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Kaio

 

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12 agosto 2011

Formação universal > Especialização

Confesso que fiquei meio angustiado depois de ler, em "O Cânone Mínimo: o Bildungsroman na história da literatura" (Wilma Patricia Maas), que a continuação do Wilhelm Meister, "Os Anos de Peregrinação", representa um abandono do ideal da Bildung pelo protagonista, em prol de uma formação especializada e voltada para uma função social - Wilhelm vira cirurgião.
Morro de medo de que o mesmo destino ocorra comigo. Soa-me como a mais amarga das derrotas e desistências quando alguém que é um polímata (isto é, uma pessoa cujo conhecimento não está restrito a uma única área) resigna-se a um ofício específico. Por exemplo, um jovem brilhante e talentoso que vira um servidor público de salário astronômico.
Embora eu não seja um gênio ou um "super-dotado", não seria imodéstia dizer que sou mais inteligente e dotado de "cultura geral" que a maioria das pessoas de minha idade. Sendo assim, como manter minha ambição de uma formação universal? Como realizar em vida meus ideais no sentido de uma, digamos, teleologia humanística?

Antes de cair no desespero, acho que seria válido analisar meus 4 anos de universidade, para saber se estou mais preocupado com o lado profissional ("mercado de trabalho") ou se persigo uma Bildung, uma Paidéia. Para isso, analisei os fluxos de disciplinas que eu queria pegar no meu 1º semestre de UnB (ou seja, 3 anos atrás - ainda conservo o arquivo em Excel daquele planejamento) com as que efetivamente peguei nos semestres seguintes, assim como as que farei em meu 8º e último período. Os resultados são, no mínimo, interessantes.

Kaio 2008
Após um 1º semestre só com matérias introdutórias, portanto necessariamente multidisciplinar (ainda mais porque peguei duas disciplinas a mais, as introduções ao estudo da História e das Relações Internacionais; as obrigatórias eram as de Política, Economia, Direito, Antropologia e Sociologia), eis o que eu pretendia para os semestres seguintes:
- 2º: Formação Econômica do Brasil, Introdução à Metodologia das Ciências Sociais, Teoria Política Clássica (obrigatórias), Cálculo 1, Teoria Política Moderna, História Social e Política Geral e Evolução das Idéias Econômicas Sociais (optativas).
- 3º: Política Brasileira 1, Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais, Fundamentos de Políticas Públicas (obr.), Teoria Política Contemporânea, Economia Quantitativa 1 e Teoria das Relações Internacionais 1 (opt.).
- 4º: Estatística Aplicada, Política Brasileira 2 (obr.), Economia Política 1, Teoria Geral do Direito Público, Política e Economia Mundial, Economia Política Internacional 1 (opt.).
- 5º: Análise Política (obr.), Elites Políticas, Introdução à Teoria da Literatura, Contabilidade Nacional, Microeconomia 1, Teoria das Relações Internacionais 2 e Economia Política Internacional 2 (opt.).
- 6º: Técnicas de Pesquisa em Ciência Política (obr.), duas matérias seletivas/optatórias de Ciência Política, Introdução ao Jornalismo, Microeconomia 2 e Macroeconomia 1 (opt.).
- 7º: Monografia 1 (obr.), duas matérias seletivas/optatórias de POL, Comércio Internacional e Macroeconomia 2 (opt.).
- 8º: Monografia 2 (obr.), uma matéria selet./optat. de POL, História do Pensamento Econômico e Economia Internacional (opt.).

Perceberam o quanto o meu fluxo era voltado para a Economia (com um toque de Relações Internacionais)? Isso se justifica no fato de que, à época, eu era um libertário dos mais empolgados, e entre meus livros de cabeceira havia muitos de pensadores da Escola Austríaca ou de alguma outra corrente liberal. Sendo assim, julgava indispensável direcionar a minha graduação na UnB para a compreensão dos fenômenos econômicos.
Porém, nem por isso deixei de lado minha formação humanística. Tanto é que foi justamente naquela 1ª metade de 2008 que terminei de ler "A Montanha Mágica", "O Senhor dos Anéis" e "Ulisses"! Posts como este são retratos curiosos de meu jeito "book worm" naquela época.

Agora, confiram quais foram as matérias que efetivamente fiz em minha graduação:

Kaio 2011
- 2º: Formação Econômica do Brasil, Introdução à Metodologia das Ciências Sociais, Teoria Política Clássica (obrigatórias), Teoria Política Moderna, Fundamentos de Políticas Públicas, Política e Economia Mundial e Escrita e Sociedade na América Latina (optativas).
- 3º: Política Brasileira 1, Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais, História Social e Política Geral (obr.), Teoria Política Contemporânea, Teoria das Relações Internacionais 1 e Literatura Estrangeira em Língua Vernácula (opt.).
- 4º: Estatística Aplicada, Política Brasileira 2 (obr.), Teoria Sociológica 1 e Oficina Literária (opt.).
- Curso de verão: Crítica Literária (opt.).
- 5º: Análise Política (obr.), História Social e Política da América Latina, Identidade Nacional e Nacionalismo (seletivas de POL), Sociologia do Conhecimento e Introdução à Filosofia (opt.).
- 6º: Técnicas de Pesquisa em Ciência Política (obr.), Formação e Dinâmica do Mundo Moderno (seletiva de POL), Mudança Política na América do Sul (pseudo-seletiva de POL), Introdução à Teoria da Literatura e Evolução das Idéias Econômicas e Sociais (opt.).
- 7º: Monografia 1 (obr.), Legislação e Processo Político, Política e Direito (seletivas de POL), Teoria da História 1 e História das Idéias (opt.).
- 8º: Monografia 2 (obr.), Política e Sociologia, Mudança Política no Leste Europeu, (seletivas de POL), Teoria da História 2, Filosofia da Arte e Estética (opt.).

Notaram a diferença? Cheguei a fazer matérias de Economia e REL (EVIES e TRI1, respectivamente), mas minha grade ficou bem mais diversificada. Fiz várias matérias da Literatura, da História, da Sociologia e da Filosofia. Não por acaso, já estourei meu número de módulos livres; fiz matérias como História das Idéias mesmo sem ganhar créditos por elas.
Confesso que, ao me tocar de que aproveitei meus anos de UnB mais para uma formação universal que para uma especializada, fiquei mais aliviado.
Porém, isso não ocorreu só nas matérias. Meus "anos de aprendizado" na universidade refletem bem esse fluxo multidisciplinar. Os projetos de extensão (principalmente os Estudos Humanistas, por meio do qual li clássicos, organizei palestras, visitei escolas, apresentei colóquios...), a pesquisa no PET, as várias disciplinas pelas quais fui monitor (neste semestre, p.ex., serei de Introdução ao Estudo da História), os amigos/as oriundos dos mais diversos cursos (História, Administração, Letras, Sociologia, Jornalismo... e até Ciência Política, rs), as festas em que fui...

Posso dizer, com orgulho, que aproveitei ao máximo possível a minha experiência universitária. Não me arrependo de nada. Sou uma pessoa mais madura, serena e sensata do que eu era naquele 10 de Março de 2008, meu primeiro dia de aula. Se, por um lado, conservo praticamente os mesmos gostos e opiniões (indie, otimista, libertário, humanista etc.), por outro sou mais sociável e menos cético (inclusive no âmbito religioso, pois passei de ateu a agnóstico-cristão) do que o Kaio de outrora.
Espero que dê tudo certo e eu passe no mestrado, para que, em outra cidade, continue minha busca incessante pela minha Bildung, pelo cultivo de minha liberdade. Não quero ser apenas um professor e escritor, um pai e marido, mas sim - e acima de tudo - um ser humano, com todos os seus potenciais e limitações.
Deixarei que Wilhelm Meister fale por mim: "tenho uma inclinação irresistível por essa formação harmônica de minha natureza" (p. 286).

 

Comentários:

 

 

Kaio, vc ainda pretende fazer o seu mestrado em Oxford?


Não, pretendo fazer no Rio de Janeiro, no IESP/UERJ.
Quanto ao doutorado, ainda não sei. Depende dos rumos do meu mestrado. Talvez eu tente fazer em Chicago (o curso de Social Thought de lá tem um currículo bem inspirado na "liberal education"), Berlim (porque ando estudando muito sobre literatura alemã) ou mesmo Oxford.


Bacana essa sua história da graduação. Eu acabei passando de física pra economia de empresas, pra depois finanças e fui terminar em publicidade.

Acho que acabei atingindo essa ideia de ter um conhecimento mais diversificado, mas no meu caso foi totalmente alheio a faculdade.


Não escolheu uma péssima hora para ser liberal? O mundo inteiro já deve ser um tubo de ensaio grande o suficiente para se decretar o início do fim do liberalismo. Mais ainda porque o que está sustentando o natimorto são os papéis da especulação imobiliária dos chineses que colocam em prática o que fingiam não aprender na última metade do século passado.
Só passando...


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