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Kaio
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22 abril 2020
Hoje é o 40º "aniversário" do meu álbum favorito do The Cure: Seventeen Seconds, o segundo LP da banda, lançado em 22 de Abril de 1980.
Embora eu admita que Disintegration seja o melhor disco deles, Seventeen Seconds é o que tem mais valor sentimental para mim, pois ouvi-lo me leva de volta à minha adolescência. Além disso, é um álbum muito consistente e atmosférico.
Decidi recuperar na íntegra uma resenha que escrevi para este disco na época em que mais o ouvia, aos 16 anos. O texto é de Setembro de 2006:
"Lançado em 1980, esse disco foi uma completa ruptura com o tipo de som que a banda fazia. Os singles 'Killing An Arab', 'Boys Don't Cry' e 'Jumping Someone Else's Train', além de outras canções do período 1978-1979, como '10:15 Saturday Night' e 'Plastic Passion', poderiam ser rotulados como um punk mais acessível, com músicas de melodias irresistíveis e letras que se alternavam entre o existencialismo e a ingenuidade amorosa.
Seventeen Seconds foi quem rompeu com tudo isso. Mais cuidadosamente produzido (o próprio Robert Smith, em parceria com Mike Hedges, se encarregou disso) e arranjado, ele foi um dos primeiros álbuns do que viria a ser chamada de cena post-punk - no mesmo ano, Siouxsie and the Banshees lançou Kaleidoscope, o Bauhaus lançou seu 1º LP e o Joy Division se despediu precocemente com a obra-prima Closer. O The Cure, em meio a esse contexto mais sombrio do rock inglês, não fez feio. Aliás, considero este como o melhor álbum do Cure, em meio a outras pérolas como Pornography, The Head On The Door e Disintegration.
Agora, o LP, faixa a faixa:
1. A REFLECTION é uma espécie de introdução, vinheta inicial. 2 minutos de um piano melancólico, acompanhado de alguns riffs de guitarra. Serve como um aviso ao ouvinte - 'esqueça 'Boys Don't Cry' e conheça o novo The Cure'.
2. PLAY FOR TODAY é um rock que resume bem a aura do disco - letra curta, doída e direta, grande destaque para a bateria, um baixo que conduz a melodia e uma guitarra que desenvolve o clima, o ambiente da música.
3. SECRETS talvez seja a mais introspectiva do álbum. O vocal é tão baixo que quase não dá para ouvir, mas seu aspecto sussurrado combina com a faixa, que tem um ritmo bem monolítico.
4. IN YOUR HOUSE é uma das mais belas. A melodia é muito boa, e a voz de Robert reflete bem a instabilidade emocional pela qual ele passava. Nota-se uma certa influência, mesmo que ligeira, do Joy Division, com a bateria entrando antes de todos os outros instrumentos e também sendo a última a sair.
5. THREE usa e abusa do teclado para montar uma sonoridade sombria e até assustadora. Seu fim repentino encerra também o lado A do LP, ou a primeira metade do CD.
6. THE FINAL SOUND é a mais curta (quase 1 minuto de duração) e estranha de todas. Percebe-se que ela prepara terreno, para o maior petardo do disco...
7. A FOREST, clássico absoluto do The Cure e a minha favorita da banda. A letra é fantástica ao relembrar os pesadelos que Robert tinha com "a garota na floresta" (perdão por essa intervenção, mas eu também tinha sonhos assim, e não foi por acaso que eu passei a adorar a música). O arranjo instrumental é muito soturno, e até dançável (aliás, 'A Forest', ao lado de 'Love Will Tear Us Apart', inicia a tendência das "canções sentimentais perfeitas para pistas de dança" que predominou nos anos 80, destacando-se New Order e Depeche Mode). A progressão da música também é interessantíssima, encerrando-se com guitarras raivosas e uma forte linha de baixo. Enfim, tudo nela é perfeito.
8. M, eis outra pela qual eu tenho uma predileção especial. Mais leve que as anteriores, ela também possui notável capacidade de envolver o ouvinte. Destaque para o riff na reta final.
9. AT NIGHT é a mais longa de 17 Seconds [ao lado de 'A Forest'; ambas têm 5 minutos e 55 segundos]. Completamente dark, já que usa e abusa de 'recursos estilísticos' como comparar a noite com o sofrimento do eu-lírico. 'Listen to the silence at night... someone has to be there'.
10. SEVENTEEN SECONDS, a canção que intitula o trabalho, começa lenta e gradual, com uma bateria tímida, seguida dos outros instrumentos. Ela só começa pra valer depois de 1min15sec de duração, e não decepciona. Sua simplicidade e a idéia do silêncio angustiante que ela passa fecham o álbum de uma maneira ímpar.
Após a audição, só há uma conclusão. Na verdade, duas. A primeira é que esse disco é sensacional. E a outra é que você vai apertar o Repeat para ouvi-lo novamente, já que ficou viciado nele..."
11 abril 2020
(Versão ampliada da resenha que escrevi para este álbum em 2015)
Em 11 de Abril de 1995, o Pavement lançou o seu disco mais controverso: Wowee Zowee. Controverso porque desapontou os fãs e críticos musicais que esperavam que a banda fizesse um disco acessível e melódico como o antecessor, Crooked Rain, Crooked Rain (1994) - que gerou 3 singles, dentre eles "Cut Your Hair", cujo clipe tocou bastante na MTV. Em suas 18 faixas, a banda se dispersa por vários estilos (country, punk, space rock, balada acústica, grunge...), e não há nenhuma canção com potencial de hit. A resenha da Rolling Stone na época chegou a acusar o Pavement de tentar se auto-sabotar, de ter medo do sucesso.
Ainda no final da década de 90 a opinião pública sobre Wowee Zowee começou a mudar, e hoje em dia este disco é merecidamente reconhecido como uma caótica e excêntrica obra-prima, algo como o White Album do Pavement; muitos fãs e críticos o consideram o melhor álbum da banda, e eu concordo com eles. É bom ressaltar que o Pavement havia lançado antes dois outros grandes e influentes discos: Slanted and Enchanted (1992) e o supramencionado Crooked Rain, Crooked Rain, o que só realça o alto nível de Wowee Zowee.
Apesar de ter 18 faixas, o disco é surpreendentemente consistente, ainda que altamente eclético: há o furioso punk "Serpentine Pad" (com os sempre bem-vindos backing vocals insanos de Bob Nastanovich), a divertida "Brinx Job", o grunge melódico "Kennel District" (composta por Scott Kannberg, a.k.a. Spiral Stairs), a simpática "Black Out", a melodia cativante de "AT & T" o excêntrico manifesto "Fight this Generation", a épico de 6 minutos "Half a Canyon"...
Se eu pudesse separar as 6 melhores faixas, elas incluiriam o apaixonante country "Father to a Sister of Thought", o refrão viciante e o belo solo de guitarra de "Rattled by the Rush" (que tem um videoclipe com tantas mudanças de câmera que precisou ser editado para não dar dor de cabeça aos espectadores), a maníaca e eletrizante "Flux = Rad", o ritmo delicioso de "Grave Architecture", o melancólico glam "We Dance" (na qual Stephen Malkmus canta com um falso sotaque britânico que lembra David Bowie e Brett Anderson) e a estonteante balada "Grounded".
Aproveitei a ocasião do 25º aniversário de Wowee Zowee para fazer uma coletânea das minhas 30 músicas favoritas do Pavement:
10 abril 2020
(Resenha em inglês de Let It Be... Naked que publiquei hoje no meu perfil do Album of the Year)
50 years ago, on April 10, 1970, Paul McCartney announced his departure from the Beatles. This date is considered the symbolic end of the band - although Lennon has already announced his departure for the other members shortly after the release of Abbey Road and McCartney's lawsuit for the dissolution of the Beatles' contractual partnership did not take place until December 31, 1970.
Among the many reasons that led to the breakup of The Beatles, an important one was the controversy over the production of Let It Be, an album that the band had recorded in January 1969. The recording sessions (as can be explicitly noted by the eponymous film) were tense, which partly explains why the band chose to record Abbey Road throughout '69 and left Let It Be (at the time still titled Get Back) aside.
It was only in March 1970 that the tapes were handed over to producer Phil Spector (with whom Lennon had recently worked on the single "Instant Karma") to finalize the record. Some questionable decisions made by Spector, in particular the addition of orchestral and choral overdubs to the piano ballad "The Long And Winding Road" (which transformed an originally delicate and melancholic song into overblown), were the last straw for Paul to announce his departure of the Beatles.
Three decades later, Paul McCartney and Neil Aspinall commissioned engineers Paul Hicks, Allen Rouse and Guy Massey to remix Let It Be, giving the album the careful treatment it has long deserved. As its title indicates, the aim is not an George Martin-like production, but simply to better capture the "back-to-roots" spirit intended for the record. Many fans and critics feared that the project was some kind of Paul's revisionism of the history of The Beatles, but the end result is quite satisfactory - and justifiable.
Here are the main changes: 1) the unnecessary comic vignettes "Dig It" and "Maggie Mae" were removed; 2) the excellent "Don't Let Me Down", B-side of the single "Get Back", was included in an unpublished version recorded in the legendary Rooftop Concert, of January 30, 1969; 3) the version of "The Long and Winding Road" was based on the January 31st take (instead of January 26th, used by Spector), which had a better vocal performance and slightly modified lyrics (the verses "Anyway you'll never know / The many ways I've tried" get a little less bitter tone: "Anyway you've always known / The many ways I've tried"); 4) the version of "Across The Universe" is more faithful to the acoustic original recording of February 4, 1968, without the overdubs and speed changes added in the Wildlife and album versions; 5) "Let It Be" has a different guitar solo; 6) tracks like "I've Got A Feeling", "For Your Blue" and "One After 909" are cleaner.
Let it Be... Naked is worthy of being considered the definitive version of the 1970 album; so much so that I bought this CD instead of the original record. If the version produced by Phil Spector was irregular (I would give it an 85 rating), Naked manages to balance a neat production with stripped-down arrangements. I must agree with the Uncut review (nº 70, Nov/2003, p. 137): "the new Let It Be is punchy, full of presence and powerfully involving. What was previously an uneasy mix of medium-grade Beatles treated to glossy overstatement and irreverent editing is now a great little record".
I also liked the new track sequencing, with "Get Back" opening the disc and the title track closing it. Most of the new versions are superior... except for one: "Let It Be" is indeed better than the Spector version, but I slightly prefer the guitar solo of the single version, produced by George Martin.
The album's highlights are "Get Back", "Don't Let Me Down", "Across The Universe", "Let It Be" and "The Long And Winding Road" - all of them classic Beatles songs. Among the less famous tracks the best ones are "Two Of Us" and "I've Got A Feeling".
It can be said, therefore, that with Let It Be... Naked, one of the most tumultuous chapters in The Beatles' history was finally closed in 2003.
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