Não fui ao Lollapalooza desse ano, mas assisti a vários shows pelos canais Multishow e Bis; aliás, ótima cobertura, a qualidade de som e imagem estava muito boa - o único ponto fraco foi o pedantismo dos comentários do Rodrigo Pinto entre os shows.
Embora algumas das apresentações tenham sido excelentes, essa edição não foi tão boa quanto as anteriores. Tomara que o Lolla do ano que vem seja melhor, pois o festival é o novo reduto dos órfãos do Planeta Terra, mas ao mesmo tempo tem um público quase do mesmo patamar do Rock in Rio. Enfim, vamos às resenhas: Ontem os Smashing Pumpkins fizeram um show daquele tipo que redime uma carreira. Assisti à banda no Planeta Terra de 2010 e saí muito frustrado; o setlist foi mal escolhido (tanto na seqüência quanto nas faixas - por exemplo, não teve "1979", mas tocaram a chatérrima "Heavy Metal Machine"), e boa parte do show foi perdida com solos de guitarra e egotrips de Billy Corgan.
No Lollapalooza 2015, porém, o que vi foi uma performance muito superior. Logo de cara a banda tocou três clássicos: Cherub Rock", "Tonight, Tonight" e "Ava Adore". Ao longo da apresentação apareceram obras-primas como "1979" (numa introdução que curiosamente lembrava "Song 2", do Blur), "Disarm" (precedida de um surpreendente e tocante desabafo de Corgan) e "Bullet With Butterfly Wings" (numa performance visceral). Mesmo as músicas do disco novo não fizeram feio (vou até baixá-lo, parece que ficou melhor do que as inéditas divulgadas no show de 2010).
Vale destacar também a contribuição substancial dos músicos convidados: o baterista Brad Wilk (Rage Against The Machine) e o baixista Mark Stoermer (The Killers). No bis, uma emocionante versão acústica de "Today".
Definitivamente foi o melhor show do Lolla 2015, ao lado de Jack White.
P.S.: Este texto do Tiago Dias publicado no UOL sobre o show é lamentável. O jornalista mal sabe a história da banda (antes de corrigirem o texto, ele informou que Siamese Dream era de 1995!) e diz que Corgan não quer envelhecer (chega a falar em "síndrome de Peter Pan", num trecho com ares de pseudo-análise psicológica). Em primeiro lugar, o próprio vocalista lamenta que o público prefira as músicas antigas do que as novas (ele próprio mostrou no show muito mais empolgação tocando o material recente); em segundo lugar, essa preferência é algo extremamente comum em relação ao publico de bandas veteranas (a nostalgia movimenta boa parte da indústria do pop/rock); em terceiro, dá para perceber a má vontade do autor em trechos desnecessários como "enquanto Pharrell tocava 'Happy', Billy encerrou o show melancolicamente com as dores de um adolescente de 'Today' no violão."
Sobre as outras bandas que vi na edição deste ano:
- St. Vincent: só comecei a assistir a partir da metade. "Surgeon" foi meio chata, mas "Cheerleader" ficou boa ao vivo e o final com"Your Lips Are Red" foi espetacular, a Annie Clark parecia em transe.
- Robert Plant: uma grata surpresa. Não só ele está com a mesma voz dos tempos de Led Zeppelin, mas também mais da metade do setlist foi composto por músicas de uma das maiores bandas de todos os tempos. Destaque para o trio de canções que abre o Led Zeppelin II ("Whole Lotta Love", "What Is And What Should Never Be" e "The Lemon Song"), para "Babe I'm Gonna Leave You" (que abriu muito bem a apresentação) e "Rock and Roll" (que a fechou de forma contundente). Das músicas do trabalho mais recente dele, gostei muito de "Turn it Up".
- Jack White: uma apresentação impecável. Sob uma iluminação totalmente azul e contando com uma ótima banda de apoio (principalmente o baterista), o excêntrico músico tocou muitas canções dos White Stripes (aliás, foram quatro do meu disco preferido deles, White Blood Cells: "Hotel Yorba", "Dead Leaves and the Dirty Ground", "Fell in Love with a Girl" e "We're Going to Be Friends") e dos Raconteurs (dentre elas o hit "Steady, As She Goes"). O disco solo Lazaretto contribuiu com sete faixas; aliás, é outro que preciso baixar logo; depois desse show incrível não tenho mais desculpas, rs.
- Interpol: outro show que foi melhor do que a apresentação anterior - no caso de Paul Banks e cia., o Planeta Terra de 2011. Eu até gostei daquela, mas a do Lolla 2015 teve dois trunfos: mais músicas de Turn on the Bright Lights (desta vez não tocaram "Obstacle 1", mas em compensação incluíram "Leif Erikson", "PDA" e "NYC") e o disco novo, El Pintor, é bem melhor do que Interpol, que estava sendo divulgado na turnê de quatro anos atrás. Quatro músicas de Antics (dentre elas minha favorita da banda, "Not Even Jail") também marcaram presença, assim como "Rest My Chemistry", uma das poucas canções boas de Our Love To Admire.
- Foster the People: não é tão bom ao vivo quanto no estúdio (senti falta dos efeitos nos vocais de Mark Foster), o que ficou evidente na performance mediana de "Houdini". Por outro lado, as empolgantes "Helena Beat", "Call It What You Want", "Pumped Up Kicks" e "Don't Stop (Color on the Walls") não deixaram a desejar. Gostei de algumas das faixas do álbum Supermodel (dentre elas "Are You What You Want To Be?"), vou começar a ouvi-lo mais no meu Media Player.