02 agosto 2015
Com um dia de atraso, completo hoje a retrospectiva "biobibliográfica" de Racio Símio.
Antes, uma recapitulação: nos cinco anos em que mais escrevi no blog (afinal 2/3 d0s 803 posts foram escritos entre 2005 e 2009), o tom dos posts era predominantemente intimista. Racio Símio era meu diário, mas também o lugar em que eu "filosofava", expunha minha agonia e meu êxtase e discutia de forma bastante impressionista sobre literatura, música e cultura pop.
A partir de 2010 o blog começou a mudar um pouco. Comecei, por exemplo, a postar fichamentos e resumos das reuniões do projeto de extensão que criei naquele ano, o grupo Estudos Humanistas (GEH). A quantidade de postagens caiu, mas felizmente a qualidade subiu: os textos, quando vinham, eram mais elaborados. Mesmo os "desabafos" não tinham aquela puerilidade tão recorrente nos posts de 2005 e 2006. Sinal de amadurecimento, mas também de adaptação do blog a uma fase da minha vida em que eu não era mais tão solitário (e misantrópico): primeiro em Brasília com os amigos da UnB (principalmente os dos Estudos Humanistas) e depois no Rio com minha namorada e os amigos liberais e os do IESP, eu passei a ter com quem compartilhar meus pensamentos, dúvidas, angústias e idéias aleatórias. Sendo assim, não precisava mais ficar "falando sozinho" (ou para um público anônimo e difuso) aqui no blog. Não quero dizer com isso que passei a valorizá-lo menos; apenas me tornei mais seletivo com os conteúdos que postava aqui.
Prossigamos, portanto, com a jornada da obra e do autor.
Em 2010 tive as melhores férias de verão dos quatro anos que morei em Brasília (e uma das melhores da minha vida). Durante dois meses minha rotina semanal consistia basicamente em ter aulas de Crítica Literária de manhã e Francês de tarde (além de reuniões semanais do PET-POL); no tempo livre, comecei a sair para mais festas (chegou-se a um ponto em que eu era o "conselheiro de baladas" dos meus amigos, rs) e, como já foi dito acima, me reunia com o pessoal do GEH. Alguns posts representativos daquele ano excelente são: The Kaio's Vida Noturna, Auf Achse, Karamazov - parte 2, Cinco anos! - parte 2, Days of Our Lives e 2010 is over. Ah, e foi naquelas férias que assisti pela 1ª vez a Neon Genesis Evangelion, o meu anime favorito (ao lado de Os Cavaleiros do Zodíaco). Em Janeiro escrevi um post com minhas impressões imediatas, e meses depois, já pelos Estudos Humanistas, fizemos uma reunião sobre EVA. Ambas anotações seriam a base para um artigo acadêmico que eu escreveria dois anos depois. 2010 foi um dos anos mais politizados da minha vida: participei ativamente do movimento anti-greve estudantil e representei a Aliança pela Liberdade no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Também foi um ano bem musical: discotequei em algumas festas, conheci bandas novas (obs.: embora o "essencial" do meu gosto musical tenha sido formado em 2005, de vez em quando ele expande um pouco - ainda que mais horizontalmente do que verticalmente, rs) e em Novembro tive um fim de semana incrível em São Paulo, no qual fui pela 1ª vez ao festival Planeta Terra e assisti a um show de Paul McCartney. Por fim, embora tenha sido em 2009 que defini o tema da minha monografia (os debates político-ideológicos no romance A Montanha Mágica, de Thomas Mann), foi no ano seguinte que escrevi meu primeiro artigo sobre este livro; eis uma versão preliminar dele.
2011 manteve as "good vibrations" do ano anterior, embora com um adendo significativo: era meu último ano de UnB. Dando prosseguimento a algo que eu já fizera no 2º/2010 (quando cursei Introdução à Teoria da Literatura e Evolução das Idéias Econômicas e Sociais) peguei várias matérias em outros departamentos (História das Idéias - aliás, eis meu ensaio final para uma inusitada disciplina sobre a Geração Beat e a contracultura -, Estética, Teoria da História, Filosofia da Arte etc.) para aproveitar ao máximo meus últimos meses de graduação; eis um relato singelo sobre esse objetivo. Nesse sentido, também escrevi um texto refletindo sobre a importância de uma formação generalista. O projeto Estudos Humanistas seguiu adiante, e além de colóquios, grupos de estudos e atividades em escolas de ensino médio organizamos várias palestras, dentre elas uma dos professores Kramer e Paim sobre o Liberalismo que lotou o auditório Joaquim Nabuco. Por uma ironia do destino (ou predestinação), estou estudando atualmente o autor homenageado naquela conferência: José Guilherme Merquior... Os meses de Setembro e Outubro (em dois posts) foram os melhores daquele ano, concentrando os maiores e melhores acontecimentos: a viagem ao Rio de Janeiro para a seleção de mestrado do IESP/UERJ; a aprovação nesta seleção; as várias (e ótimas) festas em que fui; as novas amizades; a vitória da Aliança pela Liberdade nas eleições de DCE; e, por fim, a defesa da monografia sobre A Montanha Mágica. No início de Novembro ainda fui a mais um ótimo Planeta Terra.
2012 tinha tudo para dar errado. Não só por motivos concretos (afinal eu estava me mudando para o Rio de Janeiro e iria morar num quarto de uma pseudo-república, dividindo o apartamento com uma família - e sem poder usar a cozinha!), mas também por razões "místicas" (eu tinha uma teoria de que dois anos empolgantes eram seguidos por um ano difícil, complicado - ex.: 2004 e 2005 bons, 2006 ruim, 2007 e 2008 bons, 2009 ruim, 2010 e 2011 bons...). Durante o 1º semestre a escrita estava se mantendo: após uma aproximação do cristianismo, entrei em uma crise de fé; tive dificuldades financeiras, principalmente em Maio e Junho; durante dois meses e meio estive em um namoro à distância que foi bastante turbulento; não conseguia encontrar um orientador no IESP (e os dois melhores professores estavam de saída para a PUC); após um início promissor, comecei a me distanciar um pouco da maioria dos meus colegas de turma. Eu estava me sentindo num abismo. As férias daquele ano, contudo, começaram a quebrar a "maldição": o Politeia 2012 foi talvez a melhor edição desse "RPG legislativo" da qual participei; até a festa de encerramento foi muito boa. No dia 10 de Agosto, na última balada na qual fui antes da volta às aulas, conheci a minha namorada. Consegui um orientador. Mudei um pouco de posição político-ideológica: deixei de ser libertário e me tornei um liberal-conservador. Entrei em uma fase academicamente bem prolífica, com direito a um artigo sobre a questão do niilismo segundo meus dois romancistas favoritos. Fui a uma edição do Planeta Terra na qual tocou Suede, uma das minhas bandas prediletas. Em Novembro viajei com a Carolina para Petrópolis e fomos a um show dos Titãs (aliás, ela virou minha companheira de shows, pois antes mesmo de "oficializarmos" o namoro assistimos a uma performance da Plebe Rude).
2013 foi marcado pela ansiedade em relação à seleção de doutorado - dentre outros motivos, porque ela determinaria minha permanência no Rio de Janeiro. Mesmo assim, foi um ano bem produtivo do ponto de vista acadêmico (escrevi e publiquei vários artigos), e "turístico" (viajei pelo Brasil inteiro para ir a congressos em cidades como Porto Alegre e Curitiba), além de ótimo na vida afetiva (o namoro com a Carol só melhorava com o tempo). Estava, contudo, tão atribulado com a dissertação de mestrado que, tal como em 2009 (mas por motivos bem diferentes, é claro), fiquei três meses sem escrever no blog. Dentre as principais contribuições estão: uma lembrança do show do New Order que acabou se tornando um retrato de minha angústia pré-seleções de doutorado; a longa e inesquecível performance do The Cure no Rio; meu relato do tão aguardado show do Blur no Planeta Terra; e, é claro, a tradicional retrospectiva de fim de ano.
2014 foi um ano mais complicado. Após um início tranqüilo, com direito a textos sobre o seriado Freaks and Geeks e o último episódio de How I Met Your Mother, percebi que era bem pesado fazer dois doutorados (Sociologia no IESP e História ns PUC) ao mesmo tempo; essa dupla jornada me deixou bem cansado, principalmente no 2º semestre. No fim do ano acabei trancando (na verdade, pedindo afastamento) o da PUC. Atualizei pouco o blog, e mesmo o post de 31/12 foi bem sucinto; além disso, há dois posts inacabados que mostram como eu não consegui me organizar bem para escrever aqui: um relato do Lollapalooza e um roteiro de temáticas relativas aos meses de Agosto e Setembro sobre as quais eu iria escrever. O único momento do ano em que publiquei bastante foi entre Junho e Julho, graças à espetacular Copa do Mundo: eis todas as análises que fiz da "Copa das Copas". Em compensação, não escrevi nada aqui sobre as eleições presidenciais; em compensação, postei freneticamente no meu Twitter durante aqueles dramáticos três meses.
Em 2015, após três anos morando em quartos e repúblicas, finalmente comecei a dividir apartamento com um amigo, no Catete/Flamengo. Essa "estabilidade imobiliária" me ajudou em vários âmbitos da minha vida: estudos, alimentação, entretenimento (p.ex., estou ouvindo mais CDs), namoro (inclusive porque agora moro mais perto da Carolina - dá até para ir a pé até Botafogo!) etc. Escrevi pouco em Racio Símio; na escassa produção deste ano, os destaques são um post consternado com a decadência das universidades brasileiras, um de aniversário falando sobre minha "evolução" nos últimos 5 anos e três posts de temática musical: um sobre Pavement, outro sobre o Lollapalooza 2015 - que, desta vez, acompanhei pela TV - e, por fim, um mais reflexivo sobre XTC.
À guisa de conclusão, espero que este blog sobreviva pelo menos mais dez anos para que eu possa escrever outra retrospectiva como essa. Foi muito prazeroso relembrar tantas estórias!