a ler "Dom Quixote", mas como quinta tenho reunião com meu orientador, acho que voltarei a ler teses e artigos sobre "A Montanha Mágica". Além disso, preciso preparar o roteiro do meu próximo artigo. Não que eu esteja achando isso ruim, pois adoro ter pretexto para ler e estudar a obra de Thomas Mann!
14 agosto 2011
Son of...?
Meu pai acaba de me ligar. Aproveitei, obviamente, para desejar "Feliz Dia dos Pais", já esperando a leve bronca que viria (e veio, é claro) por eu não ter ligado antes para ele. Com uma voz que denotava decepção, não demorou muito para que ele dissesse "tchau". Aliás, situação bem parecida ocorreu 3 anos atrás, quando também meu pai me ligou no aniversário dele para "me lembrar" da data (se bem que, daquela vez, ele ligou de manhã, o que minimiza o meu esquecimento). O que mais me preocupa é a minha indiferença perante isso. É tão grande que fiquei perturbado com ele a ponto de escrever um post sobre isso. (Algo parecido ocorreu quando, em Janeiro meu avô paterno morreu e eu não fiquei triste; sequer fui ao funeral) Não me senti mal de não ter desejado "Feliz Dia dos Pais". Talvez porque eu não veja meu pai como pai. Nisso a culpa é tanto dele quanto minha; dele, porque nunca evocou perante mim uma figura paterna, parecendo mais com um tio ou um irmão mais velho; minha, porque também nunca me esforcei para melhorar a minha relação com ele. Meu irmão do meio e meu pai, pelo contrário, tem um ótimo relacionamento, talvez porque tenham personalidades parecidas. São pacatos, "caipiras", brincalhões e sem grandes perspectivas de vida (não que isso seja necessariamente ruim, que fique claro; apenas não sou assim). O passatempo preferido deles é ir a alguma chácara no fim de semana. Quanto a mim, mesmo antes de meu irmão nascer, nunca me identifiquei com esses "programas de índio". Quando tinha 3 anos e fui com ele e minha mãe ao Araguaia, foram dias irritantes, principalmente pelos mosquitos. Nunca me identifiquei com meu pai, e não me lembro de uma única experiência marcante na minha vida na qual ele estava presente. (Tudo bem que foi durante uma viagem com ele a Catalão que, aos 13 anos, eu comprei a minha primeira "Playboy", mas o que tinha tudo para ser um momento histórico, em que o pai orienta o filho no amadurecimento da sexualidade deste, não teve nada de mais. Foi algo corriqueiro, e nossa relação não mudou em nada.) É lamentável constatar que as únicas características que herdei do meu pai foram algumas bandas no meu gosto musical: U2, Talking Heads, Barão Vermelho e Legião Urbana. (Até mesmo porque estas são peixes fora d'água nas músicas que ele ouve - em geral, ele escuta música sertaneja e gospel) Nossos temperamentos são quase diâmetros opostos. Se bem que não sou muito parecido com quase ninguém na minha família... As únicas pessoas que partilham traços de personalidade comigo são o meu avô materno (rabugento e gosta de ler) e minha mãe (sistemática e otimista). Talvez também meu irmão caçula terá um pouco de Kaio, já que percebo nele vários pontos em comum com a criança que eu era na mesma idade (8 anos) - fanático por futebol, fala de forma articulada e seguindo a norma culta, detesta ser contrariado, é um aluno aplicado...
Antes que fujamos ao assunto, voltemos ao meu "pai". O fato é que, desde a minha infância, eu nunca o senti realmente como pai. Quando falo que não compartilhamos experiências marcantes, parte disso reside no fato de que só me lembro de situações com ele que eram de lazer, "fim-de-semanescas". Nenhuma conversa profunda, briga homérica ou desabafo que gera cumplicidade - coisas que tive com minha mãe, a qual me foi muito mais "paternal" que ele. Quando eles se divorciaram, em 1999, senti a mesma indiferença que senti hoje. Para mim foi uma coisa natural, previsível. Não aumentou nem diminuiu meu vínculo com ele. (Em compensação, para o meu irmão do meio, essa separação do meu pai e de minha mãe teve efeitos bem diversos, pois ele passou a ter duas famílias: mesmo se sentindo bem mais próximo do meu pai, ele continuou tendo que conviver com minha mãe. Suspeito até que ele ainda se ressente de não ter os dois juntos, mesmo depois de quase 10 anos convivendo com nosso padrasto.) Falando no meu padrasto, ele chegou bem mais perto que meu pai de ser a "figura paterna". Conversávamos bastante sobre os mais variados assuntos e, quando necessário, ele sabia demonstrar autoridade que um pai precisa ter perante o filho. Porém, assim como este, viajava bastante, o que dificultava uma relação mais contínua. Além disso, a essa altura do campeonato, eu já era adolescente, portanto já tinha uma personalidade própria o bastante para caminhar por meus próprios trilhos, sem me espelhar em alguém. Sendo assim, na minha vida meu padrasto exerceu o papel de um "tio sábio", enquanto coube a meu pai o de um "tio engraçado".
A conclusão a que chego é que, embora de fato tenha sido um erro não ter ligado para o meu pai hoje (dentre outras ausências de demonstração de afeto ao longo dos últimos anos), isso não me abala o bastante para que eu me sinta impelido a sentir remorso e, "epifanicamente", me reaproximar dele. Já é tarde demais. Continuaremos a nos encontrar e conversar, mas ele sempre será apenas o "tio engraçado", que faz piadinhas quando bebe (e, a julgar pela "barriga de chope" dele, isso é bem freqüente, rs), buzina e diz indecências para as mulheres na rua, imita com perfeição a risadinha do Mutley e, quando vem para Brasília, compra churrasquinho para mim. Aliás, nem exigo mais do que isso dele.
12 agosto 2011
Formação universal > Especialização