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28 março 2018

Dancing days are here again as the summer evenings grow



28 de Março de 1973. A banda de rock mais popular do mundo resolve lançar um álbum em que só metade das 8 faixas podem ser classificadas como "rock" - e, ainda assim, só duas delas são hard rock na linha dos quatro álbuns anteriores. Todas as demais canções experimentam, seja com o reggae, o funk, a psicodelia, o progressivo ou o folk.
45 anos depois, o gesto arriscado do Led Zeppelin em Houses of the Holy se mostrou acertado e frutífero; mas, é possível imaginar o choque dos fãs e da crítica na época. Se a verve acústica de Led Zeppelin III já havia torcido alguns narizes (e levado a vendas menores que a dos dois primeiros discos), o 5º LP do Led foi além. Como bem definiu Douglas Wolk (Rolling Stone): "eles não tinham mais nada a provar e surgiram com um tipo de disco muito diferente do que haviam feito antes. (...) A confiança suprema na própria autoridade musical permitiu que a banda se safasse com novos tipos de excessos".
Houses of the Holy é um salto artístico notável para um conjunto que até então tinha moldado o cânone do hard rock / heavy metal, desde os personagens (vocalista carismático com voz fina, guitar hero, baixista discreto e baterista ogro) até a estética (forte influência do blues, tonalidade épica/medieval, imaginário tolkieniano, letras repletas de conotação sexual etc.). Com mais ênfase no ritmo do que no peso, este álbum ainda conta com uma produção caprichada do guitarrista Jimmy Page, que conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio entre o perfeccionismo e a fluidez necessária para as canções serem tocadas ao vivo. O resultado é um álbum que envelheceu muito bem; aliás, Houses of the Holy é um grande exemplo de como certos álbuns dos anos 70 soam mais joviais que a grande maioria dos discos das décadas seguintes (em particular os da década de 80, com sua produção "over", cheia de ecos e sintetizadores, mas também os dos 90). O fato de que Andy Johns, o engenheiro de som do Led Zeppelin, também trabalhou em Marquee Moon (Television), outro LP setentista que ainda soa atual, reforça essa tese.
Enfim, vamos falar sobre as 8 canções. "The Song Remains The Same" é uma abertura tão espetacular que se tornou título do 1º filme / álbum ao vivo da banda, lançado três anos depois. A sua longa introdução trai a sua origem: era para ser uma faixa instrumental. É um dos dois "hard rocks" de Houses of the Holy, mas com uma produção limpa que o distingue da pegada mais "blueseira" de álbuns anteriores. Mantenho o que disse sobre ela há quase 13 anos, em um review para um blog antigo: "pulsante, com incríveis solos de guitarra e uma letra quase que autobiográfica".
"The Rain Song" é uma belíssima canção, tendo sido inspirada (ou melhor, desafiada) por um comentário de George Harrison de que o Led Zeppelin nunca tinha feito uma balada. Dentro da tipologia do álbum é a canção progressiva, com direito a Mellotron.
"Over The Hills And Far Away" é um folk rock que segue a clássica fórmula do Led de começar acústico e ganhar peso a partir do refrão. É uma das faixas mais queridas da banda; Bill Wyman, por exemplo, a considerou a 6ª melhor do Led.
"The Crunge" é de longe a música mais excêntrica deste LP, consistindo em um funk debochado. Surgiu de forma improvisada, e faz alusões a James Brown ("I'm just trying to find the bridge... Has anybody seen the bridge?"). Provavelmente muitos fãs mais puristas não gostam tanto deste álbum por causa dela.
"Dancing Days" abre o lado B do álbum em grande estilo, e é minha preferida do Led Zeppelin graças a seu ritmo swingado e à letra otimista ("I said it's alright / You know it's alright / I guess it's all in my heart (...) Is that the way it should start? / I know it is now"). Ela faz tanta justiça ao seu título que os próprios integrantes, assim que ouviram o playback, ficaram dançando-a na grama de Stargroves, mansão de Mick Jagger na qual parte do disco foi gravado.
"D'yer Mak'er" é um dos primeiros reggaes gravados por uma banda de rock (5 anos antes, por exemplo, do Police), e sua influência jamaicana se revela até no trocadilho do título. É tão despretensiosa que se torna deliciosa de se ouvir; destaque para os gritos e gemidos de Robert Plant, as linhas de baixo de John Paul Jones e as pancadas na bateria de John Bonham. Acabou sendo o single mais bem-sucedido do álbum, chegando a 20º lugar nas paradas americanas.
"No Quarter" é um dos pontos altos de House of the Holy; dentro da estrutura do álbum ela seria a equivalente a "Stairway to Heaven" em Led Zeppelin IV e "Kashmir" em Physical Graffiti. É clichê chamá-la de psicodélica, mas diante de sua atmosfera onírica (desde os vocais artificialmente lesados de Plant até o ritmo macabro criado pelo piano de Jones), é um rótulo inescapável. Sua sofisticação sonora a torna uma das canções mais duradouras da banda.
Encerrando o disco temos o outro hard rock: "The Ocean". O Led parece enfim fazer uma concessão aos fãs da "pauleira" da tetralogia anterior; temos aqui uma canção suja e eletrizante. O final é espetacular, com um incrível solo de guitarra e uma inesperada aceleração no ritmo da bateria.
O Led Zeppelin estava tão inspirado nas gravações de Houses of the Holy que a própria (e ótima) faixa-título acabou ficando de fora, só entrando em um álbum dois anos depois, o LP duplo Physical Graffiti. Page alegou que ela se parecia um pouco com "Dancing Days", e em um álbum no qual o trunfo era justamente a diversidade, talvez tenha sido melhor mesmo guardá-la para o trabalho seguinte.
Diante de tudo que foi dito, não é surpreendente que Houses of the Holy seja meu álbum favorito do Led Zeppelin, e está no meu top 10 de todos os tempos.

 

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