I. Mês a mês
Janeiro: Passei a virada do ano sentado no sofá com a Carol, assistindo ao DVD do show dos Beatles no Shea Stadium. Nos dias seguintes passeamos por Brasília e Goiás Velho. Depois que ela voltou para o Rio, continuamos mantendo contato pelo Skype. Uma das estratégias para amenizar a saudade foi fazer colóquios semanais sobre diversos temas: arquitetura, literatura, lendas do Rei Arthur, filosofia etc. No último dia do mês, finalmente venci o Champions Tournament de Pokémon Black 2. Passei mais de três semanas tentando, acumulei dezenas de derrotas, mas enfim superei o desafio ao vencer Wallace (campeão da Liga em Pokémon Emerald) na final.
Fevereiro: Um dos destaques do mês foi a leitura de O Humanista (Mario Vieira de Mello), um dos maiores - e menos conhecidos - pensadores brasileiros do Século XX. Gostei tanto dessa obra que meses depois apresentei um trabalho sobre ele num congresso acadêmico. Na madrugada do dia 3, após horas tentando baixá-lo, finalmente ouvi o 3º disco do My Bloody Valentine (mais sobre ele daqui a pouco!). Além dos colóquios via Skype com a Carolina, passei boa parte do mês assistindo às novas temporadas de Community e Girls. Terminei de ler A Teoria do Romance (Lukács), obra importante para o desenvolvimento do meu trabalho final de Teoria Sociológica II. Por fim, passei pelo último desafio de Pokémon Black 2: os 10 andares da Black Tower.
Março: A ansiedade em relação a onde eu moraria em 2013 finalmente chegou a um desfecho: a Carol visitou um bom quarto em Copacabana, e no mesmo dia minha mãe ligou para a dona do apartamento para confirmar. Voltei no dia 7 para o Rio, e terminei os três trabalhos finais a tempo - embora com um pouquinho de emoção (leia-se: imprimir na Xerox faltando 5 minutos para ela fechar). Finalmente comprei e li o excelente Saudades do Carnaval: Introdução à crise da cultura (José Guilherme Merquior); aliás, boa parte da leitura se deu em Saquarema, cidade para a qual eu, Carolina, a irmã e dois amigos dela viajamos. Foi uma boa viagem, com direito a fondue de carne e uma épica partida de War.
Abril: No dia 2 assisti a uma palestra de Luiz Felipe Pondé na PUC-Rio. Gostei dela, mas desde então meu interesse por Pondé diminuiu; confesso que estou frustrado com a auto-vulgarização pela qual ele vem passando. Creio que o jeito cínico dele já não me diverte mais...
Dois dias depois eu e minha namorada comemoramos nosso aniversário de namoro de uma forma bem especial: assistindo ao show do The Cure no HSBC Arena. Foi uma apresentação longa, com quarenta músicas em três horas; portanto, a banda fez justiça à sua enorme história (e discografia). Não faltaram clássicos: "Lovesong", "Lullaby", "A Forest", "The Walk", "Killing an Arab" etc. Dia 8 foi aniversário da Carolina; comemoramos no dia anterior, junto com os amigos dela, no Outback.
Ainda neste mês assisti a alguns jogos da Libertadores com outros palmeirenses em um bar de Botafogo; foi uma boa experiência, infelizmente interrompida semanas depois com a eliminação do Palmeiras nas oitavas-de-final. No dia 28 terminei de ler Os Buddenbrooks (Thomas Mann), um belo, monumental - e, por vezes, irônico - romance sobre as quatro gerações de uma família que "decai" do espírito comercial para a sensibilidade artística.
Maio: Comecei o mês com febre, pela 1ª vez em muito tempo; porém, recuperei-me rapidamente. No dia 6 começou o estágio-docência, no qual dei aulas de Sociologia I para calouros de História da UERJ, junto com meus amigos Hugo e Fernando. Ao longo do semestre fiquei responsável pelas aulas sobre Max Weber, Nietzsche, Alexis de Tocqueville e Norbert Elias; aproveitei para dar uma sobre A Ideologia Alemã (Marx) e outra sobre a história político-partidária e acadêmica do marxismo. Foi uma ótima experiência docente.
No dia 14 baixei e ouvi o 4º disco do Daft Punk, Random Access Memories; mais detalhes em II. Os melhores discos.
Fui a uma palestra sobre Chesterton na UFF e conheci vários conservadores cariocas; passei o dia inteiro conversando com eles. Voltei a ler Mario Vieira de Mello (Desenvolvimento e Cultura) para começar a preparar o trabalho sobre ele que eu iria apresentar em Agosto no III Fórum Brasileiro de Ciência Política; porém, a principal leitura do mês foi Uma História Filosófica da Sociologia Alemã, do meu professor Frédéric Vandenberghe.
No dia 24 fui ao churrasco dos pós-graduandos do IESP; não foi tão bom quanto a edição 2012, mas pelo menos tive boas conversas, comi bem e vi a final da Champions - Bayern 2x1 Borussia.
Junho: Apresentei em Porto Alegre, no V Seminário Nacional de Ciência Política, um trabalho sobre O Pensamento Conservador nas Considerações de um Apolítico de Thomas Mann. Aliás, os dois dias que passei na capital gaúcha foram ótimos; fiquei hospedado em um hostel bem legal e aproveitei para ir nas apresentações de graduandos na Semana da Filosofia que estava acontecendo na UFRGS.
Não fui em nenhuma manifestação; ignorei-as solenemente. Só me "manifestei" com choque diante do infernal dia 20 de Junho, que encerrou prematuramente a euforia em torno dos protestos. No mesmo dia fui com a Carol assistir ao jogo Espanha 10x0 Taiti no Maracanã, e demos sorte de voltar cedo para casa, pois poucos minutos depois o clima esquentou no centro do Rio. No mês mais politizado dos últimos anos, portei-me como um esteta (e um entusiasta de futebol, afinal me empolguei bastante com a Copa das Confederações; aliás, o desempenho do Brasil de Felipão foi uma grata surpresa).
Comemorei meu aniversário com minha namorada e alguns amigos numa pizzaria de Vila Isabel; ganhei da Carol - e me dei de presente - vários livros:
Julho: Um artigo meu sobre o mito de Fausto - e como foi representado na tragédia de Marlowe - foi publicado na 13ª edição da Revista Tempo de Conquista. Terminei de escrevê-lo no início da estadia de minha mãe e meus irmãos no Rio de Janeiro. Foram quatro dias regados a muita comida, muitos passeios e até uma inédita ida à praia, onde minha mãe tirou uma foto divertida na qual estou lendo outra obra do Merquior, O Marxismo Ocidental:
Antes de viajar para Brasília no dia 22, terminei em cima do prazo um artigo sobre Adorno e Thomas Mann que tinha uma dupla finalidade: ser meu trabalho final de Poéticas da Modernidade (matéria sobre Lukács, Benjamin e Adorno que fiz no 1º semestre) e minha contribuição para o I Simpósio de Estética e Filosofia da Música, que seria realizado meses depois (aliás, a deadline se refere a este motivo, pois eu tinha que terminá-lo até 20/7).
Na capital federal participei pela 4ª vez do "RPG legislativo", o Politéia. Fiz meu melhor projeto de lei - sobre uma reforma curricular para o Ensino Médio - e debati-o intensamente com meu relator (a ponto de fazê-lo mudar de parecer, com as devidas alterações sugeridas por ele), mas infelizmente ele não foi apreciado no Plenário. A discussão sobre o "PL da maconha" foi demorada, e para piorar uns deputados idiotas da bancada conservadora queriam derrubar o quórum quando viram que seriam derrotados na votação. Fiquei indignado com esse episódio e cheguei a chorar. Felizmente minha estadia em Brasília teve muitos bons momentos para compensar este; por exemplo, a manhã que passei no Sebinho e os passeios com meus amigos, tanto os do Politéia quanto com a Janaína.
Agosto: No último dia do mês anterior viajei para Curitiba, para participar do supracitado III FBCP, onde apresentei meu artigo Humanismo e Liberdade no Pensamento Político de Mario Vieira de Mello. Fiquei hospedado na casa da filha mais velha do meu padrasto; ela, seu marido e seus filhos foram extremamente gentis comigo nos dias que fiquei na cidade. Nos intervalos do Fórum aproveitei para fazer uma excursão pelos sebos de Curitiba; comprei vários livros, dentre eles mais um do Merquior (Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin) e As Sociologias de Georg Simmel (Frédéric Vandenberghe) - além de uma enciclopédia de Samurai X para a Carol.
A descoberta musical do mês foi o novo disco do Franz Ferdinand, sobre o qual falarei mais adiante.
Passei alguns dias em Goiânia antes de voltar para o Rio; foram dias bem tranqüilos, antecedendo a maratona acadêmica na qual entrei a partir de minha volta para o RJ, no dia 12. Aproveitei o trabalho final de Teoria Sociológica III para adiantar os capítulos que faltavam para a dissertação de mestrado. Comecei três disciplinas, nenhuma delas contando créditos - afinal eu já tinha cumprido o mínimo de 9 matérias no semestre anterior: A Teoria Estética de Theodor W. Adorno (professor Marcus Motta), A Sociologia como Filosofia Moral (prof. Vandenberghe) e História e Historiografia da Cultura II (prof. Benzaquen; esta fiz como ouvinte). Coincidentemente ou não, as três matérias eram com os professores que eu pretendia que fossem meus orientadores nos três processos seletivos de doutorado que eu tentei: Letras/UERJ, Sociologia do IESP/UERJ e História da PUC-Rio, respectivamente.
No último dia de Agosto eu e minha namorada fomos na Bienal, realizada na Barra da Tijuca. Apesar de passar muitas horas em ônibus ou em filas, valeu a pena, pois comprei sete livros por preços extremamente razoáveis, dentre eles Dostoiévski: Filosofia, Romance e Experiência Religiosa (Luigi Pareyson), Arte e Sociedade (Lukács) e Estio do Tempo: Romantismo e Estética Moderna (Pedro Duarte).
Assisti bastante à MTV Brasil em seu último mês de existência. Poucas vezes um canal se despediu de forma tão digna; a MTV deu um salto qualitativo em seus momentos finais, mesclando programas de comédia repletos de auto-deboche e reprises de programas antigos.
No dia 16 comecei meu segundo estágio-docência, desta vez em Sociologia Geral para uma turma de Psicologia, na companhia de meu amigo Filipe. Foi até melhor que o anterior, pois montamos uma ementa que continha temas mais afins à minha pesquisa; dei aulas sobre Simmel, Weber, Marx, Freud, Marcuse, Lukács, Merquior, Thomas Mann e, por fim, Neon Genesis Evangelion!
Outubro: Revisei minha dissertação, que ficou com 123 páginas. Como eu tinha que viajar para Porto Alegre no dia 16 pela manhã, a Carol a imprimiu e deixou na secretaria para o professor César pegá-la. Na semana seguinte ele terminou de (re)lê-la e marcamos a data da defesa: 18 de Novembro. Mais detalhes neste post.
Em Porto Alegre fui ao I Simpósio de Estética e Filosofia da Música. Fiz novos colegas, assisti a palestras bem interessantes e apresentei o meu artigo sobre Adorno e Mann. Novamente contei com a hospitalidade do meu amigo Pedro, e mais uma vez aproveitei para comprar vários livros; o melhor deles foi O Homem sem Qualidades (Robert Musil).
Infelizmente não passei na seleção de Letras, o que me deixou meio desanimado; por outro lado, das três opções era a que eu menos queria, então passei a me focar totalmente nos processos seletivos de História e Sociologia.
Novembro: Em meio à ansiedade pré-seleções, fui a São Paulo com a Carol para o Planeta Terra, onde assistimos a um incrível show do Blur. O relato completo desta ótima viagem está neste post.
No dia 18 ocorreu a minha defesa da dissertação. Foi curta, mas decisiva: os comentários e críticas dos professores da banca me ajudaram bastante a preparar meu projeto da PUC (tendo o Benzaquen como orientador) e minha carta de intenções do IESP (mantive o César como mastermind).
Passei boa parte do mês - e, como podem notar, do ano - escrevendo e lendo textos estritamente ligados ao que eu precisava escrever. Estive bastante angustiado, mas felizmente consegui inspiração e terminei tudo dentro do prazo. Agora era esperar as próximas etapas...
Dezembro: ... e colher bons frutos de meu exaustivo esforço acadêmico de 2013. Meu projeto e minha carta de intenções foram selecionados, e após uma extensa preparação consegui ir bem em ambas as entrevistas. No dia 9 soube de minha aprovação na PUC, e quatro dias depois, no IESP/UERJ. Como passei em 2º lugar em Sociologia, conseguirei bolsa; em História passei apenas em 6º, mas pelo menos por enquanto não quero abrir mão da orientação do Benzaquen. Em 2014 tentarei conciliar os dois doutorados, mas se realmente for difícil conciliá-los, terei que trancar o da PUC e me dedicar exclusivamente ao do IESP.
De toda forma, meus planos para 2013 foram alcançados: passei no doutorado, me aproximei mais de minha família (algo me diz que minha migração ideológica para o conservadorismo tem algo a ver com isso, rs) e meu namoro com a Carolina está cada vez melhor (ela foi um enorme apoio emocional e intelectual para mim neste ano, e espero também tê-lo sido para ela). Queria ter lido mais, mas isso fica como meta para o ano que vem, rs.
Passei o Natal em Goiânia e ganhei da minha mãe um Nintendo 3DS e o game Pokémon X - o qual já estou jogando compulsivamente; da Carol, um aparelho de som da Philips; de mim mesmo, quatro livros da É Realizações: Razão do Poema (Merquior), A Era de T.S. Eliot (Russell Kirk), Como Ouvir e Entender Música (Aaron Copland) e A Política da Prudência (Kirk). Minha namorada veio para cá no dia 27, para passar o Ano Novo - e parte das férias - comigo.
II. Os melhores discos do ano
5. The Next Day (David Bowie): o camaleão voltou, dez anos depois, com um disco digno de comparação com seus anos de ouro (1969-1983). Nostalgia e melancolia se mesclam em canções maravilhosas como "The Stars (Are Out Tonight)", "Love Is Lost" e "Where Are We Now?".
4. Bloodsports (Suede): outro retorno triunfal, desta vez de uma das melhores bandas britânicas da década de 90. Brett Anderson e cia. produziram um disco que, como bem notaram alguns críticos, soa como o intermediário que faltava entre o art-rock trágico de Dog Man Star (1994) e o pop alegre e hedonista de Coming Up (1996). Minhas prediletas são "Hit Me", "It Starts And Ends With You" e "Barriers".
3. Random Access Memories (Daft Punk): quem poderia imaginar que o duo francês voltaria com um álbum tão redondo como este? Após o experimental mas irregular Human After All (2005), eu não esperava que o Daft Punk poderia renascer de forma tão brilhante. A banda soa mais pop do que nunca em "Get Lucky" e "Lose Yourself To Dance", começa o disco em grande estilo com "Give Life Back To Music", homenageia um ídolo da disco em "Giorgio by Moroder" e relembra a sonoridade mais eletrônica de seus primeiros trabalhos em "Contact".
2. Right Thoughts, Right Words, Right Action (Franz Ferdinand): o quarteto escocês mantém o alto nível de sua discografia com um disco menos conceitual que seu antecessor Tonight, mas tão urgente quanto o debut de 2004. A tradição do FF de canções dançantes se mantém com "Right Action" e "Love Illumination"; outras faixas de destaque são a profana "Evil Eye", o romance contado do break-up ao início em "The Universe Expanded" e uma bela reflexão sobre a finitude em "Fresh Strawberries".
1. mbv (My Bloody Valentine): como puderam perceber, 4 dos 5 discos da minha lista são de bandas que não lançavam álbuns há um bom tempo. O recorde fica com o My Bloody Valentine, cujo último lançamento havia sido em 1991 - a obra-prima Loveless. Vinte e dois anos depois, Kevin Shields finalmente concluiu o sucessor daquele grande trabalho, e o resultado é sensacional. mbv, em suas três primeiras faixas (principalmente na viciante "Only Tomorrow"), dá continuidade à estética de Loveless; as canções intermediárias "If I Am" e "New You" apostam em uma sonoridade mais fleumática e menos distorcida; o terço final do disco é mais experimental, como demonstram o ritmo impulsivo de "In Another Way" e a peculiar "Wonder 2".
Menção honrosa: Reflektor (Arcade Fire), um disco ousado e surpreendente.