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Kaio
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26 fevereiro 2014
Ontem foi um ótimo dia.
Eu e Carol acordamos cedo, tomamos café da manhã enquanto assistíamos à série Girls, compramos nossos ingressos para o 2º dia do Lollapalooza (palavras-chave: Pixies e New Order) e pegamos o 435 para ela ir para o UFRJ no Fundão e eu, para a PUC na Gávea.
No ônibus terminei de ler o ensaio "Suplementos à teoria do sofrimento do mundo", um dos melhores de Arthur Schopenhauer. Percebi que ele será mais pertinente do que eu esperava para o trabalho final que vou escrever sobre a compaixão em Schopenhauer.
Assim que cheguei na PUC comprei meu caderno; por sorte achei um da Cambridge, mesma marca de um dos melhores que já tive (o que usei no 1º semestre de 2011, ainda na UnB). Almocei no Spoleto do Shopping da Gávea, e depois fui para a primeira aula de História e Historiografia da Cultura I, matéria obrigatória do mestrado em História Social da Cultura que farei como ouvinte. Ela será bem interessante: uma discussão sobre o conceito moderno de História, inicialmente a partir do verbete "História" do dicionário de conceitos fundamentais organizado por Koselleck e cia. e depois com leituras sobre as transformações da História desde a ênfase ético-política dos renascentistas ("a História como mestra da vida") até a concepção da mesma como processo, teleologia pelos iluministas. A propósito, o professor da disciplina, Marcelo Jasmin, é um dos "culpados" de eu ter vindo fazer pós-graduação no Rio de Janeiro, pois adorei a palestra que ele deu em 2010 na ABCP (a qual foi justamente sobre o tema desta disciplina que farei), e decidi que iria fazer mestrado no ex-IUPERJ e atual IESP/UERJ.
Depois que a aula acabou, fui na livraria Carga Nobre e comprei o livro que será usado nas primeiras aulas, o já mencionado O Conceito de História (Koselleck, Meier, Günther, Odilo Engels). Acabei encontrando duas amigas minhas quando estava saindo da livraria, e ficamos conversando sobre política e economia e relembrando sábado passado, quando fui num bar da Cobal com elas, a Carol e dois amigos nossos. Depois que nos despedimos, fui para a sala dos alunos que fica na secretaria do departamento de História. Fiquei por lá meia hora batendo papo com umas colegas do mestrado, e às 16h desci para a aula de História e Historiografia da Cultura IV, obrigatória do doutorado e ministrada justamente pelo meu orientador, Ricardo Benzaquen. O curso será sobre três autores que eu adoro (e que inclusive usei como base teórica na minha dissertação): Georg Simmel, Max Weber e o jovem Lukács. Durante a aula também conheci os colegas de turma de doutorado que eu ainda não havia conhecido nas reuniões de matrícula (12/2) e de apresentação da pós-graduação em História Social da Cultura (21/2).
Encerrada a aula, finalmente veio a conversa que eu aguardava há mais de dois meses: enfim eu e o Benzaquen falamos sobre a questão dos dois doutorados. Ele sensatamente me recomendou a fazer só um dos dois, e mostrou-se solícito à idéia de ser meu co-orientador, caso eu fique só no IESP. De toda forma, o veredicto será só daqui a duas semanas, quando saírem as cotas de bolsas para os programas de doutorado. Não vejo muitas chances de eu ganhar bolsa CAPES ou CNPq pela PUC, então a tendência é eu preferir fazer Sociologia no IESP/UERJ. Quando as aulas voltarem lá, vou conversar com o César sobre a orientação. De toda forma, o Benzaquen disse que posso continuar fazendo duas disciplinas da PUC que escolhi fazer neste semestre (além da dele, estou fazendo História e Cultura Urbana, com o Antonio Edmilson), pois elas contarão como matérias externas.
Confesso que esta conversa me tranqüilizou bastante, pois desde Dezembro eu estava agoniado com o dilema em decidir qual dos dois doutorados fazer, ou mesmo ter que cursar ambos. Fico feliz que o professor Ricardo esteja me ajudando nisso.
Em torno das 18h30 peguei o 432 que estava saindo da PUC, e terminei de ler outros dois ensaios de Schopenhauer ("Sobre o suicídio" e "Suplementos à doutrina da afirmação e da negação da vontade de viver"), e estou impressionado com o impacto da ética dele sobre mim. Ele está longe de ser o pessimista que muitos apressadamente o rotulam; há um genuíno fundamento ascético em sua filosofia moral, que busca evitar esperanças vãs na vida e desenvolver um auto-conhecimento profundo das limitações e imperfeições inerentes ao ser humano. É claro que o tom dessas considerações é inevitavelmente desiludido e amargo, mas ao mesmo tempo há um efeito quase catártico, parecido com o do cristianismo monástico, em trechos como o seguinte: "Com qualquer tolice, falha, vício humano, deveríamos ser indulgentes, pensando que o que temos diante de nós é somente nossas próprias tolices, falhas e vícios: pois são justamente as falhas da humanidade, a que também nós pertencemos, possuíndo em conseqüência também todas a falhas, mesmo aquelas sobre as quais ora nos indignamos apenas porque justamente agora não se manifestam em nós." (pp. 163-164)
Quando o ônibus estava passando em Copacabana, mandei mensagem avisando a Carol, para que quando ele passasse em Botafogo ela o apanhasse. O plano deu certo - mais ainda porque, segundo ela, o 432 que passou no ponto antes estava lotado, enquanto o que pegamos estava relativamente vazio. Para melhorar, tivemos uma ótima conversa no ônibus.
Chegando em casa, assistimos ao episódio novo de How I Met Your Mother, "Rally". Achei-o muito engraçado, cheio de referências - e desfechos - à mitologia da série: Weekend at Barney's, os desejos ligeiramente lésbicos de Lily por Robin, a bebida anti-ressaca, entre outras. Também gostei de ver mais uma demonstração de maturidade emocional de Barney.
Enfim, estes foram os motivos pelos quais gostei tanto de 25 de Fevereiro.
11 fevereiro 2014
Assisti agora há pouco ao último episódio de Freaks and Geeks, e minha admiração pela série é ainda maior do que a demonstrada no post anterior. É incrível como tanto o roteiro quanto as atuações conseguem transmitir uma notável mescla de seriedade e sensibilidade.
A crise existencial de Lindsay (aliás, sempre interpretada de forma brilhante por Linda Cardellini) é o centro gravitacional de Freaks and Geeks - algo que o último episódio mostra de forma tocante e com um desfecho surpreendente. A série, contudo, também dá um generoso espaço para os demais personagens, chegando ao ponto de praticamente fazer um episódio próprio para cada um deles. Exemplos não faltam: Lindsay procura conhecer outras facetas de seu self para além do estigma de "a melhor aluna da escola"; seu irmão Sam (John Francis Daley) enfrenta as "panelinhas" típicas do ensino médio e mostra um notável senso de moralidade; os "freaks" Daniel (James Franco), Kim (Busy Phillips) e Nick (Jason Segel) lutam contra tanto a baixa auto-estima quanto a subestimação de seus pais e professores; os dramas familiares dos "geeks" Bill (Martin Starr) e Neal (Samm Levine) são comoventes; e mesmo personagens mais fechados como Ken (Seth Rogen) amadureceram bastante ao longo dos 18 episódios.
Por fim, cabe ressaltar o viés "humanista" de F&G: concordo com Todd VanDerWerff quando ele diz que os personagens de Freaks and Geeks são fundamentalmente bons; por mais que cometam erros, estão sempre dispostos a se tornarem pessoas melhores.
Enfim, esta série se tornou uma das minhas favoritas; ouso dizer que é uma genuína coming-of-age story, de um romance de formação em forma de seriado televisivo.
P.S.: Sim, a trilha sonora continua espetacular nos 11 últimos episódios. Para não dar maiores spoilers para quem ainda não viu a série, direi apenas que dois dos capítulos homenageiam The Who e Grateful Dead!
[...]
Hoje viajo para o Rio de Janeiro, pois amanhã é o único dia em que haverá a matrícula do doutorado na PUC. As aulas no IESP, no entanto, só começam em Março; mesmo assim, aproveitarei as próximas semanas para terminar (aliás, começar!) os trabalhos finais de "A Sociologia como Filosofia Moral" (farei um sobre o conceito de compaixão para Schopenhauer) e "A Teoria Estética de Theodor W. Adorno" (analisarei o contexto social e a música da Joy Division a partir do pensamento de Adorno). Também preciso terminar um artigo sobre Mario Vieira de Mello para uma revista, e já estourei meu prazo; estive tão em ritmo de férias (games, TV, internet, ir ao shopping para comprar livros e CDs etc.) que não consegui me concentrar para escrever nada. Espero que, chegando no RJ, eu consiga encontrar a inspiração necessária.
Estas férias estão entre as melhores que tive até hoje, principalmente pelo bom tempo que passei com minha família (tanto os pais e irmãos quanto as visitas aos avós) e pelas três semanas que a Carol esteve comigo (destaque para os quatro dias que passamos em Brasília). Foi uma renovação "de corpo e alma" comparável à de 2008, e coincidentemente em outro ano no qual começo uma nova etapa da minha vida: se seis anos atrás me preparei psicologicamente para a UnB, desta vez me "energizei" para o doutorado.
Tomara que este ano continue tão bom quanto começou!
01 fevereiro 2014
Por enquanto só assisti a 7 dos 18 episódios, mas Freaks and Geeks já é uma das minhas séries favoritas. É o melhor retrato da adolescência que já vi na televisão, pois cumpre aquilo que Skins prometia, mas perdeu o rumo a partir da 3ª temporada: mostrar de forma realista os conflitos existenciais e sociais de seus jovens personagens, oscilando com maestria entre o humor e a catarse.
Outro ponto forte da série são seus protagonistas: Lindsay (Linda Cardellini), uma "geek" que procura se aproximar dos "freaks" e freqüentemente sente o choque entre os dois mundos, mas sempre age com bom coração diante das dificuldades; e seu irmão Sam (John Francis Daley), que está em meio à transição da infância para a puberdade e a cada episódio precisa lidar com as mudanças que o amadurecimento lhe coloca.
A trilha sonora é excelente: a abertura tem "Bad Reputation" (Joan Jett), e ao longo da série tocam bandas como Styx, Cream, Rush e Van Halen. Provavelmente encontrarei ainda mais músicas de qualidade nos episódios que ainda não vi.
O episódio 4 ("Kim Kelly is my friend") é tão visceral ao apresentar a família disfuncional de Kim (Busy Philipps) que na época chegou a ser censurado pela NBC; só foi exibido um ano depois, pela Fox Family, que comprou os direitos da série depois que esta foi precocemente cancelada.
Além de ter Judd Appatow (Girls, Superbad, O Virgem de 40 Anos) como produtor executivo, cabe também mencionar o elenco lendário de Freaks and Geeks, que revelou atores como Linda Cardellini (a Welma de Scooby-Doo), Jason Segel (o Marshall de How I Met Your Mother), Seth Rogen (que fez personagens hilários em filmes como O Virgem de 40 Anos e Superbad), James Franco (o Duende Macabro de Homem-Aranha) e Busy Philipps (a Audrey de Dawson's Creek).
Eis uma boa definição da série feito pelo Todd VandDerWerff, que resenhou todos os episódios no A.V. Club: "The audience that wants the easy-fix excitement of a cop, doctor, or lawyer show has always been larger than the audience that wants something more experimental. This is too bad for Freaks And Geeks, because here’s a show that’s never once met a set of high stakes it could get behind. The high stakes in “Carded And Discarded” are all theoretical—Lindsay might not get into college someday!—or incredibly intimate—Sam and his friends might lose their new friend, Maureen! That makes this the very definition of low-stakes television, complete with a lengthy montage of people setting off model rockets. (You won’t see that on Without A Trace.)"
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