04 julho 2019
Mal poderia imaginar que justamente a seleção cujo jogo eu vi no Maracanã, 2 semanas atrás, iria voltar ao estádio no próximo domingo para jogar a final contra os donos da casa!
Pois é. Contra todos os prognósticos, o Peru está na final da Copa América. Pelo visto a dura goleada sofrida para o Brasil na 3ª rodada da 1ª fase "acordou" a seleção peruana. Primeiro, nas quartas-de-final, anulou o poderoso ataque uruguaio com uma forte retranca e venceu nos pênaltis - sendo que o goleiro Gallese pegou a cobrança de ninguém menos que Suárez. Na semifinal contra o Chile, impõs forte ritmo já nos primeiros minutos, abriu o placar aos 20 e antes do intervalo aproveitou falha bisonha do goleiro chileno para sair com 2x0 no placar. No fim do jogo, após um 2º tempo impecável de Gallese, o capitão Guerrero fez o 3º gol; antes do fim do jogo o goleiro peruano ainda defendeu um pênalti: uma cavadinha batida com desleixo por Vargas, aumentando o já enorme constrangimento chileno. Foram de salto alto para a semifinal e terminaram sendo derrotados de forma contundente. Engraçado lembrar que, no início da competição, os chilenos diziam que, como atuais bicampeões continentais, já estavam credenciados a considerar Argentina e Uruguai como rivais; que tenham sido abatidos pela sua verdadeira nêmesis no futebol, o Peru (a propósito, leiam esta matéria do Trivela sobre essa rivalidade), é um choque de realidade daqueles.
Ricardo Gareca de fato conseguiu um feito à altura da classificação para a Copa do Mundo após 36 anos: levou o Peru para sua 1ª final de Copa América desde 1975; aliás, naquela edição a seleção andina foi campeã após eliminar justamente o Brasil nas semifinais. Tal confronto também marcou a última derrota verde-amarela em jogo eliminatório contra equipes sul-americanas jogando como anfitrião. Ou seja, os peruanos acabaram de derrubar um tabu e agora tentarão outro.
A propósito, as fotos que acompanham esse post são do jogo Peru 3x1 Bolívia, pela 2ª rodada da Copa América. Diverti-me bastante ao acompanhar a animada torcida peruana desde o metrô (foto 1) até a entrada do Maracanã (foto 2). Durante o 1º tempo um dos torcedores que estava perto de mim (foto 4) era daqueles bem fanáticos e elétricos, que cantam e pulam o tempo todo; toda vez que o Peru errava um ataque (e quando levou o gol boliviano) ele ficava furioso, rs. No 2º tempo mudei de lugar para ter uma visibilidade melhor, já que os times trocaram de lado. Os peruanos ao meu lado (foto 5) comemoraram bastante a virada e o 3º gol. Não sei quanto às demais torcidas sul-americanas, mas pelo menos a peruana achei bem carismática.
Por sua vez, o Brasil também avança à final após uma boa exibição na semifinal. Despachou a Argentina, num jogo marcado por grandes atuações de Gabriel Jesus (que enfim marcou um gol em competições pela seleção brasileira, após 9 jogos de tabu, e ainda correu 70m, driblou vários argentinos e tocou para Firmino marcar o 2º gol), Daniel Alves (liderou a equipe e ainda deu o chapéu e o passe que originaram o 1º gol) e Alisson (impressionou, p.ex., a segurança dele ao pegar uma cobrança de falta de Messi).
A defesa brasileira continua segura (ainda não tomou gols no torneio), e resistiu às forte investidas da Argentina. A Albiceleste, aliás, fez seu melhor jogo na Copa América, tanto na postura aguerrida quanto nas fartas chances de gol (teve bola na trave, no travessão e defesas difíceis de Alisson), mas continua apresentando limitações técnicas, principalmente no setor defensivo. Messi fez uma ótima partida (deu muito trabalho para Casemiro, num duelo com requintes de Real x Barça, mas o mesmo não se pode dizer dos outros dois veteranos, Agüero e Di María. Resta saber se o técnico Scaloni será mantido no cargo ou se AFA buscará um dos vários bons técnicos argentinos espalhados pelos times europeus (ou mesmo em seleções vizinhas, como o Peru). Quem sabe um bom desempenho na disputa pelo 3º lugar contra o Chile - sim, pela 3ª edição seguida do torneio teremos o embate entre argentinos e chilenos, mas dessa vez não será na final - possa segurá-lo no cargo.
Ainda sobre o Brasil, a equipe oscilou ao longo da competição: teve trabalho contra retrancas (Venezuela e Paraguai), mas foi bem contra equipes de perfil mais ofensivo (Peru e Argentina), pois Tite pôde jogar no seu estilo favorito: fazer 1x0 cedo e segurar o placar até encaixar um (ou mais) contra-ataque(s). Ajuda o fato de que enfim a dupla de ataque Jesus & Firmino desencantou, o que permite combinar a segurança defensiva com criatividade dos atacantes (e subidas dos laterais, no caso de Daniel Alves); foi a receita de sucesso de Parreira em 1994, e Tite parece querer se espelhar nesse modelo, tal como já havia esboçado em 2018. Resta saber se o Peru que enfrentará no domingo terá o mesmo estilo propositivo e agressivo que mostrou contra Brasil e Chile, com resultados bem diferentes, ou se será tão defensivo e cauteloso quanto foi contra o Uruguai. Tendo a achar que será a segunda opção, e é bom que a equipe brasileira esteja preparada para furar essa possível retranca.
A seleção brasileira é favorita para ganhar sua 9ª Copa América (a 5ª em casa), mas não pode ter a mesma postura arrogante do Chile, do contrário teremos, como bem definiu um tweet do Impedimento, "uma cruza de Maracanazo com Milagre de Berna: bater o Brasil no Rio + superar um time de quem foi goleado impiedosamente na primeira fase".
ESTADOS UNIDOS X HOLANDA NA FINAL DA COPA DO MUNDO FEMININA 2019
Após duas finais antecipadas contra França e Inglaterra, ambas vencidas por 2x1, as americanas enfrentarão as holandesas em sua busca pelo tetra. A campanha sem sobressaltos da seleção dos EUA (no máximo teve algum trabalho para vencer a Espanha nas oitavas-de-final) mostra que a longeva superioridade de sua equipe no futebol feminino continua. O triunfo sobre as inglesas foi especialmente delicioso, considerando que foi às vésperas do aniversário da Independência dos Estados Unidos (que é hoje), e teve até comemoração debochada de Alex Morgan, fingindo tomar chá (em alusão à Tea Party, de 1773, protesto que acirrou as tensões que levariam à Revolução Americana, três anos depois), o que gerou enorme polêmica entre os ingleses - tanto as jogadoras quanto, é claro, a imprensa local (sobre isso, leiam esta thread).
A Holanda terá que fazer uma partida impecável para barrar as pretensões americanas. Mesmo que tenha pego um chaveamento relativamente mais acessível que o de sua adversária na final (exceto, talvez, pelo duelo complicado contra o Japão, também nas oitavas); o desempenho das holandesas ao longo da competição foi consistente, com vitórias em todos os jogos, sendo que a última, contra a Suécia (que vinha embalada após surpreender a favorita Alemanha nas quartas, de virada), veio só na prorrogação, em uma partida bem equilibrada.
Faz sentido que a melhor seleção da América enfrente a atual campeã da Europa na final da Copa do Mundo. Os EUA teoricamente têm um time melhor, ainda mais se Rapinoe se recuperar de lesão a tempo da final; mas, quem sabe a Holanda se supera e consegue ganhar sua 1ª Copa do Mundo feminina e, com isso, alcançar algo que a seleção masculina do país ainda não conseguiu (aliás, bateu na trave três vezes - uma delas literalmente, nos acréscimos da final de 1978).