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19 setembro 2008

A teoria política e econômica do Liberalismo em Mises e Hayek

Essa foi uma semana bem intensa, e não por acaso estou por demais cansado para relatá-la. Fá-lo-ei amanhã. Por enquanto, fiquem com um artigo que escrevi hoje:

Este ensaio se focará em dois pensadores do século XX em cujas discussões ainda possuem grande atualidade. Eles contribuíram e influenciaram de maneira decisiva o pensamento político e econômico tanto do neoliberalismo quanto do libertarianismo. Ambos são expoentes da Escola Marginalista (ou Austríaca) de Economia, um dos mais importantes redutos de intelectuais que, através do individualismo metodológico e de teorias como a utilidade marginal e a preferência temporal, pensaram o mundo de uma maneira que sempre enfatizou a importância do respeito à liberdade, do governo limitado por leis, da propriedade privada e da necessidade de um mercado não obstruído por interferências arbitrárias.

Comecemos por Ludwig von Mises (1881-1973). Foi discípulo de Eugen von Böhm-Bawerk e Carl Menger, os dois primeiros marginalistas. Em sua vida, foi praticamente um “exército de um homem só” em um mundo dominado pelas doutrinas socialistas e intervencionistas e o desprezo pela economia de mercado e os valores liberais. Apesar de tudo isso, foi inovador e contundente em várias de suas teses, tais como:
- A impossibilidade do cálculo econômico em uma sociedade socialista, em razão da inexistência de preços para orientar a direção da atividade econômica, não permitindo assim a escolha racional de meios que tenham em vista atingir os objetivos desejados pelos indivíduos;
- A teoria dos ciclos econômicos, que demonstrou como se opera o surgimento e desenvolvimento de crises e depressões, assim como os problemas gerados por políticas governamentais de expansão de crédito e redução da taxa de juros bruta;
- O estudo da economia como parte da praxeologia, a ciência da ação humana, priorizando um enfoque dedutivo e lógico, o que o levou a uma crítica aos economistas matemáticos, os quais se preocupavam excessivamente com a obtenção de um estado hipotético de equilíbrio com base no conhecimento de situações que envolviam um estado de não equilíbrio;
- A curiosa mentalidade anticapitalista de vários setores da sociedade, principalmente entre intelectuais, artistas e setores da classe média, que, movidos pelo ressentimento e a dificuldade em se adaptar a um regime de livre concorrência, direcionaram ódio e críticas incoerentes ao modelo capitalista, sem sequer possuírem um conhecimento concreto de teoria econômica para perceberem que as demais alternativas ao livre mercado são indesejáveis;
- As limitações do intervencionismo, pois as interferências no mercado “não só deixam de alcançar os objetivos almejados como também provocam um estado de coisas que o próprio autor da intervenção (...) considera pior do que a situação que pretendia alterar.” (“Ação Humana”, p. 864).
Entre suas principais obras, estão: “Liberalismo” (1927), “Uma Crítica ao Intervencionismo” (1929), “Ação Humana” (1949) e “A Mentalidade Anticapitalista” (1956).

Friedrich von Hayek (1899-1992) foi outro destacado pensador austríaco. Por muitos anos foi ofuscado pela figura de seu amigo (e rival, no âmbito ideológico) John Maynard Keynes (1883-1946), que adquiriu grande popularidade com sua obra “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” (1936). Ao recomendar uma forte presença do Estado na economia e injeções fiscais anticíclicas para diminuir o desemprego e aumentar o poder de compra, suas idéias foram muito bem acolhidas por governos de pretensões “estatólatras”, fossem eles democráticos (o “New Deal” de Roosevelt e a social-democracia européia), autoritários (as ditaduras latino-americanas) ou totalitários (os regimes nazi-fascistas).
Hayek criticou o keynesianismo e doutrinas coincidentes em vários de seus escritos. O mais famoso deles, “O Caminho da Servidão” (1944), aponta para os riscos de políticas de planejamento econômico terem como conseqüências o coletivismo, a centralização do poder nas mãos de poucos (ou de um só) e mesmo a destruição das bases da sociedade capitalista. Ele também mostrou algo que poucos queriam ver: as raízes socialistas do nazismo, e como duas ideologias tradicionalmente consideradas como diâmetros opostos eram mais próximas do que se poderia imaginar.
“Os Fundamentos da Liberdade” (1960) foca-se no resgate do cânone liberal para discutir o conceito de liberdade, os riscos de conceder ao Estado poderes arbitrários para formular leis, o excessivo poder do sindicalismo, os problemas trazidos pelo Estado previdenciário e os problemas em encarar a democracia simplesmente como “o governo da maioria”. No posfácio, ele ainda estabelece as diferenças entre liberalismo e conservadorismo, visto que estes não oferecem uma real alternativa ideológica e, assim como os socialistas, freqüentemente procuram desacreditar a livre iniciativa.
Há outros livros interessantes da autoria de Hayek, como “Direito, Legislação e Liberdade” (1973) e “Desestatização do Dinheiro” (1976).

A influência de Mises e Hayek pode ser verificada tanto no meio acadêmico quanto na prática da política. No primeiro, eles tiveram seguidores e aliados liberais, como Karl Popper (1902-1994), e até libertários, como Murray Rothbard (1926-1995) e várias think tanks como o Mises Institute. No segundo, governos de orientação neoliberal, como os de Margareth Thatcher (1925) no Reino Unido, Ronald Reagan (1911-2004) nos Estados Unidos e Helmut Kohl (1930) na Alemanha, tiveram confessa inspiração nas teses de ambos os pensadores, principalmente quanto à defesa dos direitos de propriedade privada, a abertura econômica, o papel das instituições e, acima de tudo, a defesa da liberdade individual.

 

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