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Kaio

 

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16 fevereiro 2012

Jesus walking on the water

16 de Fevereiro de 2012: o dia em que me assumi cristão. Estou finalmente de volta ao que eu era até os 13 anos.
Passei pelo ateísmo, pelo agnosticismo e recentemente até por quimeras como o "humanismo cristão", mas acho que já é hora de aceitar que a única religião que considero próxima à minha visão do Homem e do Eterno é o Cristianismo. Porém, ainda me falta uma experiência de fé para consolidar essa "conversão".
Digamos que "racionalmente" estou aderindo ao Cristianismo, porém ainda falta fazê-lo "sentimentalmente", por meio daquilo que chamam de epifania. Ou seja, estou dando apenas o 1º passo. (Ah, e é claro, também preciso começar a ler mais a Bíblia!)
Ainda posso ser (e sou!) humanista, mas o meu humanismo é filosófico; jamais poderá se arrogar religioso, metafísico. Em outras palavras, minha cosmovisão é humanista, mas não o que apreendo do sobrenatural, do transcendental. Digamos que eu seja um cético que quer acreditar ("I want to believe", como diria o Mulder), um agnóstico que está disposto a crer, aberto a ter fé.

Vamos recapitular o meu percurso até chegar a essa decisão. Na minha infância eu tinha três opções religiosas: minha mãe é espírita, meu pai (e a família dele) são evangélicos e a família da minha mãe é católica. Porém, nenhuma das três me despertou interesse. Até cheguei a ir a missas dominicais com meu avô, à igreja que meu pai freqüenta e, principalmente, ao centro espírita no qual minha mãe vai. Dos 10 aos 13 anos de fato cheguei a me considerar espírita, mas com o tempo fiquei entediado; minhas preocupações passavam bem longe de assuntos religiosos, e a abordagem pseudo-científica do espiritismo me enfastiava.
De repente, virei ateu. Como na maioria esmagadora das "conversões" ao ateísmo, as circunstâncias foram banais: em uma aula de História na 7ª série, meu professor falava de várias religiões, e por fim mencionou de passagem o ateísmo, sobre o qual eu jamais tinha ouvido falar até então. Pensei com meus botões nessa nova "possibilidade epistemológica" que se abria a mim: "Quer dizer que eu posso simplesmente não acreditar em Deus? Ufa, que bom, já não preciso mais ser hipócrita! Sou ateu!"
Durante os três anos seguintes mantive-me incólume na minha descrença em Deus, combinada a uma forte crença na ciência e no "progresso". Digamos que eu era um Dawkins juvenil, pois eu também adorava criticar a Igreja e tudo relacionado a ela. Certa vez, na 8ª série, cheguei à brilhante conclusão de que Jesus Cristo era socialista! (uma colega católica ficou furiosa quando eu disse isso em uma aula). Mesmo quando abandonei a esquerda mantive meu materialismo na "esfera" metafísica.
Depois que li Nietzsche, então, senti ainda mais legitimidade intelectual para a minha postura. Leiam posts como "Sem tempo", "Pra encerrar o dia", "Kaio, você é o meu ídolo!", "Bem, o que eu tenho a dizer hoje?" para verem como eu tinha a arrogância e petulância típicas dos ateus. Li "Os Irmãos Karamázov" e não me impressionei com o trágico destino de Ivan; pelo contrário, admirei-o sem me importar com a degeneração mental que o niilismo lhe acarretou.
Porém, aos 16 anos, ao fim de uma crise existencial iniciada no 2º semestre de 2005, eu tive uma "crise de fé" em relação a tudo, inclusive meu ateísmo. Tornei-me mais cético em relação a tudo, mas ao mesmo tempo fundei minha própria corrente filosófica (o Anfisismo). No âmbito religioso, decidi-me pelo agnosticismo, por não acreditar na capacidade humana de resolver questões tão complexas como a existência de Deus e o surgimento do universo e da vida. Hoje vejo que esse foi um passo importante, pois envolvia uma certa modéstia intelectual, algo do tipo "Quem sou eu para ter a resposta para algo tão profundo?"
Ainda assim, até pouco tempo atrás eu era um agnóstico de jure e um ateu de facto. Ou seja, embora em tese fizesse suspensão de juízo sobre questões metafísicas, continuava a agir como um completo secularista, partidário do karamazoviano lema "se a alma é mortal e se Deus não existe, então tudo é permitido". O ápice disso foi meu namoro com a L. em 2009, que era mais do que atéia: ela era anti-teísta! Aliás, foi justamente naquela época que comecei a ver, na perturbada pessoa que ela era, o horror de se viver ancorado(a) numa filosofia existencial completamente secular, sem Deus.

Porém, em 2010, por meio do projeto Estudos Humanistas (graças o qual entrei em contato com vários clássicos do pensamento ocidental e comecei a valorizar mais o patrimônio intelectual de nossos antepassados) e a amizade com colegas católicos (mesmo que um ou outro deles seja fanático, i.e., com uma maneira de pensar muito à la Mídia sem Máscara, rs), comecei a dar uma guinada. Tanto é que, quando reli "Os Irmãos Karamázov", meu personagem preferido passou a ser Aliócha! O convívio com o pessoal relativista/pós-moderno/hiper-racionalista do PET/POL também reforçou minha convicção de que o secularismo e o racionalismo "puro" não estavam com nada.
Já no início de 2011 li duas obras que reforçaram esse novo caminho: "A Vida Intelectual" (padre Sertillanges) e "O Trivium" (irmã Miriam Joseph). O encanto pelas artes liberais - e, é claro, o fundamento cristão-tomista delas - me ajudou a perder minhas reservas e preconceitos em relação ao catolicismo e as demais formas de Cristianismo. Reli com cuidado "O Jardim das Aflições" (Olavo de Carvalho) e achei fascinante a idéia por trás do simbolismo universal da cruz. Assustei-me com as ambições prometéicas da Sociedade da Torre de "Wilhelm Meister" (Goethe), decepcionei-me com a amarga visão de mundo de Voltaire em "Cândido", perturbei-me com o horror do Inferno e me identifiquei com a redenção do Purgatório da "Divina Comédia" (Dante) e vi os horrores proporcinados pelo esteticismo niilista de Leverkühn em "Doutor Fausto" (Mann) - aliás, o curso do Nivaldo Cordeiro sobre este romance reforçou minhas intuições iniciais sobre o simbolismo dessa obra.
Além disso, fiz uma matéria (Política e Direito) com um professor existencialista/nietzscheano, na qual eu era um dos poucos da turma que o desafiava, já que não concordava que a vida não tivesse sentido, que a verdade fosse relativa, que só nos restasse agir baseados no pragmatismo e no comportamento estratégico etc. Resultado: ganhei o apelido de "grego", rs.
Em 4 de Julho, eu disse o seguinte na minha página no Facebook:
"Que bizarro: viro ateu aos 13 anos e volto a acreditar em "metaphysical stuff" (verdade absoluta e universal, que pode vir a ser o tal de Deus) aos 21! Enquanto não resolvo essa transição teológica, definir-me-ei como 'agnóstico cristão'. (...) [P]ensei bastante sobre o assunto nos últimos tempos, movido por livros que nem eram sobre Teologia (eram romances e livros de Filosofia mesmo), e percebi que o ateísmo não faz sentido nenhum, inclusive do ponto de vista lógico. E percebi que meu agnosticismo era uma 'suspensão de juízo' que, uma hora ou outra, cederia a uma admissão de que existe uma verdade metafísica. Ainda me falta uma experiência de fé, epifania para acreditar em Deus, mas do ponto-de-vista filosófico e racional já admito essa 'hipótese'."

Poucos dias depois li uma entrevista do Luiz Felipe Pondé à "Veja" em que ele disse justamente o que eu precisava ler. I couldn't agree more:
"Comecei a achar o ateísmo aborrecido do ponto de vista filosófico. A hipótese do Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético. descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica."

Ao longo do segundo semestre de 2011 esta indagação teológica ficou em banho-maria, pois eu estava muito ocupado com a monografia e a seleção de mestrado. Porém, nessas férias ela voltou a ser uma preocupação central para mim. Após ler "Os Demônios" (Dostoiévski) e "Crítica e Profecia" (Pondé), fiquei mais convicto dos riscos niilistas de um racionalismo excessivo, do quão problemático é o imanentismo (ou, na expressão de Eric Voegelin, a "divinização da sociedade") e da legitimidade do misticismo e da ortodoxia cristã, marcada por um pessimismo antropológico e um otimismo metafísico.
Sendo assim, a decisão que tomei hoje foi meditada durante muito tempo, e ainda sofrerá novas provações. Ao longo desse ano lerei e debaterei muito sobre o assunto. Hoje comecei a leitura de "O Homem Eterno" (G.K. Chesterton), e amanhã vou ao centro espírita com minha mãe. É improvável que, das vertentes cristãs, eu venha a me tornar espírita, e muito menos protestante; por enquanto sou "apenas" cristão, embora tenha muita afinidade com o catolicismo. Porém, não custa nada ir uma vez nesse curso sobre André Luiz que ela está fazendo.

Como eu disse no post anterior, já estava passando da hora de eu sair da minha "zona de conforto". Embora eu seja feliz, estável e sereno de um ponto de vista estritamente materialista/secular, isso é insuficiente, não torna a minha vida plena. Não posso me contentar com a "tranqüilidade"; preciso me questionar, duvidar de mim mesmo, não cair na tolice de achar que sou tão inteligente e bom. Aliás, é por esse viés "cético" e "pessimista" quanto ao ser humano que me interessei pelo Cristianismo: ele recusa a lassidão, o narcisismo, a "auto-ajuda", o excesso de auto-confiança. Nós, humanos, somos limitados, imperfeitos e (ainda tenho dificuldade para apreender o significado da próxima palavra, mas ainda assim a direi) pecadores. Chega de ilusões de que basta o progresso material e o "auto-cultivo" para sermos felizes e completos. Aliás, é preferível ser infeliz mas desconfiado de si mesmo do que "feel-good" mas cego aos problemas morais e ontológicos acarretados por uma filosofia de vida materialista.
Em suma, após 9 anos acho que consegui transferir meu ceticismo da "esfera" metafísica e transcendental para o âmbito da humanidade. Será que isso é suficiente? Acho que não. Como eu disse, essa decisão foi racional, mas ainda estou à espera de uma epifania, de uma metanóia...

P.S.: O título deste post se refere a uma música do Violent Femmes.

 

Comentários:

 

 

Que pena que você não é mais ateu. Eu continuo libertário e ateu, desde os tempos do forum Politizados, lembra?. Espero que você não deixe de ser libertário e volte a ser socialista, elogiando os países escandinavos, como fazia no Politizados. Heheheh! Bons tempos... Eu me divertia naquele forum.


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