Enfim, lacônico
O porquê de eu não ter postado nas últimas duas semanas, além da tradicional "falta de tempo e paciência para passar a limpo as várias possibilidades de textos e assuntos"? Em uma palavra: Twitter. E viva o limite de caracteres, maior vacina contra a prolixidade!
08 março 2009
They've found a new way
O retorno para Brasília não poderia ter sido melhor.
Contarei mais sobre três destes eventos no próximo post, mas antes disso farei algo que já deveria ter feito há dois meses: uma resenha sobre "Tonight", o retorno triunfante da melhor banda a surgir nesta década.
O Franz já havia chamado a atenção com o maravilhoso debut homônimo de 2004. Canções como "The Dark of the Matinée", "Take Me Out", "Darts Of Pleasure" e "Jacqueline" apresentavam um rock vibrante como há muito não se via, cheio de refrões divertidos, melodias contagiantes e uma clara preocupação com o lado artístico, tanto nas próprias faixas quanto na imagem da banda e nos videoclipes - além, é claro, do próprio nome do quarteto. Não demorou muito para que se iniciasse uma febre de revivalistas do post-punk em sua faceta mais dançante. O álbum foi um sucesso de público (3 milhões de cópias) e crítica (muitos elogios e prêmios).
Apenas um ano e meio depois da estréia, Franz Ferdinand já estava lançando seu segundo CD. Embora não seja superior a seu antecessor (chega perto, no entanto), foi mantida aqui uma notável qualidade do 1º álbum: cativar o ouvinte já na primeira audição. O poder de faixas como "Do You Want To" e "The Fallen" mostravam uma banda ainda empolgante, só que mais consistente; de quebra, eles começam a se arriscar por novos territórios, como vemos na balada "Eleanor Put Your Boots On" e nos sintetizadores de "Outsiders". Foi o primeiro #1 do Franz na Inglaterra, assim como seu primeiro top 10 nos EUA.
A banda demorou mais de dois anos para aparecer com um novo trabalho de estúdio. Foi uma longa espera desde o último show da turnê encerrada em Outubro de 2006. Um dos motivos para isso foi a demora para achar o produtor certo; Brian Higgins, que já produziu Kylie Minogue, criava sonoridades pop demais para o Franz, que queria algo mais ousado. Foi então que encontraram Dan Carey, o sujeito certo para as ambições musicais da banda. Após alguns spoilers, como a versão preliminar de "Lucid Dreams" e o primeiro single, "Ulysses", finalmente o álbum chegou às lojas (e aos compartilhadores de arquivos), em Janeiro desse ano. O nome? "Tonight: Franz Ferdinand".
A reação dos fãs e dos críticos musicais foi mista, e, até o momento, "Tonight" não vem sendo um grande sucesso comercial. Embora tenha estreado em 2º lugar no Reino Unido em 9º nos Estados Unidos, logo despencou das paradas. Tal acontecimento, no entanto, não é nada surpreendente: de fato, o terceiro disco do Franz é muito mais ambicioso que seus antecessores, o que inevitavelmente dividiria opiniões.
Comecemos por "Ulysses", primeira faixa do álbum. Ela começa calma e lenta, com baixo, bateria e Alex Kapranos sussurrando. "Cadê as guitarras?", perguntaria imediatamente um fã mais afobado. Relaxem, a banda tem mais a mostrar do que isso. É quando a letra começa a apelar para o humor ("C'mon, let's get high"), a sugestão ("Last night was wild") e a celebração ("I've found a new way, baby"). Além disso, a canção vai ficando mais e mais dançável. Ela pode não soar empolgante logo de cara - algo que, como já disse, era marca registrada do quarteto escocês - , mas seu charme está justamente nisso: "Ulysses" e as demais faixas vão melhorando a cada audição. É o início de uma longa e agitada noite. Feeling kinda anxious?
"Turn It On" evoca a sonoridade dos dois primeiros CDs, só que com um ênfase maior no baixo. O personagem está desabafando para sua garota - "it ain't easy be this kind of lover". Porém, nada disso o impede de se sentir irresistivelmente atraído por ela. If I can't have you then nobody can.
Em seguida, vem aquela que será a segunda faixa de trabalho de "Tonight". Estamos falando da animada "No You Girls", cujo maior destaque são os versos cheios de galanteios, como"Flick your cigarette and then kiss me, kiss me where your eyes won't meet me". Parece que a balada já está a mil, e nosso eu-lírico resolveu tomar a iniciativa, sempre com seu costumeiro deboche. I'd love to get to know you.
As tão comentadas influências africanas aparecem na quarta canção, que inicia uma nova etapa em nossa trama. Em "Send Him Away", parece que nosso protagonista não gostou muito de saber das 'escapadas' de sua menina, então resolve tirar satisfações: "I can't seem to feel the envy", todavia "I don't care his breath is in your hair": "send him away". A segunda metade é especialmente swingada. Can't you let me stay tonight?
"Twilight Omens" usa e abusa dos teclados, em mais uma historinha cheia de cantadas e tiradas. "I typed you number into my calculator, where it spelled a dirty word", contudo "you could turn my dirty world the bright way round". Maybe I still feel the same...
"Bite Hard" começa bem quietinha, em um tom confessional: "You don't know the pseudonyms I assume for you". Não demora muito, no entanto, para ela ganhar vigor e energia suficientes para embarcar "Tonight" em uma de suas melhores sequências de faixas. We ride together, we die together.
"What She Came For" é explícita em suas (segundas) intenções: "I got a question for you: where do you see yourself in five minutes time?" Perfeita para dançar e cantar junto, tem um ritmo particularmente interessante, em que a urgência chega ao ápice em seus trinta segundos finais, momento em que fica mais acelerada e intensa. Do you feel the pressure?
"Live Alone" retoma a melancolia abandonada 6 minutos atrás: "Live the rest of a life in the vaguest of feeling". É a mais oitentista de "Tonight", com sua atmosfera de desilusão. I could be happy on my own.
"Can't Stop Feeling" aproveita-se de sintetizadores escrachados, enquanto diz que "the fun's not fun anymore". A relação com a garota continua complicada, e o eu-lírico já não sabe mais o que fazer, a não ser que a noite (ou madrugada) não pode parar. You can't feel it anymore.
Clímax do álbum, "Lucid Dreams" foi a música mais elogiada e criticada de todas. Muitos não gostaram das (profundas) mudanças em relação à primeira versão: em vez de 3:41 bem lineares no versus-chorus-verse, temos aqui uma faixa que se estende por quase 8 minutos de várias etapas: rock messiânico, dance-punk, eletrônica e eletrônica 'plus'. É como se o Justice a tivesse remixado, mas não: o próprio Franz tomou a iniciativa de criar a mixagem definitiva para um épico que simboliza o auge da trama do(s) personagem(ns) daquela noite inesquecível. "I no longer cared if there is some great truth or not". Entenda você como quiser (sexo ou elevação espiritual), mas o fato é que o protagonista 'chegou lá': "I'm living in lucid dreams". Os minutos finais, cada vez mais atolados de sintetizadores, provam que este novo Franz parece querer antecipar o tipo de música que marcará a década de 2010. I'm living on shortwave streams tonight.
A psicodelia toma conta de "Dream Again", o momento mais onírico dessa aventura musical. "Sometimes the sound of a thousand whispering words can confuse". É hora de descansar, mas sem perder de vista as sutis novidades na sonoridade de Franz, que desta vez tenta recriar o mundo dos sonhos. I live to dream again.
Por último, violão e teclado acompanham os doces vocais de Kapranos em "Katherine Kiss Me". O ciclo se completa aqui, a ponto de as palavras se repetirem em um contexto diferente. Vários dos versos utilizados em "No You Girls" retornam aqui, só que, ao invés de serem um chamado para a diversão, desta vez expressam sentimentos evocados em meio a uma ressaca: "do you ever wonder how the boy feels? (...) Because I never wonder how the girl feels". O disco é fechado com chave de ouro, já nos deixando ansiosos pela próxima noite. Sometimes I say the stupidest things.
Os integrantes do Franz Ferdinand reafirmaram sua genialidade através dese 3º disco. É certo que, a curto prazo, ele não será compreendido (e reconhecido) por muitos. Porém, tudo indica que ele antecipa os caminhos pelos quais o rock seguirá na próxima década: a substituição da sujeira e do hedonismo à la Strokes ou Libertines por um maior apelo artístico (oras, estamos falando de um álbum conceitual, que contou uma 'historinha'!) e uma utilização mais aberta de experimentos eletrônicos, sem dicotomias do tipo 'isso é electronica e aquilo é rock 'n roll". Arrisco-me a dizer que é possível que "Tonight" venha a ter a mesma importância de "Unknown Pleasures" (Joy Division, 1979) teve para os anos 80 ou do álbum homônimo dos Stone Roses (1989) para a década passada.
De fato, esperar mais de 3 anos por este álbum valeu mesmo a pena. Ele não é perfeito, mas reúne tantas qualidades que eu não estaria o superestimando se lhe desse, por exemplo, uma nota 8,5. Ainda é cedo para dizer se este é o melhor disco da banda, mas algo é certo: a mudança de estilo foi bem-sucedida.
06 março 2009
De volta à Academia
Tirei férias muito mais longas do que gostaria. Se, em tempos de Ensino Médio, eu já achava excessivo ficar dois meses à toa, esse recesso da UnB extrapolou. Só espero que o resto desse semestre compense em todos os sentidos o bimestre de letargia por que passei.
Mais uma vez, "Skins" surgiu como inspiração para uma nova atitude em relação à vida. O episódio 7, sobre JJ, foi repleto de cenas memoráveis, que comentarei em detalhes no próximo post.
Eu sou daqueles que acreditam que a vida pode imitar a arte (ou pelo menos se inspirar nela), e vice-versa; portanto, acredito que mesmo um seriado que eu veja possa ser mais do que entretenimento. Ele também pode ensinar algo a mim, mesmo que por caminhos tortuosos e claramente fictícios.
Acho que não tenho muito a dizer hoje, até porque estou com sono e ainda preciso terminar de arrumar minhas malas. De qualquer maneira, Brasília, here we go again!
03 março 2009
Coming Up
Ter um colega de quarto (ainda mais um que é seu melhor amigo) foi uma boa novidade para mim. É verdade que morar sozinho é bem legal, mas dividir a kit com uma pessoa como o Gino pode ser uma ótima maneira de fazer de 2009 um ano mais divertido e menos entediante. Além disso, posso ajudá-lo a se integrar ao mundo universitário, aproveitando que já tenho dois semestres de "bagagem".
Agora, vamos falar um pouco dos posts anteriores. Prevaleceu neles a tendência de auto-crítica e reavaliação de minhas atitudes (ou a falta delas). Porém, o último deles, "Is It Too Late?", surpreendeu-me por ter caminhado por assuntos que eu não costumo comentar aqui no blog. Por exemplo, acho que nunca debati por aqui minha sexualidade, tampouco os reais motivos pelos quais levei tão a sério as inúmeras rotulações que dei a mim mesmo.
É certo que vocês já devem estar cansados de tantos textos em 3ª pessoa, cujas auto-análises parecem psicologia de botequim; no entanto, para mim, faz toda a diferença dar voz às minhas outras facetas, até mesmo para acabar com a hegemonia do Kaio acadêmico e crítico cultural de ego inflado.
Pretendo continuar com tal estilo de postagem, mas, agora que já pontuei tantos defeitos, acho que o próximo passo é ver se os atos estão correspondendo aos novos paradigmas kaionísticos. Em outras palavras, fazendo uma analogia com este ótimo texto que li anos atrás, é hora de ser menos Smiths e mais Suede.
Por hoje é só.
01 março 2009
Is It Too Late?
Aos 15 anos, primeira ocasião de sua vida em que começou a frequentar lugares nos quais convivia com pessoas ébrias, ele alegava que era sóbrio porque tinha "uma espécie de prazer em ficar completamente são, em ter pleno domínio dos sentidos". Vide post de 21/08/05.
Os anos se passaram, e ele logo percebeu que nem precisava filosofar muito para justificar sua atitude; o rapaz simplesmente tem medo de não estar sob controle, de 'fugir da realidade', de adquirir um 'eu-etílico'. E mais, o hiperbólico Kaio teme ficar rapidamente viciado, e sacrificar sua saúde por esses 'unknown pleasures'.
Talvez ele esteja certo quando fala na saúde, mesmo sendo o sujeito um consumidor de junk food. Por outro lado, não estaria ele sendo paranóico demais com uma coisa que sequer experimentou? A neura faz sentido? Não haveria benefícios advindos dessa incursão?
Por ora, Kaio acredita que ainda pode manter essa tag, afinal o maior benefício que as drogas, especialmente o álcool, poderiam trazer para ele (sociabilização e desinibição) não são impossíveis no estado de sobriedade. Em outras palavras, ele pode superar a timidez e ganhar coragem por conta própria, sem intermediários. Afinal, ele não precisa agir como Charlie Harper.
(Eis uma rápida anedotinha pra quebrar o gelo: certa vez, Alan quis descobrir como seu irmão tinha tanta coragem para paquerar, e nunca se deprimia quando era rejeitado. Porém, depois de Alan levar um fora de uma garota, Charlie lhe disse para beber e se sentir melhor. Ele questiona: "Peraí, esse é o seu grande segredo? Álcool?", no que seu irmão responde: "Shhh, não conta pra ninguém.")
Faz sentido. Sobriedade e estoicismo são bem diferentes. Ao contrário do primeiro, que é a resistência à indução de "estados alterados da mente" por substâncias 'recreativas', o segundo, em sua versão vulgar, é uma postura moral e filosófica que prega a abstinência aos prazeres mundanos, à entrega aos sentidos. Enfim, um é o antônimo de ebriedade e outro, de epicurismo. É mais simples do que parece nessa explanação maçante.
Porém, é com um detalhe em específico que ele quer lidar, como veremos no rótulo abaixo: as relações com o sexo oposto.
Kaio não tem dúvidas de que é heterossexual; se haveria alguma pitada de desconfiança (afinal, seu gosto musical, literário e até em seriados - Smiths, techno-pop oitentista, Michael Cunningham, "Skins" etc. - é bem parecido com o de vários gays e bissexuais que conhece), ela se dissipa quando confrontada aos 'fatos': psicológica e fisicamente, seu interesse é direcionado exclusivamente a garotas. Além do mais, foi só por elas que, bem ou mal, ele já sofreu até hoje.
Porém, terá chegado a hora de ele largar essa solteirice? Ou continuará seguindo o caminho para se tornar um "virgem de 40 anos"? As digressões mais recentes indicam que ele não está, pelo menos ideologicamente, tão avesso à primeira opção quanto costumava.
Tudo bem que indie não é movimento tampouco '"filosofia de vida", mas pode ser considerado uma maneira de rotular um conjunto de idéias e práticas de independência e individualidade, assim como a identificação com pessoas que possuem esse mesmo culto ao ego exacerbado. Os jornais britânicos, no início dos anos 90, chamavam isso de "a cena que celebra a si mesma". Pois é exatamente isso que Kaio viu e aprovou no indie, no underground.
Sabemos que, quando o assunto é política, dificilmente 'indie' e esquerda combinam; no máximo, há os alternativos que são 'obamistas', left-liberals bem moderados. A maioria, no entanto, é "neocapitalista", e há até os que são libertários ou "conservadores moderninhos". Kaio, por coincidência ou não, estava justamente pegando a saída pela direita quando se interessou por essa cena. Talvez "individualismo" seria a palavra-chave para entender ambas as transições.
É claro que toda ortodoxia é nociva, e ele precisou aprender com experiências e debates o quanto este rótulo é cheio de limitações, contradições e pontapés para a arrogância desmedida. Tanto é que chega a ser cômico e patético quando aplicado excessivamente. Portanto, aquele que vos fala precisa rever seus conceitos e se preocupar menos em distribuir tudo (e a si mesmo) em caixinhas. Do contrário, a tal 'auto-revolução' está fora de cogitação.
Kaio, por favor, não caia nessa armadilha. É bonitinho ser uma enciclopédia ambulante, esbanjando uma memória pródiga em detalhes e trivialidades, mas a vida, meu caro, é muito mais do que isso. Ser mais ativo e sociável não fará de você menos inteligente e íntegro. Conversar mais com as pessoas não te emburrecerá, tampouco lhe fará ser 'another brick in the wall'. É perfeitamente possível conservar suas idiossincrasias e peculiaridades e, ao mesmo tempo, ser mais extrovertido e "straight-forward". Hoje, você é um "walrus", mas amanhã pode ser um humano. As cartas estão na mesa, faça suas escolhas - e não se abstenha dessa decisão.
Basta! Você não é um iluminado. Pode até ser mesmo parte daqueles 5, 10% da humanidade que 'valem a pena', mas não se esqueça que, mesmo dentro dessa elite cultural, há muitos que se perderam no caminho para a genuína sabedoria por terem se tornado meros 'apreciadores da estética', intelectualóides, farsas acadêmicas, superestimados por criaturas igualmente mesquinhas e vice-versa.
Estou certo de que você não quer isso para o seu futuro. Logo, é óbvio que você também precisa abrir mão dessa tag que tanto valoriza, ou então permanecerá na estrada para o fracasso e a incompreensão - isso se já não está nela e eu estou falando a esmo. Perceba que, ao contrário dos posts anteriores, nem precisei vestir outras cores para lhe dizer isso; mesmo o seu 'eu oficial' já cedeu ao meu ponto de vista de que é a hora da mudança. Chega desse Kaio fajuto, estereotipado! Repito a pergunta: quer viver nessa bolha para sempre?
19 d.M., vulgo 2009, é mesmo "O" ano decisivo para mim. É consenso que preciso largar velhos hábitos e ter uma nova postura diante da realidade. Acima de tudo, preciso traduzir em ações aquilo que escrevo, leio e idealizo. O desafio é o maior que já enfrentei até hoje, talvez porque o deixei se tornar uma bola-de-neve durante todos esses anos, nunca o encarando quando ainda havia menores dificuldades.
Fazendo uma última concessão ao indie, dou-lhe até o direito de selecionar a trilha sonora do novo Kaio. Além da óbvia transição 'macro-ideológica' das soturnas "décadas pares" para as enérgicas "décadas ímpares", sejamos mais específicos: ao invés daquele garoto solitário e vidrado em Joy Division, Cure e cia., escolha, por exemplo, Franz Ferdinand e seu disco novo, "Tonight". Canções como "Ulysses" e "What She Came For" devem servir de inspiração para o sujeito mais 'prafrentex' que todos nós gostaríamos que você fosse.
Até a próxima.