Is It Too Late?
Aos 15 anos, primeira ocasião de sua vida em que começou a frequentar lugares nos quais convivia com pessoas ébrias, ele alegava que era sóbrio porque tinha "uma espécie de prazer em ficar completamente são, em ter pleno domínio dos sentidos". Vide post de 21/08/05.
Os anos se passaram, e ele logo percebeu que nem precisava filosofar muito para justificar sua atitude; o rapaz simplesmente tem medo de não estar sob controle, de 'fugir da realidade', de adquirir um 'eu-etílico'. E mais, o hiperbólico Kaio teme ficar rapidamente viciado, e sacrificar sua saúde por esses 'unknown pleasures'.
Talvez ele esteja certo quando fala na saúde, mesmo sendo o sujeito um consumidor de junk food. Por outro lado, não estaria ele sendo paranóico demais com uma coisa que sequer experimentou? A neura faz sentido? Não haveria benefícios advindos dessa incursão?
Por ora, Kaio acredita que ainda pode manter essa tag, afinal o maior benefício que as drogas, especialmente o álcool, poderiam trazer para ele (sociabilização e desinibição) não são impossíveis no estado de sobriedade. Em outras palavras, ele pode superar a timidez e ganhar coragem por conta própria, sem intermediários. Afinal, ele não precisa agir como Charlie Harper.
(Eis uma rápida anedotinha pra quebrar o gelo: certa vez, Alan quis descobrir como seu irmão tinha tanta coragem para paquerar, e nunca se deprimia quando era rejeitado. Porém, depois de Alan levar um fora de uma garota, Charlie lhe disse para beber e se sentir melhor. Ele questiona: "Peraí, esse é o seu grande segredo? Álcool?", no que seu irmão responde: "Shhh, não conta pra ninguém.")
Faz sentido. Sobriedade e estoicismo são bem diferentes. Ao contrário do primeiro, que é a resistência à indução de "estados alterados da mente" por substâncias 'recreativas', o segundo, em sua versão vulgar, é uma postura moral e filosófica que prega a abstinência aos prazeres mundanos, à entrega aos sentidos. Enfim, um é o antônimo de ebriedade e outro, de epicurismo. É mais simples do que parece nessa explanação maçante.
Porém, é com um detalhe em específico que ele quer lidar, como veremos no rótulo abaixo: as relações com o sexo oposto.
Kaio não tem dúvidas de que é heterossexual; se haveria alguma pitada de desconfiança (afinal, seu gosto musical, literário e até em seriados - Smiths, techno-pop oitentista, Michael Cunningham, "Skins" etc. - é bem parecido com o de vários gays e bissexuais que conhece), ela se dissipa quando confrontada aos 'fatos': psicológica e fisicamente, seu interesse é direcionado exclusivamente a garotas. Além do mais, foi só por elas que, bem ou mal, ele já sofreu até hoje.
Porém, terá chegado a hora de ele largar essa solteirice? Ou continuará seguindo o caminho para se tornar um "virgem de 40 anos"? As digressões mais recentes indicam que ele não está, pelo menos ideologicamente, tão avesso à primeira opção quanto costumava.
Tudo bem que indie não é movimento tampouco '"filosofia de vida", mas pode ser considerado uma maneira de rotular um conjunto de idéias e práticas de independência e individualidade, assim como a identificação com pessoas que possuem esse mesmo culto ao ego exacerbado. Os jornais britânicos, no início dos anos 90, chamavam isso de "a cena que celebra a si mesma". Pois é exatamente isso que Kaio viu e aprovou no indie, no underground.
Sabemos que, quando o assunto é política, dificilmente 'indie' e esquerda combinam; no máximo, há os alternativos que são 'obamistas', left-liberals bem moderados. A maioria, no entanto, é "neocapitalista", e há até os que são libertários ou "conservadores moderninhos". Kaio, por coincidência ou não, estava justamente pegando a saída pela direita quando se interessou por essa cena. Talvez "individualismo" seria a palavra-chave para entender ambas as transições.
É claro que toda ortodoxia é nociva, e ele precisou aprender com experiências e debates o quanto este rótulo é cheio de limitações, contradições e pontapés para a arrogância desmedida. Tanto é que chega a ser cômico e patético quando aplicado excessivamente. Portanto, aquele que vos fala precisa rever seus conceitos e se preocupar menos em distribuir tudo (e a si mesmo) em caixinhas. Do contrário, a tal 'auto-revolução' está fora de cogitação.
Kaio, por favor, não caia nessa armadilha. É bonitinho ser uma enciclopédia ambulante, esbanjando uma memória pródiga em detalhes e trivialidades, mas a vida, meu caro, é muito mais do que isso. Ser mais ativo e sociável não fará de você menos inteligente e íntegro. Conversar mais com as pessoas não te emburrecerá, tampouco lhe fará ser 'another brick in the wall'. É perfeitamente possível conservar suas idiossincrasias e peculiaridades e, ao mesmo tempo, ser mais extrovertido e "straight-forward". Hoje, você é um "walrus", mas amanhã pode ser um humano. As cartas estão na mesa, faça suas escolhas - e não se abstenha dessa decisão.
Basta! Você não é um iluminado. Pode até ser mesmo parte daqueles 5, 10% da humanidade que 'valem a pena', mas não se esqueça que, mesmo dentro dessa elite cultural, há muitos que se perderam no caminho para a genuína sabedoria por terem se tornado meros 'apreciadores da estética', intelectualóides, farsas acadêmicas, superestimados por criaturas igualmente mesquinhas e vice-versa.
Estou certo de que você não quer isso para o seu futuro. Logo, é óbvio que você também precisa abrir mão dessa tag que tanto valoriza, ou então permanecerá na estrada para o fracasso e a incompreensão - isso se já não está nela e eu estou falando a esmo. Perceba que, ao contrário dos posts anteriores, nem precisei vestir outras cores para lhe dizer isso; mesmo o seu 'eu oficial' já cedeu ao meu ponto de vista de que é a hora da mudança. Chega desse Kaio fajuto, estereotipado! Repito a pergunta: quer viver nessa bolha para sempre?
19 d.M., vulgo 2009, é mesmo "O" ano decisivo para mim. É consenso que preciso largar velhos hábitos e ter uma nova postura diante da realidade. Acima de tudo, preciso traduzir em ações aquilo que escrevo, leio e idealizo. O desafio é o maior que já enfrentei até hoje, talvez porque o deixei se tornar uma bola-de-neve durante todos esses anos, nunca o encarando quando ainda havia menores dificuldades.
Fazendo uma última concessão ao indie, dou-lhe até o direito de selecionar a trilha sonora do novo Kaio. Além da óbvia transição 'macro-ideológica' das soturnas "décadas pares" para as enérgicas "décadas ímpares", sejamos mais específicos: ao invés daquele garoto solitário e vidrado em Joy Division, Cure e cia., escolha, por exemplo, Franz Ferdinand e seu disco novo, "Tonight". Canções como "Ulysses" e "What She Came For" devem servir de inspiração para o sujeito mais 'prafrentex' que todos nós gostaríamos que você fosse.
Até a próxima.