50 anos de "Revolution" e uma analogia com Merquior
“But when you talk about destruction / Don't you know that you can count me out”
“But if you want money for people with minds that hate / All I can tell is brother you have to wait”
“But if you go carrying pictures of Chairman Mao / You ain't going to make it with anyone anyhow”
Em outras palavras, John estava dizendo às facções leninistas, trotskistas, maoístas etc. que, “apesar de compartilhar do desejo por mudança social, ele acreditava que a única revolução que valeria a pena surgiria da mudança interna, em vez da violência revolucionária.” (Steve Turner)
Aproveitando que estou terminando minha tese sobre José Guilherme Merquior, não consigo deixar de ver um paralelo entre “Revolution” e seu livro Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin (publicado em 1969, mas escrito no ano anterior). Merquior estava em plena Paris no ano de 68, como diplomata e estudante (estava assistindo a um curso de Lévi-Strauss, e pouco depois começaria seu doutorado em Letras pela Sorbonne). Considerando a efervescência política daquele ano (e o fato de que a maioria dos seus amigos intelectuais eram marxistas), é surpreendente que o livro que ele escreveu naquele ano contenha uma crítica tão dura (e, meio século depois, ainda tão certeira) a um dos gurus da “geração 68”, Herbert Marcuse:
“Visivelmente enojado pela ‘cumplicidade’ entre democracia e reação, Marcuse passa a vincular o progresso social à violência revolucionária, ilustrando essa tese com quatro exemplos: as guerras civis inglesas, a Revolução Francesa, e as revoluções chinesa e cubana. (...) A exclusão da Revolução [Russa] de Outubro [de 1917] de um contexto onde as revoluções chinesa e cubana são louvadas é um absurdo romântico, uma avaliação histórica inteiramente inobjetiva – embora certamente apta a seduzir os arroubos sinófilos e castrômanos do revolucionarismo de evasão da nossa época, para o qual a China de Mao-Tsé Tung é tanto mais formidável quanto mais ignorada. (...) A obrigação de Marcuse não é mostrar que a violência surtiu bons efeitos no passado pré-democrático, e sim provar que ela é superior, atualmente, à ação democrática. (...) O ‘revolucionarismo’ desses extremismos denota apenas – apesar do caráter ruidoso dos seus clichês – uma reação passiva ante os problemas da cultura contemporânea; nunca, a disposição de enfrentá-los criticamente. Entronizando a violência revolucionária, Marcuse não consegue identificar o seu agente social (...). Teorizando sem glória e sem êxito sobre a violência, e contra a tolerância democrática, Marcuse se situa como prisioneiro dos mitos messiânicos como a ditadura ‘esclarecida’ ‘de transição’ – sem ver que a sua dialética interna a transforma necessariamente em despotismo permanente. O denunciador da repressão cultural derrapa ingenuamente para o panegírico da repressão política.” (MERQUIOR, 2017 [1969], pp. 324-328)