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17 maio 2022

Desenvolvimento e Cultura: nova edição, posfácio, transcrição

Foi relançado Desenvolvimento e Cultura (Mario Vieira de Mello), um dos melhores ensaios filosóficos produzidos no Brasil no século XX. A republicação das obras deste autor está sendo coordenada por Martim Vasques da Cunha, e ele me convidou para escrever um dos posfácios da nova edição.

Amanhã à noite, ocorrerá em São Paulo (SP) o evento de (re)lançamento deste livro. Para mais detalhes, acessem este link. Além das palestras de Martim Vasques e de Maria Elvira Mello, filha do autor, serão exibidos vídeos que eu e os autores dos outros dois posfácios gravamos, nos quais comentamos o impacto de Vieira de Mello em nossas formações. 

Transcrevo abaixo o conteúdo do meu vídeo:

O primeiro livro do Mario Vieira de Mello que eu li foi “O Humanista”, em fevereiro de 2013, e foi uma leitura tão instigante que, um mês depois, resolvi escrever um trabalho acadêmico na área de Pensamento Político Brasileiro sobre esta obra e outras duas que li ainda naquele semestre: “O Cidadão” e o próprio “Desenvolvimento e Cultura”.

Este trabalho foi concluído em junho de 2013 e apresentado em um fórum de Ciência Política dois meses depois, em Curitiba. É ele que serve de base para este posfácio.

Eu diria que há dois aspectos nos quais a obra do Mario Vieira de Mello mais impactou minha formação. O primeiro é pelas próprias temáticas com que ele lidou, principalmente os temas do humanismo e da liberdade interior, que eram questões que já me interessavam desde a época que estudei Thomas Mann – fiz uma monografia sobre “A Montanha Mágica” e uma dissertação de mestrado sobre “Doutor Fausto”. São preocupações que continuaram na minha pesquisa posterior sobre José Guilherme Merquior.

O segundo aspecto se refere ao fato de que Mario Vieira de Mello foi o ponto de partida para eu estudar outros autores ligados ao Pensamento Político e Filosófico Brasileiro, e o principal deles é justamente o Merquior, sobre o qual eu desenvolvo uma pesquisa desde 2014 e escrevi minha tese de doutorado sobre ele, em 2018.

A propósito, há certo diálogo entre estes dois pensadores de carreira diplomática: em “Saudades do Carnaval”, Merquior estabelece uma interlocução com “Desenvolvimento e Cultura”. É verdade que ambos foram para direções diferentes para lidar com essas questões: Mario Vieira, mais para a direção da ética e Merquior, para a da sociologia da cultura e da teoria política. De qualquer maneira, há uma preocupação comum em de alguma maneira resgatar o ideal da formação humanista e valorizar uma concepção da liberdade enquanto autorrealização, enquanto auto-cultivo. Merquior encontrará isso mais na tradição alemã da Bildung, e Vieira de Mello, na concepção grega de Paidéia.

Eu fico bastante feliz que a obra dele esteja sendo relançada pela É Realizações. Talvez isso possa permitir que outras pessoas descubram a obra dele; é um autor muito interessante que ainda é conhecido por poucos, e a leitura de seus livros, assim como o engajamento nas discussões que ele trata, quem sabe pode trazer uma melhora no nível do debate cultural, político e filosófico no Brasil.

Agradeço ao Martim Vasques da Cunha pelo convite tanto para escrever este posfácio quanto para gravar este vídeo, e desejo a vocês um ótimo evento. Boa noite!